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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O desemprego e as reacções politicamente correctas...

1. Defrontados com uma mais do que previsível subida da taxa de desemprego, que segundo o INE terá atingido 16,9% da população activa em Dezembro, estamos a assistir ao habitual cortejo de declarações da classe política, cada uma desafiando a anterior em grau de ignorância/hipocrisia, mas sempre politicamente correctas...
2. Tive logo de manhã o privilégio de ouvir um digno representante da maioria que governou o País até Junho/2011, perorando solenemente sobre as razões deste agravamento do desemprego – a insensibilidade social do Governo, as políticas erradas que tem prosseguido (curiosamente, não se referiu às opções neo-liberais, muito me surpreendeu), etc, etc...
3. Pela parte do Governo vai certamente notar-se um embaraço considerável face à divulgação deste número, pois tem repetidamente apostado em programas do que se usa denominar de “políticas activas de emprego”, dando a entender que se trata de um eficaz antídoto contra a subida do desemprego...
4. ...quando na verdade mais não passam de umas gotas de água para cima de um imenso caudal de empregos que diariamente terminam por força da inevitável contracção da actividade tornada obrigatória pela necessidade de repor os equilíbrios fundamentais da economia.
5. São verdadeiramente patéticas estas reacções da classe política a um fenómeno que infelizmente não vai deixar de se agravar enquanto a actividade económica não retomar um ritmo de expansão que, sem por em causa os equilíbrios tão dificilmente repostos, possa travar a perda líquida de postos de trabalho...e isso, com o investimento privado ainda a cair, simplesmente não irá acontecer antes do ano 2014 se mostrar bem avançado...
6. Especialmente patéticas (para além de enormemente reprováveis no plano ético), são as declarações dos porta-vozes da maioria de governo até Junho de 2011, pois era certo e sabido que, na situação caótica em que a economia nos foi legada por S. Exas – com o financiamento externo simplesmente vedado e enormes necessidades de financiamento para suprir, que sem a ajuda externa jamais seriam supríveis – era certo e sabido que, qualquer que fosse a receita utilizada para corrigir essa situação, o desemprego iria disparar para níveis nunca vistos...
7. Mas também por parte dos responsáveis governamentais este tema não tem sido tratado, na minha avaliação, com o realismo que se impõe, alimentando sempre a esperança de que as coisas possam melhorar e fixando “objectivos” irrealistas, acreditando na magia das tais políticas activas de emprego...quando era mais do que certo, no quadro de previsão económica, um agravamento contínuo desse infeliz fenómeno...
8. Já tenho dito noutras circunstâncias e aqui aproveito para repetir: sendo certo que em Portugal não tivemos uma bolha imobiliária da dimensão da que atingiu a Espanha e a Irlanda, a verdade é que se criou uma enorme bolha na oferta de serviços não transaccionáveis, alimentada por uma procura artificial, filha pródiga do excesso de endividamento da economia...e, com a suspensão total do financiamento para tais actividades, essa bolha tem vindo a rebentar aos poucos, arrastando consigo um imenso cortejo de desempregados...
9. ...mas, como é evidente, para os políticos em geral e outros (quase todos) comentadores politicamente correctos, nada disso aconteceu, tudo tem a ver com a insensibilidade social e as políticas neo-liberais...

31 comentários:

Paulo Pereira disse...

Caro Tavares Moreira,

Mas para que serve um governo que não sabe o que fazer para reduzir o crescimento do desemprego ?

Somando mais 100 mil novos imigrantes nestes 19 meses de governo, teriamos uma taxa de desemprego perto dos 19%.

Com uma taxa de desemprego deste calibre a divida publica é impagavel.

Unknown disse...

Cortar - estruturalmente - 4000 milhoes €, para poder baixar impostos ajudará a criar empregos...certo?

Enquanto nos emprestaram dinheiro, foi possível manter empregos atapetando o país de auto-estradas, plantando eólicas em cada monte, etc., até era possível ocultar desempregados em cursos das novas oportunidades...

Actualmente, quando temos de pagar os juros da dívida origiginada por esse crédito fácil, o Estado ainda enfrenta a redução na arrecadação de impostos e uma maior despesa social.

