1. Um altíssimo responsável das Finanças terá dito hoje algo de parecido com o seguinte “...está nas mãos da Oposição evitar que o rating (da República Portuguesa, supõe-se) se reduza ainda mais”...
2. Magnífico! As finanças públicas são geridas há não poucos anos de forma altruísta e muito aprumada, “exemplae gratia”:
- Gastam-se rios de dinheiro que não se deviam gastar – alguém sabe, porventura, quanto se gastou com a aventura do Aeroporto na Ota, quanto custa o desvario persistente na gestão de empresas públicas...?
- Tributam-se os rendimentos de particulares e empresas a torto e a direito, haja ou não rendimentos tributáveis (onde para a tributação pelo lucro real que a Constituição consagra?), afastando inexoravelmente o investimento...;
- Cometem-se erros de palmatória como é o caso da política para os Certificados de Aforro, que por teimosia incompreensível comete a proeza de, numa assentada, (i) desincentivar fortemente o tão necessário aforro de residentes e (ii) agravar o custo da dívida pública, colocando-a a juro muito mais elevado junto de não-residentes...
3. Mas não haja preocupações, quando a infindável acumulação de erros atinge o ponto em que os mercados e as malévolas agências de rating nos impõem sacrifícios e mais sacrifícios...lá vem o argumento salvífico: a Oposição não pode deixar de ser responsável, deve "fechar os olhos" pois o “interesse nacional” não pode deixar de estar acima das divergências políticas.
4. Não importa como é que se chegou a este ponto, não importa esclarecer o que seria absolutamente indispensável e prioritário – quando é que se percebe que a apropriação crescente de recursos por parte do Estado nos conduz a um inexorável empobrecimento, impedindo a necessária recuperação da economia? Isto é tudo secundário à luz do tal “interesse nacional”...
5. Não me espantaria que, pelo andar da carruagem, viéssemos dentro de algumas semanas a concluir ser necessário um Orçamento Rectificativo em 2010...o que seria extraordinário atento o facto de o Orçamento ter acabado de sair do forno, ainda está quente...
6. Mas estejamos tranquilos se tal acontecer: uma vez mais o decantado “interesse nacional” será desenterrado para que a Oposição viabilize o dito Rectificativo...se não quiser que os mercados e as malévolas agências percam de vez a paciência connosco...
7. Que preciosa matéria-prima o “interesse nacional” e a Oposição constituem para a indústria do discurso oficial...preciosa e quase inesgotável, segundo parece...
6 comentários:
... para um (des)Governo que nos escurece
É nesta imoralidade
destes discursos oficiais
que se esconde a verdade
em posturas artificiais.
A Primavera colorida
muito tarda em aparecer,
há tanta gente tão ferida
com o orgulho a perecer.
São tantas nuvens por dissipar
neste país escurecido,
ficando o sol por destapar
para um povo carecido.
Caro Paulo,
Com a devida vénia, permita-me uma pequena correcção: onde está "vou pagar a conta"...deveria estar "vou continuar a pagar a conta"...
Parece-me mais aderente à realidade, concorda?
Caro Manuel Brás,
O enquadramento poético traz-me à memória uma quadra que foi muito popular há mais de 40 anos e que dizia assim:
"Neste País de miséria
Em que impera o Estado Novo,
Ainda há quem faça versos,
Grande poeta é o Povo!"
Poderá o M. Brás encontrar uma forma actualizada para esta quadra?
Aqui fica o desafio...
Caro Tavarers Moreira
A falha fundamental subjacente ao PEC e aos outros PECs reside na estratégia que se pretende adoptar:poupança e exportações.
Ora esta receita vai ser seguida por todos os países da zona euro: estamos a tentar replicar o modelo alemão.
Interessante, mas para onde vamos exportar? Marte? Neptuno? Por outras palavras: a estratégia que estamos a adoptar terá consequências directas nos fluxos do comércio mundial dado que replicamos um modelo que está posto em causa: grandes exportadores versus grandes consumidores...
Como o universo é fechado e, aparentemente, vão "entrar" novos actores, o mercado vai, necessariamente, ficar saturado... sendo assim, como evitamos uma "guerra" comercial???!!!!
Por isso e pelo que tem afirmado, acho que este PEC é uma perca de tempo precioso, algo que, começamos a não ter....
Cumprimentos
joão
Caro Dr. Tavares Moreira,
Agradeço o desafio que me propôs. Para já, deixo aqui duas quadras. Noutras oportunidades que surjam, aproveitarei as suas palavras/ideias/análises (e de outras pessoas), para retomar o tema:
São séculos de história
escrita por muitas gentes,
sendo mais do que notória
tantas forças refulgentes.
Um novo fulgor reforçado
deve ressoar concludente
neste Portugal repassado
por um regime decadente.
Caro João,
Aquestão que sabiamente levanta entronca directamente no debate que tem sido bastante animado, entre outros pelo Martin Wolf no F. Times, acerca do modelo de economia que uma zona Euro pode adoptar com sucesso.
Diz-se que a zona Euro não pode replicar o modelo alemão, por duas razões:
- Isso levaria ao sufoco, antes mesmo de lá chegarem, das economias do sul da Europa;
- Globalmente, a vingar tal modelo ele iria agravar os desequilíbrios económicos mundiais.
Sem entrar agora nessa querela, que me parece adiantar muito pouco, confesso, ocorre-me perguntar porque é que este tema não foi discutido aquando da criação da zona, em 1999 e nos anos anteriores...
Até porque a criação da zona foi muito pressionada pela França e por países do sul...com grande relutância da Alemanha...
E não haveria zona Euro não tivesse existido o empenho de Helmut Kohl
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