Há tempos a rede da UC pediu-me para falar de livros, e falei, claro, com muito prazer.
http://www.uc.pt/antigos-estudantes/perfil/livro_da_semana/Salvador_Massano_Cardoso
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quinta-feira, 30 de junho de 2011
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Falando de coisas positivas...
Achei muito interessante o projecto "Uma Casa Portuguesa" hoje apresentado no DE. Trata-se de um projecto empreendedor, como explica a jovem empresária responsável, que pretende ser uma montra viva para a divulgação e promoção de produtos portugueses.
Uma Casa Portuguesa é um conceito inovador. Trata-se de uma casa construída e decorada com materiais e produtos totalmente portugueses com o recurso a acordos de parceria com empresas fabricantes nacionais que participam de forma gratuita. A contrapartida do investimento das empresas reside na divulgação e publicidade do seu nome e dos seus produtos incorporados na Casa Portuguesa.
A Casa Portuguesa sendo uma montra de produção nacional, vai ser replicada através de uma rede de turismo rural que será desenvolvida para o efeito, após receber o selo de conformidade "Compro o que é nosso". Está de parabéns a empreendedora deste projecto social que visa estimular os produtos portugueses. A economia agradece...
Mentir até ao fim
Afinal, o défice de 7,7% das contas públicas ao fim do 1º trimestre é substancialmente pior e nada tem a ver com o divulgado pelo anterior Governo, que constantemente apresentava números virtuais para comprovar o controle que dizia ter do Orçamento. Números que, em análise mais atenta, não batiam certo e se contradiziam, como tantas vezes aqui se referiu no 4R, nomeadamente através do Dr. Tavares Moreira.
O anterior Governo que teve o descaramento de mentir até ao fim. Até ao fim persistiu em enganar os portugueses. De maneira ignóbil e desprezível.
"Falidos"
Nem é preciso abrir o jornal, a primeira página noticia que milhares de famílias já entraram em falência. Não são só as empresas a entrar em falência, as famílias e os países também entram ou vão a caminho. Falir é um verbo que domina os nossos tempos, mas se virmos bem dominou sempre. A nossa espécie é muito sui generis; teimosamente não desaparece, pelo menos por enquanto, mas para lá caminha se não tiver cuidado, e sabe entrar em falência como nenhuma outra. Poderão contrapor que às outras não se pode aplicar este termo; correto, mas não deixam de ter um termo semelhante, mais nobre, extinção. Não estão com meias palavras, sobrevivem ou desaparecem, a nossa, não, construiu um substituto, falência. Falência a todos os níveis, económico, social, político e de valores.
Nunca me tinha passado pela cabeça que havia pessoas capazes de entregar os seus filhos adolescentes problemáticos, porque não conseguem fazer nada deles, ou mesmo criancinhas, a instituições, com o argumento de que não podem cuidar delas. Onde é que isto acontece? Em Portugal. Pobres crianças. Mas afinal o que é que as crianças têm a ganhar com isto? Nada ou muito pouco. Sofrem? É evidente que sim.
Nunca compreendi por que razão as crianças tem de sofrer; quanto aos adultos a conversa pia mais fino.
A leitura recente de uma história pessoal, contada por um escritor bósnio-americano, atingiu-me violentamente. Aleksandar Hemon, pai de duas filhas, confrontou-se com uma doença grave, hidrocefalia devida a tumor cerebral raro, que atingiu a mais nova, aos nove meses. Hemon descreve a situação, que durou pouco mais de cem dias até à morte da pequena, com pormenores e sentimentos que não permitem esquecer a quem a tenha lido. Li a história no fim de semana, e como me perturbou imenso tenho que escrever para ver se consigo aliviar a angústia. Conta o pai que, durante esta fase, a filha mais velha com três anos, apercebendo-se do que se estava a passar, desenvolveu muito rapidamente a linguagem, revelando uma capacidade narrativa extraordinária. O escritor interpreta este achado como uma manifestação evolutiva em termos de sobrevivência, ou seja, narrar ou ficcionar são formas indispensáveis à sobrevivência da nossa espécie, justificando assim a criatividade artística e a necessidade de passarmos a vida a contar histórias. Escrever, narrar, poetizar são, pois, formas de combater a falência do ser humano. Uma boa razão para justificar a nossa existência, já que as promessas religiosas não passam de falácias. Dizem os religiosos que o sofrimento enobrece, é fonte de iluminação ou de salvação. Sendo assim, como é que o sofrimento de uma criança é útil para ela? E no caso de morrer como é que beneficia? E nós? E o mundo? Nada. Não adquirimos nada que possa beneficiar quem quer que seja, porque se assim fosse, seriamos neste momento outra espécie, muita mais evoluída, decorridos que são centenas de milhares de anos de dor e sofrimento. Mas voltando ao próprio, à criança que sofre e que morre, será que ela ascende a um local melhor? Qual quê! Neste aspeto partilho da opinião de Hemon, haverá melhor lugar para a criança do que a casa e a família? Claro que não. Paraísos e céus perdidos não me encantam, são espaços e promessas vãs que nunca conseguirão preencher o vazio da saudade.
O que me surpreende são os pais que depositam os filhos nas mãos das instituições como se fossem as chaves de um carro ou de uma casa cujos compromissos não conseguem cumprir. Uma espécie falida, em toda a extensão, resta-nos alguns belos momentos de poesia ou de prosa que nos ajudam a sobreviver. O que seria de nós se deixássemos de cultivar estes aspetos? Às tantas deixaríamos de ter de justificar o verbo falir.
Nunca compreendi por que razão as crianças tem de sofrer; quanto aos adultos a conversa pia mais fino.
A leitura recente de uma história pessoal, contada por um escritor bósnio-americano, atingiu-me violentamente. Aleksandar Hemon, pai de duas filhas, confrontou-se com uma doença grave, hidrocefalia devida a tumor cerebral raro, que atingiu a mais nova, aos nove meses. Hemon descreve a situação, que durou pouco mais de cem dias até à morte da pequena, com pormenores e sentimentos que não permitem esquecer a quem a tenha lido. Li a história no fim de semana, e como me perturbou imenso tenho que escrever para ver se consigo aliviar a angústia. Conta o pai que, durante esta fase, a filha mais velha com três anos, apercebendo-se do que se estava a passar, desenvolveu muito rapidamente a linguagem, revelando uma capacidade narrativa extraordinária. O escritor interpreta este achado como uma manifestação evolutiva em termos de sobrevivência, ou seja, narrar ou ficcionar são formas indispensáveis à sobrevivência da nossa espécie, justificando assim a criatividade artística e a necessidade de passarmos a vida a contar histórias. Escrever, narrar, poetizar são, pois, formas de combater a falência do ser humano. Uma boa razão para justificar a nossa existência, já que as promessas religiosas não passam de falácias. Dizem os religiosos que o sofrimento enobrece, é fonte de iluminação ou de salvação. Sendo assim, como é que o sofrimento de uma criança é útil para ela? E no caso de morrer como é que beneficia? E nós? E o mundo? Nada. Não adquirimos nada que possa beneficiar quem quer que seja, porque se assim fosse, seriamos neste momento outra espécie, muita mais evoluída, decorridos que são centenas de milhares de anos de dor e sofrimento. Mas voltando ao próprio, à criança que sofre e que morre, será que ela ascende a um local melhor? Qual quê! Neste aspeto partilho da opinião de Hemon, haverá melhor lugar para a criança do que a casa e a família? Claro que não. Paraísos e céus perdidos não me encantam, são espaços e promessas vãs que nunca conseguirão preencher o vazio da saudade.
O que me surpreende são os pais que depositam os filhos nas mãos das instituições como se fossem as chaves de um carro ou de uma casa cujos compromissos não conseguem cumprir. Uma espécie falida, em toda a extensão, resta-nos alguns belos momentos de poesia ou de prosa que nos ajudam a sobreviver. O que seria de nós se deixássemos de cultivar estes aspetos? Às tantas deixaríamos de ter de justificar o verbo falir.
O insustentável delírio informativo
Ontem, a jornalista Sandra Felgueiras, em detalhada reportagem na RDP sobre a desobediência civil grega, ilustrou-nos que determinada corrente de opinião grega via nas violentas manifestações o fim do capitalismo.
Admirável mistificação e troca de termos!
Como se os males gregos não tivessem advindo, isso sim, da distribuição do que não havia, na linha de uma das correntes do mais autêntico socialismo.
Como se os males gregos não tivessem advindo, isso sim, da distribuição do que não havia, na linha de uma das correntes do mais autêntico socialismo.
terça-feira, 28 de junho de 2011
Tinha que ser assim?
Sobre o caso Estaleiros Navais de Viana do Castelo, achei espantosa a declaração feita pelo ex-secretário de estado da indústria do governo cessante: "Os estaleiros (de Viana) têm que se manter, mas como empresa competitiva e precisam de um plano operacional". Com que autoridade vem agora este ex-governante fazer estas afirmações? Onde esteve o ex-secretário de estado durante os últimos seis anos de governo socialista? O que fez para viabilizar os Estaleiros Navais de Viana do Castelo?
Fala de um plano operacional, mas não concretiza. Ou não será que o que faz falta aos Estaleiros, antes de tudo o resto, é uma visão estratégica, saber como e em que condições pode a empresa ser economicamente viável? O que fez o governo anterior para viabilizar a empresa? E não acha o ex-governante estranho - pelos vistos não acha - que a dois dias do novo governo assumir funções seja anunciado pelo Conselho de Administração de uma empresa de capitais exclusivamente públicos um plano de reestruturação que implica o despedimento de metade dos trabalhadores (380 dos 720 trabalhadores da empresa)? Mas o governo cessante não tinha conhecimento da situação da empresa e do plano de reestruturação?
Assim, se tenta lavar as mãos de mais um caso mal gerido e nada melhor que transferir para o novo governo a batata quente do anúncio de uma decisão que dispensa de uma penada 380 trabalhadores.
Cobertura da crise grega: o manual de instruções
Talvez nunca como agora as televisões portuguesas, com particular evidência para a estatal, nadam em dinheiro e gastam à tripa forra. Enviados especiais voam pelo mundo, desdobrando-se em reportagens e directos sobre o exaltante acontecimento da morte de Carlos Castro, ou as aventuras dos manifestantes tunisinos, argelinos, egípcios e de outros países do médio oriente, ou as desventuras de Strauss Khan. Agora, chegou a vez da transmissão em directo da desobediência civil grega e das consequentes cargas policiais. Os jornalistas, também em directo, vão tossindo devido aos gases lacrimogéneos, dando o seu tossir um assinalável valor acrescentado à actualidade informativa.
Vê-se o prazer das televisões em estarem em cima do acontecimento, pressentindo-se como que possuídas de um infinito orgasmo informativo. Actuam como se Portugal não estivesse em crise e tivessem todo o dinheiro do mundo para esbanjar de maneira fútil e gratuita. Porque sem valor acrescentado para além do que as agências noticiosas internacionais relatam.
Vê-se o prazer das televisões em estarem em cima do acontecimento, pressentindo-se como que possuídas de um infinito orgasmo informativo. Actuam como se Portugal não estivesse em crise e tivessem todo o dinheiro do mundo para esbanjar de maneira fútil e gratuita. Porque sem valor acrescentado para além do que as agências noticiosas internacionais relatam.
Mas a insistência nas reportagens e a minúcia dos detalhes estão a constituir uma manual de instruções para que acontecimentos idênticos se dêem em Portugal. E, nesse aspecto, as reportagens televisivas, mormente as do serviço público, incluindo rádio , pela sua especial estatuto, estão a ser perfeitamente irresponsáveis. Porque uma coisa é informar. Outra, muito diferente, é fazer publicidade, concitando, através da repetição maciça, o efeito consumo ou imitação.
As redacções editoriais, pela sua falta de critério e de cultura, e pela sua impreparação, parecem que estão apostadas em cozinhar um caldinho em que todos nos poderemos queimar. E não se venha com o argumento da censura ou do mensageiro, sempre utilizado quando falta a razão.
As redacções editoriais, pela sua falta de critério e de cultura, e pela sua impreparação, parecem que estão apostadas em cozinhar um caldinho em que todos nos poderemos queimar. E não se venha com o argumento da censura ou do mensageiro, sempre utilizado quando falta a razão.
domingo, 26 de junho de 2011
As maravilhas de um mundo em descoberta
A prodigiosa história da humanidade está longe de ser revelada e a cada dia que passa surgem novas descobertas. Em tempo de férias, caso algum dos leitores do 4R se desloque a Londres, não deixe de ver no Britih Museum a espantosa exposição temporária- Afghanistan, Crossroads of ancient World. Foi uma das exposições mais espantosas e fascinantes que vi, sobretudo pelo inesperado e pela enorme valia e beleza dos materiais expostos, selecção de uma cultura de mais de 4.000 anos.
No mais recôndito do Afganistão, a descoberta de um cemitério com mais de dois mil anos revelou túmulos nómadas em que as pessoas eram enterradas adornadas com coroas de ouro, colares de pedras preciosas e o mais inimaginável conjunto de artefactos de ourivesaria fina extremamente bem conservados, como aquele que a figura mostra. Um só túmulo continha 22000 destas peças, outro 16.000. Os mais modestos não passavam das 2.000. Sinal de riqueza, que acompanhava na tumba os seus possuidores.
Tesouros sepultados pelo tempo numa terra com uma cultura de 4.000 anos, aonde Alexandre, o Grande, um dia chegou e os gregos colonizaram, deixando cidades agora redescobertas e muitos povos atravessaram, num dos caminhos da Rota da Seda. Muitas esculturas foram vandalizadas pelos taliban, mas o que resta evidencia uma cultura admirável e desconhecida. Testemunhos e descobertas fascinantes. Patentes no British Museum. Se for a Londres, não perca.
No mais recôndito do Afganistão, a descoberta de um cemitério com mais de dois mil anos revelou túmulos nómadas em que as pessoas eram enterradas adornadas com coroas de ouro, colares de pedras preciosas e o mais inimaginável conjunto de artefactos de ourivesaria fina extremamente bem conservados, como aquele que a figura mostra. Um só túmulo continha 22000 destas peças, outro 16.000. Os mais modestos não passavam das 2.000. Sinal de riqueza, que acompanhava na tumba os seus possuidores.
Tesouros sepultados pelo tempo numa terra com uma cultura de 4.000 anos, aonde Alexandre, o Grande, um dia chegou e os gregos colonizaram, deixando cidades agora redescobertas e muitos povos atravessaram, num dos caminhos da Rota da Seda. Muitas esculturas foram vandalizadas pelos taliban, mas o que resta evidencia uma cultura admirável e desconhecida. Testemunhos e descobertas fascinantes. Patentes no British Museum. Se for a Londres, não perca.
Crueldades
Mário Soares entende que a candidatura de Fernando Nobre não fazia sentido. Eu, que penso que Nobre se pos a jeito, começo a julgar excessiva esta crueldade, agora por parte de quem terá sido o principal instigador da sua candidatura à presidência da república. Crueldade repartida com um deus da política que escolhe a dedo os seus núncios...
Claramente, um exemplo a não copiar
O caso é recente e suficientemente conhecido de todos: num teste da disciplina de Investigação Criminal e Gestão do Inquérito, de “cruzinhas” (escolha múltipla) – o que, para o caso, é irrelevante – foram identificados, durante a correcção, fortes indícios de cópia entre a maioria dos quase 140 candidatos a juízes ou procuradores que, para lá chegarem, frequentam o Centro de Estudos Judiciários (CEJ). Perante este cenário, e dado que ninguém foi apanhado em flagrante delito durante a referida prova, a Direcção desta instituição decidiu anulá-la e atribuir a classificação mínima (10 valores) a todos os alunos. Porque, de acordo com o que foi tornado público, dada a proximidade do fim do ano lectivo e a existência de outros exames já marcados, era impossível encontrar uma data para repetir o teste.
Veio depois o Conselho Pedagógico do mesmo CEJ, a quem coube ter a última palavra sobre o assunto, emendar a decisão da Direcção e ordenar a repetição desta prova (recomendando, igualmente, outro método de avaliação que não um teste de “cruzinhas”) – mas a verdade é que o mal já estava feito, e os danos causados foram muitos, graves e são, infelizmente, um triste espelho do nosso país em duas áreas tão fulcrais como a Justiça e a Educação.
