1. Foram ontem divulgados dois indicadores – (i) um índice das expectativas económicas de especialistas financeiros para os próximos 6 meses na Alemanha e (ii) o número da construção de casas novas nos USA – que surpreenderam pela positiva.
2. No primeiro caso, trata-se de um indicador divulgado pelo instituto de análise económica ZEW, com sede em Manheim, que serve como barómetro da tendência cíclica. O respectivo valor subiu pelo 5º mês consecutivo, fornecendo uma noção de que a “bottom line” da crise na Alemanha não estará longe...
3. No segundo caso, trata-se de uma melhoria registada em Fevereiro na construção de casas novas, a primeira dos últimos 8 meses – uma melhoria de 22% em relação a Janeiro, aparentemente justificada pela redução dos custos de construção que estimulou a industria a produzir mais - invertendo uma forte queda que, com pouquíssimas interrupções, vem de Janeiro de 2007.
4. São ainda indicadores ténues e parciais...mas é sempre assim que se iniciam os novos ciclos...há que aguardar novos sinais para ver se o anúncio de melhorias tem continuidade ou se pelo contrário são pequenas luzes que se apagam...
5. Em sentido contrário, a equipa económica de Obama parece estar com dificuldade em definir um programa de saneamento do sector financeiro que seja convincente – parece existir nesta altura em Washington uma certa confusão em relação ao que cumpre fazer para restituir a saúde a um sistema financeiro dizimado por tantos escândalos e por perdas excepcionalmente elevadas.
6. E da Alemanha chegam vozes críticas quanto às medidas de apoio à economia decididas pela administração Obama – o Prof Christoph Schmidt, principal conselheiro económico da Chanceler alemã lançou um público aviso quanto aos efeitos inflacionistas dessas medidas.
7. O Prof Schmidt não deixou de sugerir eventual intencionalidade nesses efeitos inflacionistas como forma de ajudar a pagar os juros da dívida americana, que deverão registar uma forte subida em consequência da maciça emissão de dívida para o financiamento das medidas de apoio ao sector financeiro e a sectores não financeiros.
8. Era muito importante que as pequenas luzes ao fundo do túnel se intensificassem pois de outro modo, com os desentendimentos entre políticos de um lado e do outro do Atlântico a acentuar-se, a crise agradecerá...
9. Felizmente por cá continuamos no mais seguro dos mundos...o Governo está preparado para o pior, soube-se hoje...e agora promete a redução a 50% no valor da prestação dos empréstimos para compra de casa de que sejam devedores famílias com pelo menos 1 desempregado...
10. Fica-se sem saber se é redução definitiva ou se corresponde a uma moratória parcial da dívida durante 2 anos....ou se, feitas as contas no fim, nem uma coisa nem outra como noutras promessas...Eleições obrigam!
4 comentários:
Caro Tavares Moreira,
Que dirão agora os que lhe apelidaram de profeta da desgraça?
Já tinha ouvido o anúncio de recuperação na construção de casas nos EUA. É um sinal positivo e espero eu que seja uma luz ao fundo do túnel que venha a intensificar. o FMI ontem anunciou uma previsão de crescimento de 0.1% para a economia mundial para o próximo ano.
Qual a sua opinião quanto à ideia de se cria um banco para adquirir todos ou pelo menos a maioria dos activos tóxicos??
Caro Tavares Moreira, já não sei se é mais preocupante a crise actual se a crise que vai vir com as consequências dos remédios/tentativas de a suster. Inflação galopante, dívidas externas gigantes, sector público impensável, desconfiança do mercado livre financeiro, a falência das organizações que eram exemplos de "boas práticas de gestão"... A luz ao fundo do túnel que mundo vai iluminar? Ai, que é mesmo difícil combater o pessimismo!
O prof Schimidt não viu a aritmética toda a coisa.
Espero que a crise chegue ao fim bem, isto é, que se estabeleça o conhecimento sólida da razão da crise que foi....a ignorância. Se não se chegar ao fim desta crise percebendo que não houve razão para haver crise, então ela não serviu para nada.
Caro André,
Os que me apelidaram de profeta de desgraça voltarão a carga mal tenham oportunidade...
Para quem não saiba, Portugal foi precursor na criação de um "banco" com essas características - a Finangeste, constituída em 1977 para gerir adquirir activos críticos dos bancos que entraram em dificuldades a seguir aos ímpetos revolucionários de 1974 - foram quase todos.
A Finangeste continua a sua actividade hoje em dia, constando-me que se encontra numa boa situação...admito que o grau de toxicidade dos activos que adquiriu não fosse tão elevado como o daqueles de que hoje se fala...
Cara Suzana,
A saída da crise dar-se-á quando menos se esperar...é dos livros!
Em todo o caso, existem países que tudo fazem/farão para prolongar a crise...à bon entendeur...
Caro Tonibler,
Bom ponto o seu...estou convicto de que qaundo saiemos desta embrulhada já ninguém se recordará dos motivos porque nela entramos, se é que chegaram a perceber porque entramos até porque a nível oficial tudo está sendo feito para que se não perceba mesmo nada...
Salvo meu amigo, bem entendido!
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