Os empregos só podem ser criados em actividades rentáveis. Pensar que o modelo do País se transforma da noite para o dia...

http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/01/o-fardo-do-juros-o-chico-espertismo-e-o.html

jotaC disse...

Caro Drº Tavares Moreira,

1.Não querendo duvidar em nada do que aqui escreve, fiquei um pouco confuso com a explicação que dá mormente no que toca à bolha imobiliária de Espanha e Irlanda e à bolha de serviços em Portugal.
Se quanto à bolha imobiliária estou consciente do que isso representa de nocivo para o sistema financeiro e económico desses países, já quanto à bolha imobiliária de serviços não vejo onde isso possa ter sido nocivo, uma vez que o aparecimento de serviços é um sinal forte da modernização de um país (assim aprendi e li, quando se debatia a questão de termos muita gente ocupada no sector primário).

2.É evidente que uma taxa de 17% de desemprego sendo que 40% entre os jovens, não abona nada a favor do governo, nem daquela comissão interministerial presidida pelo Srº Ministro Miguel Relvas

3.Sabemos que o apertar do cinto levou o sector dos não transacionáveis a falir por contração interna o que me leva a admitir um futuro nada risonho, a não ser que as boas ideias venham de fora. Pergunto:-Como se irá portar a economia com menos 4 M ?

4.As notícias que vêm dos EUA parecem ser animadoras, pode ser que finalmente as coisas mudem….

Tonibler disse...

Eu concordo com o Pereira. De que serve um governo se não consegue tratar do desemprego. Devíamos ser todos funcionários públicos!

Anónimo disse...

Caro Tavares Moreira, os comentários quanto à acção do governo por parte da anterior maioria e do próprio governo actual com as esperanças são perfeitamente normais num país como Portugal e numa sociedade como a Portuguesa. Repare que os eleitores Portugueses são capazes de engolir toda a qualquer patranha, cretinice, idiotice e afins desde que envolvida num discurso de harpas e violinos mas totalmente incapazes de aceitar a realidade nua e crua. A cultura Portuguesa é demasiado emocional e os partidos sabem isso adequando o seu discurso a essa caracteristica.

Floribundus disse...

o rectângulo já não tem mais espaço para autoestradas, aeroportos e habitações.
temos que invadir a Espanha para arranjar terreno para hortas

Tavares Moreira disse...

Caro Paulo Pereira,

Se aos políticos é reconhecido o direito de dissertarem sobre este tema na base do politicamente correcto e economicamente fantasioso (para dizer o mínimo) porque não haverá o ilustre comentador de ter esse mesmo direito e de o exercer, aliás brilhantemente, como acaba de fazer?

Caro JotaC,

Se a bolha dos serviços não tem qualquer efeito maléfico para a economia, porque carga de água haveir a bolha imobiliária de o ter?
Por acaso os serviços~constituem uma actividade economicamente mais nobre do que a construção? Em que ponto concretamente, é capaz de indicar?
Poderemos, com todo o interesse, continuar este debate aqui ou em Alcochete, respondendo à chamada da Bartolomeu!

Caro Zuricher,

Não deixo de lhe reconhecer razão no plano lógico-formal...
Mas se aceotarmos isso com resignação, alguma vez iremos ser um País verdadeiramente desenvolvido? Ou não passaremos de um arremedo de desenvolvimento, que à menor distracção do FMI ou da UE, se desfaz como o gelo ao sol?

Caro Tonibler,

Pois esse é mesmo o OVO de Colombo! Todos funcionários públicos e acaba-se o desemprego...aliás cabe perguntar, quantos destes mais de 900.000desempregados trabalhariam no sector público administrativo e empresarial, chegaraão a 58?
E, no entanto, como sabemos, foi preciso agravar a tributação dos precários do sector privado para restabelecer a "equidade" e a "proporcionalidade" perdidas com a suspensão dos subsídios de férias e de Natal para o funcionalismo...assim julgaram Sexas! Que jurisprudência mais estranha!

Caro Floribundus,

O "rectangulo", como diz, pode não ter já mais espaço para o que refere, mas tem espaço de sobra para estas patéticas declarações...e não deveria ter!

Anónimo disse...