Comecemos pela Educação. E comecemos, também, por nos entender: prevaricadores sempre existiram e existirão. Em todas as áreas e sectores da sociedade, desde os mais novos aos mais velhos – o que não se pode é pactuar com eles. É por isso que, quanto a mim, é incompreensível, inadmissível e intolerável a solução admitida pela direcção do CEJ. Que é o paradigma da cultura do “eduquês”, do facilitismo, do fechar os olhos ao que se passou – e também de não se punir os infractores, de não se desincentivar situações semelhantes no futuro, enfim, o oposto do que devia ser a cultura do mérito, da excelência e da justiça. Cabe na cabeça de alguém a justificação de não haver datas disponíveis para repetir o exame?!... Pois se a situação era de transgressão, a tarde ou a manhã de um dia em que existisse já uma prova de outra disciplina parece-me ser mais do que adequada para a repetição… E a justificação que a classificação de 10 valores é uma sanção, uma vez que os futuros magistrados costumam sair do CEJ com uma média entre 13 e 14 valores?!... De bradar aos céus – porque a verdade é que, com classificação melhor ou pior, seriam aprovados e, no futuro, terão atingido o seu objectivo: chegar a juízes!... Já agora: quantos candidatos teriam reprovado nesta disciplina sem esta estapafúrdia decisão?!... Já sei que me irão argumentar com os que não prevaricaram – e que, evidentemente, terão existido também neste caso. Quanto a esses, e na impossibilidade de distinguir, pelos correctores da prova, os que realmente copiaram dos que não o fizeram, estou certo que não terão qualquer problema a submeter-se a nova avaliação. E em chamar à razão os colegas transgressores (que, certamente, não será difícil identificar), mostrando-lhes a sua revolta e indignação perante o sucedido.
Se a qualificação dos recursos humanos é o factor primordial de sucesso e de desenvolvimento sustentado num país, região ou sociedade, está tudo dito sobre o caminho que trilhamos em Portugal com posturas deste género...
E se esta premissa é verdadeira em geral, ainda o é mais num sector como a Justiça que é, reconhecidamente uma das áreas que pior funciona em Portugal, constituindo-se como outro dos principais entraves e custos de contexto que impedem o normal desenvolvimento da sociedade, o dinamismo da economia e do investimento, enfim, a evolução e o progresso. São muitas as situações em que, reconhecidamente, o sistema judicial não andou bem, foi (muito) lento, e em que se pode mesmo concluir que… não foi feita justiça.
Ora, com decisões como a que foi tomada em primeira instância pela Direcção do CEJ, que tipo de juízes estamos a formar para avaliarem o melhor possível os casos que lhes chegarão às mãos no futuro?... Alguém pode ficar tranquilo sabendo que os juízes de amanhã poderão estar a ser formados sem rigor e sem disciplina?!... Será desta forma que se pode aumentar a confiança na nossa justiça e, no caso específico, nos nossos tribunais?... E a imagem e reputação do CEJ?... Ao invés de este Centro ser associado ao rigor, à rectidão e à excelência, ficará, aos olhos de todos os Portugueses sob suspeita (dada a imensa – e justa – cobertura noticiosa que este escandaloso caso mereceu) … Do pior que lhe podia ter acontecido.
Enquanto a mentalidade que presidiu à decisão que foi tomada pela Direcção do CEJ (que teve que ser corrigida) não for combatida e erradicada do nosso País, nada nos valerá: apenas o fracasso nos espera. Foi, por isso, positivo ver a onde geral de indignação que se levantou com este deplorável episódio, tendo avultado as reacções do Bastonário da Ordem dos Advogados e da Associação Sindical dos Juízes Portugueses lamentando e criticando a solução que tinha sido encontrada em primeira instância. E contribuindo para que o Conselho Pedagógico do mesmo CEJ tenha corrigido a decisão antes tomada (e era o que mais faltava que não o fizesse – estaríamos, autenticamente, na República das Bananas!...).
Neste contexto, não consigo mesmo é perceber a razão da primeira decisão (da Direcção do CEJ). Não terão tido consciência da dimensão do erro que iriam cometer e dos danos que iriam causar?!... Não devem ter tido, porque só depois da decisão do Conselho Pedagógico, corrigindo a sentença inicial, a Directora do CEJ decidiu demitir-se. Tudo demasiado lamentável para ser verdade: claramente, um exemplo que toda a sociedade Portuguesa sem excepção só terá a ganhar se não copiar.
Nota: Este texto foi publicado no jornal Sol e Junho 24, 2011.
Veio depois o Conselho Pedagógico do mesmo CEJ, a quem coube ter a última palavra sobre o assunto, emendar a decisão da Direcção e ordenar a repetição desta prova (recomendando, igualmente, outro método de avaliação que não um teste de “cruzinhas”) – mas a verdade é que o mal já estava feito, e os danos causados foram muitos, graves e são, infelizmente, um triste espelho do nosso país em duas áreas tão fulcrais como a Justiça e a Educação.
Comecemos pela Educação. E comecemos, também, por nos entender: prevaricadores sempre existiram e existirão. Em todas as áreas e sectores da sociedade, desde os mais novos aos mais velhos – o que não se pode é pactuar com eles. É por isso que, quanto a mim, é incompreensível, inadmissível e intolerável a solução admitida pela direcção do CEJ. Que é o paradigma da cultura do “eduquês”, do facilitismo, do fechar os olhos ao que se passou – e também de não se punir os infractores, de não se desincentivar situações semelhantes no futuro, enfim, o oposto do que devia ser a cultura do mérito, da excelência e da justiça. Cabe na cabeça de alguém a justificação de não haver datas disponíveis para repetir o exame?!... Pois se a situação era de transgressão, a tarde ou a manhã de um dia em que existisse já uma prova de outra disciplina parece-me ser mais do que adequada para a repetição… E a justificação que a classificação de 10 valores é uma sanção, uma vez que os futuros magistrados costumam sair do CEJ com uma média entre 13 e 14 valores?!... De bradar aos céus – porque a verdade é que, com classificação melhor ou pior, seriam aprovados e, no futuro, terão atingido o seu objectivo: chegar a juízes!... Já agora: quantos candidatos teriam reprovado nesta disciplina sem esta estapafúrdia decisão?!... Já sei que me irão argumentar com os que não prevaricaram – e que, evidentemente, terão existido também neste caso. Quanto a esses, e na impossibilidade de distinguir, pelos correctores da prova, os que realmente copiaram dos que não o fizeram, estou certo que não terão qualquer problema a submeter-se a nova avaliação. E em chamar à razão os colegas transgressores (que, certamente, não será difícil identificar), mostrando-lhes a sua revolta e indignação perante o sucedido.
Se a qualificação dos recursos humanos é o factor primordial de sucesso e de desenvolvimento sustentado num país, região ou sociedade, está tudo dito sobre o caminho que trilhamos em Portugal com posturas deste género...
E se esta premissa é verdadeira em geral, ainda o é mais num sector como a Justiça que é, reconhecidamente uma das áreas que pior funciona em Portugal, constituindo-se como outro dos principais entraves e custos de contexto que impedem o normal desenvolvimento da sociedade, o dinamismo da economia e do investimento, enfim, a evolução e o progresso. São muitas as situações em que, reconhecidamente, o sistema judicial não andou bem, foi (muito) lento, e em que se pode mesmo concluir que… não foi feita justiça.
Ora, com decisões como a que foi tomada em primeira instância pela Direcção do CEJ, que tipo de juízes estamos a formar para avaliarem o melhor possível os casos que lhes chegarão às mãos no futuro?... Alguém pode ficar tranquilo sabendo que os juízes de amanhã poderão estar a ser formados sem rigor e sem disciplina?!... Será desta forma que se pode aumentar a confiança na nossa justiça e, no caso específico, nos nossos tribunais?... E a imagem e reputação do CEJ?... Ao invés de este Centro ser associado ao rigor, à rectidão e à excelência, ficará, aos olhos de todos os Portugueses sob suspeita (dada a imensa – e justa – cobertura noticiosa que este escandaloso caso mereceu) … Do pior que lhe podia ter acontecido.
Enquanto a mentalidade que presidiu à decisão que foi tomada pela Direcção do CEJ (que teve que ser corrigida) não for combatida e erradicada do nosso País, nada nos valerá: apenas o fracasso nos espera. Foi, por isso, positivo ver a onde geral de indignação que se levantou com este deplorável episódio, tendo avultado as reacções do Bastonário da Ordem dos Advogados e da Associação Sindical dos Juízes Portugueses lamentando e criticando a solução que tinha sido encontrada em primeira instância. E contribuindo para que o Conselho Pedagógico do mesmo CEJ tenha corrigido a decisão antes tomada (e era o que mais faltava que não o fizesse – estaríamos, autenticamente, na República das Bananas!...).
Neste contexto, não consigo mesmo é perceber a razão da primeira decisão (da Direcção do CEJ). Não terão tido consciência da dimensão do erro que iriam cometer e dos danos que iriam causar?!... Não devem ter tido, porque só depois da decisão do Conselho Pedagógico, corrigindo a sentença inicial, a Directora do CEJ decidiu demitir-se. Tudo demasiado lamentável para ser verdade: claramente, um exemplo que toda a sociedade Portuguesa sem excepção só terá a ganhar se não copiar.
Nota: Este texto foi publicado no jornal Sol e Junho 24, 2011.
sábado, 25 de junho de 2011
Decadência
Mergulhar no meio de velharias é uma mania como outra qualquer. Quando tenho oportunidade, uns trocos de tempo, penso gastá-los numa livraria, num alfarrabista ou numa loja de trastes velhos ou fora de uso. Trocos em troca de algo, muitas vezes considerado como lixo. Como já me disseram que tenho o hábito de trazer “lixo” para casa, ainda vou acabar por equacionar, academicamente, a hipótese de poder estar a mostrar indícios de síndrome de Diógenes!
Há uns meses visitei um velhustro e não encontrei nada de especial. O dono, que já me conhecia, disse-me: - Tenho uns desenhos numa pasta. Quer vê-los? – Pode ser. Abri a pasta cheia de pó e sujidade e deparei-me com muitos desenhos, rabiscos, muitos inacabados, outros não passavam de esboços, um ou outro completo, mas a maioria assinados, A. Caseiro. Alguns dos desenhos perturbaram-me, fortes, agressivos, revelando facetas que só um artista com alguma genialidade pode imprimir. Selecionei alguns, poucos, os melhores, e perguntei quanto queria por eles. – Leve-os todos! Disse-me, como se quisesse desfazer daquelas folhas, cheias de pó e com desenhos esquisitos. – Leve tudo. São vinte e cinco euros! Não regateei, aliás, não tenho esse hábito. Paguei. Mais tarde, calmamente, analisei-os com algum cuidado; tinham valor artístico, sem dúvida. Tinham sido desenhados na primeira metade dos anos sessenta. – Este autor deve ter obra consagrada, pensei. Comecei a pesquisar, mas nada. Encontrei muitos Caseiros, mas nenhum com perfil de pintor. Consegui uma breve referência, de relance, a um Caseiro, num pequeno parágrafo de um texto autobiográfico de um artista plástico, em que o autor o descreve como uma grande promessa nas artes do desenho, da escrita e da música, mas que, infelizmente, nunca chegou a concretizar os seus talentos. Telefonei, no dia seguinte, para alguns “Caseiros” da região. Uns atrás de outros desconheciam qualquer familiar com tamanhos atributos, chegando a propor contactos com donos do mesmo apelido em terras vizinhas, mas sem sucesso. Ao fim de alguns dias, o efeito tempo obriga-nos a esquecer as nossas paixões e curiosidades, remeti os desenhos para o meio de uma pasta mais larga, onde jazem coisas parecidas.
Esta semana, houve um dia em que o tempo teve a gentileza de não me absorver totalmente. Aproveitei os restos e, sem convicção, rumei até à loja de velharias, não para procurar, mas para ser procurado por qualquer coisa que quisesse cair em minhas mãos. Entrei, dei rapidamente uma volta, contra as habituais três, e ia já a sair quando o senhor anunciou: - Quer ver uns desenhos? Tenho-os ali. Guardei-os para si. – Gentileza a sua. Abri a pasta que continha muitos desenhos e verifiquei, surpreendido, que eram semelhantes aos anteriores. De facto a grande maioria estava assinado com A. Caseiro. Negociei os desenhos, tendo regateado pela primeira vez na minha vida, acabando por “impor” o meu valor, o que me soube bem! O senhor queria desta vez um valor substancial. Um pouco mais tarde, refastelado numa esplanada, deliciei-me com as obras as quais me obrigaram, novamente, a querer saber um pouco mais sobre o artista. Lembrei-me do tal curto parágrafo da pesquisa anterior, identifiquei o autor, consegui o e-mail e, em seguida, enviei-lhe uma mensagem explicando o que tinha em mãos e o desejo de esclarecer a personalidade do autor. Duas horas depois recebi a resposta do pintor, que tinha sido companheiro e amigo na adolescência, inundando-me de informações preciosas. Chamou-me a atenção o facto de se tratar de uma personalidade exuberante, profundamente hedonista e incapaz de concretizar o que quer que fosse. Nunca conseguiu ter um rumo na sua vida, acabando por ficar sozinho, terminando os seus dias numa casa de repouso em total decadência. O apetite em conhecer tamanha personalidade levou-me, no dia seguinte, até à Lousã, onde o velho companheiro viu, analisou e comentou os desenhos, além de me ter propiciado uma das mais belas tardes culturais dos últimos tempos. Prometeu-me enviar alguns textos escritos de tão singular pessoa quando era jovem. Aguardo-os. No final da tarde do feriado fiquei com a vaga sensação de que o senhor teria alguma genialidade afogada numa decadência anunciada.
O “lixo” esconde, por vezes, beleza, arte, dramas, emoções e sentimentos capazes de nos enriquecer de forma inesperada. O lixo nem sempre é sinal de decadência. Tenho pena de que este autor a tenha preferido privando-nos de belezas anunciadas que, decerto, nos fariam mais felizes.
Esta semana, houve um dia em que o tempo teve a gentileza de não me absorver totalmente. Aproveitei os restos e, sem convicção, rumei até à loja de velharias, não para procurar, mas para ser procurado por qualquer coisa que quisesse cair em minhas mãos. Entrei, dei rapidamente uma volta, contra as habituais três, e ia já a sair quando o senhor anunciou: - Quer ver uns desenhos? Tenho-os ali. Guardei-os para si. – Gentileza a sua. Abri a pasta que continha muitos desenhos e verifiquei, surpreendido, que eram semelhantes aos anteriores. De facto a grande maioria estava assinado com A. Caseiro. Negociei os desenhos, tendo regateado pela primeira vez na minha vida, acabando por “impor” o meu valor, o que me soube bem! O senhor queria desta vez um valor substancial. Um pouco mais tarde, refastelado numa esplanada, deliciei-me com as obras as quais me obrigaram, novamente, a querer saber um pouco mais sobre o artista. Lembrei-me do tal curto parágrafo da pesquisa anterior, identifiquei o autor, consegui o e-mail e, em seguida, enviei-lhe uma mensagem explicando o que tinha em mãos e o desejo de esclarecer a personalidade do autor. Duas horas depois recebi a resposta do pintor, que tinha sido companheiro e amigo na adolescência, inundando-me de informações preciosas. Chamou-me a atenção o facto de se tratar de uma personalidade exuberante, profundamente hedonista e incapaz de concretizar o que quer que fosse. Nunca conseguiu ter um rumo na sua vida, acabando por ficar sozinho, terminando os seus dias numa casa de repouso em total decadência. O apetite em conhecer tamanha personalidade levou-me, no dia seguinte, até à Lousã, onde o velho companheiro viu, analisou e comentou os desenhos, além de me ter propiciado uma das mais belas tardes culturais dos últimos tempos. Prometeu-me enviar alguns textos escritos de tão singular pessoa quando era jovem. Aguardo-os. No final da tarde do feriado fiquei com a vaga sensação de que o senhor teria alguma genialidade afogada numa decadência anunciada.
O “lixo” esconde, por vezes, beleza, arte, dramas, emoções e sentimentos capazes de nos enriquecer de forma inesperada. O lixo nem sempre é sinal de decadência. Tenho pena de que este autor a tenha preferido privando-nos de belezas anunciadas que, decerto, nos fariam mais felizes.
Os maus escreventes
Uma bela análise linguística de Luís Miguel Queirós, no Público, sobre a “imbecilidade” (qualificação minha...) de tratar Assunção Esteves como Presidenta faz-me retornar ao assunto, depois do que referi há dias, aqui, no 4R.
Para além da justificação linguística que o Autor tão bem faz, o mesmo também conclui que "impor o feminino a uma palavra que não distingue géneros é um gesto sexista, que cria uma diferença onde ela não existe".
