O trabalho publicado no The Lancet sobre o valor terapêutico da homeopatia confirma mais uma vez que estamos perante um efeito placebo.
Samuel Hahnemann, médico alemão, com base no princípio “Similia Similibus Curantur”, de que “o semelhante cura o semelhante”, originou uma corrente à qual muitas pessoas se apegaram com fé e determinação propiciando o nascimento e o desenvolvimento de uma indústria lucrativa.
A busca de uma teoria, que garantisse a idoneidade científica, levou ao dislate de aproveitar um trabalho célebre, publicado na revista Nature, em 1988, pelo francês Benveniste. Neste artigo, o imunologista definiu aquilo que poderia ser considerada como a “memória da água”. Após o desaparecimento do princípio activo, através de várias diluições, a água ficava com a memória da substância e, deste modo, continuaria a originar os efeitos. Posteriormente, foi verificada a ausência da reprodutibilidade das experiências pelo próprio editor, John Maddox, auxiliado pelo mágico e denunciador de pseudo-cientistas James Randi e o investigador de fraudes Walter Stewart.
Caiu em descrédito a tão desejada base científica da homeopatia.
Apesar das críticas a esta corrente terapêutica, que já vem desde os tempos de Hahnemann, são incontáveis as pessoas, muitas com nível cultural elevado, que defendem as virtudes das medicinas ditas alternativas. Pessoalmente sinto uma tremenda dificuldade em debater, e em tentar mudar, o comportamento destas pessoas. A explicação é muito simples: as pessoas que as praticam invocam motivos que mergulham mais na fé do que na razão. Ora, fé e razão, apesar de poderem conviver, não são miscíveis. Sendo assim, não vale a pena argumentar cientificamente contra quem nos responde com a fé. O pior é que muitas doenças não são compatíveis com o efeito placebo da homeopatia e, ao fim de algum tempo, desaparece o entusiasmo e a crença é substituída pelo desespero obrigando-os a regressarem ou a procurarem os convencionais, os alopatas.
O respeito pelo ser humano impede, naturalmente, de fazer qualquer crítica ou comentário. Mas, o mal apresenta-se, muitas vezes, em fases avançadas e, ao que eu saiba, até agora, nenhum homeopata foi acusado de erro médico ou de negligência por má prática.
Praticar homeopatia é uma forma segura de ganhar a vida, estar protegido de algum litígio legal e permanecer imune – como é óbvio – a imperativos morais.
Carl Sagan afirmou um dia que “a má ciência combate-se com a boa ciência”. Parafraseando-o, podemos afirmar que a má medicina combate-se com a boa prática médica.
Há, no entanto, necessidade de realçar um aspecto ligado à homeopatia que pode ajudar a explicar o efeito placebo: o facto de saberem ouvir as pessoas. Todos temos consciência deste pormenor que é saber ouvir e dar atenção às pessoas. Só este facto, praticado pelos homeopatas, amigos, familiares, padres, bruxas, astrólogos, psicólogos, assistentes sociais e até médicos, entre outros, contribuem para a saúde de muitos. É imperativo reintroduzir a nobre forma de actuar que é ouvir e dar importância às pessoas que, na classe médica, atendendo ao cada vez mais elevado tecnicismo, se está a perder.
Quanto aos aspectos científicos, os homeopatas afirmam que, no seu caso, as regras utilizadas pela ciência convencional não se lhes aplicam. Conceito interessante. Também não se aplicam às bruxas.
A crendice é violenta e por vezes irredutível. Quanto a mim lá terei de limitar a sorrir e a dizer que não são assuntos do meu rosário, quando sou confrontado pelas afirmações categóricas dos seus defensores. É uma forma de respeitar a liberdade de cada um e, ao mesmo tempo, evito ser estiolado perante situações que acabam, algumas vezes, em dramas terríveis.
Qual é o médico que não tenha uma ou mais histórias que comprovem certas desgraças?
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