Noto no discurso político, tal como no comentário, um perigoso sentimento de conformismo em relação a efeitos da crise encarados como inevitáveis. Perigoso, já que transmite a ideia de uma predestinação para o regresso a um subdesenvolvimento social e humano.
Ontem mesmo assisti, horrorizado, à narração de um episódio passado com uma doente oncológica que esperou um dia inteiro para ser intervencionada. Após a operação e um recobro muito mais breve do que a espera para entrar no bloco, foi mandada para casa, sem qualquer vigilância médica no sensível período pós-operatório, não porque foi considerado desnecessário mas porque o estabelecimento de saúde não tem já recursos para garantir mais internamentos.
Hoje um despacho da Lusa dá-nos conta que aumenta o abandono escolar por causa das dificuldades financeiras por que passam as famílias. Diz-se que no agrupamento de escolas da Cruz de Pau, no Seixal, há mais mesas vazias nas salas de aula desde o final do segundo período. O depoimento do director não deixa dúvidas: "este ano tenho recebido várias anulações de matrículas: dez, até agora. São de alunos do 9º ano ou com mais de 15 anos. Três delas tenho a certeza de que foram feitas por questões económicas, porque os alunos falaram comigo".
Estes são efeitos da crise que todos devem julgar intoleráveis. Não só porque são humanamente indignos - o que já seria demais -, mas também porque o desenvolvimento em tudo depende do investimento no capital humano. Esse é o investimento verdadeiramente virtuoso, prioritário sobre as autoestradas ou os comboios de alta velocidade.
Como não sou fatalista nem acredito em determinismos, espero sinceramente que a emergência não faça com que os novos governantes tolerem ou entendam inevitáveis efeitos da crise que qualquer País civilizado não pode admitir.
7 comentários:
Essas coisas acontecem pq quem governa (ainda) não tem a mais infima sensibilidade ..por isso que são tolerantes com tourada ..sangue jorrando..para divertimento?!?
Isso é gente ? são monstros isso sim !
Guilhotina com eles !!!!
Aquilo que não depende de nós não pode ser a causa de algo que só depende de nós. Se estes casos ocorrem agora é porque já havia casos a ocorrer antes, simplesmente ninguém andava à procura deles. São intoleráveis e faz-nos pensar como é que num país que estoira metade da sua riqueza em nome do estado social, acaba por existir estes casos. Simplesmente a franja da sociedade beneficiada acaba por ser sempre a mesma.
Neste momento só levanto as mãos ao céu para que Passos não se queira tornar no bom aluno da Europa, deixando à míngua o seu povo para o entregar de bandeja ao Teutónico e ao Gaulês. Aquele que vai entregar o resto das empresas que dão lucro e o que vai entregar o resto em nome de empréstimos para manter uma minoria que faz de conta que não percebe que ganha o dobro daquilo que o país (que produz) lhes pode pagar. Como é interessante ver magistrados,... a reformarem-se com 5000 e 6000€. Terá o país riqueza própria para lhes pagar estas quantias? Obviamente que não sem recorrer ao endividamento ou ao corte de tudo o que resta do Estado social e fazer-nos retroceder aos anos 50. E ainda vai o outro, lampeiro, de férias para Paris estudar filosofia e poder alcandorar-se ao estatuto e à dialéctica de um Francisco de Assis tripeiro, de um SS do Largo do rato ou de um iluminado dinamite cerebral José de Pacheco Pereira.
Aqui está uma área,
que se resolvida pelo novo PM no prazo de um mês, poderá constituir um sinal.
Um dos melhores sinais possíveis para a sociedade.
Isto, com novos programas e exigências para o próximo ano lectivo,
de acordo com as palavras de Sócrates (nada de confusões) segundo Platão: a educação da infância e da juventude do país.
Estou de acordo consigo, Bmonteiro. Totalmente de acordo.
Outra herança socialista.
Vamos ver mais.
O caro tonibler tem razão, casos destes não apareceram só agora, mas talvez agora comecem a andar à procura deles. Também é um facto que é nesta altura do ano que há mais abandono escolar,porque é quando os alunos desistem quando não têm notas suficientes para passar. E se um jovem não vai à escola, onde tem refeições e actividades, mesmo que não queira estudar, e se não pode entrar no mercado de trabalho, porque é que as dificuldades financeiras é que determinam o abandono?Já quanto aos hospitais, se por um lado há muitos casos como o que conta, em que as pessoas são mandadas para casa antes de terem condições para se recuperarem sem ajuda, também é um facto que muitos hospitais mantêm idosos a seu cargo, por exemplo,porque simplesmente não têm quem os vá buscar. Ainda há pouco menos de um ano pude ver num hospital distrital várias situações dessas.Mas é claro que, num caso e noutro, temos que melhorar, as dificuldades que vivemos actualmente não podem justificar de modo nenhum que se desista.
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