É que não há Presidento, nem Agenta ou Agento, nem Adolescento ou Adolescenta, nem Cliento ou Clienta, e nem mesmo há Linguísto…
Nem podem ser políticos, como Dilma Roussef ou jornalistas como Pilar del Rio ou os do Jornal de Notícias e outros a alterar as normas-padrão da língua. Por muito que queiram, não são escreventos ou escreventas. Apenas escreventes. Maus, infelizmente.
Para além da justificação linguística que o Autor tão bem faz, o mesmo também conclui que "impor o feminino a uma palavra que não distingue géneros é um gesto sexista, que cria uma diferença onde ela não existe".
É que não há Presidento, nem Agenta ou Agento, nem Adolescento ou Adolescenta, nem Cliento ou Clienta, e nem mesmo há Linguísto…
Nem podem ser políticos, como Dilma Roussef ou jornalistas como Pilar del Rio ou os do Jornal de Notícias e outros a alterar as normas-padrão da língua. Por muito que queiram, não são escreventos ou escreventas. Apenas escreventes. Maus, infelizmente.
Os bons títulos de Salazar
Segundo hoje li no Sol, na lista das obrigações entregues ao Banco Central Europeu como colateral para novos financiamentos estão 4 Títulos obrigacionistas emitidos nos anos de 1940 a 1943 e com vencimento em 31 de Dezembro do ano 9.999. Um prazo de pagamento superior a 8.050 ANOS!...
Salazar, em termos de finanças públicas, sabia o que fazia. Com ele, não haveria problemas de reestruturação da dívida. Um verdadeiro expert!...
Nota: Nada de extrapolações, para além do que ficou dito.
Salazar, em termos de finanças públicas, sabia o que fazia. Com ele, não haveria problemas de reestruturação da dívida. Um verdadeiro expert!...
Nota: Nada de extrapolações, para além do que ficou dito.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
O valor das oportunidades...
Este vídeo - gravado em Pequim durante o Festival da Primavera deste ano - mostra-nos que as pessoas com deficiência têm muito para dar. Esta consciência interpela-nos a pensar na importância do acesso destas pessoas a oportunidades capazes de as realizar e de se sentirem úteis. A sua integração enriquece a sociedade. Todas as bailarinas são completamente surdas e mudas. Baseando-se somente nos sinais dos formadores situados nas quatro esquinas do cenário, estas extraordinárias bailarinas oferecem um grande espectáculo visual, uma dança impressionante chamada “As Mil Mãos-Guan yin”. Um exemplo muito tocante que nos interpela a reflectir sobre a atenção que em Portugal dedicamos às pessoas com deficiência...
Auditoria à dívida pública: com que finalidade, exactamente?
1.Algumas personalidades ilustres, incluindo o Sec. Geral da CGTP, lançaram agora um abaixo-assinado para que seja realizada uma auditoria à dívida pública portuguesa.
2.Esta posição parece vir na esteira de outras que sustentam a necessidade de uma reestruturação dessa dívida, com carácter de urgência – iniciativas legislativas com esse patriótico objectivo foram entretanto anunciadas pelo PCP e pelo Bloco de Esq.
3.Sendo certo que se entende perfeitamente qual seria o resultado das iniciativas que visam a reestruturação da dívida por parte do devedor República de Portugal, caso merecessem aprovação – seria o suicídio financeiro e económico colectivo com já aqui deixei referido - confesso alguma dúvida quanto ao sentido útil e prático desta pretensa auditoria à dívida pública.
4.Será para apurar o exacto montante da dívida e as respectivas condições? Mas isso não justificaria uma auditoria em forma, poderia ser feito por uma “task force” interna nomeada pelo novo Governo, se necessário sob a supervisão da AR.
5.Será para apurar as verdadeiras razões para o dramático crescimento do endividamento nos últimos anos? Mas a enorme dimensão dos défices orçamentais - que de resto alguns dos signatários da petição sempre consideraram insuficientes para “dinamizar” a economia - não serve de justificação para esse crescimento? Ou estão à espera de encontrar algum alçapão onde se tenham escondido valores da dívida?
6.Será para apurar a razão pela qual se cometeram barbaridades na gestão da dívida pública, por exemplo a alteração das condições já acordadas com os titulares de Certificados de Aforro e que levaram à saída maciça dos aforradores deste produto, substituído por formas de dívida bem mais onerosas para o Estado? Mas não consta que os subscritores desta petição alguma vez tenham manifestado a menor preocupação com estas “minudências” na gestão da dívida...
7.Será para apurar se na contratação de nova dívida, em especial nestes últimos anos, houve intervenção maldosa de especuladores, nomeadamente da banca internacional, impondo condições leoninas ao Estado português? Se for essa a intenção, qual será a ideia seguinte - comunicar aos credores que decidimos baixar unilateralmente as taxas de juro, que nos recusamos a pagar juros tão elevados? Com consequências em tudo idênticas às da reestruturação unilateral?
8.Ou, ainda, visará preparação de terreno para apresentar uma “queixa-crime” contra os nossos credores (externos, em especial) para juntar à queixa já apresentada por outro rol de personagens ilustres contra as agências de “rating”, queixa que a PGR aceitou, ao que parece, mas da qual nunca mais nada se soube, já lá vão uns meses?
9.Ou existirá algum insondabilíssimo mistério por trás desta virtuosa auditoria?
2.Esta posição parece vir na esteira de outras que sustentam a necessidade de uma reestruturação dessa dívida, com carácter de urgência – iniciativas legislativas com esse patriótico objectivo foram entretanto anunciadas pelo PCP e pelo Bloco de Esq.
3.Sendo certo que se entende perfeitamente qual seria o resultado das iniciativas que visam a reestruturação da dívida por parte do devedor República de Portugal, caso merecessem aprovação – seria o suicídio financeiro e económico colectivo com já aqui deixei referido - confesso alguma dúvida quanto ao sentido útil e prático desta pretensa auditoria à dívida pública.
4.Será para apurar o exacto montante da dívida e as respectivas condições? Mas isso não justificaria uma auditoria em forma, poderia ser feito por uma “task force” interna nomeada pelo novo Governo, se necessário sob a supervisão da AR.
5.Será para apurar as verdadeiras razões para o dramático crescimento do endividamento nos últimos anos? Mas a enorme dimensão dos défices orçamentais - que de resto alguns dos signatários da petição sempre consideraram insuficientes para “dinamizar” a economia - não serve de justificação para esse crescimento? Ou estão à espera de encontrar algum alçapão onde se tenham escondido valores da dívida?
6.Será para apurar a razão pela qual se cometeram barbaridades na gestão da dívida pública, por exemplo a alteração das condições já acordadas com os titulares de Certificados de Aforro e que levaram à saída maciça dos aforradores deste produto, substituído por formas de dívida bem mais onerosas para o Estado? Mas não consta que os subscritores desta petição alguma vez tenham manifestado a menor preocupação com estas “minudências” na gestão da dívida...
7.Será para apurar se na contratação de nova dívida, em especial nestes últimos anos, houve intervenção maldosa de especuladores, nomeadamente da banca internacional, impondo condições leoninas ao Estado português? Se for essa a intenção, qual será a ideia seguinte - comunicar aos credores que decidimos baixar unilateralmente as taxas de juro, que nos recusamos a pagar juros tão elevados? Com consequências em tudo idênticas às da reestruturação unilateral?
8.Ou, ainda, visará preparação de terreno para apresentar uma “queixa-crime” contra os nossos credores (externos, em especial) para juntar à queixa já apresentada por outro rol de personagens ilustres contra as agências de “rating”, queixa que a PGR aceitou, ao que parece, mas da qual nunca mais nada se soube, já lá vão uns meses?
9.Ou existirá algum insondabilíssimo mistério por trás desta virtuosa auditoria?
Os Centros de Negócios Civis
O Governo decidiu não nomear novos Governadores Civis, aliás em consonância com o Programa Eleitoral do PSD, que prevê a extinção do cargo. A generalidade dos titulares não ficaram satisfeitos e logo trataram de apresentar a sua demissão, ou de colocar o lugar à disposição, enquanto outros anunciaram, pasme-se, as tarefas que continuariam a exercer e as que recusariam, assim a modos de quem, a bel prazer, escolhe o menú no restaurante.
Muitas justificações ouvi para o desagrado. Mas a mais notável, protagonizada, creio, pelos Governadores Civis de Lisboa e de Aveiro, era a de que os Governos Civis davam lucro!
"Lucro" esse que, na lógica da argumentação, certamente se extinguiria com a extinção dos Governadores.
Uma desfaçatez, esta do Governo. Acabar com Centros de Negócios assim tão prósperos e demitir 18 CFO´s de uma penada é mesmo uma lástima!...
Muitas justificações ouvi para o desagrado. Mas a mais notável, protagonizada, creio, pelos Governadores Civis de Lisboa e de Aveiro, era a de que os Governos Civis davam lucro!
"Lucro" esse que, na lógica da argumentação, certamente se extinguiria com a extinção dos Governadores.
Uma desfaçatez, esta do Governo. Acabar com Centros de Negócios assim tão prósperos e demitir 18 CFO´s de uma penada é mesmo uma lástima!...
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Basta o que deixou!...
O DN, incidentalmente por certo, nunca em notícia "encomendada", cobriu a entrada do ex-Ministro Teixeira dos Santos na Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Com grandes encómios, fotografias e tudo. Reentrada de herói!
Como se pudesse esquecer que Teixeira dos Santos foi, a par de Sócrates, o grande responsável pela situação a que chegámos. Patrocinou, apoiou e executou políticas orçamentais erradas: aumentou como nunca a despesa pública, demonstrando, nas circunstâncias em que estava o país, enorme ignorância em matéria macroeconómica, e aumentou perversamente os impostos, debilitando ainda mais a economia. Como estes nunca chegavam, obteve os maiores défices de sempre e elevou a dívida pública ao limiar da bancarrota, não fosse o auxílio externo.
Também não controlou o que quer que fosse. Os resultados desmentiram sempre as afirmações que fazia.
Não foi o Ministro das Finanças de Portugal. Não serviu o país, apenas engordou o Estado à custa dos cidadãos.
Seria inteligente se se retirasse discretamente. E nem sequer dissesse que regressava à Faculdade. Aliás, para ensinar o quê?
Devia poupar-nos a exibionismos sem tino nem siso. Basta o que deixou.
Como se pudesse esquecer que Teixeira dos Santos foi, a par de Sócrates, o grande responsável pela situação a que chegámos. Patrocinou, apoiou e executou políticas orçamentais erradas: aumentou como nunca a despesa pública, demonstrando, nas circunstâncias em que estava o país, enorme ignorância em matéria macroeconómica, e aumentou perversamente os impostos, debilitando ainda mais a economia. Como estes nunca chegavam, obteve os maiores défices de sempre e elevou a dívida pública ao limiar da bancarrota, não fosse o auxílio externo.
Também não controlou o que quer que fosse. Os resultados desmentiram sempre as afirmações que fazia.
Não foi o Ministro das Finanças de Portugal. Não serviu o país, apenas engordou o Estado à custa dos cidadãos.
Seria inteligente se se retirasse discretamente. E nem sequer dissesse que regressava à Faculdade. Aliás, para ensinar o quê?
Devia poupar-nos a exibionismos sem tino nem siso. Basta o que deixou.
Mobilidade não é uma teoria legal
Às vezes não temos bem a noção da gravidade de alguns bloqueios que tolhem a vida nacional. Por razões pessoais, acompanho de muito perto as atribulações de uma jovem que emigrou para Londres há 4 anos, na ânsia de desenvolver aí uma vida profissional mais a seu gosto, mas também por aquele desejo que, por sorte, não precisou de reprimir, de experimentar e por à prova a sua capacidade de singrar longe do conforto doméstico e da proximidade da família. Em suma, saíu da sua zona de conforto, como agora se diz, e o facto é que se, por um lado, escolheu o caminho das pedras, por outro tem conseguido em boa parte a afirmação pessoal que lhe ditou as decisões.
Vem isto a propósito do mercado de arrendamento. Em quatro anos, essa jovem já mudou de casa quatro vezes, por uma razão ou por outra, mas em todo o caso porque isso lhe era conveniente ou seja, porque quis. Não houve nunca qualquer dificuldade quer com o senhorio quer com a demora em encontrar novo poiso. A facilidade com que se muda de casa, incluindo mobilada, é impressionante e tudo está organizado para essa mobilidade. As agências funcionam, a segurança jurídica também, a relação com os senhorios é impessoal e objectiva, as regras são muito claras e fixadas de comum acordo. Podem fazer-se contratos de um ano com possibilidade de, por interesse do inquilino, sair ao fim de seis meses, e no fim do tempo acordado renegoceia-se o valor da renda. Se não houver acordo, procura-se outra. Podem antecipar-se as rescisões desde que o senhorio aceite mas é fácil encontrar outro arrendatário, a procura é imensa e a oferta também, numa dinâmica que faz com que encontrar casa onde mais convém, de acordo com o que se pode pagar, não constitua problema nenhum. Antes de celebrar o contrato, o candidato tem que apresentar uma série de provas em como é bom pagador e o nível de rendimentos e declaração do banco em como não tem o nome “sujo” no mercado, o que inibe fortemente que se use o direito á habitação como uma forma de explorar os incautos e, ao mesmo tempo, se poupem os tribunais e trabalhos inglórios que trazem prejuízo a toda a gente. As rendas são caras? Sim, são, em função do lugar e da dimensão, mas basta começar a procurar com 15 dias de antecipação, sobretudo nesta altura em que os estudantes vão embora e chegam outros. Quando se muda de emprego, a mudança de casa é apenas um ajustamento e não um problema, e seria impensável ouvir uma pessoa dizer que não pode mudar de local porque está pendurada no pagamento de uma casa pelos próximos 30 anos. Talvez isso também tenha que ser posto em cima da mesa quando se fala em “flexibilidade” das relações laborais ou mesmo em combate à desertificação do território, quando a habitação deixar de ser um grave problema, apesar da infinidade de casas vazias e de pessoas que suportam os custos da propriedade sem conseguir tirar delas o rendimento possível, talvez muitos outros problemas se resolvam. E estou agora mesmo a lembrar-me de que a actualização das rendas, incluindo dos contratos recentes, foi fixada, nos últimos anos, em praticamente 0%, considerando uma inflação teoricamente conveniente, que alterna com as notícias de que afinal ultrapassou níveis que há muitos anos não se viam.Ao mesmo tempo, avança-se com a “solução” de penalizar com impostos agravados os proprietários que teimem em não arriscar arrendar as casas...
Vem isto a propósito do mercado de arrendamento. Em quatro anos, essa jovem já mudou de casa quatro vezes, por uma razão ou por outra, mas em todo o caso porque isso lhe era conveniente ou seja, porque quis. Não houve nunca qualquer dificuldade quer com o senhorio quer com a demora em encontrar novo poiso. A facilidade com que se muda de casa, incluindo mobilada, é impressionante e tudo está organizado para essa mobilidade. As agências funcionam, a segurança jurídica também, a relação com os senhorios é impessoal e objectiva, as regras são muito claras e fixadas de comum acordo. Podem fazer-se contratos de um ano com possibilidade de, por interesse do inquilino, sair ao fim de seis meses, e no fim do tempo acordado renegoceia-se o valor da renda. Se não houver acordo, procura-se outra. Podem antecipar-se as rescisões desde que o senhorio aceite mas é fácil encontrar outro arrendatário, a procura é imensa e a oferta também, numa dinâmica que faz com que encontrar casa onde mais convém, de acordo com o que se pode pagar, não constitua problema nenhum. Antes de celebrar o contrato, o candidato tem que apresentar uma série de provas em como é bom pagador e o nível de rendimentos e declaração do banco em como não tem o nome “sujo” no mercado, o que inibe fortemente que se use o direito á habitação como uma forma de explorar os incautos e, ao mesmo tempo, se poupem os tribunais e trabalhos inglórios que trazem prejuízo a toda a gente. As rendas são caras? Sim, são, em função do lugar e da dimensão, mas basta começar a procurar com 15 dias de antecipação, sobretudo nesta altura em que os estudantes vão embora e chegam outros. Quando se muda de emprego, a mudança de casa é apenas um ajustamento e não um problema, e seria impensável ouvir uma pessoa dizer que não pode mudar de local porque está pendurada no pagamento de uma casa pelos próximos 30 anos. Talvez isso também tenha que ser posto em cima da mesa quando se fala em “flexibilidade” das relações laborais ou mesmo em combate à desertificação do território, quando a habitação deixar de ser um grave problema, apesar da infinidade de casas vazias e de pessoas que suportam os custos da propriedade sem conseguir tirar delas o rendimento possível, talvez muitos outros problemas se resolvam. E estou agora mesmo a lembrar-me de que a actualização das rendas, incluindo dos contratos recentes, foi fixada, nos últimos anos, em praticamente 0%, considerando uma inflação teoricamente conveniente, que alterna com as notícias de que afinal ultrapassou níveis que há muitos anos não se viam.Ao mesmo tempo, avança-se com a “solução” de penalizar com impostos agravados os proprietários que teimem em não arriscar arrendar as casas...
