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segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

Efeito Westermarck



A nudez da tua irmã, filha de teu pai, ou filha de tua mãe, nascida em casa, ou fora de casa, a sua nudez não descobrirás. (Levítico 18:9)

Li um dia uma história sobre a mãe de Mark Twain, escritor norte-americano que muito admiro. A senhora considerava a escravatura como perfeitamente natural, argumentando que o reverendo nunca tinha feito um sermão nesse sentido, além do facto da Bíblia não dizer nada em contrário! Pois é, também os Dez Mandamentos não dizem nada a este propósito, nem tão pouco proíbe o incesto ou a consanguinidade, não obstante ser uma das mais importantes fontes da conduta humana.
O incesto provoca repugnância generalizada. Apesar de tudo continua a ocorrer, desconhecendo-se a verdadeira prevalência que, segundo alguns autores, poderá oscilar entre 1 a 18% da população adolescente. Num mundo pautado por condutas sexuais problemáticas, muitas vezes pondo em causa a dignidade e os valores humanos importa conhecer melhor este fenómeno. Uma das mais interessantes teorias foi elaborada por um antropólogo finlandês, Edvard Westermarck, que explicou a não atracção sexual entre aqueles que crescem juntos haja ou não vínculos biológicos. Muitos estudos foram entretanto realizados apontando para a existência de um gene que justifique o chamado efeito Westermarck verificado à escala global. Mas, há sempre um mas em todos estes assuntos; como explicar a elevada taxa de consanguinidade e de práticas de incesto verificados em certas comunidades? O tal efeito Westermarck não se manifesta, pelo contrário, a atracção sexual ocorre entre indivíduos biológica e sociologicamente aparentados. Tudo aponta para a existência de uma variante do gene Westermarck (anti-w) que, ao eliminar a não atracção sexual propicia o aparecimento de situações homozigóticas, as quais, embora possam ser muito negativas, não deixam de ter efeitos benéficos face a certas doenças.
Podemos afirmar que nos últimos 10.000 anos a doença com maior pressão selectiva foi e é a malária. Os indivíduos com determinadas particularidades genéticas motivadas pela tal homozigotia apresentam vantagens únicas impedindo que sejam infestadas pelo mortífero parasita. Em determinadas zonas da África Ocidental 98% da população apresentam anomalias genéticas protectoras contra a malária. Só se consegue atingir aquela expressão através de uma elevada consanguinidade na qual o incesto não deixa de ter o seu papel. O efeito anti-Westermarck acaba por ter vantagens selectivas.
Não sei o que diria o juiz do Estado de Alabama, Roy Moore, defensor da presença dos Dez Mandamentos nos tribunais norte-americanos sobre este assunto, às tantas ainda acabaria de esculpir mais um ou dois à Tábua da Lei que acabou por ser conhecida pela "Pedra Sagrada de Roy".

1 comentário:

Tonibler disse...

Eu lembro-me de ter uns vizinhos que eram primos direitos. E primos direitos já dá para alguma homogeneidade genética. Se para arranjar outra, tivesse que atravessar a savana e chegar ao destino incompetente para agir por causa de um leão...lá ia a prima de certeza....Agora, a irmã, o Westermark é capaz de ter razão.