1. Os primeiros indicadores sobre o desempenho da economia portuguesa em 2009, divulgados no final da última semana por INE e BdeP evidenciam veloz deterioração da actividade, nas múltiplas frentes: (i) investimento com quebra superior a 20%; (ii) consumo privado em forte abrandamento; (iii) declínio acentuado das exportações de bens (-14,3%) e de serviços (-10.6%); (iv) défice orçamental sem controlo, com quebra súbita das receitas; (v) défice externo pouco inferior ao de Jan/2008, apesar da séria contracção económica.
2. Com o avanço do período eleitoral são de esperar agravamentos pelo menos na frente orçamental e no défice externo: todas as medidas “anti-crise” anunciadas deverão traduzir-se em mais despesa pública, basicamente improdutiva, pelo que aquilo que se pode esperar delas será o estímulo das importações, mantendo as exportações a tendência de forte queda – até nas exportações para Angola, nosso “refúgio” mais recente, é expectável um sensível abrandamento pelo menos.
3. Não existindo nesta altura nenhum factor positivo que nos permita esperar uma inversão deste cenário num prazo curto, digamos que até finais do corrente ano, é legítimo perguntar em que estado a economia se vai encontrar no final do ano...
4. Para responder a tal questão, parece útil analisar as coisas numa versão geométrica - aquilo a que se tem chamado o plano inclinado em que a economia se encontra tenderá, velozmente, para a posição perpendicular.
5. Com a aproximação à perpendicular, o efeito da gravidade - que em economia é por vezes tão activo como na física - poderá significar que uma boa parcela da economia corre o risco de ficar “em cacos” ...
6. Apreciada a esta luz, a disputa eleitoral do próximo Outono adquire um bizarro significado: os partidos políticos estarão disputando a primazia na tarefa de tentar juntar e colar (ou varrer ?) os “cacos” em que a economia ameaça transformar-se.
7. Á primeira vista, isto parece uma disputa eleitoral masoquista. Sendo incomensurável a magnitude dos problemas que o País – um País cansado, amuado e descrente, convém não esquecer – terá pela frente lá para o final do ano, alguém de bom senso poderá estar interessado em disputar esse tremendo fardo? Só mesmo por masoquismo, dir-se-á...
8. No entanto, esse aparente masoquismo tem uma explicação e uma “desculpa”: é a necessidade de reforçar a todo o custo ou de conquistar o domínio da máquina do Estado administração e do Estado empresarial para manutenção/distribuição dos respectivos lugares por uma formidável legião de "apaixonados" da política.
9. Só depois se pensará em juntar os “cacos”, para os colar ou varrer...com "paixão" é claro - há prioridades que devem ser respeitadas!
7 comentários:
Isto é tudo de rir! CTOC anuncia o melhor desempenho nos lucros: 1,6 milhões de euros. O melhor ministro das Finanças da zona Euro, aumenta por portaria os prémios do fisco, esse enorme sector de "bens transaccionáveis"! E as empresas de bens transaccionáveis definham, os seus administradores e associados respondem pessoalmente pelas dívidas fiscais das mesmas para além da responsabilidade limitada das mesmas e com a ajuda do T.Constitucional.
Será que não há já em Portugal ninguém com bom senso ou com um Q.I superior a 80?
Caro Tavares Moreira,
Já não acredita mesmo que isto se resolva? Está mesmo à espera do acto final da "falência" do Estado?
Eu começa a preocupar-me que isto não tenha solução. A população está descrente e quando assim é, nem alguém competente consegue resolver a situação. Acho que caminhamos alegremente para a alçada do FMI...
Caro maioria silenciosa:P.A.S.
Que está de rir, está, embora não tenha graça nenhuma...
Caro André,
Com efeito, a alçada do FMI acabará por ser wellcome...com perseverança, talento para o disparate e adequado controlo da informação, lá conseguiremos chegar, estou esperançado - e quando lá chegarmos o talento dos comunicadores anunciará esse dia como uma vitória, ainda vamos ver...
Como o Governo socialista é laico, nem sequer se lhe pode rezar pela alma, e como tem prosápia de tecnocracia saloia e primária nem se pode recorrer à prece " Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem", dado que até ficaria ofendido.
Como tal, só resta a solução de o desobrigar do sacrifício nas próximas eleições. Que são importantes como nunca!...
Excelente análise caro Dr. Tavares Moreira.
Reabilitar o país é urgente, tão urgente quanto é limpa-lo, expurga-lo destes gestores fantásticos e das suas engenharias económicas e financeiras. É urgente reabilitar a economia, retomar e adaptar a produção. Não sendo adepto das políticas deste governo, observo contudo que alguns dos seus "movimentos" podem resultar bem. Um exemplo disso, foi a recente visita de Sócrates a uma empresa produtora de painéis solares e o apelo público que fez, incentivando à instalação daqueles sistemas, demonstrando algumas das vantagens que poderão ser obtidas.