Caro Tavares Moreira, a tese que defendo há vários anos, desde a idade adulta, é precisamente a de que Portugal, até mesmo olhando à história, pelo menos num quadro democrático, nunca será realmente um país desenvolvido e ciclicamente precisará andar de mão estendida à caridade alheia. A cultura Portuguesa é ancestralmente assim.

menvp disse...

Um anónimo disse:
«Querem acabar desemprego?
Aumentem a laboração ( dia de trabalho para 12 horas), com 2 turnos de 6 horas, claro que haveria de haver uma diminuição de salário para alguns ( pois haveria redução de horas), mas haveria trabalho para todos...»

Pois é, mas existe um problema: muitos sindicalizados não abdicam do seu 'Status Quo'.
Um exemplo: os maquinistas da CP ganham 2, 3 ordenados mínimos... e não param de fazer greves... prejudicando pessoas que precisam de transportes públicos para se deslocarem para o seu local de trabalho... sendo que muitas dessas pessoas só ganham o ordenado mínimo.

Luis Moreira disse...

O curioso é que foi no último trimestre de 2008 que houve a maior subida do desemprego o que mostra que as medidas de ajustamento só apressaram um desemprego cujas raízes são as políticas de investimento de há 15 anos.Pelo menos!

Tavares Moreira disse...

Caro Zuricher,

Infelizmente, a razão poderá estar do seu lado...somos um Povo de altos e baixos - muito mais baixos que altos, lamentavelmente - com uma cultura tendencialmente laxista que nos arrasta, volta não volta, para situações de depressão social e política como a actual.
E a dimensão excessiva, absurda mesmo, do Estado, nas últimas décadas, é um desses típicos erros históricos a que nos entregamos sempre com paixão exacerbada...

Caro menvp,

Aponta bem esses interesses corporativos/laborais instalados como um dos grandes entraves a um desenvolvimento mais consistente e socialmente justo...
Mas são interesses que estão embutidos no sistema que se criou, em nome de uma falsa defesa dos direitos dos trabalhadores, que redundam sempre no exercício abusivo de direitos de minorias contra uma imensa maioria indefesa...

Caro Luís Moreira,

Oportuna observação, restando apenas acrescentar que o investimeno que refere só o é em contabilidade nacional e que numa análise custos-benefícios, apresenta um saldo pesadamente negativo...
A maior parte desses pseudo-investimentos estão gerando custos de exploração/manutenção permanentes, não produzindo qq rendimento, e nós não temos recursos para os pagar...só mesmo reduzindo o nível de vida de todos os cidadãos poderemos manter essas fantasias económicas a flutuar. Mas...até quando isso vai ser possível?

Carlos Monteiro disse...

Saudações caro Tavares Moreira,

Constato com surpresa, críticas suas em relação a este governo. Contudo continuo a achar curioso que classifique de "patétcas" as afirmações de gente ligada ao anterior governo, mas suavize com um light "falta de realismo" as afirmações do actual governo.

A verdade é que este governo e este ministro falhou nas previsões novamente. E isto é um facto.

Outro facto é que toda a gente sabia que "esta" política ia dar em (mais) desemprego, e fundamentalmente, como é dito aí em cima, isso deveria ser prioritária e também falhou!

Se tudo falhou, para quando a admissão de que este não é o caminho?????

Qual é exactamente o ponto de viragem?

Carlos Sério disse...

Os neoliberais não só transformam materialmente a realidade económica, política, jurídica e social, também conseguem que esta transformação seja aceite como a única saída possível e dolorosa para a crise.

Carlos Sério disse...

"...mas, como é evidente, para os políticos em geral e outros (quase todos) comentadores politicamente correctos, nada disso aconteceu, tudo tem a ver com a insensibilidade social e as políticas neo-liberais..."


