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terça-feira, 30 de agosto de 2005

À martelada…


Novo instrumento para estudar a biodisponibilidade...


Ultimamente, temos assistido à publicitação do consumo dos genéricos em Portugal versus o Reino Unido, além de alguns debates e comentários sobre o seu uso e não uso, quer dentro, quer fora da classe médica. Um dos principais problemas dos genéricos prende-se com a confiança nos mesmos.
Afinal, os genéricos são ou não de confiança? Podemos, nós, prescritores e utilizadores confiar nos mesmos? A autoridade responsável pela introdução no mercado é ou não credível? O ministro da Saúde (seja ele quem for) garante ou não a eficácia e a eficiência dos genéricos?
Pessoalmente, desde há muitos anos, tenho optado, sempre que possível, pelo fármaco mais barato e nunca tive qualquer preconceito contra os genéricos, porque parto do princípio de que há garantias absolutas sobre as suas características e propriedades. No entanto, são inúmeras as histórias que se contam entre os médicos a este propósito. E, muitas delas não abonam nada a favor de alguns. Também tenho as minhas, e uma delas é absolutamente incrível. Expliquei a uma doente de idade que lhe ia prescrever um genérico em vez do medicamento de marca, porque era mais barato. A doente perguntou-me logo: - E é de confiança, senhor doutor? Disse-lhe, naturalmente, que era o mesmo medicamento. Passadas cerca de quatro semanas, entrou-me no consultório e disse-me de chofre: - Senhor doutor, não quero tomar mais o último medicamento que me prescreveu, quero o anterior! Fiquei surpreendido e perguntei-lhe quais as razões para o pedido que, digo com toda a franqueza, achei insólito. Respondeu-me da seguinte maneira: - Olhe senhor doutor, eu ainda tinha dois ou três comprimidos do medicamento anterior e coloquei um num copo de água. Sabe o que aconteceu? E eu respondi surpreendido: - Não minha senhora! - Pois bem, ao fim de um quarto de hora estava desfeito. - Ah! E depois? – Depois, coloquei o comprimido novo e sabe o que aconteceu? Nem respondi. Continuou a minha simpática velhinha: - Ao fim de 48 horas ainda não se tinha desfeito! E sabe o que tive que fazer para o desfazer? Cada vez ficava mais atrapalhado. - Pois bem! Tive que utilizar o martelo do meu marido, senhor doutor. Só assim é que o transformei em pó. E, agora diga-me se tenho ou não razão. Fiquei numa situação de verdadeiro “embaraço científico” perante tamanha técnica caseira de “biodisponibilidade” utilizada por uma doente muito curiosa. Balbuciei qualquer coisa tal como: - Com certeza a fábrica que fez o medicamento deve ter “apertado” demais o comprimido… Não sei se ficou convencida com a resposta, mas eu não fiquei!
Resta saber se, relativamente aos genéricos em causa, os estudos efectuados garantem ou não a eficácia dos mesmos, porque a saúde dos doentes é sagrada e merece todo o respeito. E, já agora, deveríamos sacar as devidas responsabilidades relativamente a algumas situações, nem que seja à martelada…

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