Em minha opinião, este é um caminho sério que a nossa economia pode tomar como sinal positivo e a seguir, pensando e desenvolvendo outros negócios de produção e exportação de produtos competitivos na área da utilização dos recursos naturais e de energias renováveis, assim como o desenvolvimento da sua aplicação às necessidades urbanas.
É importante estar atento às novas utilidades e ao novo espírito ecológico que ganha dimensão em todo o mundo. Há dias, assisti na televisão à demonstração de uma habitação inteligente, uma habitação recheada de novas tecnologias que é concebida por uma empresa portuguesa, a qual segundo se refere na peça, já tem diversas encomendas do estrangeiro. É necessário que o estado dê incentivos para que gente empreendedora estabeleça estes negócios e os dinamize, criando como Sócrates muito bem explicou, mais riqueza para o país e possa criar os postos de trabalho que tanta falta fazem.
Quando (se) a economia atingir a posição perpendicular/descendente, vamos entrar em cenário de golpe de estado financeiro.
A partir daí, ficam a restar ao país dois únicos caminhos futuros:
A nacionalização total das empresas e dos capitais, detida por um regime muito próximo do ditatorial, capaz de pegar com segurança as rédeas deste corcel aparvalhado, ou então como se alvitra nos comentários, esperar que uma alma caridosa mande vedar o rectângulo com arame farpado e transforme e confine esta nação que já foi imensa num “gueto” …Blaaahgg até me deu náuseas.
Caro Tavares Moreira
Subscrevendo o seu diagnóstico e parte da sua análise, queria apenas acrescentar alguns pontos.
a) As medidas do Governo, podem traduzir-se em mais despesas, mas antes disso era necessário que as mesmas estivessem em fase de implementação, o que não estão.
Tome a medida de apoio, no sector automóvel, à substituição de trabalho por formação profissional; não está sequer regulamentada. Calculo que nem metade das medidas estão em fase de implementação no terreno. Por esse motivo, calculo que o atraso na implementação seja de +/- 8/9 meses, desde a data do anúncio.
b) O folhetim QUIMONDA, só quem não domina o sector pode acreditar que existe solução que não passe pela falência da empresa, venda de activos e nova reformulação da mesma; vender a ideia de que existe um investidor chinês, é o mesmo que tentar convencer um galinheiro a ser comprado por uma empresa detida por raposas. Neste momento, apenas serve para "epatêr le bourgois", neste caso, até são trabalhadores e "vender" a idiea de que se está a fazer tudo o que se poderia fazer. Técnica antiga, mas que pode custar caro em épocas de crise violenta.
c) As vendas mirabolantes que se anunciaram nesses países que são o farol do crescimento mundial: Venezuela, Líbia e quejandos. As vendas para a Venezuela, como se esperava, tendo em conta o preço do petróleo, vão ficar suspensas ou mesmo não se realizarem. (Aliás, vaticino que o coronel Chavez, não passa de 2010 ao comando do país).O mesmo se está a passar na Líbia. Os anúncio de que as exportções para países terceiros estão a crescer é uma balela, na medida em que 90% desse crescimento é sustentado pelas vendas para Angola, que vão estabilizar e, mesmo, dimuinuir (ainda que ligeiramente) no período de 2009/2010. De todos os modos e se descontarmos Angola, os restantes mercados terceiros representam apenas 3/4% do total das nossas exportações, pelo que qualquer aumento é sempre significativo, se medido pelo delta e não pelo valor absoluto
Serve o intróito para vaticinar que este Governo vai experimentar uma queda abrupta nas sondagens, entre Abril e Junho do corrente ano. Como diz o ditado, não se pode enganar todo o mundo...
A rapidez, intensidade, inclinação e profundidade, estará correlacionada com a intensidade da queda da economia, como prevê no seu post; das características da curva, irá depender o resultado de FLeite nas legislativas. O que arrisco já, é que o nosso PM vai ter uma queda muito grande
Cumprimentos
João
Caro Pinho Cradão,
Muito bem, espero que as doutas palavras de V. Exa. sejam escutadas pela população indefesa...
Caro Bartolomeu,
As duas opções abertas pelo meu Amigo são obrigatoriamente convergentes...no precipício!
Caro João,
Suas palavras fizeram-me recordar uma frase muito famosa de autor consagrado mas cujo nome não me ocorre no momento "You can foolish some of the people all of the time...You can foolish all the people some of the time...But you cannot foolish all the people all of the time!"
Espero que essa regra tenha aplicação intra-muros, como é sua previsão...
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