Em todos os países da OCDE, os impostos tornaram-se mais regressivos: os ricos pagam menos, os pobres pagam mais. O resultado, sustentavam os neoliberais, seria que aumentariam a eficiência económica e o investimento, enriquecendo todos. Aconteceu o contrário. Enquanto diminuíam os impostos aos ricos e às empresas, caiu a capacidade de despesa, tanto do Estado como da população mais pobre, e contraiu-se a procura. O resultado foi que caíram as taxas de investimento, em sintonia com as expectativas de crescimento das empresas.
O relatório anual do ano passado da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) deveria supor um atestado de óbito do modelo neoliberal desenvolvido por Hayek, Friedman e seus discípulos. O relatório mostra, inequivocamente, que as suas políticas conseguiram resultados opostos aos que previam. Na medida em que essas políticas (cortar impostos aos ricos, privatizar activos do Estado, desregular o mercado de trabalho, reduzir a segurança social) começavam a ser aplicadas, dos anos 80 em diante, também passaram a cair as taxas de crescimento e a aumentar o desemprego.

Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

se os 5 000 000 de portugueses que fazem a população activa deste país fossem todos funcionários públicos, podíamos carregar bem nos impostos sobre o sector privado. Aí é que as medidas seriam de facto equitativas como o sr. Presidente da República tanto reclama e a Dra. Manuela ficaria feliz com o governo porque medida da TSU seria verdadeiramente neutra. Aí sim, a verdadeira aposta no crescimento seria feita com défice nulo!

Tavares Moreira disse...

Caro Carlos Monteiro,

Quando diz que tudo falhou o caro comentador não está a fazer mais do que "going through the motions" para usar uma conhecida expressão inglesa evitando uma portuguesa menos simpática...
Ignora, nomeadamente, a alteração fundamental ocorrida no comportamento da economia, neste momento já verificada e que consiste na eliminação do défice com o exterior, acabando-se assim com um dos desequilíbrios que impedia, em absoluto, que a economia tivesse a mais remota hipótese de vir a crescer enquanto não fosse superado.
Mas, para a cartilha crescimentista, isto é um detalhe irrelevante. Porque tudo se resume a construir cenários de crescimento no papel e no sofá, de preferência saboreando uma agradável bica.
E olhe que esta alteração fundamental não é obra do Governo, é obra sim de muitas centenas ou mesmo milhares de empresas que operam no sector concorrencial da economia, que trabalham que se fartam para conquistar novos mercados, para tornarem as suas produções mais eficientes, para manterem ou mesmo criarem novos postos de trabalho e que por isso não têm tempo para tagarelar - dizer umas patacuadas, é o termo próprio - sobre crescimento económico!
E contamos consigo em Alcochete, para darmos ainda mais cor a este debate!

Caro Tonibler,

Concordo em absoluto. Quando todos os cidadãos lusos forem funcionários públicos (e creio que esse grande objectivo já esteve mais longe do que hoje, felizmente) estes complexos problemas que hoje nos dilaceram irão desaparecer: atingiremos o máximo da eficiência produtiva, exportaremos burocracia para todo o Mundo a preços muito competitivos,e ainda deixará de se colocar a questão da equidade e da proporcionalidade na comparação das condições de trabalho nos sectores público e privado!
Só a CGTP ficará a perder pois não terá clientes para as manifestações e para as greves, mas esse será um dano aceitável face à dimensão dos benefícios advenientes, que até pode ser superado com a instalação de um Museu da Greve e da Manifestação, cuja direcção poderia muito bem ser confiada à proxy de Mme de Pompadour.

Paulo Pereira disse...

Caro Tavares Moreira,

Destes 19 meses de governo e do que os seus apoiantes vão escrevendo podem-se retirar algumas conclusões :

a) Sabe pouco de macroeconomia e por isso falham continuadamente as previsões de PIB, desemprego e receita fiscal

b) Patilha de uma ideologia que podemos chamar de neoliberal , que tem como ênfases, a redução do deficit publico e menos a redução do deficit externo, e que a baixa dos salários seria suficiente para aumentar a competitividade das empresas.

Ora, se numa economia de moeda fiat com cambios flutuantes já é dificil governar sem se saber o que se está a fazer em materia de macroeconomia, num sistema de moeda externa fortemente valorisada, é praticamente impossivel conseguir governar sem se saber o que fazer face à realidade existente.

A Lei de Murphy é implacável e não adianta ser piegas com o passado que era conhecido durante a campanha eleitoral.

Carlos Sério disse...

