Intervalo para o almoço. Um belo dia de sol. Frio a convidar a procurar o astro-rei. Ainda falta algum tempo para a hora marcada. Deambulo sob o sol e depois embrenho-me em ruelas frias e ventosas. Silêncio. Uma travessa chama-me a atenção, Travessa da Tipografia, nua, gelada. Uma velha parede ostentava um painel de azulejos. A curiosidade atraiu-me e li. Gostei. Gosto de andar ao acaso, porque encontro sempre algo de novo e de belo.
24 comentários:
Levado pela curiosidade e pelo desejo de conhecer o significado das duas palavras que figuram no painel por cima da prensa «PRELUMAS CESIANUM», cheguei ao site do Instituto Centrale per il Restauro e la Conservazione del Patrimonio Archivistico e Librario de Roma
http://www.icpal.beniculturali.it/scheda_fotografico.html?ids_foto=45A88006-E674-4C77-AEA5-E765148AD03A
Contudo, ainda não descobri a tradução das duas palavras. Penso que estejam relacionadas com edição de livros científicos.
Vamos ver se descubro.
Meu caro, também me chamou a atenção a frase. Talvez algum latinista nos possa dar uma ajuda. Penso que prelumas tem a ver com prelum, imprensa" . Quanto ao cesanium, descobri apenas uma palavra que poderá ter a ver "cesia", "espancado".
Já enviei um mail ao Instituto italiano, pedindo o ssignificado das palavras.
Espero obter resposta.
Tanbém gosto de andar sem destino em Lisboa. Há sempre uma viela que não conhecia.
Caro Professor Massano Cardoso
As coisas mais bonitas são muitas vezes encontradas por acaso. Claro que é necessário andar por perto delas...
...E não passou apenas(!), por que a travessa ficou mais rica por nela ter passado...
Começo a sentir que estamos a aproximar-nos de campos alquímicos, caro Professor:
O césio ( do latim "caesius" que significa "céu azul" ) foi descoberto por Robert Bunsen e Gustav Kirchhoff em 1860 numa água mineral de Dürkheim, Alemanha, através de análise espectrográfica. Sua identificação foi baseada nas linhas azuis brilhantes do seu espectro, sendo o primeiro elemento descoberto por análise espectral. O primeiro metal de césio foi produzido em 1881. Desde 1967 o Sistema Internacional de Medidas ( SI ) tem definido o segundo como 9.192.631.770 ciclos da radiação que corresponde a transição entre dois níveis de energia do átomo de césio-133, no estado fundamental. Historicamente, o primeiro e mais importante uso do césio tem sido na pesquisa e desenvolvimento de aplicações químicas e elétricas.
Não é por acaso que chegamos a um local, em determinado momento... tudo é relativo.
(as investigações procedem)
Bem vindo a Leiria!
Não sei o que significarão as duas palavras latinas, mas ouso acrescentar algo sobre o significado do painel naquele local.
A Rua da Tipografia é assim designada por nela ter funcionado a que foi uma das primeiras tipografias que em Portugal usaram o método inventado por Guttenberg: tratava-se da oficina de Abraão d'Ortas, onde foi impresso o 'Almanach Perpetuum' (de Abraão Zacuto) posteriormente utilizado por Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral (http://tipografos.net/historia/zacuto.html). Américo Cortez Pinto, médico e escritor, nasceu em Leiria e dá nome a uma rua da cidade.
Muito obrigado, caro Mocho, pela preciosa informação!
O novelo começa a desembaraçar-se.
Actualização das pesquisas:
;)
Conclui(espero que bem), instigado pela tradução apresentada pelo caro Professor: «Prelu - prensa» que as duas palavras, não se trata de «Prelumas Cesianum» mas sim «Prelum Ascesianum».
Levado por esta pista, descobri que em antigos documentos impressos, na capa era mencionado «Prelum Ascesianum» como sendo o "lema" de impressão.
Mas... como ainda não encontrei a tradução À letra, mantenho-me à espera de resposta a mails que enviei para Itália, para o Brasil e para mais dois especialistas em Latim.
Vamos ver se obtenho resposta.
Bom. Fico à espera. Começo a gostar. Até agora já aprendi um monte de coisas.
Caro Professor, após mais umas incursões feitas, por aqui e por ali, metendo o nariz em todos os buraquinhos que vou topando e tendo sempre na mira a figura do Judeu Sefardita Abraão d'Ortas, que nos foi trazido pelo amigo Mocho-do-lis, começo a acreditar que aquelas duas palavras, foram usadas com segundo sentido.
