Grécia entra em ebulição? Há que estar atento...

1.Nos últimos dias da semana passada parecia que a Grécia iria conseguir algum espaço de manobra, negociando com a U.E. um programa adicional de ajuda, de mais € 60 mil milhões, acrescendo aos € 110 mil milhões da ajuda acordada em Maio de 2010.
2.Nesta ajuda adicional incluir-se-iam credores privados (sobretudo bancos) detentores de dívida pública grega, que deveriam aceitar “voluntariamente” reestruturar dívida grega, com isto significando que estariam disponíveis para receber nova dívida, a prazo conveniente e em condições de mercado, em substituição da que se vencer em 2012 e 2013, o que reduziria as necessidades de financiamento em + ou - € 30 mil milhões..
3.A participação de credores privados tem merecido grandes reservas por parte do BCE, apavorado com a ideia de esta reestruturação “voluntária” da dívida, se não for conduzida com muita cautela, possa degenerar em “event of default” ou “credit event”, forçando as agências de “rating” a penalizar ainda mais a dívida grega e impossibilitando a sua aceitação pelo BCE como colateral – bancarrota na Grécia.
4.Em qualquer caso, com reestruturação voluntária ou sem ela, o facto é que este pacote de ajuda adicional deverá incluir condições muito duras, que o PM grego tem tentado, até agora sem sucesso, ver aprovadas no Parlamento helénico.
5.Entre essas medidas contam-se (i) um pacote de austeridade adicional, de € 9,4 mil milhões, para aplicar já no corrente ano, com cortes de despesa, implicando um elevado número de despedimentos na função pública, (ii) um “ambicioso” programa de privatizações, que possa render cerca de € 50 mil milhões nos próximos 3/4 anos e (iii) medidas de redução “voluntária” da soberania, traduzidas numa activa participação de peritos internacionais na supervisão da cobrança de impostos e na gestão do programa de privatizações.
6.Aparentemente, na última 6ª Feira, após uma reunião entre o PM grego e o Presidente do Eurogrupo, J.C. Junker, as coisas pareciam bem encaminhadas e até o FMI parecia disponível para libertar a sua quota-parte na tranche de ajuda externa de € 12 mil milhões, prevista para o corrente mês, sem a qual a Grécia entrará em colapso financeiro.
7.Mas eis que surgem notícias segundo as quais o PM grego enfrenta sérias dificuldades internas, não apenas o claro cansaço popular em relação às medidas de austeridade, mas também manifestações de rebeldia, ao nível do seu partido, PASOK, com algumas dezenas de deputados ameaçando votar contra o novo pacote.
8.Segundo a edição de ontem do F. Times, estes parlamentares socialistas estariam muito preocupados com a antevisão de um número significativo de despedimentos na função pública (e empresas públicas também) receando que muitos militantes do partido, entrincheirados nessas estruturas, possam perder seus empregos...
9.No que a Troika se foi meter, a Grécia estava tão bem com as suas benesses políticas...e agora parece pronta a entrar em ebulição...
10.E por cá, como será, iremos assistir a fenómenos semelhantes quando as medidas começarem mesmo a doer? Esperamos bem que não, mas há que estar atento...