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quinta-feira, 16 de junho de 2011

A tarefa gigantesca, cheia de riscos, do novo Governo - boa sorte!

1.Chegaram ao fim as ilusões, em especial aquelas que nos foram vendidas nos últimos anos, sem qualquer pudor, e que não podiam deixar de acabar na mais completa frustração apesar da desesperada tentativa do vendedor para nos convencer que “ainda era possível” e se propunha, generosamente, “Defender Portugal”...
2.Julgo que ninguém está à espera de boas notícias, todos aguardam o arranque do “programa de ajustamento económico e financeiro”, negociado com a U.E. e com o FMI, com um misto de expectativa e de temor...
3.Sendo certo que não existem quaisquer expectativas positivas, tenho todavia a noção de que não “temos” ainda uma percepção aproximada dos imensos custos que esse “programa” vai implicar para muitos milhões de portugueses cujas condições de vida se vão deteriorar nos próximos meses e anos...
4.Quando as realidades da aplicação do programa começarem a ser sentidas em toda a sua plenitude, vamos assistir a uma nova fase de frustrações colectivas, com recriminações e queixas vindas de todos os quadrantes:
(i)os utilizadores dos transportes públicos porque estes vão ficar mais caros,
(ii)os funcionários das empresas públicas porque vão ver as suas regalias significativamente cerceadas,
(iii)os utentes dos serviços públicos de saúde porque vão ter de suportar um custo mais elevado pela respectiva utilização,
(iv)os professores e outras classes profissionais cujas regalias vão ser diminuídas,
(v)as Regiões Autónomas e as autarquias porque vão ter de apertar consideravelmente os seus orçamentos – para já não falar da diminuição “significativa” do número de concelhos e de freguesias que deverá estar definido durante o próximo ano
(vi)os consumidores de electricidade (nós todos) porque vão ver a factura subir ainda mais por efeito de uma tributação especial,
(vii)os comerciantes de automóveis e os serviços de assistência porque vão ver os negócios baixar a pique por força do agravamento fiscal, da quebra do rendimento das famílias e da drástica redução das frotas automóveis das empresas,
(viii)as empresas de construção e os agentes imobiliários porque vão sofrer o impacto de uma quebra muito acentuada do mercado imobiliário, actualmente já deprimido, em volume de transacções e em preços,
(ix)os proprietários de imóveis pois vão ver a tributação em IMI agravada,
(x)as confederações sindicais porque vão sentir o poder a fugir-lhes e vão tentar aguentar com todas as forças a influência que ainda detêm,
(xi)os pensionistas com pensões acima de € 1.500, porque vão ver o seu rendimento comprimido mais uma vez,
(xii) etc, etc...
5.Poderia prosseguir esta lista quase até ao infinito, mas julgo não valer a pena pois já se percebe que praticamente ninguém vai poder escapar à onda de medidas de austeridade, bem como ao impacto das medidas estruturais sobre os interesses instalados...e muitos vão sofrer esse impacto por diversas vias...
6.Neste quadro, há uma medida que na minha opinião se impõe como elemento primário de moralização e condição prévia da aceitação popular para o enorme de aperto no rendimento disponível que aí vem: um corte significativo nas regalias e benefícios remuneratórios, E OUTROS, auferidos pela classe política e pela classe dirigente do sector empresarial do Estado.
7.Essa condição não será certamente suficiente para o sucesso do programa, mas é condição necessária: sem a mesma, será quase impossível a população aguentar, com um mínimo de “paciência social”, o indispensável período de forte austeridade que nos espera.
8.Boa sorte para o novo Governo!

10 comentários:

Anthrax disse...

Olá Dr. TM,

A não aplicação do ponto 6 foi, exactamente, o que levou a Grécia à situação de levantamento social actual.

Tudo o resto que mencionou atrás, de uma forma ou de outra, está a ser implementado. O que descreve no seu ponto 6 é que não.

Wegie disse...

Iria lá o Costa passar a ganhar o mesmo que o Bernanke! Nem pensar! O Banco de Portugal vale 3 vezes mais do que a US Federal Reserve.

Gonçalo disse...

E temos que entender que o nosso nível de vida estará localizado algo mais abaixo do que nos habituamos nos últimos decénios.

http://notaslivres.blogspot.com/2011/06/reestruturacao-crescimento-ou-superavit.html

Bmonteiro disse...

