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domingo, 1 de maio de 2005
"Sistema ABC e sistema ABS”…
O Vaticano criou, recentemente, uma fundação destinada a financiar as organizações católicas na luta contra a SIDA. A Good Samaritan Foundation dispõe para já uma verba superior a 100.000 dólares e apela à contribuição de todos independentemente de concordarem ou não com a política da Igreja face ao uso do preservativo. O destino das iniciativas centra-se sobretudo nos países mais desfavorecidos. Atitude louvável, sem dúvida, e que está de acordo com os princípios humanistas desta corrente religiosa. O que parece mais difícil de aceitar é a teimosia na proibição do uso do preservativo quer para fins contraceptivos, quer para evitar a propagação do vírus da SIDA. São apontadas, basicamente, duas grandes razões para o não uso do preservativo: trata-se de um meio artificial do controlo da natalidade além de ser favorecedor da “promiscuidade”. Claro que, felizmente, já se levantam vozes cardinalícias contra esta inexplicável ou pouco convincente ortodoxia. Esperemos que o cardeal Alfonso Lopez Trujillo reveja a sua posição. O Cardeal belga Godfried Danneels afirmou recentemente que um indivíduo seropositivo “terá de usar preservativo se tiver relações sexuais. De outra forma estará a cometer um pecado”. Acontece que muitas pessoas são já portadoras do vírus sem saberem, pelo que é imperioso o seu uso a fim de evitar que cometam “pecados”. Alguns oposicionistas à utilização do preservativo pretendem escalonar um conjunto de regras designado pela sigla inglesa ABC, ou seja: abstinência, be faithful (fidelidade) e condom (preservativo). Ninguém põe em dúvida que a castidade levada aos seus limites diminuiria bastante a propagação do vírus. Resta saber se é possível contrariar impulsos desta natureza. Mesmo aqueles que, em princípio, escolheram deliberadamente vidas castas são, com uma frequência muito preocupante, autores de atitudes muito pouco ortodoxas e impróprias do seu estatuto, revelando que a virtude da castidade está mais perto da utopia do que da realidade humana. Quanto à fidelidade é de estimular e acarinhar. Em último lugar fica o preservativo, mas mais como recurso de última linha do que propriamente uma alternativa em pé de igualdade com as restantes e superiores prioridades já enunciadas. Os argumentos a favor do sistema ABC não são suficientes para contrariar a situação vivida neste planeta. Claro que os defensores irão utilizar o argumento ugandês como prova de que até funciona, só que o mundo não se cinge a este pobre país da África Central, zona do globo que não se pauta por exemplaridades de monta. São precisas diferentes estratégias para contrariar a epidemia e o sistema ABC não é sinónimo de um verdadeiro e eficaz sistema ABS capaz de travar um fenómeno tão devastador como é o caso da SIDA…
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