Hoje fomos dar um passeio até ao Baleal. Levámos a minha mãe que, com o s seus 86 anos, não dispensa uma bela passeata, e a minha tia que, com 80 anos completos, tem uma energia e um gosto por tudo que faz inveja a muita gente nova. Pensámos ir almoçar a Peniche mas, quando passámos num restaurante a anunciar cozido à portuguesa, ainda por cima perto da aldeia onde ambas passavam férias em criança, não houve hesitações, foi uma sorte não ser ainda a hora de ponta dos almoços.
Estava um dia lindo, o mar muito azul e o céu límpido, as Berlengas a recortar-se com toda nitidez no horizonte, guardadas pelo rochedo seu vizinho, e havia vários barquitos minúsculos a aproveitar a rara acalmia daquelas águas. Nem sequer havia vento, apenas uma leve brisa a apanhar-nos de surpresa numa das pontas da ilha.
Havia um movimento intenso de carros a passar a estreita língua de asfalto e do lado de lá não havia um espaço livre. A maior parte das casinhas estava de janelas escancaradas, muitas delas com as roupas penduradas nas varandas, a sacudir a humidade do Inverno, e em todas as nesgas de jardim ou de pátio ou mesmo de passeios havia famílias inteiras a apanhar sol, muito regaladas, num momento de descontracção que deixava a milhas de distância as preocupações dos telejornais.
As duas praias estavam a abarrotar de gente, como se fosse Agosto, chapéus de sol também mas sobretudo pessoas que parecia terem decidido no momento pisar a areia morna e tentar-se nas mansas ondas da maré vazia, calças arregaçadas ou fatos de banho ainda mal refeitos do bafio das gavetas. As esplanadas cheias, numa algazarra de imperiais, caracóis e miúdos a lamber gelados. O que aquela ilha minúscula tem de mais fantástico é que muda de paisagem a cada esquina, de um lado a cidade em frente, o reflexo metálico dos automóveis estacionados mesmo antes de chegar à passagem, como se fosse uma força invasora contida mesmo à última hora, do outro a baía larga, rodeada de escarpas afiadas, e o mar imenso e aberto, a perder de vista. Num canto sossegado, quase escondida, a linda estalagem das Marés, junto à capela branca que quase escorrega pela arriba. Numa tranquilidade quase total, um homem de meia idade, sentado no alpendre do hotel, pintava laboriosamente um tela grande, onde se reflectia já com grande precisão a quietude agreste da paisagem em frente.
No regresso, parámos ainda na Areia Branca, onde também as duas nossas companheiras de viagem se encheram de admiração pela quantidade de gente na praia e de casa novas, tudo pretexto para reclamarem um belo gelado, num dia calor como este temos que festejar o Verão, não achas? Viémos depois a admirar os campos ainda muito verdes, com extensos batatais, milho, as ramas verdes das cebolas e as folhas largas das abóboras, zonas onde a construção e as urbanizações não tiveram tempo de chegar e que ainda fazem jus á fama da região saloia e dos seus belos e saborosos produtos. E as vinhas, claro, extensas e alinhadas, a cobrir as colinas picadas das modernas torres das energias eólicas.
Como me dizia a minha tia, que calcorreou tudo até nos deixar sem fôlego, o nosso País é lindissimo, de vez em quando temos que deixar as preocupações de lado e ver o que de bonito há para ver, a vida são dois dias.
E não esquecer de parar bem no centro de Torres Vedras e ir à minúscula fábrica dos pastéis de feijão, numa ruazinha esconsa, é aí que se vendem os melhores. Foi ela que disse, e assim fizémos, que remédio! Tenho ali a caixinha de deliciosos pastéis a sorrir para mim.
Havia um movimento intenso de carros a passar a estreita língua de asfalto e do lado de lá não havia um espaço livre. A maior parte das casinhas estava de janelas escancaradas, muitas delas com as roupas penduradas nas varandas, a sacudir a humidade do Inverno, e em todas as nesgas de jardim ou de pátio ou mesmo de passeios havia famílias inteiras a apanhar sol, muito regaladas, num momento de descontracção que deixava a milhas de distância as preocupações dos telejornais.
