“…A lua passava então pelas alturas do céu. O ar, posto que frio, estava manso e diáfano. Era uma formosa noite de inverno; mais formosa que as sossegadas noites de estio. As árvores, na maior parte desfolhadas, deixavam o luar, por entre os ramos despidos e tortuosos, desenhar no chão figuras estranhas que vacilavam indecisas: os robles nodosos e calvos, misturados com os rochedos piramidais, que se alevantavam irregulares e fantásticos nas arestas das encostas íngremes, nas lombadas penhascosas das serras, pareciam fileiras de demónios, caminhando de roldão a despenharem-se nos vales ou dançando nas alturas. Os cavaleiros, correndo à rédea solta, sentiam coar-lhes nas veias involuntário terror, aumentado pelo estrupido soturno da cavalaria sarracena, que soava e se ia morrer a grande distância num quase imperceptível sussuro…”
Alexandre Herculano, no livro Eurico, o Presbítero
Alexandre Herculano, no livro Eurico, o Presbítero
Quando já é considerado escritor quem escreve um livro de 300 páginas, utilizando 150 palavras, é bom recordar, no dia de hoje, os 200 anos do nascimento de Alexandre Herculano, historiador, poeta e romancista, um dos nossos maiores mestre da língua portuguesa, agora lamentavelmente esquecido nos programas escolares.
1 comentário:
Agora, só manuel alegre,josé saramago, e outros que tais, lamentávelmente...............
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