Recentes investigações têm permitido conhecer melhor o efeito placebo dos medicamentos, inclusive as bases biológicas, graças às novas tecnologias. Ao conhecermos melhor o poder do placebo, cientistas e filósofos poderão caracterizar melhor a velha questão cartesiana da divisão corpo – espírito. Os seus efeitos têm sido utilizados de forma consciente ou não, pelos diversos agentes envolvidos na procura da saúde e na solução dos problemas que afectam as pessoas. A história da doença – saúde está repleta de casos paradigmáticos. Apesar de ter existido desde sempre, o reconhecimento "oficial" do placebo ocorreu em 1890, quando um médico britânico foi condenado pelo tribunal a indemnizar uma doente por lhe ter administrado água em vez de morfina. A senhora exigiu uma indemnização, a qual o tribunal reconheceu como legítima, não obstante ter igualmente reconhecido que as dores tinham cessado com a medicação. A senhora não considerou correcto ter pago um tratamento à base de água, quando devia ter recebido injecções de morfina. A água é de borla!
Ninguém sabe qual dos três cientistas; Thomas Sydenham, Armand Trousseau ou William Osler, é o responsável pela afirmação: quando aparece um novo medicamento, o melhor será aplicá-lo o mais rapidamente possível e no maior número de pessoas.
Todo o fármaco tem também um efeito placebo e o mesmo não pode ser ignorado, já que, quando aparece, está aureolado de enormes expectativas. Os médicos são os primeiros a entusiasmarem-se e anseiam por utilizá-lo. Quando iniciam a prescrição, transmitem aos seus doentes expectativas de melhorias significativas. Os doentes "sentem" isso. É durante o período de introdução que se irá observar resultados muito positivos, os quais constituem o somatório do "verdadeiro" efeito do produto e do efeito placebo que acarreta. Por este motivo, os autores citados já afirmavam que se devia tratar o máximo número possível de doentes, enquanto a nova droga tenha ainda poder para curar.
Os políticos utilizam o "efeito placebo" de uma forma abusiva. Convinha saber um pouco mais dos efeitos reais e biológicos do mesmo. A associação dos efeitos "terapêuticos" reais das medidas, com o efeito placebo, poderia criar "bem-estar" individual e colectivo, circunstância que deveria ajudar a curar muitas maleitas sociais. Mas, não podem esquecer que devem tratar o máximo número possível dos problemas, enquanto as novas terapêuticas ainda tenham poder para curar...
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