O Ministro Mariano Gago congratulou-se com o facto de termos cinco investigadores por cada mil activos, valor ao nível da média europeia, e apelidou Portugal de “país científico”.
Está na moda e é politicamente correcto produzir afirmações como esta. Acontece que são absolutamente vazias de conteúdo nos seus resultados práticos. É que, sem prejuízo de uma investigação fundamental, o que se torna necessário é uma investigação tecnológica virada para a inovação, para a criação de novos produtos susceptíveis de serem produzidos e comercializados ou para o aperfeiçoamento dos existentes. O que se exige é uma investigação que crie produtos e mercados e não uma investigação ao serviço do investigador, como é a que acontece em Portugal.
Portugal vem gastando milhões em investigação lúdica, satisfazendo meros objectivos particulares do próprio Centro ou Laboratório, ou mesmo e apenas o gosto pessoal ou o capricho de quem a promove, pelo que é investigação em pura perda, dinheiro deitado à rua sem qualquer resultado prático.
O exíguo número de patentes registadas define que este é o tipo de investigação que, salvo raras excepções, se faz em Portugal. Em 2006, Portugal registou 125 patentes, 12 por cada milhão de habitantes, sendo que, por cada milhão de habitantes, a Suécia e a Finlândia andam pelas 350, a Holanda pelas 200 a 250, a Dinamarca pelas 150 a 200 patentes.
Está na moda e é politicamente correcto produzir afirmações como esta. Acontece que são absolutamente vazias de conteúdo nos seus resultados práticos. É que, sem prejuízo de uma investigação fundamental, o que se torna necessário é uma investigação tecnológica virada para a inovação, para a criação de novos produtos susceptíveis de serem produzidos e comercializados ou para o aperfeiçoamento dos existentes. O que se exige é uma investigação que crie produtos e mercados e não uma investigação ao serviço do investigador, como é a que acontece em Portugal.
Portugal vem gastando milhões em investigação lúdica, satisfazendo meros objectivos particulares do próprio Centro ou Laboratório, ou mesmo e apenas o gosto pessoal ou o capricho de quem a promove, pelo que é investigação em pura perda, dinheiro deitado à rua sem qualquer resultado prático.
O exíguo número de patentes registadas define que este é o tipo de investigação que, salvo raras excepções, se faz em Portugal. Em 2006, Portugal registou 125 patentes, 12 por cada milhão de habitantes, sendo que, por cada milhão de habitantes, a Suécia e a Finlândia andam pelas 350, a Holanda pelas 200 a 250, a Dinamarca pelas 150 a 200 patentes.
Pelo que melhor faria o Ministro se definisse, com carácter de prioridade, uma política pública que obrigasse os seus Laboratórios e Centros de Investigação a estabelecer parcerias com empresas, com vista a desenvolver programas de investigação aplicada, com objectivos definidos, prazos estabelecidos, metas parciais a atingir, orçamentos aprovados, e hierarquia definida, sob o controle das empresas.
No âmbito dessa política, os Centros e Laboratórios Tecnológicos que, no prazo de dois anos, não tivessem concretizado tais parcerias, seriam encerrados.
Porque, salvaguardando um núcleo de investigação fundamental, uma investigação tecnológica que não esteja vocacionada para a criação de novos produtos não se justifica. Pura e simplesmente.
No âmbito dessa política, os Centros e Laboratórios Tecnológicos que, no prazo de dois anos, não tivessem concretizado tais parcerias, seriam encerrados.
Porque, salvaguardando um núcleo de investigação fundamental, uma investigação tecnológica que não esteja vocacionada para a criação de novos produtos não se justifica. Pura e simplesmente.
18 comentários:
Quer saber a melhor?
Fui "investigador" durante dois anos antes de emigrar. Coloco investigador entre aspas porque este foi um expediente que o centro de investigação aonde desenvolvia a minha actividade me encarava apenas como um recém licenciado a quem podiam pedir tudo o que lhes apetecesse. No âmbito desta bolsa de investigação desempenhei funções que não tiveram absolutamente nada a ver com o que me foi proposto. Os resultados práticos do meu trabalho foram, no final dos dois anos, para a gaveta de onde nunca era suposto sairem. Isto porque o centro não tem que apresentar resultados, apenas relatórios.
No final destes dois anos em que estive efectivamente empregado, obedecia a uma hierarquia e cumpria ordens, não tive direito a subsídio de desemprego. Posso, da minha experiência, dizer lhe o que é um investigador: mais um recibo verde, destinado a branquear os números do desemprego, e uma actividade absolutamente precária.