"E olhe que esta alteração fundamental não é obra do Governo, é obra sim de muitas centenas ou mesmo milhares de empresas que operam no sector concorrencial da economia, que trabalham que se fartam para conquistar novos mercados, para tornarem as suas produções mais eficientes, para manterem ou mesmo criarem novos postos de trabalho e que por isso não têm tempo para tagarelar"

O índice de volume das exportações portuguesas (2000=100) era em 2011 (último ano de dados) de 131,6 o que compara com o índice 133,8 em 2007. (Dados Eurosatat)
Mas o que será que isto quer dizer?

Anónimo disse...

O que será que quer dizer? Quer dizer que mesmo com esta imensa crise mundial primeiro e crise Portuguesa a seguir as empresas exportadoras Portuguesas merecem que se lhes estenda a passadeira vermelha e se lhes tire o chapéu por estarem a conseguir aguentar tão bem a borrasca. Estão a conseguir navegar com mares e ventos a entrar com força pela proa muito razoavelmente!

Carlos Sério disse...

Total volume exportações em 2007 =55.486; Total volume importações em 2007 =68.159
Total volume exportações em 2011 =59.093; Total volume importações em 2011 =59.809
(preços correntes, milhões de euros)
Mas o que será que isto quer dizer?

Carlos Sério disse...

Não Zuricher, ainda que não discorde do seu sentimento para com as empresas exportadoras.

Mas o que será que isto quer dizer?

Que o equilíbrio da balança de pagamentos resulta da quebra brutal das importações e não do crescimento das exportações, que a preços constantes até diminuíram de 2007 para 2011.
Torna-se assim absolutamente absurdo, ridículo e caricato o foguetório dos “postadores” e comentadores, ortodoxos da cartilha neoliberal. Cegos em seus dogmas, são incapazes de olhar para a realidade. E, só um povo meio zombie ou, como dizia Guerra Junqueiro, só um povo “tão macambúzio que nem sequer abana as orelhas para sacudir as moscas” aguenta, aguenta, tanta mistificação e tanta aldrabice.

Tavares Moreira disse...

Caro Zuricher,

Há pessoas - cuja bondade não está em causa mas conseguem ser mais teimosas que bondosas - que não conseguem enfiar na cabeça a evidência do reequilíbrio da conta com o exterior...procuram todos os argumentos, mesmo os mais fantasiosos, para se refugiarem dessa realidade...
E, vai daí, procuram engendrar as comparações mais opacas que descortinam, esquecendo que aquilo que efectivamente conta é o somatório do saldo (sempre negativo) entre as exportações e as importações de bens e o saldo, positivo e que agora compensa aquele, entre as exportações e importações de serviços!
Ou seja e em suma, uma balança de bens e de serviços equilibrada e que o insuspeito Banco de Portugal prevê que venha mesmo a apresentar um expressivo superavit (3% do PIB) em 2013.
Cabeças duras que nem diamante, mas que haveremos de fazer? Há que ter muita paciência!

Bartolomeu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Sério disse...

Não há pachorra.
Exportação de serviços em 2007 foi de 16.961 milhões de euros, inferior portanto aos 17.743 milhões de euros de exportações de serviços em 2012, dado que são valores a preços correntes.
De 2007 para 2012 recuámos, em valor das exportações, não apenas no total das exportações (bens e serviços) como no valor das exportações de serviços.
O mérito do equilíbrio da balança não é do “crescimento” das exportações mas da diminuição das importações de bens, que desceram de 57.730 milhões de euros em 2007 para 51.937 em 2012 e da diminuição das importações de serviços que diminuíram de 10.428 milhões de euros em 2007 para 7.872 em 2012.
“Cabeças duras que nem diamante, mas que haveremos de fazer? Há que ter muita paciência!”

Carlos Monteiro disse...

Caro Tavares Moreira,

Acho piada a essa visão de que o importante não é aquilo em que o Governo está a falhar...

Tavares Moreira disse...

