Aqui do outro lado do Atlantico vou sabendo algumas noticias da terra Patria e vou conseguindo tirar algum proveito destas fantasticas tecnologias que nos globalizam mesmo quando a habilidade nao abunda. Este periplo por alguns Estados americanos tem como objectivo dar a conhecer os arduos caminhos da reforma educativa nos EUA e, passada quase uma semana desde que aqui cheguei o que posso dizer e que tem sido muito interessante e muito intenso, ao ponto de ainda nao ter sido possivel fazer compras!
Em Washington consegui jantar duas vezes com os meus velhos amigos de ha vinte e tal anos, fui a casa deles e tive o prazer de confirmar que conseguiram realizar o “American dream of life” – numa versao da vida real, sem os exageros dos filmes, mas com um nivel de conforto e tranquilidade muito evidentes. Foi um excelente marco nesta viagem.
Estamos agora a visitar a Carolina do Norte, reconhecida pela qualidade do seu sistema educativo, da investigacao nesta area e da Universidade. O programa, muito bem organizado, mostra os varios niveis de decisao e de organizacao em material educativa, pelo que tivemos reunioes com os Departamentos ao nivel federal, Estadual e Local, apresentacoes sobre a organizacao e processos de decisao, contactos com muitos dos que influenciam as decisoes e outros que tem que as executar.
Os problemas e dificuldades sao, em geral, os mesmos que ai nos consomem, embora a uma escala proporcional e a crise afectou seriamente todos os projectos, perspectivas e formas de actuar. E muito interessante sentir que cada uma das pessoas com quem falamos e que estao, de uma forma ou de outra, envolvidas na area da educacao, estao profundamente conscientes das dificuldades e procuram readaptar se as novas circunstancias mantendo os mesmos objectivos. Discute-se agora aqui seriamente as mudancas no modelo de financiamento e de avaliacao que estava em vigor – um plano de accao chamado No Children Left Behind, aprovado em 202 com larga maioria e que fixou metas e standards para medir o progresso educativo. Basicamente, ha menos dinheiro mas e preciso ser mais exigente, tem que se fazer mais, mais depressa, com menos meios.A discussao resulta sobretudo do facto de o Governo Federal ter que aumentar o financiamento para as escolas porque a crise levou a que o financiamento local sofresse fortes quebras nas zonas mais afectadas pelas falencias e pelo desemprego exigindo, em contrapartida, uma maior capacidade de intervencao na definicao de politicas ao nivel de todo o pais. Ora, uma maior intervencao do poder central e muito mal aceite e as discussoes sobre as vantagens e inconvenientes multiplicam-se.
Em qualquer caso, e consensual que os americanos tem o direito de saber como evoluem as suas escolas, se o que ai se ensina corresponde ou nao as expectativas de uma vida melhor, como e que se gasta o dinheiro dos impostos, quem sao os bons e os maus professores. Daqui para a frente ja os consensos se esbatem mas em termos gerais creio poder afirmar que, se ninguem afirma ter a solucao milagrosa para resolver tudo de uma penada, todos estao muito envolvidos em contribuir para um bom resultado. Pelo menos ate agora, se e evidente alguma relutancia, nao detectei nem a crispacao nem a arrogancia de muitas das intervencoes a que assisti em Portugal a proposito do mesmo debate. Uma coisa parece evidente, e essa e que ninguem aceita que se fique parado a pensar.
Em Washington consegui jantar duas vezes com os meus velhos amigos de ha vinte e tal anos, fui a casa deles e tive o prazer de confirmar que conseguiram realizar o “American dream of life” – numa versao da vida real, sem os exageros dos filmes, mas com um nivel de conforto e tranquilidade muito evidentes. Foi um excelente marco nesta viagem.
Estamos agora a visitar a Carolina do Norte, reconhecida pela qualidade do seu sistema educativo, da investigacao nesta area e da Universidade. O programa, muito bem organizado, mostra os varios niveis de decisao e de organizacao em material educativa, pelo que tivemos reunioes com os Departamentos ao nivel federal, Estadual e Local, apresentacoes sobre a organizacao e processos de decisao, contactos com muitos dos que influenciam as decisoes e outros que tem que as executar.
Os problemas e dificuldades sao, em geral, os mesmos que ai nos consomem, embora a uma escala proporcional e a crise afectou seriamente todos os projectos, perspectivas e formas de actuar. E muito interessante sentir que cada uma das pessoas com quem falamos e que estao, de uma forma ou de outra, envolvidas na area da educacao, estao profundamente conscientes das dificuldades e procuram readaptar se as novas circunstancias mantendo os mesmos objectivos. Discute-se agora aqui seriamente as mudancas no modelo de financiamento e de avaliacao que estava em vigor – um plano de accao chamado No Children Left Behind, aprovado em 202 com larga maioria e que fixou metas e standards para medir o progresso educativo. Basicamente, ha menos dinheiro mas e preciso ser mais exigente, tem que se fazer mais, mais depressa, com menos meios.A discussao resulta sobretudo do facto de o Governo Federal ter que aumentar o financiamento para as escolas porque a crise levou a que o financiamento local sofresse fortes quebras nas zonas mais afectadas pelas falencias e pelo desemprego exigindo, em contrapartida, uma maior capacidade de intervencao na definicao de politicas ao nivel de todo o pais. Ora, uma maior intervencao do poder central e muito mal aceite e as discussoes sobre as vantagens e inconvenientes multiplicam-se.
