1. Manuela Ferreira Leite (MFL) termina hoje o seu mandato como Presidente do PSD depois de ontem ter contribuído decisivamente para a viabilização política da resolução da AR sobre o PEC 2010 – 2013, conseguindo fazer prevalecer o seu entendimento num Partido ao que consta extremamente indeciso sobre como votar.
2. Poderei não concordar com a última grande decisão política de MFL, tendo como mais provável que a aprovação do PEC no essencial vai assegurar o prosseguimento de uma política que há vários anos equivocada, enfraquecendo inelutavelmente a economia na medida em que crescentemente transfere recursos dos sectores produtivos mais dinâmicos e expostos à concorrência para os afectar a um Estado (em sentido amplo) gordo, anafado, gastador e terrivelmente ineficiente...
3. A não aprovação do PEC poderia ter riscos elevados, não nego, mas poderia também ter a virtude de obrigar o País a pensar numa alternativa de política económica.
4. A adopção do PEC traduz na minha perspectiva a prevalência de um estado de resignação com a mediocridade: estamos muito mal, é certo, não temos qualquer esperança no futuro, a grande maioria assim pensa concordam...mas não será melhor assim do que correr o risco de ficar pior?
5.Tenho a noção de que uma sociedade que pensa assim, que faz escolhas com base em critérios tão conservadores e na resignação, não vai muito longe...por opção própria é certo.
6. Mas tenho de admitir opinião diferente e nomeadamente que honestamente haja quem pense que a não aprovação deste “pobre” PEC, apesar de todos os aspectos negativos que envolve poderia acarretar custos demasiadamente elevados...terá sido esse o caso, seguramente, de MFL.
7. Estou no entanto a desviar-me já do objectivo essencial deste Post que é, apesar das diferenças que nos separam em relação à decisão ontem tomada, deixar aqui uma nota de excepcional apreço por MFL, pelas suas notáveis, imensas qualidades humanas e políticas.
8. Direi que o episódio de ontem deixou bem claras as razões pelas quais ela perdeu as eleições de Outubro último. MFL é uma pessoa que diz o que pensa e pensa em função dos interesses do País...não vai atrás de modas nem é capaz de promessas incumpríveis...
9. MFL é uma pessoa que não consegue mentir e é hoje absolutamente óbvio que o seu discurso na última campanha eleitoral – que por exemplo tantos empresários denegriram, mais em privado do que em público é certo(...) – era um discurso de verdade e que o discurso que ela combateu, mas que acabou por vencer, era um discurso de mentira...
10. Não me posso esquecer, neste dia, os momentos amargos que MFL viveu depois do discurso do Presidente Sampaio, na AR em 25 Abril 2003 – o célebre discurso do “há mais vida para além do Orçamento” - que lhe impôs as maiores dificuldades na condução de uma política orçamental que hoje se conclui ser exactamente a política exigível para aquela altura...
11. Estou certo de que MFL não acabou a sua carreira política – a carreira política não se esgota na direcção partidária... – mas o que já fez garante que ficará para a história como uma das pessoas mais decentes da política portuguesa do pós-25/IV, uma pessoa de convicções, de frontalidade, de subordinação do seu discurso e da sua acção sempre aos interesses fundamentais do País.
12. Felicidades, MANUELA!
14 comentários:
Justo e oportuno post.
Com todo o gosto, associa-me também à homenagem bem rerecida a Manuela Ferreira Leite.
Convencionalmente, não se diz mal de defuntos. Mas como MFL ainda tem muito para dar, se a quiserem aproveitar, permito-me discordar do texto, não na parte que elenca as qualidades da Senhora mas sim no que toca às suas escolhas e motivações. Um líder político deve ser julgado pelos seus resultados face às circunstâncias, não pelas suas reais ou imaginárias qualidades e sentimentos. MFL falhou em tudo: perdeu eleição atrás de eleição, deixou o PSD dividido e manteve-se no lugar para garantir, aparentemente, uma sucessão palatável para o PR e para a sua dela corte de conselheiros. No fim, ainda atrelou o PSD, timoratamente, ao desastre da governação socialista. E não se livra da suspeita (para mim mais do que razoável) de não ter sido nunca mais do que um peão no jogo do PR, em cuja actuação, aliás, se nota uma hierarquia de valores que consiste nisto: primeiro a reeleição depois o País. Como votante fiel do CDS, talvez devesse alegrar-me com esta débâcle. Só não o faço porque duvido que quanto pior melhor. Tudo isto foi feito com as melhores das intenções? Claro - daquelas que, clàssicamente, enchem o Inferno. Cordiais cumps.
Muito bem! O que irrita a sabujice psd, é o facto de MFL ser uma Senhora, coisa tão rara como republicanos honestos. O que se lhe segue, é o que se prevê. Zero!