Que mil Massamás floresçam!
Quando a notícia é escassa, os futebóis foram de férias, a socialite ainda não foi a banhos mas os telejornais têm de se arrastar olho posto na concorrência até poderem dar lugar às telenovelas e aos reality shows com que se presta um serviço tão essencial que algum dele é serviço público, vão os jornalistas à caça da mulher barbuda.
Ontem assisti no telejornal das 20 horas da TVI a uma peça jornalística de fino recorte e de alcance verdadeiramente revolucionário, confirmando que, sim senhor, rompemos a película que separa o passado da nova era. O propósito da reportagem era demonstrar que, afinal, há vida em Massamá. Pois eu que durante anos ouvi dizer que Massamá era um subúrbio habitado por uma espécie de zombies que se levantavam de madrugada para conseguir chegar, já de manhã, ao IC19 para depois marcharem lentamente - como é próprio dos zombies - até à capital, fiquei admirado por perceber que há uns dias se fez a descoberta histórica de que há ali seres como nós. Mais: que existem por ali seres que são melhores que nós que não vivemos em Massamá. Eu que julgava que Massamá era o exemplo do periurbanismo amaldiçoado pela inteligência nacional que expõe os seus diktats todos os dias nos media sem direito a contraditório que sempre seria considerado estúpido; eu - ingénuo, burro! -, que julgava que um dia, quando o País pudesse dar-se ao luxo de um Polis mais ambicioso, implodiria aquela Massamá como todos as outras existentes à volta das metrópoles - antes mesmo de demolir o célebre Prédio Coutinho -, descobri, assim, sem preparação que me permitisse adaptar à surpreendente revelação, que afinal Massamá é uma espécie de Lapa, maior e mais actual, uma futura nova centralidade que, como um feliz entrevistado depunha com visivel satisfação frente ao café onde o novo PM toma a bica matinal, fica a 15 minutos de literalmente tudo, desde o centro comercial até à praia.
Confesso aqui que, após aquela extraordinária reportagem, já recuperado da surpresa, senti um patriótico orgulho e uma revolucionária vontade de gritar QUE MIL MASSAMÁS FLORESÇAM!
A propósito dos melões... conhecimentos, aptidões e atitudes
Fico surpreendida com a torrente de “notícias”, comentários e artigos múltiplos que se escreveram imediatamente sobre o Governo e cada um dos seus membros. Se são novos, se são conhecidos ou não, se são bons técnicos, se têm bons curriculos. Não quero com isto dizer que concordo ou discordo, apenas que me surpreenderam os juízos "definitivos" que de imediato se fizeram, ao ponto de algumas vozes terem invocado os melões, que só depois de abertos é que nos garantem o palpite.
Há imensos factores que influenciam a capacidade de cada pessoa para um ou outro lugar e, em cada um deles, a mesma pessoa pode ser excelente ou péssima, de acordo com o que é preciso que faça. Pode-se ser um excelente técnico, por exemplo, e ter pouca capacidade de decisão. Ou, ao contrário, pode-se saber pouco da matéria técnica e ter uma boa capacidade de ouvir, de distinguir o principal do acessório, de distinguir com facilidade o que pode ajudar a resolver ou só complica. Pode-se ter uma notável capacidade oratória e não conseguir trabalhar no concreto, ou em equipa, e pode-se ser um mau comunicador, ou pessoa de poucas falas, e sair um óptimo decisor, que mobiliza as pessoas para os objectivos e em quem elas confiam. Pode-se ser autoritário, o que é próprio para quem tem que conseguir mudanças e manter um ritmo rápido, mas que é terrível quando é preciso reflectir, recolher propostas e conseguir consensos. Nesse caso, o mais adequado é ser paciente e persistente, é saber ceder e arranjar apoios, mas se for uma pessoa encantadora que só faz amigos e não aguenta críticas já não serve, tem que ter autoridade e ser capaz de, no momento certo, assumir a responsabilidade de acabar com diálogos inúteis. Às vezes a experiência é um obstáculo, porque a pessoa tem medo de errar, como já viu ou já lhe aconteceu, e hesita em seguir um caminho inovador, outras vezes a falta de experiência faz perder tempo porque se tenta fazer o que já se devia saber que não resulta.
Quando se selecciona uma pessoa para uma empresa não basta ler os curriculos e pasmar perante as páginas cheias de linhas, tal como não se deve desprezar quem se limita a apontar dois ou três “lugares” mas consegue mostrar muitas outras valências pelo tipo de funções, lugar e circunstâncias em que as exerceu. Ou seja, embora o juízo de valor possa ser positivo em abstracto, o que interessa realmente é se as características pessoais, a formação e o percurso profissional revelam, em conjunto, se uma pessoa é a adequada para fazer aquilo que se espera, quando se espera e precisa que ela venha a fazer.
Isto não significa, de modo nenhum, que quem escolheu o Governo não o tenha feito acertadamente e que as pessoas em causa não nos mereçam todo o crédito e todo o respeito. Quero apenas dizer que a maior parte das pessoas que falou, salvo raras excepções, não disse absolutamente nada que pudesse suportar as suas conclusões firmes. Por isso, o que posso concluir de tudo o que ouvi, e já é muito importante,é que há uma expectativa muito positiva e uma disposição de apoiar o que, para todos os que assumiram estas altas responsabilidades, é sempre muito gratificante...e exigente! Bem precisados estamos dos seus conhecimentos, capacidades e engenho, a troco da esperança e confiança que neles depositamos.
Isto não significa, de modo nenhum, que quem escolheu o Governo não o tenha feito acertadamente e que as pessoas em causa não nos mereçam todo o crédito e todo o respeito. Quero apenas dizer que a maior parte das pessoas que falou, salvo raras excepções, não disse absolutamente nada que pudesse suportar as suas conclusões firmes. Por isso, o que posso concluir de tudo o que ouvi, e já é muito importante,é que há uma expectativa muito positiva e uma disposição de apoiar o que, para todos os que assumiram estas altas responsabilidades, é sempre muito gratificante...e exigente! Bem precisados estamos dos seus conhecimentos, capacidades e engenho, a troco da esperança e confiança que neles depositamos.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Dobragem
Há muito tempo que não estava com uns amigos. Calhou encontrá-los um dia destes, e, como é habitual, cada um dá o seu mote para a conversa. Na sequência do novo acordo ortográfico, que está em vigor - admira-me que o “vigor” dos opositores se tenha esmorecido, pelo menos aparentemente -, o literato, ensaísta, tradutor, escritor, cinéfilo, em suma, homem de farta e larga cultura, “descambou” para a dobragem. Fiquei de olho aberto e ouvido atento, porque a simples palavra dobragem teve vários efeitos obrigando-me a viajar no tempo e no espaço. Ainda o meu amigo não tinha começado a dissertar já eu navegava com prazer noutras paragens, mas tive de assentar a imaginação aguardando o que ele queria transmitir. Inicialmente falou da necessidade da dobragem porque tal atividade constituiria uma forma de dar trabalho e reduzir a subsídio dependência. Depois de auscultar as nossas reações faciais, passou a dizer que o facto de não se ler as legendas permite apreciar melhor as mensagens dos filmes. E a malta calada, cada um a fazer o seu juízo. O meu era contra as dobragens. Os argumentos iam-lhe saindo, dizendo que quanto mais programas forem em português maiores serão as audiências, razão do sucesso inicial de um canal privado de televisão aquando do seu nascimento. E a malta calada, a ouvir, sem legendas, claro. Os argumentos a favor multiplicavam-se, chegando, inclusive, a contar uma história pessoal. Um realizador italiano, que viu o filme “Non, ou a Vã Glória de Mandar” dobrado em italiano, considerou-o como uma bela peça cómica! Aqui está, disse ele, como se transforma uma peça histórica e séria, sem grande interesse, numa obra de qualidade, bastou dobrá-la. Ri-me, a pensar que se fosse assim mais valia dobrar alguns dos nossos políticos, que passariam, automaticamente, de atores trágicos a atores cómicos, uma mera questão de idioma. Mas não ficou por aqui, segundo ele, alguns filmes dobrados ficam muito melhores e quem nunca escutou a voz original não pode ter saudades. Como já eram argumentos a mais a favor da dobragem, o que não seria difícil de perceber pelas nossas caras, terminou dizendo que, caso houvesse alguma posição contra, sempre se poderia fazer como em Espanha, uma parte das cópias era dobrada e a outra não, sendo a original apresentada depois da meia-noite e com a possibilidade de ser sincronizada com a rádio, encarregada de transmitir o som em espanhol. A seguir, três amigos manifestaram-se, afirmando, em primeiro lugar, a sua condição de cinéfilos. Coisa que eu também ambicionei em novo, mas não consegui, devido à minha dificuldade em decorar nomes e, diga-se de passagem, estava completamente a borrifar-me para isso, o que eu queria era divertir-me. Levar-me-ia demasiado tempo, e muitas linhas, a escrever o que ouvi, mas um deles afirmou que assim se perdia a sonoridade original, que faz parte da encenação, e citou muitos, mas muitos, artistas definindo as características de cada um e de cada uma, até falou da Silvana Mangano! Na réplica acabou por ser informado de que a Silvana tinha voz de cana rachada e, por isso, era uma desconhecida que lhe dava a voz, porque quanto ao corpo não precisava de substituta.! O cinéfilo, número dois, teve de “engolir” a Mangano, a da voz de cana rachada. Sorri com satisfação. Mas há gente meia tola, não é que este amigo chegou a ver um filme vinte e duas vezes, o “Apocalipse Now”? Arrepiei-me todo. E não viu mais vezes porque a última versão incomodou-o muito. No momento em que Marlon Brando sussurra em inglês, “Horror! Horror!, em italiano foi muito diferente: “Hóórróre! Hóórróre! Não aguentou. Foi o seu principal argumento contra a dobragem, mas foi-lhe muito útil, na minha opinião, senão, hoje, estaria na nonagésima visualização.
A primeira vez que saí para o centro da Europa foi para Lugano, cantão italiano. Abri a televisão e deparei-me com um filme de índios e cowboys aos tiros e aos gritos, mas em italiano. Foi um choque para mim. Lembro-me à hora de jantar de comentar com os meus colegas sobre tão inusitada estreia. Para mim, índios e cowboys não podiam falar italiano, apesar de muitos dos westerns serem feitos em Itália. A minha infância está cheia de outros filmes, dobrados, como, por exemplo, o Rin-Tim-Tim, em que se falava brasileiro, e os filmes de Walt Disney, que também usavam o português da outra banda. Acabei por descobrir que eram segundas vozes porque os movimentos da boca não coincidiam com o que diziam, o que me irritava, e muito. Comecei a preferir os filmes legendados,
Antes de terminar a discussão, o meu amigo, literato, ensaísta, tradutor, escritor, cinéfilo, voltou à carga, deixando no ar a solução espanhola, sem que antes deixasse de comentar Jorge Luís Borges que, no seu texto, “Sobre a Dobragem”, explicou as razões da sua oposição visceral a esta “prática usurpadora de vozes”, capaz de destruir a cena de Eisenstein quando Alexander Nevsky, perante o exército dos teutões, com a superfície do lago gelado a separá-los, lhes chama: “cães alemães”, em russo, naturalmente. A beleza da cena está na frase em russo. Citou-a sem que eu a entendesse, mas, mesmo assim, “senti” o seu simbolismo.
E agora? Agora termino com uma legenda, mas sem imagens. À vossa saúde e um bom feriado...
A primeira vez que saí para o centro da Europa foi para Lugano, cantão italiano. Abri a televisão e deparei-me com um filme de índios e cowboys aos tiros e aos gritos, mas em italiano. Foi um choque para mim. Lembro-me à hora de jantar de comentar com os meus colegas sobre tão inusitada estreia. Para mim, índios e cowboys não podiam falar italiano, apesar de muitos dos westerns serem feitos em Itália. A minha infância está cheia de outros filmes, dobrados, como, por exemplo, o Rin-Tim-Tim, em que se falava brasileiro, e os filmes de Walt Disney, que também usavam o português da outra banda. Acabei por descobrir que eram segundas vozes porque os movimentos da boca não coincidiam com o que diziam, o que me irritava, e muito. Comecei a preferir os filmes legendados,
Antes de terminar a discussão, o meu amigo, literato, ensaísta, tradutor, escritor, cinéfilo, voltou à carga, deixando no ar a solução espanhola, sem que antes deixasse de comentar Jorge Luís Borges que, no seu texto, “Sobre a Dobragem”, explicou as razões da sua oposição visceral a esta “prática usurpadora de vozes”, capaz de destruir a cena de Eisenstein quando Alexander Nevsky, perante o exército dos teutões, com a superfície do lago gelado a separá-los, lhes chama: “cães alemães”, em russo, naturalmente. A beleza da cena está na frase em russo. Citou-a sem que eu a entendesse, mas, mesmo assim, “senti” o seu simbolismo.
E agora? Agora termino com uma legenda, mas sem imagens. À vossa saúde e um bom feriado...
Tempos de mudança...
É uma decisão com uma carga simbólica importante. Vivemos um tempo de grande exigência. É fundamental que as pessoas sintam que o Estado é sóbrio nas despesas que realiza, que o governo dá o exemplo. É um conforto para as pessoas que se traduz em confiança. O Estado renova-se no seu funcionamento, o governo ganha em autoridade e credibilidade.
Uma decisão em linha com a proposta do pacto de confiança que marcou o discurso de Pedro Passos Coelho.
Uma decisão em linha com a proposta do pacto de confiança que marcou o discurso de Pedro Passos Coelho.
Dia grande!
Ontem, 21 de Junho, foi um dia grande, aliás o maior do ano!
-Pedro Passos Coelho tomou posse como 1º Ministro.
-Assunção Esteves foi eleita Presidente da Assembleia da República.
-Vítor Pereira foi empossado como treinador do F.C. Porto.
Excluindo o Presidente da República, tomaram posse as 3 maiores figuras deste país!...
-Pedro Passos Coelho tomou posse como 1º Ministro.
-Assunção Esteves foi eleita Presidente da Assembleia da República.
-Vítor Pereira foi empossado como treinador do F.C. Porto.
Excluindo o Presidente da República, tomaram posse as 3 maiores figuras deste país!...
Contas orçamentais e dívida pública: impossível entender...
1.No seu estilo incorrigível – até ao último dia fiel ao princípio da ilusão cor-de-rosa – o Governo cessante brindou-nos, na última 2ª Feira, com mais uma luxuriosa apresentação de dados da execução orçamental até Maio, uma espectacular redução do défice das Administrações Centrais – Estado, Fundos e Serviços Autónomos e Segurança Social.
2.A esse nível agregado, o défice baixou, segundo o Governo, de - € 2.662 milhões no período homólogo de 2010, para - € 285 milhões em 2011 – uma quebra de 89,3%, quem diria, resultando de um défice de -€ 2106 milhões no subsector Estado, e de superavits de +€ 1.078 milhões nos Serviços e Fundos Autónomos e de +€ 743 milhões na Segurança Social.
3.Todavia, quando se olha para os números apresentados, verifica-se que o montante de juros da dívida pública contabilizados nos primeiros 5 meses do ano é de apenas € 876 milhões quando para o conjunto ao ano estão orçamentados € 6.316 milhões - ou seja até Maio foram pagos apenas 13,9% da factura anual de juros, sendo por isso de esperar um forte agravamento nesta rubrica nos próximos meses.
4.Raciocínio semelhante pode ser feito para as despesas de investimento, cujo grau de realização até Maio se ficou por 22,5% do valor orçamentado - embora neste caso se posa duvidar que venha a ser cumprido o valor orçamentado uma vez que o Ministro das Finanças cessante teria já tomado providências no sentido de congelar projectos de investimento a partir do final de Abril.
5.Por “azar” do Governo, no mesmo dia em que anunciou esta última proeza na execução orçamental, foi tb notícia o contínuo agravamento dos prazos de pagamento do Estado e empresas públicas ao sector privado – de uma média de 89 dias de atraso no 1º trimestre de 2010 para 123 dias no 1º trimestre de 2011...com especial relevo para o sector da saúde em que o atraso médio atinge quase o dobro daquele valor...
