No país em que a secretária do adjunto do subsecretário de estado adjunto faz questão de se fazer transportar no banco de trás do carro do Estado, o mais humilde dos funcionários detentor de um pequeno poder transforma-se num ser longínquo para os demais, não vá a disponibilidade ser confundida com familiaridade, inimiga como esta é do reconhecimento da importância social dos cargos.
Em Portugal é assim. Há mais de uma semana que tento reportar uma questão - que pode ser um problema sério de segurança - relacionada com informações pessoais detidas por uma instituição bancária. Fiz o que me pareceu mais prático: questionar sobre um determinado procedimento, supostamente de rotina, a responsável por uma pequena agência do banco em causa aqui ao pé do meu local de trabalho. À terceira tentativa desisti, pois a importante criatura, de tão ocupada, só com marcação me poderia ouvir. Estou a falar de uma agência bancária de tanta relevância que, por junto, deve ter para aí uns...4 funcionários!
Pois lá terei que incomodar os figurões do conselho de administração que estou certo que me ouvirão. Ou não. Porquanto atentos estes exemplos, se percebe que ser atentido por alguém que pode ajudar na resolução de um problema é tão estranho, tão insólito, que nos últimos tempos tem sido mesmo considerado indício do cometimento das maiores safadezas.
4 comentários:
Dar-se ares de importante e difícil é apanágio de muita gente.
E muitos tentam passar a mensagem.No início da minha vida profissional, e perante a ninha disponiblidade e, vá lá, rapidez de resposta às solicitações que eram feitas, um Director aconselhou-me: caro Pinho Cardão, torne-se mais difícil, saliente a complexidade do pedido, não responda com tanta celeridade. Então, porquê, perguntei? Ora porquê? Porque, se responde depressa, está a diminuir o seu trabalho e a importância do pedido. Um ar de muito ocupado faz com que esteja a fazer um favor na resposta. E algum tempo para ela dá ares da profundidade do estudo!...
Confesso nunca ter seguido o conselho, preferindo sempre a minha insignificativa importância...
Para ser sincero, não me incomoda absolutamente nada a soberba que alguns exibem, quando ocupam o lugar trazeiro das viaturas.
Aquilo que verdadeiramente me incomoda é o critério e o rigor nessa utilização, assim como a necessidade de exstirem viaturas caríssimas e dispendiosa na sua manutenção e consumo, ao erviço de pessoas que para se deslocarem em serviço, poderiam perfeitamente fazê-lo em carros mais económicos.
Andam por aí em desgoverno, alguns substantivos masculinos, terminados em «ismo», exibicionismo, pedantismo, parolismo. Contudo, o parónimo nestes casos, para além de lhes exaltar a sonoridade, confere-lhes a qualidade de família. A família dos "pequenotes".
O estado dá o exemplo nesta matéria ao não dissociar o estatuto do seu representante, da gama da viatura em que o mesmo se faz transportar, seja no banco de trás... ou no da frente.
Depois... independentemente da necessidade de afirmação, via lugar de trás, ficaria bem aos nossos gestores e dirigentes, equacionar o seguinte: Seria ou não mais proveitoso aplicar dinheiros públicos em equipamento hospitalar, em lugar de o aplicar na aquisição/aluguer e mnutanção de frotas de luxo?!
Há ainda aquelas situações em que temos de ouvir alguém para obtermos uma resposta que já sabemos de antemão, mas que eles fazem questão de tecer grandes raciocínios, franzem o sobrolho enfim, um desperdício de tempo!
Penso que isso é uma das consequências normais da cultura Portuguesa. O Português é extremamente vaidoso e vive essencialmente de aparências. O caso que o carissimo Ferreira de Almeida nos trouxe parece-me ser apenas mais um dos sintomas associados a essa patologia.
Não conto que mude...
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