São inteiramente justas as palavras que dedica a MFL, pesem os êrros políticos que cometeu.Uma pessoa decente vale mais do que cem êrros políticos...
Cordiais cumprmentos,
Não nos devemos esquecer que apesar de alguns erros politicos, MFL é eleita após uma estratégia caciquista de "agarrem-me senão vou-me embora" e de transformação do PSD num partido autárquico( temo que o Partido caia mais uma vez no mesmo erro - Não quero uma União do PSD com o CDS que resultará no acantonamento numa parcela inferior a 20% do eleitorado - suficiente para disputar algumas parcelas de poder local. Sendo essa situação uma responsabilidade de todos nós - dos que fazem e dos que deixam fazer, não foi essa a atitude politica de MFL.
Apesar de divergir idiológicamente da companheira MFL reconheci-lhe e ainda lhe reconheço valor mais do que suficiente de "sossegar a casa", permitir debater politica, dar espaço ao nascimento de novos valores no Partido, e com muito trabalho recuperar a credibilidade com base num regresso à politica e não à ditadura dos marketing's politicos e mediáticos.
E isto MFL tentou fazer, ninguem lhe pode negar. Tentou pensar e fazer politica, para servir.
Obrigado companheira
Caro Dr. Tavares Moreira,
Subscrevo, na íntegra, o seu post. Em tempos de profunda degradação moral e ética justo é salientar, o esforço, contra a corrente (ou será contra a torrente?), que MFL protagonizou. Quanto mais tempo terá ainda que passar até que a mentira, sucessivamente repetida e cada vez mais empolada, seja efectivamente sancionada pela maioria dos portugueses?
Caro Carta a Portugal
"Apesar de divergir ideologicamente da companheira MFL..."
Estava eu convencida, que era função de um Partido Político agregar pessoas com uma ideologia comum.
Daí que: várias ideologias, vários partidos!
Afinal estava enganada!
Isto, explica porque é que há uns tempos para cá tenho notado tantas quezílias internas nos partidos...
Afinal são só ideologias divergentes!
O que não ajuda nada o Povo na hora de votar!
Felicidades, claro! Não é só isso que interessa agora?
Cara Fenix,
Creio que precisa estudar mais um pouco, os reais fundamentos dos conceitos democracia e liberdade, pois são eles que nos permitem estar aqui a "teclar", apesar de nos partidos e na sociedade cada vez menos se pensar e mais se calcula. A vivencia sã de um Partido responsável, em democracia, deve ser a vivencia em liberdade por uma comunhão de valores, de rumos e destinos para a sociedade, o que não quer nem deve querer dizer unanimismo. Isso não é democracia.
Quanto às minhas divergencias ideológicas, são as que se concebem dentro de um debate balizado pelo que é comum - valores, rumos e destinos. São divergencias de pormenores, que me politica e em governação responsável, são sempre importantes e logo debativeis.
Caro Carta a Portugal
Perdoe a insistência.Apenas como cidadã eleitora e interessada, pretendo saber se, para os desígnios do País, faz diferença que dentro de um Partido (que pode vir a ser o próximo a governar), seja eleito o senhor X ou o senhor Y?
Ou seja, se as divergências de pormenor de cada um dentro de um Partido poderá ser relevante na hora de governar. Pois eu quando voto, voto na ideologia de um Partido e não do seu líder.
Registo com satisfação as posições concordantes em relação ao juízo expresso neste Post - entre outros Paulo, Pinho Cardão, Eduardo F, H. Nascimento Rodrigues...
Quanto aos dissonantes, JMG e seus pares, respeito a divergência que exprimem, mas não deixo de notar que a arte de enganar a Cidade para conquistar o poder é sempre uma arte de duração efémera em democracia...
Não considero M. F. Leite uma derrotada, por isso...quem perde a votos por dizer a verdade não perede, ganha - ganha em grandeza e ganha na história...e em política a história é sempre a julgadora de última instância, na minha perspectiva...
Quanto a Tonibler, parece-me que tem de ser classificado em grupo de opinião próprio, com seu inconfundível estilo vitoriano...
Caro Dr. Tavares Moreira,
Gostava também de me associar à sua mui justa homenagem.
Relativamente a alguns dos comentários que foram feitos a este post, gostaria de fazer uma rectificação: independentemente da simpatia partidária, quem perdeu as eleições legislativas não foi a Srª Dra M. Ferreira Leite...fomos todos nós, como a gravidade da situação orçamental demonstra de forma inequívoca.
Justíssimas palavras, caro Dr. Brandão de Brito, que identificam, com precisão, os REAIS perdedores do último acto eleitoral legislativo...
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