Três senhoras, bem cuidadas, não escondiam que o cavaqueio era o seu desporto favorito, atendendo ao modo como falavam, alto e em bom som, sem receios da vizinhança. Interrompiam os seus comentários, por breves momentos, quando levavam as chávenas do chazinho aos lábios, que deveria estar muito quente, pelo menos era o que dava a entender os estranhos sopros!
O episódio da chupeta de um bebé, que tombou no chão do café, leva-me a relatá-lo e a tecer alguns comentários e reflexões.
O pai da criança, médico, assim que viu a chupeta no chão, apanhou-a, afagou-a em seguida com a palma da mão, enfiou-a na própria boca, voltou a afagá-la novamente, acabando por a introduzir na boca da criancinha, ante o ar “gemelarmente” atónito e escandalizado das três da vigairada.
Quando os protagonistas saíram, o episódio da chupeta passou a ser o tema da conversa. Era patente a indignação sobre a falta de higiene do pai, ainda por cima médico! A este propósito teceram inúmeros comentários, revelando que, relativamente aos filhos, nunca teriam tido aquela atitude, já que os primaram com o máximo de cuidados higiénicos.
Impossível tal atitude, dizia uma das senhoras, “imagino o que poderia ter acontecido ao meu filho, que sofre de asma e de alergias, se não tivesse cuidados higiénicos com ele”! A segunda ripostou no mesmo sentido ao revelar que sempre teve com a sua filha adolescente, entretanto diagnosticada com uma grave doença inflamatória dos intestinos, cuidados extremos de higiene.
Ouvi com muita atenção a conversa e apeteceu-me intervir para explicar que não tinham tanta razão quanto isso, antes pelo contrário.
Ninguém contesta que as grandes conquistas na área da higiene foram determinantes para o progresso social, bem-estar e saúde das sociedades. Mas - há sempre um mas -, o “excesso” de higienização passou a constituir um grave problema. O não contacto precoce com as “sujidades”, nomeadamente as que provocam infeções virusais, bacterianas e infestações parasitárias, estão na base da não estimulação do sistema imunológico, responsável pela defesa dos nossos organismos, que não se escuda apenas ao combate às infeções, alargando-se aos campos das agressões físicas e químicas e das alterações cancerosas, a que estamos constantemente a ser sujeitos.
Temos vindo a assistir, desde há alguns anos, a um aumento preocupante da prevalência de certas doenças que têm a ver com a falta de estimulação do sistema imunológico, caso da esclerose múltipla, das alergias, da asma e das doenças inflamatórias do intestino, só para falar de algumas.
Precisamos da “sujidade”, e a boca é a via privilegiada para o contacto, como é óbvio.
Não é por acaso que as crianças contactam com o mundo, e apreciam-no em primeira mão, através da cavidade bucal. Em boa hora o fazem. Mas quando passam a viver em ambientes asséticos, então, o perigo de virem a sofrer mais tarde certas doenças é uma realidade. A situação é de tal modo caricata que, para algumas afeções, já estão a utilizar extratos de parasitas, que outrora provocavam infestações, sem grandes consequências, para as tratar.
Não me admiraria muito que, um dia destes, comecem a aparecer “extratos de sujidade” à venda para estimular o sistema imunológico. Aqui está uma boa área de negócio: “Proteja a sua saúde! Estimule o seu sistema imunológico. Tome diariamente uma cápsula de extratos de lombrigas”!
Voltando à conversa das senhoras, apeteceu-me explicar-lhes que as alergias e a asma do filho de uma delas poderiam ter sido, eventualmente, evitadas se tivessem tido menos cuidados de higiene em criança, e o mesmo para a mãe da jovem com a doença de Crohn.
Nem oito nem oitenta, diz o povo na sua sabedoria. No caso vertente, as donas já deviam andar pelos “noventa”!
A boca e a sujidade estão, desde sempre, intimamente ligadas, em todos os sentidos. Importa analisar esta relação, “deshigienizando” o suficiente para que as crianças se possam contaminar. Elas agradecem! Por fim, seria, também, conveniente investir mais alguma coisita na “higienização” do que anda a sair da boca de muitos graúdos, sujidade muito perigosa, mortífera nalguns casos...
O episódio da chupeta de um bebé, que tombou no chão do café, leva-me a relatá-lo e a tecer alguns comentários e reflexões.
O pai da criança, médico, assim que viu a chupeta no chão, apanhou-a, afagou-a em seguida com a palma da mão, enfiou-a na própria boca, voltou a afagá-la novamente, acabando por a introduzir na boca da criancinha, ante o ar “gemelarmente” atónito e escandalizado das três da vigairada.
Quando os protagonistas saíram, o episódio da chupeta passou a ser o tema da conversa. Era patente a indignação sobre a falta de higiene do pai, ainda por cima médico! A este propósito teceram inúmeros comentários, revelando que, relativamente aos filhos, nunca teriam tido aquela atitude, já que os primaram com o máximo de cuidados higiénicos.
Impossível tal atitude, dizia uma das senhoras, “imagino o que poderia ter acontecido ao meu filho, que sofre de asma e de alergias, se não tivesse cuidados higiénicos com ele”! A segunda ripostou no mesmo sentido ao revelar que sempre teve com a sua filha adolescente, entretanto diagnosticada com uma grave doença inflamatória dos intestinos, cuidados extremos de higiene.
