Confesso que me faz alguma confusão esta súbita onda do “risco de incumprimento” que agora assaltou os noticiários e os temas de conversa. Ainda nem começámos a cumprir o que temos para cumprir e já se saltou essa etapa, dando como certo que não servirá de nada maçar-nos agora com “as medidas”, por mais drásticas que sejam, porque afinal o que nos espera é a condenação. Não faço ideia nenhuma se daqui por dois ou três anos, mesmo sendo muito certinhos, vamos ou não ter capacidade para ir pagando as dividas, se calhar não teremos, mas serve de alguma coisa partirmos derrotados? Temos alguma alternativa senão ir tentando o melhor que podemos e sabemos? Em dois ou três anos passa-se tanta coisa, veja-se o que se dizia em 2008 e 2009, veja-se o que se passou até agora, a única coisa que temos como certa é que há uma dívida gigantesca para pagar. Ora, não podendo resolver um "problemão" de uma só vez, temos que o dividir em problemas pequenos e tentar resolver estes, na esperança de que o maior se vá atenuando, de uma forma ou de outra. Não me parece é que partir derrotado resolva alguma coisa.
12 comentários:
Apoiado! Eu próprio penso exactamente o mesmo cada vez que oiço algum dos "especialistas" lançar essas previsões. Claro que houve previsões a que muitos chamavam pessimistas (ou mesmo bota-abaixistas) e que se revelaram justíssimas, mas nesses casos era possível mudar de rumo e só a incompetência e a teimosia teimaram em seguir o caminho da desgraça. Agora o que há a fazer está traçado e talvez haja competência e vontade para o fazer. Há é que incentivar o esforço necessário.
Subscrevo, Suzana. Somos atraiçoados por esta militância do derrotismo antecipado, por este fado triste ouvido até à exaustão nos noticiários, na análise, no comentário.
Aliás, parece que a comunicação social tem um critério na selecção - é sábio aquele que se apresentar mais assertivo no convencimento de que somos incapazes. Já chateia!
Bom, a julgar pelo spot publicitário que apela à confiança dos portugueses nos portugueses, de facto dá para concluir que isto já só lá vai com recurso à publicidade. Todavia penso que o spot está mal direccionado. O problema não é a confiança dos portugueses nos portugueses, mas a confiança dos portugueses na sua classe política (que aliás é um problema transnacional e não somente nacional).
Pessoalmente, não vejo notícias. Aborrece-me estar constantemente a ver (e ouvir) os arautos dos cavaleiros do apocalipse a falar de morte e destruição a toda a hora.
Como diz o JMFA: Já chateia!
O nosso amigo Luis Rosário, que passou fugazmante pela caixa de comentários do "Quarta", publicou em Dezembro do ano passado no seu «http://manuscriptos.blogspot.com» um pequeno texto com o título "quebrar o gelo" cuja estória, do meu ponto de vista, ilustra bem a conclusão retirável desta análise que a cara Drª. Suzana aqui faz.
De uma forma muito sintética, o texto conta a história de dois meninos que brincavam na superfície de um lago congelado. A dada altura, a camada de gelo quebra-se com o peso da criança, e esta submerge, sendo arratada pela corrente sob o gelo. A outra criança, pegou numa pedra e começou a golpear o gelo, conseguindo parti-lo e salvar o amigo.
Imediatamente se juntaram pessoas que, incrédulas perguntavam entre si, como tinha sido possível a uma criança tão pequena, ter partido com as próprias mãos e uma simples pedra, am placa do gelo?
Nessa altura, aproximou-se um ancião que lhes deu a seguinte explicação: É que não havia ninguém em redor para lhe dizer que não era capaz!
Cara Suzana, será partir derrotado ou, simplesmente, com base nos elementos da realidade disponiveis concluir precisamente que este momento que vivemos é apenas uma estação do percurso e não a estação terminal? Sendo esta a bancarrota. Ou seja, que através da analise da realidade se conclua que onde vai chegar-se é precisamente à bancarrota.
A confiança é muito importante, sem dúvida. Mas pouco pode contra a realidade.
Suzana
É espantoso ver quem pinta a situação ainda mais negra do que ela já está. Em vez de se fazer a pedagogia de que temos de trabalhar e ajustar o nosso estilo de vida às reais possibilidades da nossa economia, de que vale a pena o esforço que temos de fazer para pagarmos o que devemos e aspirarmos a uma país onde todos tenham oportunidade de viver condignamente, vai-se pela técnica de ditar o destino da desgraça. É demais, só contribui para pior ainda mais a situação.
Pois, o melhor é adoptar a atitude resignada do enquanto o pau vai e vem as costas descansam...
Cara Margarida, quem me dera, sinceramente e do fundo do coração, quem me dera encontrar dados nesta trapalhada toda que me permitissem ter um raiozinho de esperança que fosse. Mas, de todo em todo, não os encontro. Se olho para o valor da dívida e dos seus juros, o esforço já assumido para os OEs dos próximos quase 40 anos, o valor da produção Portuguesa e as suas perspectivas de evolução e, num outro plano, para toda a envolvente Europeia e o que a é a moeda única, a UE e esta coisada toda, sinceramente, gostava de encontrar um raio de esperança. Mas não o vislumbro. Ha vários anos que o procuro mas lamentavelmente não o encontro.
Vai haver o ajuste do estilo de vida às reais possibilidade do país e das pessoas. Disso não tenho a mais mínima dúvida. Agora que esse ajuste seja sinónimo de "país onde todos tenham oportunidade de viver condignamente" é outra história totalmente diferente.
"Procrastination: refers to the act of replacing high-priority actions with tasks of low-priority, and thus putting off important tasks to a later time."
Eu acho que se aplica.
Como também se poderia aplicar outra expressão da moda "self fulfilling profecy".
E assim, com todos estes anglicismos, dou início à silly season :)
Quando todos os indicadores são outros, a confiança perde-se... Mas querer é poder, não é? Tenhamos confiança na boa vontade, no esforço e... na honestidade de todos.
Ó Ana Rita! Só agora é que dá inicio à Silly season? Essa já abriu há muito tempo. :)
So true...
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