Neste post saudei a posição do PSD transmitida pela Dr.a Manuela Ferreira Leite (MFL) sobre o projecto do TGV (mais correctamente, como alguém chamou a atenção por aqui, de Alta Velocidade - AV), em especial do eixo Lisboa-Madrid.
Este episódio e a inacreditável reacção da direcção do PSD segundo a qual a questão só diz respeito aos portugueses apesar do acordo bilateral subscrito pelo governo de Durão Barroso, fazem temer que a questão do TGV venha a assumir os contornos de mais uma disputa clubística, se tal reacção sinalizar incapacidade política para, antes de mais, compreender o que está em causa.
Confesso-me perplexo com essa reacção, desde logo porque existem todas as razões para que o PSD mostre aos portugueses a razão, mas também a autoridade do PSD para tomar a posição que a sua líder me pareceu que tinha consolidado.
Custa-me antes de mais perceber porque é que à crítica do PS e do governo segundo a qual MFL está a trair irresponsavelmente o compromisso ibérico que firmou na Figueira da Foz, não se responde com o que sempre foi a doutrina do PSD - apoiar todos os investimentos que tornem Portugal menos periférico, o que só será conseguido tornando a fachada altlântica mais competitiva à escala europeia. O TGV Lisboa-Madrid prossegue este objectivo e o PSD não pode deixar de estar de acordo com ele. Este, porém, não é o problema. A questão é a prioridade dada, na actual conjuntura, a um projecto de elevadíssima taxa de incorporação de bens e equipamentos importados e, de acordo com uma observação séria e despreconceituosa do seu modelo financeiro, de retorno económico e social mais do que duvidoso.
O insuspeito João Cravinho qualificou-o de ruinoso. E restam dúvidas de que o é, quando o País se confronta com um endividamento externo que vai chegar este ano perto dos 70% do seu produto? A caminhar para uma efectiva deflação com efeitos de arrastamento para baixo da economia?
O debate tem de ser recentrado a este quadro: está certo ou está errado optar por concentrar recursos que não possuímos em projectos de rendibilidade negativa, com impactos severos sobre o futuro, sem que essa negatividade esteja garantidamente compensada por efeitos positivos dos pontos de vista social ou outros?
Pela minha parte aplaudiria o comboio de AV para Madrid e daí para o resto da Europa, se um dia pudesse ser executado o projecto sem que isso significasse o sacrifício de outras opções mais ingentes (apoio à competitividade, ao tecido empresarial produtor de bens transaccionáveis, por exemplo).
Para já, espero que quem se oponha saiba, com conhecimento e com inteligência, jogar com argumentos válidos, e não transformar mais uma vez uma questão de interesse para o País numa disputa entre os que são a favor "porque sim" e os que são contra "porque não"...
3 comentários:
Muito bem, caro Ferreira de Almeida.
O meu amigo deu o argumento lúcido e correcto para resposta à irresponsabilidade do Governo e do PS. A discussão deveria decorrer do custo benefício do projecto e da sua oportunidade, na situação de crise em que nos encontramos.
Colocar em segunda linha esta argumentação é alinhar na vacuidade da argumentação governativa e dar trunfos a quem, na matéria, não merece qualquer crédito.
Caro Drº Ferreira de Almeida:
Estou 100% de acordo. Sem dúvida que a questão se põe da forma que diz:
"O debate tem de ser recentrado a este quadro: está certo ou está errado optar por concentrar recursos que não possuímos em projectos de rendibilidade negativa, com impactos severos sobre o futuro, sem que essa negatividade esteja garantidamente compensada por efeitos positivos dos pontos de vista social ou outros?"
E como mede rendibilidade negativa? Que evidência tem para fazer esta afirmação? Deveras curioso para saber os dados que suportam o seu razoado.
Miguel Araújo
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