Em qualquer caso, e consensual que os americanos tem o direito de saber como evoluem as suas escolas, se o que ai se ensina corresponde ou nao as expectativas de uma vida melhor, como e que se gasta o dinheiro dos impostos, quem sao os bons e os maus professores. Daqui para a frente ja os consensos se esbatem mas em termos gerais creio poder afirmar que, se ninguem afirma ter a solucao milagrosa para resolver tudo de uma penada, todos estao muito envolvidos em contribuir para um bom resultado. Pelo menos ate agora, se e evidente alguma relutancia, nao detectei nem a crispacao nem a arrogancia de muitas das intervencoes a que assisti em Portugal a proposito do mesmo debate. Uma coisa parece evidente, e essa e que ninguem aceita que se fique parado a pensar.
Ate para a semana! (desculpem a ortografia globalizada)
9 comentários:
Olá Suzana!
Mas que grande viagem! Para além da falta de tempo para fazer as comprinhas, já tínhamos notado a sua falta aqui deste lado do Atlântico.
Fez-me crescer água na boca o programa que está a fazer. Tudo o que escreveu leva-me a confirmar a importância da atitude perante a vida. A mentalidade é realmente muito importante no modo de actuar e de encarar a realidade. Não é com crispações e arrogâncias que se fazem as coisas acontecer. Unir vontades e esforços em lugar de dividir é a atitude mais inteligente para a obtenção dos melhores resultados. É pena que por cá ainda não tenhamos aprendido o que perdemos por insistirmos na divisão pela radicalização e pela crítica gratuita.
Continuação de boa viagem. Não faz diferença a "ortografia globalizada". Escreva-nos sempre...
Ficamos à espera de mais crónicas!
Observe bem, Suzana, as boas experiências.
Boa síntese, Suzana :) Retenho a mesma visão.
Pois, aqui do norte da Europa, e depois de um jantar muito holandes e em família, venho aconselhar o último livro de Jacques Attali, Survivre aux Crises em que, muito pedagogicamente, o autor, depois de fazer a arqueologia do comportamento humano face as crises, nos vem propor sete regras básicas aplicáveis por cidadaos, empresas, países e humanidade, para enfrentarmos os tempos difíceis que se nos deparam e para os quais nao podemos contar com o pragmatismo e o sentido do útil que os americanos poem na ultrapassagem das dificuldades que se lhes deparam.
Basicamente, sao: o respeito de si; a intensidade do tempo; a empatia; a resiliencia; a criatividade, a ubiquidade e a capacidade revolucionária.
Isto dito assim fica muito árido, mas parece que nós portugueses temos toda a vantagem em preparamo-nos.
Até Lisboa!
Cara Suzana,
Que inveja...um périplo pelos EUA para estudar seja que assunto for é sempre uma oportunidade de ouro. Da sua crónica, que muito apreciei - como sempre - fiquei com a sensação (que aliás já tinha) que em matéria de política social, a Administração Bush não só foi ousada, como também inovadora. É caso para se recuperar a expressão do Fernando Pessa: "E esta, hem?!".
Desejo-lhe as maiores felicidades para o que resta da sua viagem.
Parece que a falta de dinheiro para as grandes tarefas dos estados, no caso vertente a educação, é mesmo global como se depreende desta excelente crónica.
Também por cá o caminho a seguir é materializar na prática atitudes e comportamentos que levem a seguir políticas de fazer mais com menos dinheiro, com muito bem aqui nos diz a Dra. Suzana Toscano:
“… Basicamente, ha menos dinheiro mas e preciso ser mais exigente, tem que se fazer mais, mais depressa, com menos meios...”.
Desejo-lhe continuação de boa estadia.
Ha realmente imenso para ver, ha tantas maneiras de olhar e tentar resolver os mesmos problemas!, mas o que e mesmo muito diferente e a atitude colectiva, esta profunda diferenca entre achar que sao capazes de fazer ou estar a espera que alguem tome conta! Mas a verdade e que aqui as pessoas sabem que podem e devem ter iniciativa, nem lhes ocorre que as impecam, enquanto por ai a regra geral e a da autorizacao, do despacho ou da ordem. E uma forma de organizacao, sem duvida, mas tambem de mentalidade ancestral, nao e um problema individual mas sim um todo. Para o bem e para o mal, mas que ha uma imensa energia que e aproveitada, isso ha.
Cara Suzana
Parece que está a ter uma agradável e produtiva estadia pelos States o que não a impede de continuar a manter-se em contacto com os seus ávidos leitores! : )
Nas suas várias experiências (suponho), nos Estados Unidos, não acha que há menos burocracia que na Europa, que os americanos não têm paciência para procrastinar? O que se tem que fazer, faz-se... não é para se ir fazendo! A forma como vivem a vida, a sua atitude positiva espelha isso mesmo. Ao responderem à pergunta “Hi, how are you?”, raramente se ouve a resposta: “Oh, not too well” ou então “so, so”. É sempre um “I’m fine, thanks.” Parece ser uma atitude adquirida nos bancos da escola onde crescem num processo dinâmico de permanente construção de identidade, de personalidade, digamos assim.
Continuação de uma boa estadia em terras americanas.
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