Quando a notícia é escassa, os futebóis foram de férias, a socialite ainda não foi a banhos mas os telejornais têm de se arrastar olho posto na concorrência até poderem dar lugar às telenovelas e aos reality shows com que se presta um serviço tão essencial que algum dele é serviço público, vão os jornalistas à caça da mulher barbuda.
Ontem assisti no telejornal das 20 horas da TVI a uma peça jornalística de fino recorte e de alcance verdadeiramente revolucionário, confirmando que, sim senhor, rompemos a película que separa o passado da nova era. O propósito da reportagem era demonstrar que, afinal, há vida em Massamá. Pois eu que durante anos ouvi dizer que Massamá era um subúrbio habitado por uma espécie de zombies que se levantavam de madrugada para conseguir chegar, já de manhã, ao IC19 para depois marcharem lentamente - como é próprio dos zombies - até à capital, fiquei admirado por perceber que há uns dias se fez a descoberta histórica de que há ali seres como nós. Mais: que existem por ali seres que são melhores que nós que não vivemos em Massamá. Eu que julgava que Massamá era o exemplo do periurbanismo amaldiçoado pela inteligência nacional que expõe os seus diktats todos os dias nos media sem direito a contraditório que sempre seria considerado estúpido; eu - ingénuo, burro! -, que julgava que um dia, quando o País pudesse dar-se ao luxo de um Polis mais ambicioso, implodiria aquela Massamá como todos as outras existentes à volta das metrópoles - antes mesmo de demolir o célebre Prédio Coutinho -, descobri, assim, sem preparação que me permitisse adaptar à surpreendente revelação, que afinal Massamá é uma espécie de Lapa, maior e mais actual, uma futura nova centralidade que, como um feliz entrevistado depunha com visivel satisfação frente ao café onde o novo PM toma a bica matinal, fica a 15 minutos de literalmente tudo, desde o centro comercial até à praia.
Confesso aqui que, após aquela extraordinária reportagem, já recuperado da surpresa, senti um patriótico orgulho e uma revolucionária vontade de gritar QUE MIL MASSAMÁS FLORESÇAM!
5 comentários:
Realmente a nossa TV, que é aquela que vejo, anda muito pobre nos seus programas e documentários e satura-nos com telejornais de 60 e tantos minutos.
"já não há pachorra..."
Tantas aldeias deste país que poderiam mostrar, as suas gentes e os seus artesãos, mas temos que "gramar" telenovelas em série.
Não digo mais nada porque a TV tem um botão que diz OF. É o que eu faço na maior parte dos serões.
E de acordo com este sugestivo título,
a julgar pelas primeiras e positivas impressões da governança.
que uma 4ª República surja.
É aliás a única solução
para um país excepcional.
O facto é que já floresceram, embora "em Lisboa" não se tenha bem a noção disso a não ser pelas intermináveis filas de carros que desaguam diariamente na cidade. Morar numa Massamá qualquer, sobretudo nas que já foram planeadas de modo a atrair casais jovens com aspirações a ter alguma qualidade de vida, pode ser muito mais agradável do que viver numa rua de Lisboa, paredes meias com prédios degradados ou intercalando com andares que são escritórios e onde o svizinhos nem se cruzam. Na zona de mafra, por exemplo, há bairros novos muito bonitos, onde aos fins de semana as jovens famílias passeiam e usufruem dos encantos de fora-da-cidade.Nesses bairros recupera-se um pouco o conceito de vizinhança, vê-se a garotada a crescer, cumprimenta-se na rua quando se vai ao supermercado ou ao café. O pior é, sem dúvida o trânsito, mas não há bela sem senão...
Há muitas Massamás que nunca perderam o estigma inicial de dormitório urbano. Muitas localidades novas, que entretanto cresceram mais recentemente em torno dos grandes centros urbanos, sofrem da mesma fama. Muitas destas Massamás deixaram de ser dormitórios e ganharam vida própria. Localidades mais recentes foram meticulosamente desenhadas e são geridas a pensar nas pessoas. Há realmente um grande desconhecimento e desinformação sobre estes territórios.
Deixa-me rir....que o Obama de Massamá vem aí!!!
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