6.Sabendo-se, como se sabe, que as contas agora divulgadas são confeccionadas numa base de caixa – só conta como despesa o que se paga, não o que se fica a dever – podemos imaginar as muitas centenas de milhões de despesa não contabilizada, para não estragar a cor-de-rosa...
7.Pior ainda, no dia seguinte (uma semana mais tarde do que o normal, note-se) foram divulgados os dados sobre dívida pública directa no final de Maio último, mostrando um crescimento da dívida nos primeiros 5 meses de 2011 de € 12.573 milhões, contra um crescimento de apenas € 7.541 milhões no mesmo período de 2010!!!
8.Agora é que nada, mas nada mesmo se entende...então com uma descida tão espectacular do défice público, de quase 90%, o Estado foi obrigado a endividar-se em mais 66,7% do que em 2010?
9.Como entender um tão brutal paradoxo? Para onde foi todo esse dinheiro que o Estado obteve se o défice não o justificou, bem pelo contrário?...
10.Definitivamente, contas orçamentais “rosa” e dívida pública não conseguem entender-se, de todo...quem nos acode?
2.A esse nível agregado, o défice baixou, segundo o Governo, de - € 2.662 milhões no período homólogo de 2010, para - € 285 milhões em 2011 – uma quebra de 89,3%, quem diria, resultando de um défice de -€ 2106 milhões no subsector Estado, e de superavits de +€ 1.078 milhões nos Serviços e Fundos Autónomos e de +€ 743 milhões na Segurança Social.
3.Todavia, quando se olha para os números apresentados, verifica-se que o montante de juros da dívida pública contabilizados nos primeiros 5 meses do ano é de apenas € 876 milhões quando para o conjunto ao ano estão orçamentados € 6.316 milhões - ou seja até Maio foram pagos apenas 13,9% da factura anual de juros, sendo por isso de esperar um forte agravamento nesta rubrica nos próximos meses.
4.Raciocínio semelhante pode ser feito para as despesas de investimento, cujo grau de realização até Maio se ficou por 22,5% do valor orçamentado - embora neste caso se posa duvidar que venha a ser cumprido o valor orçamentado uma vez que o Ministro das Finanças cessante teria já tomado providências no sentido de congelar projectos de investimento a partir do final de Abril.
5.Por “azar” do Governo, no mesmo dia em que anunciou esta última proeza na execução orçamental, foi tb notícia o contínuo agravamento dos prazos de pagamento do Estado e empresas públicas ao sector privado – de uma média de 89 dias de atraso no 1º trimestre de 2010 para 123 dias no 1º trimestre de 2011...com especial relevo para o sector da saúde em que o atraso médio atinge quase o dobro daquele valor...
6.Sabendo-se, como se sabe, que as contas agora divulgadas são confeccionadas numa base de caixa – só conta como despesa o que se paga, não o que se fica a dever – podemos imaginar as muitas centenas de milhões de despesa não contabilizada, para não estragar a cor-de-rosa...
7.Pior ainda, no dia seguinte (uma semana mais tarde do que o normal, note-se) foram divulgados os dados sobre dívida pública directa no final de Maio último, mostrando um crescimento da dívida nos primeiros 5 meses de 2011 de € 12.573 milhões, contra um crescimento de apenas € 7.541 milhões no mesmo período de 2010!!!
8.Agora é que nada, mas nada mesmo se entende...então com uma descida tão espectacular do défice público, de quase 90%, o Estado foi obrigado a endividar-se em mais 66,7% do que em 2010?
9.Como entender um tão brutal paradoxo? Para onde foi todo esse dinheiro que o Estado obteve se o défice não o justificou, bem pelo contrário?...
10.Definitivamente, contas orçamentais “rosa” e dívida pública não conseguem entender-se, de todo...quem nos acode?
Tempos de mudança...
“Rigor e contenção” sublinhou ontem o Primeiro Ministro no seu discurso de tomada de posse, referindo-se ao modo como o Estado se deve comportar na utilização dos dinheiros públicos.
E logo anunciou a decisão de não nomear novos governadores civis, cumprindo a promessa de extinguir os governos civis. Ainda o discurso não tinha acabado e o governador civil de Lisboa apresentava a sua demissão, manifestando-se contra a decisão, defendendo a imprescindibilidade das suas funções. Seguiram-se – lhe mais cinco.
Não espanta que estes governadores civis tenham actuado desta forma, em lugar de, como é seu dever, assumirem a responsabilidade de colaborar no trabalho que se vai seguir de transferência das competências dos governos civis para outros órgãos. Se são ou não “boys”, como ontem alguém os classificou, a propósito de mais este triste episódio, não sei. O que sei é que não precisamos de pessoas assim, que têm uma visão distorcida do que é o serviço público. Não fazem falta, diria mesmo que são prejudiciais.
E logo anunciou a decisão de não nomear novos governadores civis, cumprindo a promessa de extinguir os governos civis. Ainda o discurso não tinha acabado e o governador civil de Lisboa apresentava a sua demissão, manifestando-se contra a decisão, defendendo a imprescindibilidade das suas funções. Seguiram-se – lhe mais cinco.
Não espanta que estes governadores civis tenham actuado desta forma, em lugar de, como é seu dever, assumirem a responsabilidade de colaborar no trabalho que se vai seguir de transferência das competências dos governos civis para outros órgãos. Se são ou não “boys”, como ontem alguém os classificou, a propósito de mais este triste episódio, não sei. O que sei é que não precisamos de pessoas assim, que têm uma visão distorcida do que é o serviço público. Não fazem falta, diria mesmo que são prejudiciais.
Presidenta: a imbecilidade chegou ao Português
Um jornal diário titulava hoje qualquer coisa como “Assunção Esteves eleita Presidenta da Assembleia da República”.
Uma violentação da língua portuguesa levada ao extremo, em nome da imbecilidade do politicamente correcto.
O cargo, a missão e a dignidade de Presidente da Assembleia da República valem por si, não pelo sexo do seu titular. Para tal conceito, há um vocábulo. Ser exercido por homem ou mulher ou hermafrodito é uma mera circunstância, que não junta à substância. Mas subtrai, se a tónica é colocada no sexo, como se este se sobrepusesse à função.
Não se é Presidento, nem Presidenta. Simplesmente Presidente.
Assunção Esteves foi eleita por mérito: é a digna Presidente da Assembleia da República. “Uma escolha de primeira”, como aqui Ferreira de Almeida tão bem referiu.
Uma violentação da língua portuguesa levada ao extremo, em nome da imbecilidade do politicamente correcto.
O cargo, a missão e a dignidade de Presidente da Assembleia da República valem por si, não pelo sexo do seu titular. Para tal conceito, há um vocábulo. Ser exercido por homem ou mulher ou hermafrodito é uma mera circunstância, que não junta à substância. Mas subtrai, se a tónica é colocada no sexo, como se este se sobrepusesse à função.
Não se é Presidento, nem Presidenta. Simplesmente Presidente.
Assunção Esteves foi eleita por mérito: é a digna Presidente da Assembleia da República. “Uma escolha de primeira”, como aqui Ferreira de Almeida tão bem referiu.
Nota: Sei que agora não é bonito falar de sexo masculino ou feminino, e tudo se reduz a género. Pois vivam apenas com ele os politicamente correctos deste mundo.
terça-feira, 21 de junho de 2011
Uma escolha de primeira
Assunção Esteves já fez história. Não por ser o desfecho feliz de uma novela prenunciada como ouvi comentar por aí. Mas por ser uma escolha que, estou certo, se honra a própria, muito mais dignifica o Parlamento. Também não pelo argumento sexista de ser uma mulher, mas pelo valor que quem a conhece sabe que tem. Aos cépticos recomenda-se que ouçam o seu primeiro discurso como segunda figura na hierarquia do Estado, dos mais densos que já se escutou dito daquela tribuna.
O choque entre os discursos e a realidade...
1.Na cerimónia de posse do 19º Governo Constitucional, hoje realizada, o PR pronunciou um importante e bem construído discurso, com algumas mensagens bem fortes, de aviso, sobre a extraordinária gravidade da situação que vivemos, dirigidas aos novos governantes e ao País em geral.
2.A determinado passo desse discurso, o PR afirmou ser indispensável que o (escasso) crédito bancário ainda disponível fosse canalizado para as PME’s...
3....Quando, neste mesmo dia 21 de Junho foi notícia o facto de a CGD ter concedido ao Estado um empréstimo de emergência de € 300 milhões, para “tapar buracos” de tesouraria e fazer face, entre outras coisas, ao pagamento de salários da função pública.
4.Os € 300 milhões que a CGD teve de emprestar ao Estado, vão faltar a muitas centenas de PME’s - se fossem 600 PME’s conseguindo € 0,5 milhões cada uma de crédito bancário,seria um imenso benefício certamente...que jeito lhes fariam esses fundos!
5.Este é pois um episódio que serve para perceber que o Estado lamentável a que se chegaram as finanças públicas em Portugal é causa de imensos prejuízos para a economia produtiva: sem esse crédito, as PME’s que dele ficam privadas vão ter, necessariamente,(i) de deixar de pagar a muitas outras PME’S e/ou(ii)de despedir mais algum pessoal, e/ou (iii) de adiar o pagamento de salários, e/ou(iv)deixar de investir ou pelo menos adiar investimentos...
6.E este é também um bom exemplo da distância que existe entre discursos bem intencionados – é evidente que qualquer de nós não poderá deixar de subscrever a afirmação do PR – e uma realidade económica e financeira que, por força da acção persistente e gloriosa de governantes EXPERIENTES e não AMADORES, chegou a este deplorável estado de coisas...
2.A determinado passo desse discurso, o PR afirmou ser indispensável que o (escasso) crédito bancário ainda disponível fosse canalizado para as PME’s...
3....Quando, neste mesmo dia 21 de Junho foi notícia o facto de a CGD ter concedido ao Estado um empréstimo de emergência de € 300 milhões, para “tapar buracos” de tesouraria e fazer face, entre outras coisas, ao pagamento de salários da função pública.
4.Os € 300 milhões que a CGD teve de emprestar ao Estado, vão faltar a muitas centenas de PME’s - se fossem 600 PME’s conseguindo € 0,5 milhões cada uma de crédito bancário,seria um imenso benefício certamente...que jeito lhes fariam esses fundos!
5.Este é pois um episódio que serve para perceber que o Estado lamentável a que se chegaram as finanças públicas em Portugal é causa de imensos prejuízos para a economia produtiva: sem esse crédito, as PME’s que dele ficam privadas vão ter, necessariamente,(i) de deixar de pagar a muitas outras PME’S e/ou(ii)de despedir mais algum pessoal, e/ou (iii) de adiar o pagamento de salários, e/ou(iv)deixar de investir ou pelo menos adiar investimentos...
6.E este é também um bom exemplo da distância que existe entre discursos bem intencionados – é evidente que qualquer de nós não poderá deixar de subscrever a afirmação do PR – e uma realidade económica e financeira que, por força da acção persistente e gloriosa de governantes EXPERIENTES e não AMADORES, chegou a este deplorável estado de coisas...
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Nobre atitude
Fernando Nobre retirou a candidatura a presidente da Assembleia da República e vai ficar como deputado. Nobre atitude.
E muito rasteiro o comportamento de quem não permitiu a eleição do Candidato do partido mais votado e que lidera o Governo. Como sempre o PSD viabilizou.
Contrastes!
O mar aqui tão perto...
Uma entrevista a ler sobre o mar.
(…) Diz que Portugal virou as costas ao mar, em ruptura com o passado, para nos deslumbrarmos com a Europa. A culpa foi da adesão à Europa? Temos a tendência de atirar as culpas para cima dos outros. Nesta questão do mar dizemos que a culpa de não termos as pescas, de não termos indústria marítima, é da Europa. A Europa não nos obrigou a nada, fomos nós que tomamos as nossas decisões. Avançamos nestes desígnios europeus, começamos a vermo-nos como o território onde a Europa acaba e não onde o mar começa. Não percebemos que estávamos a desprezar a nossa geografia, que é uma das mais marcantes de toda a Europa (somos dos poucos países com apenas um vizinho), pusemo-nos numa situação com menos opções de recursos de desenvolvimento.
Mas deslumbrámo-nos com a Europa ou não? Poderia ser de outra maneira? Sem dúvida que nos deslumbrámos, embarcámos na tese do bom aluno. O que não é censurável, é até compreensível. Nós afastámo-nos durante centenas de anos da cultura europeia, do desenvolvimento europeu. O que acho que é crucial hoje é que, passados 30 anos de adesão à União Europeia, continuamos a não ser a sociedade europeia desenvolvida que almejávamos.
Porque acha que tal aconteceu? Por causa da enorme ausência de estratégias, de visões. A situação actual não poderia ser menos positiva. A nossa economia do mar é apenas uma economia em vias de desenvolvimento. Falta uma visão de geografia, uma visão de que não poderemos continuar sem explorar os nossos recursos naturais. E o maior desses recursos naturais é o mar, que Portugal desconhecia que tinha. (…)
Será que é desta que vamos ter uma política do mar?
(…) Diz que Portugal virou as costas ao mar, em ruptura com o passado, para nos deslumbrarmos com a Europa. A culpa foi da adesão à Europa? Temos a tendência de atirar as culpas para cima dos outros. Nesta questão do mar dizemos que a culpa de não termos as pescas, de não termos indústria marítima, é da Europa. A Europa não nos obrigou a nada, fomos nós que tomamos as nossas decisões. Avançamos nestes desígnios europeus, começamos a vermo-nos como o território onde a Europa acaba e não onde o mar começa. Não percebemos que estávamos a desprezar a nossa geografia, que é uma das mais marcantes de toda a Europa (somos dos poucos países com apenas um vizinho), pusemo-nos numa situação com menos opções de recursos de desenvolvimento.
Mas deslumbrámo-nos com a Europa ou não? Poderia ser de outra maneira? Sem dúvida que nos deslumbrámos, embarcámos na tese do bom aluno. O que não é censurável, é até compreensível. Nós afastámo-nos durante centenas de anos da cultura europeia, do desenvolvimento europeu. O que acho que é crucial hoje é que, passados 30 anos de adesão à União Europeia, continuamos a não ser a sociedade europeia desenvolvida que almejávamos.
Porque acha que tal aconteceu? Por causa da enorme ausência de estratégias, de visões. A situação actual não poderia ser menos positiva. A nossa economia do mar é apenas uma economia em vias de desenvolvimento. Falta uma visão de geografia, uma visão de que não poderemos continuar sem explorar os nossos recursos naturais. E o maior desses recursos naturais é o mar, que Portugal desconhecia que tinha. (…)
Será que é desta que vamos ter uma política do mar?
Os guardiões do templo
Há uns tempos, mais precisamente em 2002, o Supremo Tribunal Administrativo foi chamado a julgar em recurso sobre o mérito e a adequação de decisões que puniram alunos apanhados no copianço em exame. Fraude! confirmaram, e muito bem, os venerandos conselheiros após as instâncias se terem recusado anular ou mesmo aliviar a sanção aplicada aos infratores. A severidade da sentença punitiva que o Supremo confirmou foi justificada com a necessidade de garantir a dignidade do ensino público. Aqui vai, lapidar, um excerto do aresto:
- "Nas circunstâncias em que a infracção decorreu, são grandes as exigências de prevenção e de defesa dos interesses de dignificação do ensino público e da realização dos exames escolares, a exigir alguma severidade na repressão das fraudes descobertas. A pena de um ano de exclusão pela colaboração bastante activa na fraude em exame em relação a um aluno punido com exclusão por dois anos foi fixada na justa medida, sendo adequada à gravidade dos factos. Em apoio do decidido, c.f., v.g. acs. STA de 1-7-97 - rec. 41.117; do Pleno de 18-1-00 - rec. 38605, de 17-2-99 - rec. 41.088; de 31-5-01 - rec. 47467".
Versão germânica de "com a verdade me enganas"?
Esta a capa do Der Spiegel anunciando por antecipação a morte do euro, devidamente amortalhado pela bandeira grega. Há quem diga que o Der Spiegel, para além da tradição de não ser politicamente correto, costuma exprimir o que o poder umas vezes, a sociedade alemã outras, não exterioriza mas sente. E pelos vistos não falta quem por lá pense (mas não diga) que o euro, na Alemanha e para a Alemanha, já deu o que tinha a dar. As próximas eleições para o parlamento federal e para a chancelaria tornarão a coisa clarinha, clarinha.
Por ora será especular demais se considerarmos que a capa traduz para os restantes europeus a versão teutónica do portuguesíssimo com a verdade m´enganas?
Novo Governo: inexperiência e "amadorismo"? Sejam bem-vindos!