Adquirido que o país vá passar por um Processo de Empobrecimento Contínuo (PEC longo),
relevo a observação de miss A.
Sobre o ponto 6.
Não diria que fizessem como sugeriu há dias o simpático Frei Ventura na SIC: dirigentes políticos a tentarem viver com o salário mínimo, como supremo exemplo à população.
Já o mesmo não direi de uma afirmação ouvida há tempos numa TV: porque não, um leque salarial de um para dez? (Fernando Nobre).
De qq modo, algo que vá ao encontro de uma expressão de Passos Coelho na campanha eleitoral:
reduzir o elevado leque salarial existente.
Quem começa?

Anónimo disse...

Boa sorte e que Deus os acompanhe na sua espinhosa missão. Para sua glória, sim. Mas também dos governados.

Caboclo disse...

Tem uma maneira de o povo amansar ..é fazer justiça ! é pôr o rasteiro no banco dos réus ...e botar nele todos os holofotes e ainda alugar mais alguns ..

Aí a sociedade vai entender o que realmente aconteceu e o porquê da situação . Quem é o culpado e ter a certeza que haverá punição.

Anthrax disse...

Olhem, vou-vos ser muito honesta, eu - sinceramente - acredito que conseguimos ultrapassar esta situação mas vai ser muito, muito penoso.

Os comportamentos, o estilo de vida e as mentalidades que não conseguimos mudar de uma forma gradual, vamos ter de mudar à força. Nós temos de aprender a viver com o que temos e não com o que não temos e esta é uma excelente oportunidade para o fazer. É claro que o exemplo vai ter de vir de cima, se quiserem restaurar a confiança de que precisam, mas do pouco que ouvi ontem nas notícias - pelo menos - fiquei com a esperança de que há abertura para implementar o ponto 6. Se assim for, isso será um bom começo. Como diz o Dr. TM, não vai resolver os problemas do país, mas tem uma função moralizadora e isso pode ser, neste momento, uma das coisas mais importantes que o novo governo pode fazer.

Se eu pudesse dar algum conselho ao novo governo, aquilo que diria era: passem pelo consultório do Prof. MC façam um check-up completo e abasteçam-se de analgésicos, ansiolíticos, calmantes e comprem uma maquinita portátil para medir a tensão arterial. Como devem calcular, vão precisar disto dado que este não é o momento para terem crises, síncopes e muito menos para morrer no exercício de funções.

Tavares Moreira disse...

Cara Anthrax,

Ainda bem que menciona o (mau) exemplo da Grécia para reforçar o argumento da necessidade de auto-contenção, muito séria, da classe política e dos dirigentes empresariais de nomeação política, como condição sinequa non do sucesso do imenso e prolongado plano de austeridade que Portugal terá de (continuar) a implementar...
E deixe-me dizer-lhe que não é só o exemplo grego, é tb o exemplo do governo cessante que distribuiu, a esmo e sem qq pudor, benefícios ao sindiacto de amigos conhecido por PM & Cª Lda...
Não há sociedade, minimamente civilizada e democratizada, que possa aguentar tais imoralidades...

Caro Gonçalo,

Chama-lhe-ia nível de vida "de equilíbrio", se me permite...
O actual nível de vida, que já sofreu alguma quebra em relação a há 2 anos, é ainda um nível de vida de desequilíbrio, que gera crescente endividamento...por isso lhe chamam insustentável.

Caro Zuricher,

Acompanho-o nesse voto, certamente!
E, como diz o Povo, que Deus lhe ponha a virtude!

Wegie disse...

…“as dívidas da economia nacional são de tal modo elevadas que será muito difícil evitar uma reestruturação a curto ou médio prazo. Porém, tal reestruturação tem de ser devidamente negociada com os nossos credores e com os nosso parceiros europeus e não deve ser feita de forma “menos civilizada”, como aconteceu em 1892.”

Álvaro Santos Pereira, Ministro da Economia

Tavares Moreira disse...

Caro Wegie,

A reestruturação a que A. S. P. se refere até será possível se - e só se - Portugal mostrar que é capaz de sustar o crescimento da dívida através do cumprimento do plano de ajustamento acordado com UE/FMI.
Poderei acrescentar que tal reestruturação poderá até ser relativamente fácil e não levantar qq objecção por parte dos credores em tal contexto.
A.S.P. não esclareceu este ponto e era importante que o tivesse feito...