Bendito o dia em que tive a lucidez de emigrar.
Cumprimentos de Londres.
Um depoimento muito esclarecedor, este do caro Cidrais.
Felicidades, aí em Londres, caro Cidrais, oxalá possa realizar os seus desejos e um dia voltar para cá, também precisamos de inconformados!
Parabéns ao Cidrais. Eu também fui investigador durante ano e meio e devo toda a minha vida profissional a esse facto. Aprendi o que não queria ser, ou melhor, onde não queria estar.
Quanto ao post, eu não poderia estar mais de acordo. Investigação, mais que qualquer outra actividade (ao contrário do que as pessoas pensam) obedece a uma gestão de carteira. Talvez a actividade mais próxima seja a dos fundos de private equity. E para isso há que fazer carteiras, ou com várias linhas de investigação simultaneamente ou com linhas comerciais de facto. E em função da carteira, fazer as opções. Não em função dos interesses pessoais dos investigadores a quem, obviamente, interessa uma linha de investigação - a sua.
Só uma pequena ressalva, eu não faria essa separação de investigação fundamental da investigação tecnológica. A sua aplicabilidade e a alocação de recursos que se faça a uma ou a outra depende da carteira. A IBM, por exemplo, ganhou dois prémios Nobel da Física seguidos, ambas envolvendo temas muito "pouco tecnológicos" (na altura!) porque a carteira de desenvolvimento deles incluía essas linhas.
Caros Cidrais e Tonibler:
Obrigado pela vossa contribuição de saber de experiência feito.
Muito oportuno o seu postal. Como trabalhei profissionalmente muitos anos em investigação aplicada e via regularmente o Boletim da Propriedade Industrial, estou familiarizado com a nossa fraquíssima produção de patentes. Há dias o Público noticiava "Portugal continua a ser um país de inventores". Amarga ironia. A propósito escrevi no meu blog (O princípio da incerteza):
"Segundo o Público, "Portugal continua a ser um país de inventores". Esta afirmação baseia-se no crescimento de 40% do "número de projectos submetidos à concessão de patente" nos três primeiros trimestres de 2008, depois de terem crescido 55% entre 2004 e 2007 (dados do INPI). É pena que o artigo que cita estes números só se refira a aumentos, sem uma única vez falar em números absolutos. Os aumentos são sem dúvida significativos... O crescimento é saudável. Porém se se passa de um único pedido de patente para 2, teremos um aumento de 100%, sem que o número deixe de ser mais que miserável. Também não se faz qualquer referência a comparações internacionais. Portugal, país de inventores? Mais ou menos do que os EUA e o Japão? Em que posição ficamos em número de patentes por 100.000 habitantes em relação a outros países da Europa? Nada disso é minimamente esclarecido."
Este postal esclarece já alguma coisa e deixa ver como infelizmente não somos um país de inventores nem, contra o que diz o Ministro mariano Gago, um "país científico".
É isso mesmo, caro Freire de Andrade.
E já que falou em EUA e Japão, o primeiro registou,em 2006, 174000 patentes,o segundo 142.000, o que dá entre as 150 e as 200 por mulhão de habitantes.
Caro Paulo:
Boa metáfora, a sua, e que ilustra o estado do país dito científico...salvo raras excepções, claro, que se devem sentir mal no quadro existente.
Caro Paulo,
Experimente. Dá mesmo.
Se a investigação não for para dar dinheiro em processos industriais ou de saude ou em alguma áreas culturais "nacionais" deve pura e simplesmente ser extinta.Para enriquecimento do "investigador" amigo de quem manda não...
Caro Paulo,
Confundir investigação com aquilo que é a face mais conhecida dos laboratórios do estado, ou com a história da Y-Dreams, é um erro comum, mas é um erro.
Há dezenas de pessoas neste país que alocam parte dos proveitos da sua actividade comercial (incluindo aqueles que um dia forma spin-offs dos laboratórios do estado) à investigação e que dela fazem a sua actividade comercial de amanhã. Dezenas, que eu saiba.
Paulo,
Isso não é investigação, é passatempo.
Aquilo de que falo usa capacidade instalada porque corresponde está ligada à actividade comercial, produz artigos e terminam em produtos ou serviços. Pensei que era ao caso da Y-Dreams de que falava no spin-off. Reduzi-la a um programador como faz é apenas má argumentação, uma vez que é uma das maiores produtoras de jogos para telemóvel da Europa.
Boa investigação a sua, caro Paulo.
Quanto à conclusão, já desconfiava dela...
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