1.Uma das observações críticas que já ouvi fazer em relação à composição do novo Governo – nomeadamente por um dos candidatos à liderança do PS – tem a ver com a falta de experiência político-governativa e o “amadorismo” de alguns dos nomeados.
2.Quando se faz uma crítica destas tem-se em vista, necessariamente, o que tem sido a experiência governativa em Portugal nestes últimos anos...
3.Creio que ninguém de bom senso se lembraria de apontar aos novos governantes a falta de experiência de governo em Espanha, na Grécia, na Venezuela ou em qq outro país estrangeiro...ou de experiência de governo em Portugal há 20 ou 30 anos ...
4.Sendo assim, deve igualmente concluir-se que a experiência de governo em Portugal, nestes últimos anos – sobretudo no período áureo dos últimos 6 anos – seria uma excelente escola para os novos governantes, que os teria habilitado a governar de forma competente e sábia os destinos do País...
5.Os novos governantes, se tivessem essa experiência, ter-se-iam tornado peritos – ou pelo menos bons conhecedores – em algumas das seguintes áreas ou actividades:
(i)Realização de despesas públicas supérfluas;
(ii)Incumprimento recorrente das normas de execução orçamental;
(iii)Gestão “calamitosa” das empresas públicas que lhes caberia orientar estrategicamente;
(iv)Crescimento incomensurável e incontrolável da dívida pública;
(v)Acumulação de enormes atrasos de pagamento do Estado e outros entes públicos ao sector privado;
(vi)Celebração de PPP em condições altamente penalizantes para o Estado e que vão importar encargos muito graves para os orçamentos dos próximos anos;
(vii)Generosa desordem que reina na gestão do SNS incluindo boa parte dos hospitais públicos;
(viii)Concessão de favores a esmo a amigos do partido no poder, em prejuízo manifesto do interesse público e não raro em circunstâncias de escândalo;
(ix)Criação de fundações públicas para realização de despesa pública com evasão às normas de execução orçamental;
(x)Venda de património do Estado a si próprio com vista à realização de receitas orçamentais de laboratório.
6.Perante este distintíssimo elenco de competências que muitos dos membros do novo Governo teriam adquirido se tivessem desempenhado funções governativas em Portugal nos últimos anos - e não fossem por isso “amadores” - só nos resta dizer: santa inexperiência, bendito “amadorismo”!...
7.E só esperamos que nunca se tornem experientes ou profissionais em tais matérias, por muitos anos que governem!
2.Quando se faz uma crítica destas tem-se em vista, necessariamente, o que tem sido a experiência governativa em Portugal nestes últimos anos...
3.Creio que ninguém de bom senso se lembraria de apontar aos novos governantes a falta de experiência de governo em Espanha, na Grécia, na Venezuela ou em qq outro país estrangeiro...ou de experiência de governo em Portugal há 20 ou 30 anos ...
4.Sendo assim, deve igualmente concluir-se que a experiência de governo em Portugal, nestes últimos anos – sobretudo no período áureo dos últimos 6 anos – seria uma excelente escola para os novos governantes, que os teria habilitado a governar de forma competente e sábia os destinos do País...
5.Os novos governantes, se tivessem essa experiência, ter-se-iam tornado peritos – ou pelo menos bons conhecedores – em algumas das seguintes áreas ou actividades:
(i)Realização de despesas públicas supérfluas;
(ii)Incumprimento recorrente das normas de execução orçamental;
(iii)Gestão “calamitosa” das empresas públicas que lhes caberia orientar estrategicamente;
(iv)Crescimento incomensurável e incontrolável da dívida pública;
(v)Acumulação de enormes atrasos de pagamento do Estado e outros entes públicos ao sector privado;
(vi)Celebração de PPP em condições altamente penalizantes para o Estado e que vão importar encargos muito graves para os orçamentos dos próximos anos;
(vii)Generosa desordem que reina na gestão do SNS incluindo boa parte dos hospitais públicos;
(viii)Concessão de favores a esmo a amigos do partido no poder, em prejuízo manifesto do interesse público e não raro em circunstâncias de escândalo;
(ix)Criação de fundações públicas para realização de despesa pública com evasão às normas de execução orçamental;
(x)Venda de património do Estado a si próprio com vista à realização de receitas orçamentais de laboratório.
6.Perante este distintíssimo elenco de competências que muitos dos membros do novo Governo teriam adquirido se tivessem desempenhado funções governativas em Portugal nos últimos anos - e não fossem por isso “amadores” - só nos resta dizer: santa inexperiência, bendito “amadorismo”!...
7.E só esperamos que nunca se tornem experientes ou profissionais em tais matérias, por muitos anos que governem!
Pergunta a minha ingenuidade...
Perante as notícias de hoje, será que não se poderia pedir algum emprestado aos clubes de futebol?
Sinais - II
Dizem-me que os representantes de todos os operadores judiciários se pronunciaram aprovando a escolha de Paula Teixeira da Cruz para a pasta da justiça. Auspicioso?
Sinais
Dizem-me que Mário Nogueira revelou grande incómodo com a nomeação de Nuno Crato para a pasta da educação. Auspicioso.
Cães...
Do livro, “Jerusalém, ida e volta”, de Saul Bellow, ficou-me uma passagem, por acaso a inicial, em que o autor, numa viagem de avião rumo a Israel, travou conhecimento e teve como companheiro um hasside, um daqueles judeus que usam chapéus estranhos, cachos de cabelo e franjas. O jovem pediu-lhe que se sentasse entre ele e a mulher do escritor, porque as suas regras não lhe permitiam sentar-se ao lado de mulheres. A bizarria comportamental não ficou por aqui. Bellow pediu comida kosher por causa do seu companheiro. Como não havia em quantidade suficiente para tantos fundamentalistas, quis atirar-se ao frango, que a hospedeira, displicentemente, lhe tinha posto à sua frente, porque a fome apertava. O ortodoxo não lhe permitiu que comesse aquela “coisa”, e chegou a ponto de lhe oferecer quinze dólares por semana se renunciasse à comida não kosher para o resto da vida. Como a comida kosher é cara, Bellow testou o indígena, levando o missionário aparvalhado com o espírito religioso a subir para os vinte e cinco dólares. Mas o que me deu vontade de rir foi quando Bellow lhe respondeu à pergunta sobre o que fazia a mulher: - Professora na Universidade Hebraica. – “O que é que ela faz?”. O escritor respondeu-lhe que era matemática. Desconcertado perguntou-lhe o que era ser-se matemática. Nunca tinha ouvido falar, assim como, também, não sabia o que era física e nem quem tinha sido Einstein! Só sabia daquelas gaitas religiosas, já que se julgam representantes, embaixadores, lacaios ou privilegiados de Deus.
Tive oportunidade de os ver na cidade dos conflitos, há muitos anos, e de ouvir os comentários jocosos de muitos dos seus compatriotas. No entanto, têm força e condicionam a vida social através das suas leis e interpretações. Puros representantes de uma forma de ser que me enoja e preocupa imenso, mas que não se esgota no judaísmo, porque nas outras religiões também existem os respetivos equivalentes.
Recordei-me do livro e da minha viagem quando li uma notícia em que os rabinos de Israel condenaram um cão à morte por apedrejamento! “O animal era acusado de ser a reencarnação de um advogado que há 20 anos havia insultado os rabinos. O cão conseguiu fugir”, diz a notícia. Graças a Deus! A história começa quando um cão entrou no tribunal rabínico de um bairro ultraortodoxo, em Jerusalém. O animal assustou as pessoas e não queria sair, o que levou um daqueles pataratas de canudos no cabelo a lembrar-se de uma praga lançada pelos juízes sobre um advogado desejando que o seu espírito mudasse para um corpo de cão, animal considerado impuro no judaísmo tradicional. Vale a pena ler a notícia. E, ainda por cima, competiria às crianças apedrejar o animal.
Como é possível um comportamento destes? Não deveria ser tolerado por ninguém, sobretudo pelas autoridades. Não há dúvida que por detrás das religiões se escondem muitas coisas, não só o gozo de uma imunidade obscena, mas, também, a vontade de apedrejar quem quer que seja, cão ou ser humano.
Por último, por causa do cão “judeu” - fiquei muito satisfeito por ter conseguido fugir -, recordei-me de outro; “luso”, triste, escanzelado, meio tinhoso, que, durante algum tempo, andou para as bandas da universidade e tinha o hábito de entrar com uma atitude aristocrática na sala dos Capelos. Deitava-se silenciosamente na teia e aí permanecia até ao final das provas. A primeira vez que vi esta cena fiquei perplexo, mas ninguém se importou. Cheguei a pensar que poderia ter algum eventual laço com o candidato, mas não, porque a cena repetiu-se mais vezes, não sei quantas. A certa altura, começava a olhar para a porta a ver se ele entrava ou não. Entrava, sim senhor, um pouco atrasado, mas entrava com o tal ar doutoral. Só lhe faltava a borla e o capelo. Às tantas pensei: - Quem sabe se não é alguém que não chegou a fazer o doutoramento, e agora aparece reencarnado no animal.
Um dia desapareceu, mas não foi por ter sido ameaçado de apedrejamento. Vida de cão!
Ainda hoje recordo aquelas cenas caninas doutorais, com muitas saudades.
Tive oportunidade de os ver na cidade dos conflitos, há muitos anos, e de ouvir os comentários jocosos de muitos dos seus compatriotas. No entanto, têm força e condicionam a vida social através das suas leis e interpretações. Puros representantes de uma forma de ser que me enoja e preocupa imenso, mas que não se esgota no judaísmo, porque nas outras religiões também existem os respetivos equivalentes.
Recordei-me do livro e da minha viagem quando li uma notícia em que os rabinos de Israel condenaram um cão à morte por apedrejamento! “O animal era acusado de ser a reencarnação de um advogado que há 20 anos havia insultado os rabinos. O cão conseguiu fugir”, diz a notícia. Graças a Deus! A história começa quando um cão entrou no tribunal rabínico de um bairro ultraortodoxo, em Jerusalém. O animal assustou as pessoas e não queria sair, o que levou um daqueles pataratas de canudos no cabelo a lembrar-se de uma praga lançada pelos juízes sobre um advogado desejando que o seu espírito mudasse para um corpo de cão, animal considerado impuro no judaísmo tradicional. Vale a pena ler a notícia. E, ainda por cima, competiria às crianças apedrejar o animal.
Como é possível um comportamento destes? Não deveria ser tolerado por ninguém, sobretudo pelas autoridades. Não há dúvida que por detrás das religiões se escondem muitas coisas, não só o gozo de uma imunidade obscena, mas, também, a vontade de apedrejar quem quer que seja, cão ou ser humano.
Por último, por causa do cão “judeu” - fiquei muito satisfeito por ter conseguido fugir -, recordei-me de outro; “luso”, triste, escanzelado, meio tinhoso, que, durante algum tempo, andou para as bandas da universidade e tinha o hábito de entrar com uma atitude aristocrática na sala dos Capelos. Deitava-se silenciosamente na teia e aí permanecia até ao final das provas. A primeira vez que vi esta cena fiquei perplexo, mas ninguém se importou. Cheguei a pensar que poderia ter algum eventual laço com o candidato, mas não, porque a cena repetiu-se mais vezes, não sei quantas. A certa altura, começava a olhar para a porta a ver se ele entrava ou não. Entrava, sim senhor, um pouco atrasado, mas entrava com o tal ar doutoral. Só lhe faltava a borla e o capelo. Às tantas pensei: - Quem sabe se não é alguém que não chegou a fazer o doutoramento, e agora aparece reencarnado no animal.
Um dia desapareceu, mas não foi por ter sido ameaçado de apedrejamento. Vida de cão!
Ainda hoje recordo aquelas cenas caninas doutorais, com muitas saudades.
domingo, 19 de junho de 2011
No reino dos elefantes brancos...
Vamos pela certa ver invocado muitas vezes o nome da Troika para justificar fazer o que já há muito muito tempo deveria ter sido feito. Também vamos ouvir muitas vezes o argumento de que é a Troika que manda fazer. Com a Troika sempre à mão tudo está justificado, a bem de não perdermos tempo a olhar para um passado vitorioso de decisões megalómanas e ruinosas. Com a Trioka está tudo entendido.
É extraordinário que se acene com a crise para encontrar uma justificação para que agora, de repente, se tomem decisões que há muito tempo deveriam ter sido tomadas, branqueando que a crise que nos levou à Troika foi justamente alimentada por essas decisões. Para quê lembrar que o dinheiro dos contribuintes foi abusivamente utilizado e desviado da economia produtiva para o palco do show off mediático das grandes obras e realizações políticas. Para quê, se afinal tudo foi feito em nome da grandeza nacional.
Aos poucos e poucos vamos ouvir falar de alguns elefantes brancos. Não fora a crise e estariam muito sossegados no reino da falsa abundância. A Câmara Municipal de Leiria vai vender em hasta pública o estádio de futebol do Euro 2004. Passaram-se sete anos sobre um investimento sem viabilidade económica e incapaz de gerar valor social. Ainda assim sobreviveu muito tempo, a consumir dinheiro público sem qualquer retorno.
Eis a respectiva factura: foi orçamentado inicialmente com um custo de 20 milhões, acabou a custar 90 milhões - 4,5 vezes mais – e vai ser colocado à venda por 65 milhões euros! Aguardemos para saber se alguém o quer comprar, por quanto e para quê! Apuramento de responsabilidades? Por agora, nada previsto.
sábado, 18 de junho de 2011
Smrt
Como a assembleia acabou mais cedo do que o previsto, senti, com certa satisfação, que iria gozar um agradável fim de tarde. Descansar e ler um pouco na minha esplanada favorita. Dei um salto a casa e rapei do “Luar de Mulher” de Romani Gary. Quando me instalei, junto da ribeira, fui invadido por uma sensação triste, a tarde, subitamente, vestiu-se de cinzento e começou a açoitar-me com uma brisa muito fria. Sozinho. É triste estar sozinho numa esplanada e ainda mais quando o largo que faz parte da minha existência, ou antes da minha essência, se encontra esvaziado de pessoas, de crianças e, até, de animais; ainda aparecem alguns gatos, mas para mim não contam, nunca contaram, ainda não fazem parte do meu conceito de humanidade. Não é justo que um junho amadurecido me trate desta maneira, depois de uma semana de intenso trabalho e dedicação. Não é justo. Vesti um agasalho, resisti à tentação em refugiar-me no interior do café, pedi uma bebida gelada e recomecei a ler, na expectativa de o terminar. Gosto de livros que me obrigam a ler em duas patadas. Este é um deles. Depois de o devorar até à última palavra, o cinzento estava mais cinzento, a brisa fria muito mais fria, e a humidade da ribeira molhava-me a alma, apagando as emoções despertadas pela leitura. Olho em redor e não vi pessoas. Levantei-me e fui para casa. Não me cruzei com ninguém. Cheguei ao largo e era só silêncio. Olho para as casas em redor e não descortino vozes, algazarras, gritos, insultos, discussões, que eram tão frequentes e muito diversificadas, dando vida e agitação aquele belo espaço. Algumas das altercações alimentavam-se, cronicamente, de vinho, que, ao fim da tarde e início da noite, sabia como jorrar os primeiros sinais dos seus efeitos, enriquecendo as noites quentes. Agora, nada. Um vazio. A morte levou-os, um atrás de outro, traiçoeiramente, seduzindo os que ainda andam por estas bandas, ou os que pretendem, episodicamente, refugiar-se aqui, a passear pelas suas margens, na esperança de os devorar ao mínimo desequilíbrio ou distração. Lembrei-me de smrt, palavra sérvia que aprendi no dia anterior, quando iniciei a leitura do romance de Romain Gary. Uma das personagens, o senhor Galba, amestrador, bêbado, colecionador de enfartes, e em contínua preocupação recíproca com o seu cão, aponta para o coração proferindo smrt. Explicou em seguida que significava morte em sérvio. “Os eslavos souberam encontrar o som mais autêntico para a coisa... Viperino, reptílico... Enquanto no ocidente, as sonoridades são bastante nobres: la muerte, a morte, la mort, todt...” O autor repetiu-a várias vezes ao longo do texto, e com inteira razão, a dor, o incómodo, a separação e a humilhação subjacentes estão mais de acordo com a sonoridade reptiliana da palavra em sérvio do que com o cantar ocidental, tão bem patenteado na expressão fidelina “revolucion o muerte”.
Às tantas prestamos demasiadas homenagens à morte.
Smrt!
Às tantas prestamos demasiadas homenagens à morte.
Smrt!
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Copianços e falhanços
A Margarida já aqui assinalou esta extraordinária notícia, mas o tema é realmente tão surpreendente que merece um aditamento.