O "Prelum" que já vimos traduzir-se por prensa, que era também um instrumento de tortura utilizado pela Santa Inquisição e é de notar que o tipógrafo veio para Portugal, fugido de Espanha no Reinado de D. João II mas voltou a ter de fugir, quando D. Manuel I, casou com a filha dos reis católicos espanhois, Fernando e Isabel, D. Maria de Aragão, fazendo parte do acordo nupcial, a introdução da inquisição em Portugal.
Ora aqui, penso, entra o sentido talvez deturpado da segunda palavra «Ascesia» que penso, poderá ter a ver com ascetismo, ou seja, uma forma de dizer dissimuladamente «estes cristãos safados, fingem praticar um ascetismo religioso, mas querem esmagar-me na prensa»
;)
LA ASCESIS CRISTIANA
La ascesis no tiene buena prensa en nuestros días. Ya nadie se atreve a hablar demasiado de ella, ni siquiera en los medios religiosos. Sin embargo, ocupa un lugar importante en el Evangelio y en la tradición cristiana, donde ha conocido, por otra parte, muchas variaciones. Nuestra actual desconfianza respecto a ella se explica, en parte, por nuestra reacción contra una concepción de la vida cristiana que ponía el acento en las privaciones y las penitencias, sin subrayar suficientemente el primado de la caridad. Con todo, no podemos prescindir de la ascesis, porque garantiza la participación del cuerpo en la vida espiritual y garantiza su realismo. En consecuencia, se hace necesario tratar de la ascesis en una obra como la nuestra, a fin de volver a descubrir, a la luz del Evangelio y de la experiencia, su valor positivo y su papel efectivo.
El término «ascesis»
Precisemos, de entrada, el vocabulario. Ascesis designaba en el griego clásico los ejercicios metódicos que servían para el entrenamiento físico de los atletas y los soldados. Por analogía, designa en filosofia Ios desprendimientos y los esfuerzos necesarios para adquirir la virtud, para alcanzar la sabiduría. San Pablo retorna la comparación con las competiciones de atletas en el estadio; la aplica a la vida cristiana y confiere a la ascesis un sentido religioso, que volveremos a encontrar en los Padres. Para éstos la ascesis designa el régimen de vida ordenado a la perfección evangélica, especialmente en el estado de continencia o en la profesión monástica. En la época moderna, la ascesis hace pensar sobre todo en las privaciones y en las penitencias fisicas asociadas a la vida espiritual; toma entonces un aspecto negativo, aflictivo. El diccionario francés de Robert la define así: «Conjunto de ejercicios físicos y morales que tienden a la liberación del espíritu por medio del desprecio del cuerpo». Del asceta dice: «Persona que... se impone por piedad ejercicios de penitencia, privaciones, mortificaciones».
PRELUM, or PRAELUM, is a part of a press used by the ancients in making wine, olive- oil, and paper. The press itself was called tor- cular; and the prelum was that part which was either screwed or knocked down upon the things to be pressed, in order to squeeze out the last juices. (Serv. ad Virg. Georg. ii. 242; Vitruv. vi. 9.) Sometimes, however, prelum and torcular are used as convertible terms, a part being named instead of the whole. As regards the pressing of the grapes, it should be remembered that they were first trodden with the feet; but as this process did not press out all the juice of the grapes, they were afterwards, with their stalks and peels (scopi et folliculi}) put under the prelum. (Varro, de Re Rust. i. 54 ; comp. Colum. xii. 38.) Cato (de Re Rust. 31) advised his countrymen always to make the prelum of the wood of black maple (carpinus afro). After all the juice was pressed out of the grapes, they were collected in casks, water was poured upon them, and after standing a night they were pressed again. The liquor thus obtained was called lora ; it was preserved in casks, and was used as a drink for workmen during the winter. (Varro, I. c.) Respecting the use of the prelum in making olive-oil, and in the manufacture of paper,
Bom, palpita-me que não vamos ficar por aqui. Está a ficar cada vez mais interessante...
Actualização:
De todas as demandas feitas até agora, as raras respostas obtidas revelam-se infrutíferas.
Contudo, a cruzada pela revelação da estranha palavra, não perdeu ainda o ímpeto.
Citando o poema de Carlos T na voz de Rui Veloso, intitulado "Primeiro beijo":
Já não como, já não durmo.
E eu caia se te minto.
Haverá gente informada.