As duas praias estavam a abarrotar de gente, como se fosse Agosto, chapéus de sol também mas sobretudo pessoas que parecia terem decidido no momento pisar a areia morna e tentar-se nas mansas ondas da maré vazia, calças arregaçadas ou fatos de banho ainda mal refeitos do bafio das gavetas. As esplanadas cheias, numa algazarra de imperiais, caracóis e miúdos a lamber gelados. O que aquela ilha minúscula tem de mais fantástico é que muda de paisagem a cada esquina, de um lado a cidade em frente, o reflexo metálico dos automóveis estacionados mesmo antes de chegar à passagem, como se fosse uma força invasora contida mesmo à última hora, do outro a baía larga, rodeada de escarpas afiadas, e o mar imenso e aberto, a perder de vista. Num canto sossegado, quase escondida, a linda estalagem das Marés, junto à capela branca que quase escorrega pela arriba. Numa tranquilidade quase total, um homem de meia idade, sentado no alpendre do hotel, pintava laboriosamente um tela grande, onde se reflectia já com grande precisão a quietude agreste da paisagem em frente.
No regresso, parámos ainda na Areia Branca, onde também as duas nossas companheiras de viagem se encheram de admiração pela quantidade de gente na praia e de casa novas, tudo pretexto para reclamarem um belo gelado, num dia calor como este temos que festejar o Verão, não achas? Viémos depois a admirar os campos ainda muito verdes, com extensos batatais, milho, as ramas verdes das cebolas e as folhas largas das abóboras, zonas onde a construção e as urbanizações não tiveram tempo de chegar e que ainda fazem jus á fama da região saloia e dos seus belos e saborosos produtos. E as vinhas, claro, extensas e alinhadas, a cobrir as colinas picadas das modernas torres das energias eólicas.
Como me dizia a minha tia, que calcorreou tudo até nos deixar sem fôlego, o nosso País é lindissimo, de vez em quando temos que deixar as preocupações de lado e ver o que de bonito há para ver, a vida são dois dias.
E não esquecer de parar bem no centro de Torres Vedras e ir à minúscula fábrica dos pastéis de feijão, numa ruazinha esconsa, é aí que se vendem os melhores. Foi ela que disse, e assim fizémos, que remédio! Tenho ali a caixinha de deliciosos pastéis a sorrir para mim.
8 comentários:
Pois! Cozido à portuguesa, gelados, pastéis de feijão, sol, passeata à beira-mar... Um domingo bem passado. Vazio? Qual quê? Quem anda por este país encontra sempre cantos e recantos que são uns encantos, para não falar nos encantamentos dos nossos concidadãos, que, com os seus trejeitos e histórias, são capazes de encher as nossas almas, umas vezes de alegria, outras de tristeza e de dor... mas Portugal é assim mesmo!
Pastéis a sorrir? Pois, o mesmo já eu não posso dizer, e logo os pastéis que mais gostava em miúdo. Pastéis de feijão!!! O que me fazem lembrar...
É um país lindíssimo. É pena que seja tão mal habitado...Por outro lado, os maus habitantes fazem pastéis de feijão. Que, como diria o Homer Simpson,.. Ourghhrhrh...pastéis de feiãaaoooo....
Pois, caro amigo Massano, Portugal é assim mesmo, quanto aos pastelinhos, não tem mais que dar um passeio destes e ir lá bem ao pé do jardim onde está o monumento às batalhs do Buçaco, Vimeiro e Roliça, vale a pena ver a praça e procurar a velha fábrica de pastéis, uma casinha bem à portuguesa, como já há tão poucas. E bom proveito!
caro tonibler, realmente quem é que se lembraria de com feijão fazer um belo doce? o Homer ia gostar, aposto :)e dizer bem de quem sabe tão bem do pouco fazer muito...à portuguesa!