O CEJ, Centro de Estudos Judiciários, tem como objectivo a formação específica de juízes. Os admitidos a essa formação são já pessoas licenciadas, adultos que fizeram a opção por uma profissão que se traduz no exercício de um cargo de soberania, a administração da justiça, e que terão ultrapassado com êxito várias provas até ali chegar. Acontece que um curso inteiro, com 137 pessoas, terá decidido copiar no exame final e, se não foram todos, pelo menos todos aceitaram todos que assim passasse para a história, uma vez que sofreram o mesmo labéu e calaram. E que labéu? Pois, o de terem copiado livremente uns pelos outros, e com tão pouco pudor que nem se deram à maçada de disfarçar, ao menos por pudor, insisto, já que se justificou plenamente, como veio a demonstrar-se, a confiança em que nada lhes aconteceria se fossem “descobertos”.
Uma das funções da punição é a dissuasão. Ou seja, as penas existem, associadas a faltas ou crimes em concreto, como forma de dissuadir comportamentos indesejáveis no caso de a convicção própria não ser suficiente para resistir à tentação. A outra função é punir, castigar, infligir algum sofrimento, ou prejuízo, como retaliação do mal praticado, punição que não elimina a mancha do erro mas que permite que quem prevaricou não tire dele qualquer proveito, antes pelo contrário. E, se não há crimes sem lei que os preveja e qualifique como tal, também não há norma sem coacção.
Ora, no caso destes futuros magistrados, verificou-se que não tiveram qualquer barreira de auto censura – que, nesta fase da vida e com a responsabilidade acrescida da sua opção profissional já devia ser sólida; que não havia dissuasão, uma vez que copiaram livremente sem receio do castigo; e, finalmente, que realmente não houve punição nenhuma, uma vez que ao ser atribuída a todos por igual a nota suficiente para ficarem aprovados, nenhum saiu prejudicado.
A explicação que foi dada para tão insólita decisão invocou o “equilíbrio” (!!) e um monte de considerações burocráticas, que remetem para a insignificância valores de comportamento que deviam ser determinantes. Ah, e ainda o argumento da quantidade, ou seja, como eram muitos não seria possível repetir as provas. Deduz-se que, se tivessem sido apenas um ou dois, já teriam tido tratamento bem diferente, nota negativa e um valente chumbo, além da carreira acabada antes de começar.
É o que se chama falhanço da justiça em toda a linha.
O CEJ, Centro de Estudos Judiciários, tem como objectivo a formação específica de juízes. Os admitidos a essa formação são já pessoas licenciadas, adultos que fizeram a opção por uma profissão que se traduz no exercício de um cargo de soberania, a administração da justiça, e que terão ultrapassado com êxito várias provas até ali chegar. Acontece que um curso inteiro, com 137 pessoas, terá decidido copiar no exame final e, se não foram todos, pelo menos todos aceitaram todos que assim passasse para a história, uma vez que sofreram o mesmo labéu e calaram. E que labéu? Pois, o de terem copiado livremente uns pelos outros, e com tão pouco pudor que nem se deram à maçada de disfarçar, ao menos por pudor, insisto, já que se justificou plenamente, como veio a demonstrar-se, a confiança em que nada lhes aconteceria se fossem “descobertos”.
Uma das funções da punição é a dissuasão. Ou seja, as penas existem, associadas a faltas ou crimes em concreto, como forma de dissuadir comportamentos indesejáveis no caso de a convicção própria não ser suficiente para resistir à tentação. A outra função é punir, castigar, infligir algum sofrimento, ou prejuízo, como retaliação do mal praticado, punição que não elimina a mancha do erro mas que permite que quem prevaricou não tire dele qualquer proveito, antes pelo contrário. E, se não há crimes sem lei que os preveja e qualifique como tal, também não há norma sem coacção.
Ora, no caso destes futuros magistrados, verificou-se que não tiveram qualquer barreira de auto censura – que, nesta fase da vida e com a responsabilidade acrescida da sua opção profissional já devia ser sólida; que não havia dissuasão, uma vez que copiaram livremente sem receio do castigo; e, finalmente, que realmente não houve punição nenhuma, uma vez que ao ser atribuída a todos por igual a nota suficiente para ficarem aprovados, nenhum saiu prejudicado.
A explicação que foi dada para tão insólita decisão invocou o “equilíbrio” (!!) e um monte de considerações burocráticas, que remetem para a insignificância valores de comportamento que deviam ser determinantes. Ah, e ainda o argumento da quantidade, ou seja, como eram muitos não seria possível repetir as provas. Deduz-se que, se tivessem sido apenas um ou dois, já teriam tido tratamento bem diferente, nota negativa e um valente chumbo, além da carreira acabada antes de começar.
É o que se chama falhanço da justiça em toda a linha.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Bonito!
Pergunto-me como é que estes futuros juízes e magistrados irão julgar casos de plágio que lhes venham parar às mãos?
A falta de um núcleo duro de valores explica a decisão tomada. A ética das profissões há muito que anda desaparecida. Num momento em que precisamos de recuperar a cultura do exemplo e de retomar os princípios do rigor, da exigência, do trabalho e da honestidade os sinais vindos de entidades com elevada responsabilidade pública são contrários. Comportamentos desta gravidade não ajudam o país a mudar. Assim não!
A tarefa gigantesca, cheia de riscos, do novo Governo - boa sorte!
1.Chegaram ao fim as ilusões, em especial aquelas que nos foram vendidas nos últimos anos, sem qualquer pudor, e que não podiam deixar de acabar na mais completa frustração apesar da desesperada tentativa do vendedor para nos convencer que “ainda era possível” e se propunha, generosamente, “Defender Portugal”...
2.Julgo que ninguém está à espera de boas notícias, todos aguardam o arranque do “programa de ajustamento económico e financeiro”, negociado com a U.E. e com o FMI, com um misto de expectativa e de temor...
3.Sendo certo que não existem quaisquer expectativas positivas, tenho todavia a noção de que não “temos” ainda uma percepção aproximada dos imensos custos que esse “programa” vai implicar para muitos milhões de portugueses cujas condições de vida se vão deteriorar nos próximos meses e anos...
4.Quando as realidades da aplicação do programa começarem a ser sentidas em toda a sua plenitude, vamos assistir a uma nova fase de frustrações colectivas, com recriminações e queixas vindas de todos os quadrantes:
(i)os utilizadores dos transportes públicos porque estes vão ficar mais caros,
(ii)os funcionários das empresas públicas porque vão ver as suas regalias significativamente cerceadas,
(iii)os utentes dos serviços públicos de saúde porque vão ter de suportar um custo mais elevado pela respectiva utilização,
(iv)os professores e outras classes profissionais cujas regalias vão ser diminuídas,
(v)as Regiões Autónomas e as autarquias porque vão ter de apertar consideravelmente os seus orçamentos – para já não falar da diminuição “significativa” do número de concelhos e de freguesias que deverá estar definido durante o próximo ano
(vi)os consumidores de electricidade (nós todos) porque vão ver a factura subir ainda mais por efeito de uma tributação especial,
(vii)os comerciantes de automóveis e os serviços de assistência porque vão ver os negócios baixar a pique por força do agravamento fiscal, da quebra do rendimento das famílias e da drástica redução das frotas automóveis das empresas,
(viii)as empresas de construção e os agentes imobiliários porque vão sofrer o impacto de uma quebra muito acentuada do mercado imobiliário, actualmente já deprimido, em volume de transacções e em preços,
(ix)os proprietários de imóveis pois vão ver a tributação em IMI agravada,
(x)as confederações sindicais porque vão sentir o poder a fugir-lhes e vão tentar aguentar com todas as forças a influência que ainda detêm,
(xi)os pensionistas com pensões acima de € 1.500, porque vão ver o seu rendimento comprimido mais uma vez,
(xii) etc, etc...
5.Poderia prosseguir esta lista quase até ao infinito, mas julgo não valer a pena pois já se percebe que praticamente ninguém vai poder escapar à onda de medidas de austeridade, bem como ao impacto das medidas estruturais sobre os interesses instalados...e muitos vão sofrer esse impacto por diversas vias...
6.Neste quadro, há uma medida que na minha opinião se impõe como elemento primário de moralização e condição prévia da aceitação popular para o enorme de aperto no rendimento disponível que aí vem: um corte significativo nas regalias e benefícios remuneratórios, E OUTROS, auferidos pela classe política e pela classe dirigente do sector empresarial do Estado.
7.Essa condição não será certamente suficiente para o sucesso do programa, mas é condição necessária: sem a mesma, será quase impossível a população aguentar, com um mínimo de “paciência social”, o indispensável período de forte austeridade que nos espera.
8.Boa sorte para o novo Governo!
2.Julgo que ninguém está à espera de boas notícias, todos aguardam o arranque do “programa de ajustamento económico e financeiro”, negociado com a U.E. e com o FMI, com um misto de expectativa e de temor...
3.Sendo certo que não existem quaisquer expectativas positivas, tenho todavia a noção de que não “temos” ainda uma percepção aproximada dos imensos custos que esse “programa” vai implicar para muitos milhões de portugueses cujas condições de vida se vão deteriorar nos próximos meses e anos...
4.Quando as realidades da aplicação do programa começarem a ser sentidas em toda a sua plenitude, vamos assistir a uma nova fase de frustrações colectivas, com recriminações e queixas vindas de todos os quadrantes:
(i)os utilizadores dos transportes públicos porque estes vão ficar mais caros,
(ii)os funcionários das empresas públicas porque vão ver as suas regalias significativamente cerceadas,
(iii)os utentes dos serviços públicos de saúde porque vão ter de suportar um custo mais elevado pela respectiva utilização,
(iv)os professores e outras classes profissionais cujas regalias vão ser diminuídas,
(v)as Regiões Autónomas e as autarquias porque vão ter de apertar consideravelmente os seus orçamentos – para já não falar da diminuição “significativa” do número de concelhos e de freguesias que deverá estar definido durante o próximo ano
(vi)os consumidores de electricidade (nós todos) porque vão ver a factura subir ainda mais por efeito de uma tributação especial,
(vii)os comerciantes de automóveis e os serviços de assistência porque vão ver os negócios baixar a pique por força do agravamento fiscal, da quebra do rendimento das famílias e da drástica redução das frotas automóveis das empresas,
(viii)as empresas de construção e os agentes imobiliários porque vão sofrer o impacto de uma quebra muito acentuada do mercado imobiliário, actualmente já deprimido, em volume de transacções e em preços,
(ix)os proprietários de imóveis pois vão ver a tributação em IMI agravada,
(x)as confederações sindicais porque vão sentir o poder a fugir-lhes e vão tentar aguentar com todas as forças a influência que ainda detêm,
(xi)os pensionistas com pensões acima de € 1.500, porque vão ver o seu rendimento comprimido mais uma vez,
(xii) etc, etc...
5.Poderia prosseguir esta lista quase até ao infinito, mas julgo não valer a pena pois já se percebe que praticamente ninguém vai poder escapar à onda de medidas de austeridade, bem como ao impacto das medidas estruturais sobre os interesses instalados...e muitos vão sofrer esse impacto por diversas vias...
6.Neste quadro, há uma medida que na minha opinião se impõe como elemento primário de moralização e condição prévia da aceitação popular para o enorme de aperto no rendimento disponível que aí vem: um corte significativo nas regalias e benefícios remuneratórios, E OUTROS, auferidos pela classe política e pela classe dirigente do sector empresarial do Estado.
7.Essa condição não será certamente suficiente para o sucesso do programa, mas é condição necessária: sem a mesma, será quase impossível a população aguentar, com um mínimo de “paciência social”, o indispensável período de forte austeridade que nos espera.
8.Boa sorte para o novo Governo!
Olá Escherichia coli! Tudo bem?
Já morreram mais de trinta pessoas com a E-coli de um total de mais 3.000 atingidos. Gosto da expressão E-coli! Quando tive de aprender a dizer Escherichia, não foi nada fácil, mas, com o tempo, lá consegui. Agora, resolve-se a um E seguido de coli, que é muito mais fácil de pronunciar. Uma criança com dois anos morreu de síndroma hemolítico urémico provocada pela nova estirpe bacteriana. Mais uma vítima, agora um alemão com 90 anos. Tudo isto é alvo de prioridade nas notícias da rádio, dos telejornais, dos jornais, enfim, viva a E-coli, mais uma ameaça de que o fim do mundo está próximo. O que interessa é isso mesmo, que apareçam ameaças que deem cabo da humanidade. Tanto pode ser a SARS (ainda se lembram dela?) a gripe das aves, a gripe A ou qualquer outra gaita, como o bug do ano 2000, a profecia dos maias ou as maluqueiras de visionários como o tele-envangelista Harold Camping, que previu o fim do mundo para o passado dia 21 de maio (não dei conta!), mas não conseguiu prever o seu acidente vascular cerebral depois dessa data. Julgam que se incomodou? Qual quê! Adiou o Armagedão para o próximo mês de outubro. Está bem! Se ele julga que me dá um abalo está muito enganado. Quanto às notícias da Escherichia coli, permitam-me dizer desta forma - não posso esquecer que levei algum tempo a aprender a pronunciar e a escrever esta palavra, e, agora, não estou para simplificações, era o que mais faltava, porque não devo amputar a minha erudição ante mais um “fim do mundo”! -, está a ser dramatizada de uma forma patética.
Mas o que é que leva os gajos da comunicação social a dar tanta importância a uma bactéria, que se lembrou, e muito bem, em adquirir novas características, provando que, afinal, a evolução existe? Quando surge algo de anormal (?) nada melhor de que obter dividendos financeiros ou, então, dar cabo da economia de uma qualquer região ou atividade. Coitados dos pepinos, coitados dos produtos vegetais, coitados dos contribuintes, e lá se foram para o esterco, vulgo merda, centenas de milhões de euros, e o aparecimento de mais crises económicas. Mas há lucros? Claro! Quanto mais olhos, quanto mais ouvidos para estes assuntos, melhor. Todos querem ouvir, todos querem ler, levando, nas trombas, por tabela, com alguns anúncios a produtos que são piores do que o esterco, esterco que está na base do aparecimento desta bactéria. Esta bactéria sabe da poda, vive na merda e sabe como sobreviver. Meu deus, se soubessem quantas bactérias liquidam seres humanos diariamente, nas mais diversas condições, decerto não ligariam a esta situação, que vale o que vale. A história da medicina está recheadíssima destas coisas, e o mundo não acabou. Fiz uma pequena análise destes problemas e garanto-vos que há muitos casos idênticos a este e, até, muito mais graves.
Neste caso concreto, a razão de ser desta doença é simples de explicar, os atingidos comem merda! Perdoem-me a expressão, mas como está tão vulgarizada, penso que já pode fazer parte do léxico normal. As fezes de animais como vacas e porcos podem ser os responsáveis ou, mesmo, de humanos. Esta coisa de utilizar os excrementos de animais e humanos como adubos naturais não é novo. Foram, desde todo o sempre, utilizados na agricultura, mas, por vezes, podem estar na origem de “surtos” de infeções. Não esquecer que o uso e abuso de muitos antibióticos e antisséticos podem explicar a origem de resistências das bactérias, as quais, como é facilmente compreensível, também lutam pela existência, até, porque sem elas a “vida” (macro) não existiria.
No fundo a mensagem é muito simples de transmitir: a natureza não gosta de nós (humanos), mas, também, não nos odeia, despreza-nos simplesmente, colocando-nos num ponto que não queremos aceitar, não somos mais do que as outras espécies. Não é por causa das aberturas dos telejornais e da comandita que vive e adora disseminar o pânico que se consegue resolver alguma coisa, ou talvez consigam, porque, em matéria de negócios, são sempre bem-vindas novas áreas, nem que seja à custa da merda ou da agricultura biológica, o que interessa é aumentar os olhos e os ouvidos para a comunicação social. Esta rapaziada sabe da poda, mas se deixassem as coisas correr como deveria ser, então, talvez, não provocassem tanta angústia e prejuízos financeiros a ponto de certas pessoas terem de realizar concursos, divertimentos e palhaçadas para poderem vender e escoar os vegetais.
Que chatice. E logo os vegetais que fazem tão bem à saúde! Onde param os arautos e os evangelistas dos vegetais? Calados como os pobres dos pepinos. E os criacionistas? Não me digam que veem, na aquisição de genes portadores de toxinas, provenientes de outras bactérias, por parte da Escherichia, um sinal do desígnio inteligente? E, se virem, também, não há problema, porque a natureza borrifa-se para a nossa condição humana e não só!
