A prática de culpar o mensageiro pelos efeitos nefastos da mensagem é tão velha quanto a queixa recorrente do mensageiro contra remetentes e destinatários. O editorial de Pedro Rolo Duarte é mais um exemplo da lamúria incontida do mensageiro contra as classes políticas demonizadas pela pureza de propósitos do jornalista - herói. Sem querer negar a existência de demónios nos corredores sombrios da política, seria bom não esquecer que nem todos os mensageiros são anjos diáfanos. Ao mensageiro compete frequentemente escolher a mensagem, contá-la como e quando lhe convém, sequenciá-la de acordo com critérios nem sempre evidentes. O mensageiro por vezes sabe transformar o conteúdo de um postal ilustrado numa atractiva encomenda e sabe, melhor do que ninguém, que nem sempre a expressão formal da mensagem sobreleva a leitura do destinatário. É como nas anedotas “picantes”, o problema nunca está em quem conta, mas sim em quem ouve ou quem lê.
Tudo isto a propósito do gozo incontido que sinto ao analisar as poucas reacções nacionais (nomeadamente de alguns bloggers muito moralistas) às declarações do deputado Roberto Jeferson à RTP1 (ontem) sobre o envolvimento das empresas portuguesas no escândalo dos financiamentos partidários no Brasil. Aguardo com especial curiosidade as edições impressas do próximo sábado.
1 comentário:
Há-de ser o fim desta comunicação social onde alguns destes novos moralistas não se dão conta (ou dão?) de quantos jornalistas existem ao serviço dos interesses que abnegam. De quanta mentira. De quanta atoarda. De quanta injúria. De tanto mal, premeditado e indesculpável.
Um destes dias divulgarei aqui um texto notável de coragem do Carlos Magno sobre a matéria.
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