...faz muito mal em recusar-se a comparecer perante a comissão parlamentar de inquérito destinada a apurar se existiu ou não envolvimento do governo e do seu primeiro responsável, na tentativa de compra da TVI pela PT.
Pode até, com inteira legitimidade, o PM entender que aquela comissão o visa pessoalmente, como veio defender. Não pode, porém, justificar a falta de comparência (se for verdade a notícia de que não comparecerá) com o prestígio que é necessário garantir ao chefe do governo. É que é exactamente o oposto. É o PM que com esta conduta desrespeita o Parlamento perante o qual responde politicamente. E esse desrespeito não o eleva como político nem o prestigia como Primeiro-Ministro de um Estado democrático.
É verdade que o País precisa de um chefe de governo prestigiado. Mas não creio que esta recusa em responder perante o Parlamento, sejam quais forem as motivações do grupos parlamentares e dos deputados, seja um bom contributo. Bem pelo contrário.
Pode ser que entretanto algum assessor ou conselheiro mais esclarecidos ou mais atentos ao que se passa nas democracias, sobretudo nas velhas e consolidadas democracias, chame a atenção ao senhor Engº José Sócrates que ao seu homólogo britânico não passou ceertamente pela cabeça recusar-se a comparecer perante os Comuns quando ali foi chamado a dar explicações sobre o seu envolvimento e do governo trabalhista na guerra do Iraque. E se o tema era incómodo...
9 comentários:
Muito bem apontado o exemplo britânico, é suposto vivermos em democracia, atitude diversa é arrogância com tique absolutista...
Para quem tanto defende(u) que foi eleito pelo voto popuplar e que não seria derrubado por um qualquer "jornal", este desrespeito pela Assembleia da República é mais um acto de profunda incoerência politíca e sibilina arrogância.
Mais uma situação em que o exemplo “não vem de cima”...
Mas o PM não vai duas vezes por mês ao parlamento?
Façam-lhe lá as perguntas todas!
O PM britânico também foi chamado perante todo o parlamento, não foi chamado a uma sala ao lado.
O PM do meu país também só deve ir ao parlamento se for à sala principal, perante todos, não a uma salita ao lado aonde vai qualquer um, isso sim seria desrespeito.
Por isso, neste caso, não vejo onde está o desrespeito pelos órgão democráticos.
Meu caro SC, presumo que vivamos no mesmo País. No meu País vigora um sistema parlamentar ou, se quiser, semi-presidencial. Em qualquer destas matizes do sistema não é o PM que diz ao Parlamento quando e onde responde pelos seus actos e omissões políticas. É o Parlamento que define, de acordo com a Constituição e a lei quais as formas, os modos e as circunstâncias de efectivar a responsablidade política do Executivo.
Não é, pois, uma questão de responder nos debates quinzenais. É sim a necessidade de dar prevalência à AR respeitando as regras da democracia. Percebo que o governo, habituado a funcionar com maioria absoluta mansa e obediente, estranhe ter de submeter à vontade parlamentar. Mas, como dizia o outro, também ele habituado a estas coisas, é a vida...
Caro Ferreira de Almeida,
Eu acho que vivemos no mesmo país e, por princípio, até estaria de acordo com o seu ponto de vista.
Mas acontece que já estou cheio desta palhaçada. Ninguém quer saber a verdade.
Querem fazer política? É para isso que lhes pagamos.
Este PM não presta? Derrubem-no, é preciso ser consequente. É essa, em última análise, a função da oposição.
Mas não se esqueçam que no dia seguinte têm de arranjar alternativa. É preciso ser responsável.
Não chegaram as patéticas situações das inquirições passadas? Não deram nada? Saiu-lhes o tiro pela culatra? Não viram que a AR saiu enxovalhada? Não viram a grande contribuição que deram para isso? E querem mais? Mais enxovalhar da AR?
Quem quer ser respeitado tem que se dar ao respeito. Foi assim que aprendi.
Eu sei que deve ser a AR a definir as regras. Eu também quero que seja assim.
Mas eu posso não estar de acordo com tudo o que eles decidem. E não estou, neste caso.
O PM de Portugal tem que responder perante a AR, sempre que a AR entender. Claro!
Mas o PM também representa um órgão (democrático) de soberania, o governo.
Por isso, eu não quero que ele responda perante um bocadito da AR, numa salita dos fundos. Eu quero que ele responda perante toda a AR, na sala grande.
É uma questão de dignidade. E eu quero que qualquer PM do meu país seja tratado com dignidade.
Mesmo que eu já esteja cheio dele. Enquanto não for capaz de arranjar outro para o lugar…
E já vai longo o desabafo!
Perdoe-me a impertinência.
Ora essa, meu caro Sérgio Cruz, qual impertinência!
As suas intervenções neste espaço são sempre bem vindas e apreciadas. Mesmo que sejam desabafos. Quantos desabafos não representam estes cinco mil e tal posts do 4R...
Percebo o seu estado de espírito, que é, aliás, o de muitos e muitos portugueses. Começa a não ser suportável a mediocridade endógena na política e é difícil encarar essa situação com bonomia, bem o sei. Porém, a democracia, sendo o melhor dos maus sistemas como dizia o outro, tem as suas regras e será pior, bem pior, se aceitamos a perversão das mesmas em nome de valores que são desrespeitados por quem os invoca.
Oh meu caro Ferreira de Almeida, eu estou em principio de acordo consigo, mas faço um apontamento: Ninguém estava preparado para estas perversões da Democracia. Temo mesmo que estas perversões da Democracia, afastem definitivamente, e para sempre, gente muitissimo válida (dos quais o meu caro conhece seguramente uma ou duas mãos cheias) da política. Ninguém está para se sujeitar às felicias cabritas, às moura guedes, e aos rangeis, aos arnauts e a toda esta gente que tem tratado o tal sistema democrático da forma que se vê.
E aqui que compreendo o ultimo post do SC. Quando chegamos ao ponto em que com toda a naturalidade, e sem qualquer indignação da opinião publica, um speaker anuncia o PM como José Trocas-te, o nível da nossa democracia desceu muito baixo.
E faço a justiça de reconhecer que este governo e o PS não têm culpa de tudo. Têm muita, mas não têm toda.
Estou de acordo cmonteiro. Em especial com a parte em que muita gente válida já não participa, não protesta, já não lamenta, nem sequer desabafa. Pura e simplesmente se afasta e ignora o que é público e trata da sua vidinha, esperando que o Estado os moleste o menos possível e os media se dediquem a outras existências. Como diz, conheço muitos. E não posso, com honestidade, afirmar que são menos felizes assim.
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