Neste caso concreto, a razão de ser desta doença é simples de explicar, os atingidos comem merda! Perdoem-me a expressão, mas como está tão vulgarizada, penso que já pode fazer parte do léxico normal. As fezes de animais como vacas e porcos podem ser os responsáveis ou, mesmo, de humanos. Esta coisa de utilizar os excrementos de animais e humanos como adubos naturais não é novo. Foram, desde todo o sempre, utilizados na agricultura, mas, por vezes, podem estar na origem de “surtos” de infeções. Não esquecer que o uso e abuso de muitos antibióticos e antisséticos podem explicar a origem de resistências das bactérias, as quais, como é facilmente compreensível, também lutam pela existência, até, porque sem elas a “vida” (macro) não existiria.
No fundo a mensagem é muito simples de transmitir: a natureza não gosta de nós (humanos), mas, também, não nos odeia, despreza-nos simplesmente, colocando-nos num ponto que não queremos aceitar, não somos mais do que as outras espécies. Não é por causa das aberturas dos telejornais e da comandita que vive e adora disseminar o pânico que se consegue resolver alguma coisa, ou talvez consigam, porque, em matéria de negócios, são sempre bem-vindas novas áreas, nem que seja à custa da merda ou da agricultura biológica, o que interessa é aumentar os olhos e os ouvidos para a comunicação social. Esta rapaziada sabe da poda, mas se deixassem as coisas correr como deveria ser, então, talvez, não provocassem tanta angústia e prejuízos financeiros a ponto de certas pessoas terem de realizar concursos, divertimentos e palhaçadas para poderem vender e escoar os vegetais.
Que chatice. E logo os vegetais que fazem tão bem à saúde! Onde param os arautos e os evangelistas dos vegetais? Calados como os pobres dos pepinos. E os criacionistas? Não me digam que veem, na aquisição de genes portadores de toxinas, provenientes de outras bactérias, por parte da Escherichia, um sinal do desígnio inteligente? E, se virem, também, não há problema, porque a natureza borrifa-se para a nossa condição humana e não só!
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Desculpas administrativas...
“Quase metade do sangue recolhido em Portugal não é aproveitado porque não existem condições para a separação nos vários componentes. Um concurso para adjudicar esse processamento está parado há dez anos”.
É um problema administrativo, declara o presidente do Instituto Português do Sangue. Por causa de uma questão burocrática Portugal gasta 70 milhões de euros por ano na importação dos derivados do plasma que é inutilizado.
Parece que o Ministério da Saúde está a estudar o assunto. Dez anos não terão sido suficientes para corrigir este duplo custo e desperdício. É espantoso, embora já nada nos deva espantar!
É um problema administrativo, declara o presidente do Instituto Português do Sangue. Por causa de uma questão burocrática Portugal gasta 70 milhões de euros por ano na importação dos derivados do plasma que é inutilizado.
Parece que o Ministério da Saúde está a estudar o assunto. Dez anos não terão sido suficientes para corrigir este duplo custo e desperdício. É espantoso, embora já nada nos deva espantar!
terça-feira, 14 de junho de 2011
A proposta SUICIDA do PCP...
1.O PCP já anunciou A apresentação, no início da próxima legislatura,de uma proposta de lei com o objectivo de reestruturar a dívida pública portuguesa - tema que, tanto este partido como o BE, glosaram amplamente durante a campanha eleitoral, com os excelentes resultados que sabemos.
2.Não deixa de ser curiosa esta concepção de dívida segundo a qual o devedor é quem define as regras do jogo, independentemente da vontade do credor...se temos dificuldade em pagar, reestrutura-se a dívida e pronto, está o problema resolvido - os credores que tenham paciência, recebem mais tarde, recebem quando for possível, recebem quando for oportuno, se não receberem tudo têm de se dar por satisfeitos com o que recebem, etc...
3.Em suma, os credores “que se amanhem”, temos mais que fazer do que respeitar os compromissos assumidos...
4.Para quem esteja a seguir a novela em curso reestruturação-sim/reestruturação-não da dívida grega – devendo sublinhar-se que neste caso não foi a Grécia quem tomou a iniciativa de falar em reestruturação, foram os seus credores – percebe muito bem quais seriam as consequências de uma decisão unilateral de reestruturação da dívida por iniciativa da República Portuguesa...
5.As consequências seriam, muito simplesmente e pelo menos, as seguintes:
(i)declaração pública de “default” da República Portuguesa
(ii)suspensão de toda e qualquer forma de crédito externo
(iii)reclassificação da dívida portuguesa como “junk”
(iv)corrida em massa aos depósitos bancários para levantar o dinheiro “enquanto é tempo”
(v)falência generalizada dos bancos, que em poucas horas ficariam com os cofres vazios e sem possibilidade de obter crédito do BCE
(vi)congelamento legal dos depósitos bancários por tempo indeterminado
(vii)falência em massa das empresas industriais, comerciais e de serviços impossibilitadas de efectuar pagamentos e recebimentos
(viii)subida astronómica do desemprego, para níveis talvez superiores a 30%
(ix)quebra brutal do nível de vida da generalidade das pessoas
6.Será mesmo isto o que o PCP pretende? Será que o PCP, ou algumas pessoas no PCP pelo menos, não percebem isto, ainda vivem na ilusão de que a economia portuguesa funciona em regime de autarcia, ou de que somos tão auto-suficientes na produção de matérias-primas, bens de consumo intermédio, bens de consumo final e de bens de capital que podemos dispensar o crédito externo?
7.Confesso que não sou capaz de responder a tal questão, embora me custe a crer que tenham bem a noção das consequências catastróficas de tal proposta caso a mesma, por absurdo, viesse a ser aprovada...
8.Se tivessem uma noção aproximada das realidades, não me parece que, por puro tacticismo político – inconsequente é certo - quisessem mesmo insistir numa iniciativa legislativa tão irracional...
9.É o que se pode chamar, com propriedade, uma proposta SUICIDA...
2.Não deixa de ser curiosa esta concepção de dívida segundo a qual o devedor é quem define as regras do jogo, independentemente da vontade do credor...se temos dificuldade em pagar, reestrutura-se a dívida e pronto, está o problema resolvido - os credores que tenham paciência, recebem mais tarde, recebem quando for possível, recebem quando for oportuno, se não receberem tudo têm de se dar por satisfeitos com o que recebem, etc...
3.Em suma, os credores “que se amanhem”, temos mais que fazer do que respeitar os compromissos assumidos...
4.Para quem esteja a seguir a novela em curso reestruturação-sim/reestruturação-não da dívida grega – devendo sublinhar-se que neste caso não foi a Grécia quem tomou a iniciativa de falar em reestruturação, foram os seus credores – percebe muito bem quais seriam as consequências de uma decisão unilateral de reestruturação da dívida por iniciativa da República Portuguesa...
5.As consequências seriam, muito simplesmente e pelo menos, as seguintes:
(i)declaração pública de “default” da República Portuguesa
(ii)suspensão de toda e qualquer forma de crédito externo
(iii)reclassificação da dívida portuguesa como “junk”
(iv)corrida em massa aos depósitos bancários para levantar o dinheiro “enquanto é tempo”
(v)falência generalizada dos bancos, que em poucas horas ficariam com os cofres vazios e sem possibilidade de obter crédito do BCE
(vi)congelamento legal dos depósitos bancários por tempo indeterminado
(vii)falência em massa das empresas industriais, comerciais e de serviços impossibilitadas de efectuar pagamentos e recebimentos
(viii)subida astronómica do desemprego, para níveis talvez superiores a 30%
(ix)quebra brutal do nível de vida da generalidade das pessoas
6.Será mesmo isto o que o PCP pretende? Será que o PCP, ou algumas pessoas no PCP pelo menos, não percebem isto, ainda vivem na ilusão de que a economia portuguesa funciona em regime de autarcia, ou de que somos tão auto-suficientes na produção de matérias-primas, bens de consumo intermédio, bens de consumo final e de bens de capital que podemos dispensar o crédito externo?
7.Confesso que não sou capaz de responder a tal questão, embora me custe a crer que tenham bem a noção das consequências catastróficas de tal proposta caso a mesma, por absurdo, viesse a ser aprovada...
8.Se tivessem uma noção aproximada das realidades, não me parece que, por puro tacticismo político – inconsequente é certo - quisessem mesmo insistir numa iniciativa legislativa tão irracional...
9.É o que se pode chamar, com propriedade, uma proposta SUICIDA...
Partimos derrotados?
Confesso que me faz alguma confusão esta súbita onda do “risco de incumprimento” que agora assaltou os noticiários e os temas de conversa. Ainda nem começámos a cumprir o que temos para cumprir e já se saltou essa etapa, dando como certo que não servirá de nada maçar-nos agora com “as medidas”, por mais drásticas que sejam, porque afinal o que nos espera é a condenação. Não faço ideia nenhuma se daqui por dois ou três anos, mesmo sendo muito certinhos, vamos ou não ter capacidade para ir pagando as dividas, se calhar não teremos, mas serve de alguma coisa partirmos derrotados? Temos alguma alternativa senão ir tentando o melhor que podemos e sabemos? Em dois ou três anos passa-se tanta coisa, veja-se o que se dizia em 2008 e 2009, veja-se o que se passou até agora, a única coisa que temos como certa é que há uma dívida gigantesca para pagar. Ora, não podendo resolver um "problemão" de uma só vez, temos que o dividir em problemas pequenos e tentar resolver estes, na esperança de que o maior se vá atenuando, de uma forma ou de outra. Não me parece é que partir derrotado resolva alguma coisa.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Primeiro o conteúdo, depois a forma...
Uma solução avisada. Sabemos que a redução de ministérios, como aliás acontece com qualquer alteração de estrutura orgânica do governo, implica uma modificação das leis orgânicas dos ministérios implicados. Trata-se de um trabalho muito trabalhoso, que consome e mobiliza muitos recursos, que obriga ao dispêndio de muito tempo. No actual momento de urgência os recursos disponíveis devem ser concentrados nas prioridades da governação, designadamente devem convergir no cumprimento do memorando de entendimento da Troika. Um verdadeiro “programa de governo” com medidas e tarefas bem definidas, metas quantitativas e temporais claramente estabelecidas e com meios de controlo, monitorização e de reporte devidamente impostos para que nada escape à Troika e não deixe margem ao governo para outra alternativa que não seja o seu cumprimento.
É certa a necessidade de proceder à reorganização de muitos ministérios, não só porque há organismos que terão que ser repensados nas suas missões e logo no seu modelo de operação, outros há que serão extintos, mas também porque as funções do Estado serão revistas em função dos modelos de intervenção que decorrem dos programas eleitorais que darão lugar ao futuro programa do governo liderado por Pedro Passos Coelho.
Acresce que se há problema que nos tem acompanhado ao longo das últimas décadas é precisamente o da constante mudança - para não falar de excesso de mudança se tivermos em conta os resultados obtidos - provocada por reformas sucessivas de políticas de sucessivos governos. A mudança arrasta consigo um estado de permanente instabilidade que não é benéfica para uma governação efectiva. Mais do que a mudança formal, precisamos sim de apostar na melhoria e esta tem muito mais que ver com o conteúdo do que com a forma. É claro que a forma também é importante, mas a prudência aconselha que o governo tome bom conhecimento das melhorias que são necessárias fazer para encetar, depois, a mudança que melhor lhes corresponda.
É certa a necessidade de proceder à reorganização de muitos ministérios, não só porque há organismos que terão que ser repensados nas suas missões e logo no seu modelo de operação, outros há que serão extintos, mas também porque as funções do Estado serão revistas em função dos modelos de intervenção que decorrem dos programas eleitorais que darão lugar ao futuro programa do governo liderado por Pedro Passos Coelho.
Acresce que se há problema que nos tem acompanhado ao longo das últimas décadas é precisamente o da constante mudança - para não falar de excesso de mudança se tivermos em conta os resultados obtidos - provocada por reformas sucessivas de políticas de sucessivos governos. A mudança arrasta consigo um estado de permanente instabilidade que não é benéfica para uma governação efectiva. Mais do que a mudança formal, precisamos sim de apostar na melhoria e esta tem muito mais que ver com o conteúdo do que com a forma. É claro que a forma também é importante, mas a prudência aconselha que o governo tome bom conhecimento das melhorias que são necessárias fazer para encetar, depois, a mudança que melhor lhes corresponda.
Apreciar Portugal
Chegámos na sexta-feira e já estamos de partida. O tempo passa depressa, mas rende mais quando estamos em locais bonitos, em que cada olhar sobre a paisagem é como se fosse o primeiro, a natureza move-se vagarosamente e a nossa vista nunca vê da mesma forma, é surpreendida em cada momento com alguma novidade.
Portugal tem regiões lindíssimas, de cortar a respiração. Só mesmo estando nos locais, passeando afincadamente à descoberta de uma nova perspectiva, na busca de mais um miradouro ou de mais uma enseada, parando para ouvir ora o silêncio, de hora a hora interrompido pelo badalar dos sinos das igrejas, ora o canto dos pássaros, compreendemos como nós próprios temos à porta de casa o que de mais bonito o mundo tem para oferecer. Com a vantagem de estarmos cá dentro, de podermos conviver com os nossos, de vivermos as nossas tradições.
É do Gerês que falo e que sinto. É o seu fabuloso Parque Natural, as termas, o imenso lago espraiado sobre a albufeira da Caniçada. No Sábado caminhámos a pé até à Pedra Bela situada no Parque Natural do Gerês a 900 metros de altitude. As vistas alcançadas de cortar a respiração fizeram esquecer os 10 km percorridos. E ontem um passeio de barco ao longo da extensão da albufeira, num dia de Primavera, permitiu descobrir ao longo das margens algumas dezenas de chalés e quintas muitíssimo bem integrados na paisagem verde das encostas, de arquitectura cuidada e bem conseguida, na procura da harmonia e do equilíbrio desejados.
A natureza só por si justificaria o passeio, mas as pessoas, as tradições, a gastronomia, os doces e vinhos da região, o património cultural e histórico, no qual ponderam as igrejas, pequenas mas ricas, em especial o contraste entre o campo lindíssimo e a cidade cada vez mais descaracterizada e mal tratada – Lisboa está assim – apelam a estas fugas turísticas.
Muito mais poderia contar, mas fica aqui o registo do Portugal fabuloso que temos para conhecer e dar a conhecer. Não quero falar das coisas menos boas, mas uma coisa é certa, temos riqueza humana, histórica e natural para partilhamos cá dentro e lá fora, haja vontade e visão para o fazermos.
Sempre que possível esqueçamos a carga negativa do País e olhemos para o que de bom tem para oferecer e desfrutar. Concentremo-nos nas coisas boas…
Portugal tem regiões lindíssimas, de cortar a respiração. Só mesmo estando nos locais, passeando afincadamente à descoberta de uma nova perspectiva, na busca de mais um miradouro ou de mais uma enseada, parando para ouvir ora o silêncio, de hora a hora interrompido pelo badalar dos sinos das igrejas, ora o canto dos pássaros, compreendemos como nós próprios temos à porta de casa o que de mais bonito o mundo tem para oferecer. Com a vantagem de estarmos cá dentro, de podermos conviver com os nossos, de vivermos as nossas tradições.
É do Gerês que falo e que sinto. É o seu fabuloso Parque Natural, as termas, o imenso lago espraiado sobre a albufeira da Caniçada. No Sábado caminhámos a pé até à Pedra Bela situada no Parque Natural do Gerês a 900 metros de altitude. As vistas alcançadas de cortar a respiração fizeram esquecer os 10 km percorridos. E ontem um passeio de barco ao longo da extensão da albufeira, num dia de Primavera, permitiu descobrir ao longo das margens algumas dezenas de chalés e quintas muitíssimo bem integrados na paisagem verde das encostas, de arquitectura cuidada e bem conseguida, na procura da harmonia e do equilíbrio desejados.
A natureza só por si justificaria o passeio, mas as pessoas, as tradições, a gastronomia, os doces e vinhos da região, o património cultural e histórico, no qual ponderam as igrejas, pequenas mas ricas, em especial o contraste entre o campo lindíssimo e a cidade cada vez mais descaracterizada e mal tratada – Lisboa está assim – apelam a estas fugas turísticas.
Muito mais poderia contar, mas fica aqui o registo do Portugal fabuloso que temos para conhecer e dar a conhecer. Não quero falar das coisas menos boas, mas uma coisa é certa, temos riqueza humana, histórica e natural para partilhamos cá dentro e lá fora, haja vontade e visão para o fazermos.
Sempre que possível esqueçamos a carga negativa do País e olhemos para o que de bom tem para oferecer e desfrutar. Concentremo-nos nas coisas boas…
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