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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Um descida ao mundo das coisas simples...

Num mundo cada vez mais complexo envolto na incerteza, mas na certeza do efémero é reconfortante lermos coisas simples que nos ajudam a valorizar o que é realmente importante. Retirado do livro que estou a ler e a reler  “Nenhum Caminho será Longo” de José Tolentino Mendonça:
 
Há um provérbio que diz: “Viver sem amigos é morrer sem testemunhas”. Os amigos trazem à nossa vida uma espécie de atestação. Os amigos sabem o que é para nós o tempo. Eles testemunham que somos, que fizemos, que amamos, que perseguirmos determinados sonhos e que fomos perseguidos por este ou aquele sofrimento. E fazem-no não com a superficialidade que, na maior parte das vezes, é a das convenções, mas com a forma comprometida de quem acompanha. O olhar do amigo é uma âncora. A ela nos seguramos em estações diferentes da vida para receber esse bem inestimável de que temos absoluta necessidade e que, verdadeiramente, só a amizade nos pode dar: a certeza de que somos acompanhados e reconhecidos. Sem isso a vida é uma baça surdina destinada ao esquecimento.
A história de cada um de nós consuma-se através de uma necessidade de reconhecimento. Para haver um “eu” tem de existir um “tu”. Com cada homem vem ao mundo algo novo que nunca existiu, algo de inaugural e de único, mas é na construção de uma reciprocidade que de forma consistente o podemos descobrir. O “eu” tem imperiosa carência de ser olhado amigavelmente por outro, e por outros, para organizar-se e ousar o riso de ser. Já escrevia Aristóteles na Ética a Nicómaco: “o homem feliz tem necessidade de amigos”. Nós adoecemos na ausência de amigos. Precisamos desse reconhecimento mútuo, pessoa a pessoa: um reconhecimento não fundado no confronto ou na competição, mas no afeto; não determinado meramente pelas leis da justiça ou pelos vínculos de sangue, mas assente na gratuitidade.

5 comentários:

Suzana Toscano disse...

Lindíssimo Margarida também estou encantada a ler esse livro a amizade é um sentimento pouco tratado e no entanto ocupa um espaço fundamental nas nossas vidas.

Bartolomeu disse...

Também considero a amizade e o seu reconhecimento, uma das maiores riqueza que podemos possuir.
No entanto, em minha opinião, não acho que as coisas simples possam se encontrem num mundo situado num plano inferior, ao qual seja necessário descer.
As coisas mais simples, têm possibilitado ao Homem, ao longo dos milénios da sua existência, evoluir e, encontram-se sempre à sua frente, prontas a ser reconhecidas e usadas. No entanto, parece-me que tendemos um pouco mais para buscar soluções, fazendo uso da trigonometria...

Anónimo disse...

Margarida, este seu Amigo revê-se nas belas palavras do Autor. E sente muita alegria em tê-la entre esse tesouro que são os nossos Amigos.

jotaC disse...

Cara Dra. Margarida Aguiar:
Obrigado pela sugestão, ao que parece uma excelente leitura. De facto os amigos verdadeiros “face to face”, são um bem precioso que, cada vez mais tendem a escassear potenciando ainda mais o isolamento dos indivíduos. Há muitas explicações para isso, todos válidos é claro. No entanto para mim, além do desenraizamento que leva cada um para seu lado, o facto de vivermos num mundo de “salve-se quem puder”, em competição permanente pelo emprego, pela posição social etc., origina um atrito permanente que gera desconfiança incompatível de todo com a verdadeira amizade; contudo a amizade está no nosso código genético, somos seres gregários. Registo com agrado as palavras dos seus amigos aqui expressas, e permito-me dizer-lhe que é um grande capital...
Para terminar permito-me ofertar-lhe as palavras que roubei a outro, desta maneira.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
E é um assunto difícil de tratar. Por vezes é difícil escrever e falar das coisas simples. Saber fazê-lo é um dom.
Caro Bartolomeu
Com o título do meu post queria apenas dizer que por vezes é bom sair do alvoroço do dia-a-dia, onde naturalmente a amizade está presente, e "aterrar" na leitura das coisas simples, aquelas que fazem parte da vida mas sobre as quais não temos tempo para reflectir.
José Mário
Partilho desse sentimento.
Caro jotaC
Obrigada pela sua oferta. Recomendo o livro, para ler devagar, saborear página a página, com tranquilidade.
Felizmente que no mundo do "salve-se quem puder" há lugar para a amizade. É justamente esta amizade que nos salva da desconfiança de que fala no seu comentário.