Caro Zuricher,

Como pode verificar, um stock de paciência quase inesgotável é mesmo imperativo...chega quase ao delírio esta tentativa de tapar o sol com uma peneira...
Não sei se repara que é feito um ruído enorme sobre a evolução de parcelas - aliás baralhando valores que já nada se consegue perceber - como se o resultado da adição das mesmas nenhum significado tivesse...
Ou seja o que conta são as parcelas e não a soma das mesmas!
As parcelas eram óptimas quando a soma era´péssima...agora que a soma é boa ou mesmo muito boa, as parcelas são péssimas!
Eu confesso que não tinha imaginação para tanto!

Caro Carlos Monteiro,

Bartolomeu disse...

Certa altura conheci um homem que se auto-intitulava "caçador de sois".
Dizia ele, que disparar uma espingarda, atirar uma pedra, desde que possuisse pontaria, faria de qualquer um, caçador de animais irracionais, ou não. Mas caçar sois, requeria a posse de uma visão especial, uma visão capaz de resistir ao brilho intenso que o astro-rei projecta.

Stoudemire disse...

Em pleno areal de Alcácer Quibir, o comando dizia a D. Sebastião: «Recuar, recuar! A estratégia não está a resultar.»

O soberano respondia: «Avançar, avançar! A malapata um dia há de acabar!»

Acabou, com a morte dele e de uns milhares, esgotados por uma caminhada a pé que os deixou de rastos e doentes.

Mas tenham esperança que, segundo Pessoa, o V Império chegará lá pelo século XXII.

Por último, a existência de mais de um milhão de desempregados suscita um «post» centrado nas reações dosa políticos à sua ineficiência e alguns comentários pseudo-irónicos.

Essa malta que aguente, aguente, que os soberanos destes tempos detêm a Máquina do Mundo outrora nas mãos de Tétis.

Mas quem é que diz que há gente que da realidade nem o solo que pisa conhece?

Anónimo disse...

Caro Tavares Moreira, para além de taxarem de irrelevante a soma das parcelas ignoram o contexto internacional em que a das exportações se desenvolveu e evoluiu o que acho notavel. As importações terem diminuido não é, de todo, uma má notícia. Mas, claro, quando o que importa não é a racionalidade mas sim o dizer mal por uma questão de partidite vale tudo. Afinal, a partidite tal como a clubite e coisas que tais são questões de fé. E a fé até o Snr. Estaline percebeu que não se consegue apagar.

Tenhamos paciencia, caro Amigo, tenhamos paciencia!

Carlos Sério disse...

Quando se nega a evidência da realidade, dos números e com a presunção a que vimos assistindo, entramos no mundo da alienação, da irracionalidade de um total absurdo. É neste mundo de fantasia que vive o governo e os seus seguidores. O último governo de Sócrates também padecia do mesmo mal – negar a evidência dos factos com palavreado fantasioso.
As exportações portuguesas, quer considerando isoladamente as exportações em serviços ou em bens, ou no seu conjunto total, diminuíram de 2007 para 2011. Não há volta a dar-lhe. É a realidade.
O saldo da balança comercial que era negativo, na ordem dos 12.673 milhões de euros em 2007 é agora, em 2012, positivo, da ordem dos 94 milhões de euros.
Assim sendo, o equilíbrio da balança só poderá ter acontecido devido ao decréscimo das importações. É a realidade. Não há volta a dar-lhe.
Importante seria conhecer se este equilíbrio é conjuntural ou estrutural. Isto é, se passado este período de recessão com que nos defrontamos, numa futura e eventual reanimação económica, não voltará tudo ao mesmo. A resposta será que logo que aja investimento e animação do mercado interno, condições indispensáveis para a diminuição do flagelo do desemprego, o desequilíbrio retornará. E isto porquê? Porque as exportações não mostram, como vimos, uma capacidade efectiva de arranque estrutural.
Pode o governo entreter-se com discursos fantasiosos tentando, aqui sim, “tapar o sol com a peneira”, que não muda a realidade, crua e fria.

Tavares Moreira disse...

Belíssima tirada, Ilustre Stoudemire, belíssima tirada!
Uma tirada de se lhe tirar o chapéu!
Esclarecedora, de forma cabal, da matéria em discussão! E muito oportuna, devo reconhecer.

Caro Zuricher,

Como já percebeu, aplica-se aqui o velho aforismo "vira o disco e toca o mesmo"! A "máquina" enguiçou e vai repetindo sempre a mesma teoria...