Que me indique o significado de «Ascesianum»
;))))
http://www.youtube.com/watch?v=KNk173nC8iw
Actualização:
Não se tratando ainda de uma conclusão final, mas porque a resposta a um mail que enviei a um professor latinista me convencia que a palavra "ascesianum" ou "cesianum" não existiam no latim, consultei diccionários de latim e constatei o mesmo.
Mas como desde tenra idade me habituei a não "dar o braço a torcer", prosegui com mais afinco nas buscas e nas suposições, nas divisões e contracções da palavra e chego agora a uma pequena clareira bordejada por imponentes e antiquíssimas árvores, cada uma diferente da outra, mas que se suportam entre si.
Já sabemos que o Judeu Sefardita Abraão Zacuto, foi perseguido pela Santa inquisição espanhola e por isso se refugiou em Portugal de onde acabou por ter de fugir quando D. Manuel I decidiu aceitar o acordo nupcial que lhe foi imposto pelos reis católicos espanhois, Fernando e Isabel, com a sua filha Maria de Aragão e que esse acordo, obrigava D. Manuel »O Venturoso» a pedir ao Papa a vinda da Inquisição para Portugal.
Então, não existindo de uma forma nem de outra, a palavra que se busca, surge a possibilidade de ser um nome. Aqui a "coisa" muda de figura e neste sentido já é possível encontrar general romano chamado Cestio, ou, Cestiunum. Ora, e se o "i" que estávamos a ler, fosse um "t"?
E se o executor do painel de azulejos tivesse percebido mal o esquiço e tivesse pintado mal a palavra?
Nesse caso poderíamos estar perfeitamente perante a «Prensa de Cestiunum»...
Mas... Cestiunum porquê? Que teria feito esse general Romano que merecesse ser "prensado"?
Bom, na realidade ele foi literalmente "prensado" pelo povo Judeu, perto de Jerusalém cerca de 60 anos depois de Cristo. E tudo porque, foi mandado comandar um enorme exército que teria por missão restabelecer o controle romano na Judeia e esse exército sofreu uma pesada derrota, sendo obrigado a retirar, depois de embuscado e literalmente "prensado" pelos guerreiros judeus.
Será este o significado das enigmáticas palavras?
Potest esse...
;)))
Estou a gostar... Num dicionário vi que a palavra cesia existe em latim e que significa espancado! "Espancar, bater com uma prensa"?
Exacto, caro Professor, e significa ainda machado pequeno e também martelo.
Mas... e o sentido?!
Que sentido faria, alguém pintar num painel de azulejos que identificava uma tipografia, palavras com o significado "prensa de espancar"?
Aquelas palavras, na minha opinião, encerram um sentido que tem a ver com a origem de Abraão Zacuto e com a ciência de que era mestre, a qual não situo na arte da impressão mas sim, no conhecimento daquilo que era impresso.
Mas as pesquisas mantêm-se.
;)
"Prelum Ascesianum" será, provavelmente, a 'marca' da prensa...
A partir de uma busca no Google cheguei aqui http://www.astebolaffi.it/media/42/lots/451.pdf (descer até à página 5). Depois a Wikipédia disse-me o resto (com a reserva de a Wiki não ser absolutamente fidedigna) - aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Prelum_Atcensianum.jpg e aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/Jodocus_Badius.
Será?
O mais interessante é o facto das duas imagens serem idênticas. É provável que corresponda a uma marca, mas mesmo assim, temos de descobrir o significado.
A hipotese que o caro Mocho-do-lis apresenta, tem uma certa lógica. com base sobretudo nos elementos que nos são fornecidos no primeiro link, que nos oferece as mesmas indicações constantes do catálogo do Instituto Italiano que já contactei, chagamos a essa conclusão.
Podelos achar também alguma relação da palavra "Ascesianum" com ascensor, o que nos levaria à hipotese de a palavra se referir ao processo de prensa.
No entanto, ainda não consegui abandonar a "suspeita" que haja algo mais "escondido" no sentido da palavra.
Continuo a esperar por respostas a alguns mails que enviei.
Se não as obtiver, acabo por ter de ir a Leiria e tentar ver através das brumas do tempo.
Actualização:
Uma amiga e colega, a quem pedi ajuda para tentar decifrar o significado das palavras em Latim, que tanto nos intrigam, enviou-me hoje este link:
http://en.wikisource.org/wiki/1911_Encyclop%C3%A6dia_Britannica/Badius,_Jodocus
Mais uma importante contribuição para chegarmos à "frincha" que nos dará a possibilidade de vislumbrar o seu verdadeiro sentido.
;)
Bom, neste caso, deve tratar-se da "Prensa do Ascêncio"!
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