Cara Suzana, não posso deixar de dar-lhe os parabéns! Sincerissimos aliás! É que conseguir ter uma caixinha de pasteis de feijão a sorrir para si e aguentar sem os ir comendo, calmamente, ao serão até deitar a mão e já não haver nenhum é digno das mais sinceras felicitações! Pelo menos dum guloso empedernido e totalmente incorrigivel como eu, nas mãos de quem essas coisas normalmente duram pouco...
(Que rico dia teve!)
«Como me dizia a minha tia, que calcorreou tudo até nos deixar sem fôlego, o nosso País é lindissimo, de vez em quando temos que deixar as preocupações de lado e ver o que de bonito há para ver, a vida são dois dias.»
Esta frase recheada de sabedoria, terá sido a paga mais sensata que a tia de 80 anos encontrou, para a compensar do imenso gosto que lhe deu nesse dia, cara Drª Suzana?!
;)
Ha um bom par de anos, passei uns dias na "Casa das Marés". Recordo a sensação indiscritível do pequeno almoço tomado na varanda, escutando o rebentar das ondas, do outro lado da ilha, o piar das gaivotas em voos largos e o cheiro intenso da maresia. Depois, bastava atrvessar a estradinha e descer para o minúsculo areal. Ou então caminhar um pouco mais e escolher entre a praia do norte e a do sul, conforme a posição e a intensidade do vento, ou então se a maré enchia ou vazava. Foram umas férias inesquecíveis.
Travei amizade com o dono da casa, um senhor engraçado que aproveitava ao máximo os prazeres da ilha e de receber. Um dia, levou-me às arrecadações onde tinha a sua oficina de reparações e um enorme placard na parede, onde apontava meticulosamente as leituras diárias, da temperatura da água do mar. Depois referiu-me com um ar entre desolado e resignado, que todos os anos registava um aquecimento das águas, o que fazia com que algumas espécies piscículas já tivessem abandonado aquelas águas, ele também era pescador. Por outro lado, notava também maior afluência de veraneantes, o que era bom para o negócio dos restaurantes «é que sabe?! a maioria das pessoas aqui no Baleal, trabalha nos 2 meses de verão para comer o resto do ano».
Suzana
Portugal tem muito para desfrutar, muitas vezes o que acontece é que temos o melhor ao nosso lado e não reparamos. Optamos por não conhecer e ir à procura em outras paragens das belas sensações aqui tão perto, à mão de semear. É preciso querer e saber apreciar.
Caro zuricher,não é mérito,não senhor, é que comprei uma roupa nova um número abaixo do devido e teimei em não ir trocar, a contar com um esforço adicional até ao Verão :)Acho que isso de não resistir a uma guloseima é uma grande qualidade!
caro Bartolomeu, mas que belas férias deve ter tido, já reparei que não há canto de Portugal que não conheça, e de todos guarda excelentes recordações,o turismo devia contratá-lo para promover estas belezas mal conhecidas :)
Margarida, também é bom ir dar uma espreitadela ao que há lá fora, aprende-se a apreciar, parece que quando passeamos cá não vemos com olhos de turista mas com o nosso tradicional espírito crítico,assim se soubermos ver fora de portas pode ser que seja mais fácil apreciar o que temos.
Ha ainda muito do nosso país que me é desconhecido, cara Drª Suzana. E muito também, que estou certo, nunca irei conhecer. Mas na verdade, este é um país de imensos contrastes, assim como as pessoas que encontramos a cada canto.
Sabe?! Tive a sorte de em criança, não re reprimirem a curiosidade natural, assim... interesso-me por tudo; pelos locais, pelos usus e costumes, pela origem das coisas e acima de tudo, pelas pessoas, pelas experiências que viveram e que estão sempre dispostas a partilhar. Aprende-se muitas vezes mais, ouvindo as experiências de cada um, que em algumas enciclopédias.
;)
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