Pepineiras

Não fosse a campanha eleitoral e de certeza que teríamos os telejornais já a entrevistar os médicos que atenderam os três portugueses que vieram de Hamburgo com gastroenterite, os familiares dos viajantes, os primos dos viajantes e talvez mesmo a senhora que comprou os legumes que foram servidos no restaurante em Hamburgo, se é que foi em Hamburgo que os portugueses apanharam a gastroenterite. Os jornalistas seguiriam as pistas dos pepinos até concluírem que, não sendo de certeza espanhóis porque a Espanha fez uma gritaria tal que todos juraram logo que espanhóis é que não são, não vá o diabo tecê-las e pode vir ainda a suspeitar-se de que se tratem, ao menos por parentesco, de pepinos portugueses.
Já ouvi ontem, creio eu, o Director Geral de Saúde, que ia a caminho da OMS para se esclarecer sobre o bacilo que parece que é novo, uma estirpe desconhecida mas que podia estar adormecida, que não, por cá não há, ainda, insista-se ainda, estamos atentos, já falou a Ministra da Saúde, duas vezes pelo menos, longamente uma delas, sobre que não há cá casos, não há, e falou longamente sobre os casos que não há. Pareceu-me também ouvir o Ministro da Agricultura que de repente ameaça que vai pedir não sei quantos milhões de indemnização aos alemães por causa da quebra de vendas de pepinos portugueses, logo agora que estavam prontos para vender e eles não compram, o que é que nós temos que ver com os bacilos alemães, ai vão pagá-las, isto não pode ser.
Felizmente ainda há campanha eleitoral.