Ouvi com muita atenção a conversa e apeteceu-me intervir para explicar que não tinham tanta razão quanto isso, antes pelo contrário.
Ninguém contesta que as grandes conquistas na área da higiene foram determinantes para o progresso social, bem-estar e saúde das sociedades. Mas - há sempre um mas -, o “excesso” de higienização passou a constituir um grave problema. O não contacto precoce com as “sujidades”, nomeadamente as que provocam infeções virusais, bacterianas e infestações parasitárias, estão na base da não estimulação do sistema imunológico, responsável pela defesa dos nossos organismos, que não se escuda apenas ao combate às infeções, alargando-se aos campos das agressões físicas e químicas e das alterações cancerosas, a que estamos constantemente a ser sujeitos.
Temos vindo a assistir, desde há alguns anos, a um aumento preocupante da prevalência de certas doenças que têm a ver com a falta de estimulação do sistema imunológico, caso da esclerose múltipla, das alergias, da asma e das doenças inflamatórias do intestino, só para falar de algumas.
Precisamos da “sujidade”, e a boca é a via privilegiada para o contacto, como é óbvio.
Não é por acaso que as crianças contactam com o mundo, e apreciam-no em primeira mão, através da cavidade bucal. Em boa hora o fazem. Mas quando passam a viver em ambientes asséticos, então, o perigo de virem a sofrer mais tarde certas doenças é uma realidade. A situação é de tal modo caricata que, para algumas afeções, já estão a utilizar extratos de parasitas, que outrora provocavam infestações, sem grandes consequências, para as tratar.
Não me admiraria muito que, um dia destes, comecem a aparecer “extratos de sujidade” à venda para estimular o sistema imunológico. Aqui está uma boa área de negócio: “Proteja a sua saúde! Estimule o seu sistema imunológico. Tome diariamente uma cápsula de extratos de lombrigas”!
Voltando à conversa das senhoras, apeteceu-me explicar-lhes que as alergias e a asma do filho de uma delas poderiam ter sido, eventualmente, evitadas se tivessem tido menos cuidados de higiene em criança, e o mesmo para a mãe da jovem com a doença de Crohn.
Nem oito nem oitenta, diz o povo na sua sabedoria. No caso vertente, as donas já deviam andar pelos “noventa”!
A boca e a sujidade estão, desde sempre, intimamente ligadas, em todos os sentidos. Importa analisar esta relação, “deshigienizando” o suficiente para que as crianças se possam contaminar. Elas agradecem! Por fim, seria, também, conveniente investir mais alguma coisita na “higienização” do que anda a sair da boca de muitos graúdos, sujidade muito perigosa, mortífera nalguns casos...
3 comentários:
Ai caro Professor Massano Cardoso, se todos os médicos tivessem um discurso tão claro e simples como o seu, que bem andaríamos!
Este assunto, relativamente àquilo que em matéria de higiene infantil, é ou deve ser observado pelos pais, não é geralmente muito valorizado pelos médicos pediatras, ficando assim um pouco ao critério dos pais, que, mais conhecedores ou menos, lá vão observando mais ou menos rigorosamente as regras que entendem ser as mais adequadas.
Lembro-me de quando os meus dois filhos eram bébés, ter proibido terminantemente a minha mulher de deixar adultos beijarem os bébés, quer na face, quer nas mãos, assim como falar com a cara mesmo em frente da cara deles.
A minha mulher não compreendeu e não gostou, tentou fazer-me mudar de opinião, até que me vi forçado a impor-lhe que, iria passar por situações desagradáveis se visse alguem a beijar os bebés.
Hoje, passados quase 30 anos, mantenho a mesma opinião, não encontro razão lógica para que um um adulto beije um bebé, ou que lhe faça aquelas mesuras que fazem a criança arregalar muito os olhos e até por vezes desatar num choro assustado.
A minha mulher acusa-me de ter sido pai-galinha, não sei, talvez tenha sido, mas... dei-me bem com isso e, como os filhos tambem são meus...
;)))
UUUi, isso então seria uma tarefa ciclópica, abria-se logo um enorme e inconclusivo debate sobre o que seria ou não "higiénico"!
Quanto ào asseptismo que agora se associa ao cuidado das crianças, há dias uma tia minha teve um problema em casa, um cheiro acere que lhe irritava a garganta, por coincidência ou não o canário morreu, enfim, um monte de trabalhos cuja origem não foi possível detectar. No seu desespero, ouvia falar de umas maquinetas que "purificam" o ar e que se vendem nas farmácias. Lá foi à procura e de facto há, o público-alvo são precisamente as mães ansiosas e destinam-se a colocar no quarto dos bebés para que o ar seja filtrado de todas as impurezas. Pergunto-me o que é que acontece a esses bebes quando vão à rua, ou para casa das amas ou para os infantários...
Caro Professor
Não será de "meter uma cunha" à RTP, para passarem num Domingo (para maior audiência) o filme de Jacques Tati "Mon Oncle"?
Com os meus cumprimentos,
Maria Fernanda
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