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segunda-feira, 22 de agosto de 2005

“Não quero que morra sozinha”…

O problema da SIDA exige um permanente debate. Nota-se, sobretudo no Ocidente, um certo grau de adormecimento. Em Portugal a situação é muito preocupante. Muita retórica, muitas promessas e muito desconhecimento sobre a realidade e a evolução do fenómeno no nosso país.
A SIDA, quer queiramos quer não, tem uma componente política muito forte que não devemos ignorar. A este propósito revi um pequeno texto escrito na sequência da minha participação numa reunião internacional.


Numa conferência internacional dedicada ao tema SIDA em África, patrocinada pela Associação Europeia de Parlamentares para a África, foi descrita e analisada o panorama actual neste continente. Situação dramática em que os milhões constituem a unidade básica da contagem dos mortos e dos que adoecem. Quando se entra nestas esferas quantitativas dos fenómenos, ficamos um pouco anestesiados, pois só com muita dificuldade é que somos capazes de “destrinçar” quatro de cinco ou seis milhões!
Um dos oradores, professor de economia de uma universidade do sul da África fez uma abordagem muito interessante sob o ponto de vista sociológico e científico. Mas, o que me tocou mais, além dos números e das taxas de infectados, que, nalguns países, ultrapassam os 30% foi uma pequena história. Contou o conferencista que, um certo dia, um reverendo encontrou uma anciã a trabalhar, transportando uma criança ao colo. Surpreendido, perguntou-lhe: - Avó porque é que está a trabalhar e ainda por cima com uma criança ao colo? A velha respondeu-lhe: - A criança tem sida e vai morrer. Quando morrer não quero que esteja sozinha.
Trata-se do mais evidente sinal de desagregação familiar, à qual se associa a falta de professores que vão morrendo, a morte de parlamentares e dos poucos técnicos, o não registo nos cadernos eleitorais, o comprometimento do próprio e incipiente sistema democrático, enfim a desestruturação total das sociedades, pondo em causa a própria essência da negritude.
A SIDA é um problema médico, com relevância particular em saúde pública, mas é, também, um grave problema político que urge resolver. Ao Ocidente compete contribuir de uma forma mais eficiente para a solução das graves dificuldades que vão pondo em causa a sobrevivência do continente africano.

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