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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Transações reprováveis...

Será que a crise financeira foi assim tão madrasta para com o ex-Presidente do banco Lehman Brothers? Oportunismo, imoralidade, fraude? Classificações que nos sugerem o comportamento noticiado pelo The New York Times.
Segundo o jornal, Richard Fuld vendeu a sua mansão na Florida, adquirida em 2004 por 13,75 milhões de dólares, pelo montante de 10 dólares à mulher Kathleen. Fontes jurídicas na Florida admitiram “que o banqueiro esteja agora a transferir as suas propriedades por recear processos judiciais por parte dos investidores ou uma possível bancarrota”.
O Lehman Brothers foi mentor e uma das vítimas das hipotecas “tóxicas”. A sua falência em Setembro de 2008, depois da Administração Bush ter rejeitado o apoio ao financiamento do banco com dinheiros públicos, disparou o fatal tiro de partida para a crise mundial que, de lá para cá, não pára de fazer graves estragos na economia.
Para quê mais comentários? Não me ocorre, sinceramente, a adjectivação necessária para qualificar uma tal transação imobiliária.

4 comentários:

CS disse...

Entre outras razões é precisamente por escândalos destes que eu creio bem ser fundamental que nova geração da regulação financeira (que muito promete com a aposta que nela parece fazer o novo presidente dos EUA) efectivamente inclua a possibilidade de revisão de pára quedas dourados pagos a gestores afastados e que se vem a demontrar terem responsabilidade no estado a que a instituição que geriram subsequentemente chegou. Entre outros temas, a regulação será discutida amanhã em http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/01/debate-rtp2-sociedade-civil-presidencia.html. Espero que haja tempo para o fazer com a seriedade que o assunto merece.
Obrigado.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Carlos Santos
Fui até ao seu blog, mas não tive oportunidade de assistir ao debate. O tema da regulação necessita de ser discutido com seriedade, sim, mas também com muito bom senso, no sentido de que há que encontrar o justo equilíbrio entre o mercado e a regulação para prevenir, corrigir e suprir as falhas do mercado.
A crise do sistema financeiro é também o espelho da ausência do padrão de valores tradicionais. A situação deve-se a dois objectivos que passaram a guiar o comportamento das pessoas e das organizações:
- A maximização do lucro imediato, sem restrições éticas
- A realização do prazer imediato.
Os gestores das empresas, e não apenas das instituições financeiras, induziram a maximização do lucro pela urgência de rapidamente aumentarem as suas remunerações, sem quaiquer preocupações de sustentabilidade e com elevado risco de gerar quebra de valor social.
Torna-se, pois, muito urgente e importante estabelecer restrições que quebrem estas práticas, para o que são fundamentais novas regras de supervisão e regulação.

Suzana Toscano disse...

Os prémios de produtividade começaram por ser um estímulo para rapidamente se tornarem um objectivo. Com isso, os vencimentos ditos de base passaram a não ter qualquer referência com a realidade, sobretudo diminuiram as transferências para a segurança social e restringiram fortemente a garantia (enfim, pensava-se que seria garantia) de reformas dignas. Não estou só a referir-me aos gestores milionários, mas a toda a cadeia de produção. A acção-reacção devia ter sido ponderada mas os teóricos destes interessantes modelos só trabalham no papel, nunca se lembram das pessoas. Há tempos fui a uma clínica privada e, enquanto aguardava aminha vez, vi uma médica furiosa com a menina que fazia as marcações, tinha um doente em cada 20 minutos e ela considerava que era impossível fazer um atendimento decente nesse intervalo. A menina dizia, muito atrapalhada, que cumpria ordens, não podia fazer nada... Um escândalo, a mercantilização absoluta de todo o trabalho, se só pagam à peça o que é que se espera? Amor à arte?

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Vivemos na era da mercantilização de tudo!
É impressionante como fomos caminhando para o abismo com a ilusão do sucesso, sem nos questionarmos ou duvidarmos sobre a sustentabilidade da maximização do lucro imediato sem restrições éticas. O excesso de tudo modelizar - na actividade bancária, nos mercados financeiros, na economia - também está presente na crise que estamos a viver. Os modelos são úteis mas podem ser perigosos, se neles nos centrarmos e esquecermos a necessidade de observarmos com sentido crítico os comportamentos e as decisões das pessoas e das instituições.