Diz-se que as crises são tempos de oportunidades. Mas a verdade é que por estes tempos não abundam as oportunidades. Por isso é digno de destaque o surgimento de um novo e sólido negócio. O governo, fazendo jus à promessa de criar umas centenas de milhar de empregos, abriu a alguns jovens licenciados - de cursos a que ninguém vaticinava grande futuro aqui há uns anos atrás -, um verdadeiro campus para o desenvolvimento de negócio lucrativo. Fê-lo, aliás, sem grande esforço e com capital alheio, o dos contribuintes. Bastou-lhe estabelecer como filosofia oficial a obrigação de benchmarking entre os diferentes serviços da administração pública, filosofia que constituiu o princípio e o fim da reforma da administração pública do anterior governo.
Não há dia algum que não receba convite para "participar" (pagando) em acções de formação, conferências, seminários, debates, exposições e até roadshows sobre a avaliação de desempenho dos serviços públicos e dos seus funcionários. Fui a uma. Mas fiquei com a sensação que a minha intervenção não foi lá muito apreciada. É que depois de ouvir a exposição do sábio de serviço, perguntei se depois da burocracia da eleição, discussão e aprovação de objectivos, e da avaliação dos funcionários e serviços com base nos objectivos seleccionados ainda sobraria algum tempo ao dirigente ou ao funcionário para desempenhar as suas funções.
Da experiência e da já consolidada ideia de que para garantir o permanente benchmarking se torna fundamental que toda a administração pública viva em formação permanente, o negócio da consultadoria externa nestas matérias revela-se um dos poucos garantidamente sustentáveis nos tempos que correm.
5 comentários:
Caro Zé Mário
Qualquer organização privada que gerisse recursos financeiros próprios, e não dinheiro do povo, não resistia mais de um mês a coisas patéticas e absurdas como o sistema de avaliação de desempenho da administração pública (SIADAP) ou o código da contratação pública (CCP) para falar de duas das recentes pérolas da moderna administração pública.
Mas, caro Ferreira de Almeida, o meu amigo faz cada observação...
São as autênticas "Novas Oportunidades", meus caros!
Caro JMFA,
Arrisca-se a sofrer um atentado por parte dos Mártires dos MBA's por ser um blasfemo. Os senhores deviam estar a mostrar power points com as best practices e os melhores scorecards, não mereciam tal comentário. Desde que bem avaliado, que interessa se têm tempo para trabalhar?
"perguntei se depois da burocracia da eleição, discussão e aprovação de objectivos, e da avaliação dos funcionários e serviços com base nos objectivos seleccionados ainda sobraria algum tempo ao dirigente ou ao funcionário para desempenhar as suas funções."
Simplesmente delicioso. Mas, caro JM Ferreira de Almeida, não perca tempo, porque, como diz Tonibler, que importância tem a produtividade no mundo socialista?
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