A Margarida já aqui assinalou esta extraordinária notícia, mas o tema é realmente tão surpreendente que merece um aditamento.
O CEJ, Centro de Estudos Judiciários, tem como objectivo a formação específica de juízes. Os admitidos a essa formação são já pessoas licenciadas, adultos que fizeram a opção por uma profissão que se traduz no exercício de um cargo de soberania, a administração da justiça, e que terão ultrapassado com êxito várias provas até ali chegar. Acontece que um curso inteiro, com 137 pessoas, terá decidido copiar no exame final e, se não foram todos, pelo menos todos aceitaram todos que assim passasse para a história, uma vez que sofreram o mesmo labéu e calaram. E que labéu? Pois, o de terem copiado livremente uns pelos outros, e com tão pouco pudor que nem se deram à maçada de disfarçar, ao menos por pudor, insisto, já que se justificou plenamente, como veio a demonstrar-se, a confiança em que nada lhes aconteceria se fossem “descobertos”.
Uma das funções da punição é a dissuasão. Ou seja, as penas existem, associadas a faltas ou crimes em concreto, como forma de dissuadir comportamentos indesejáveis no caso de a convicção própria não ser suficiente para resistir à tentação. A outra função é punir, castigar, infligir algum sofrimento, ou prejuízo, como retaliação do mal praticado, punição que não elimina a mancha do erro mas que permite que quem prevaricou não tire dele qualquer proveito, antes pelo contrário. E, se não há crimes sem lei que os preveja e qualifique como tal, também não há norma sem coacção.
Ora, no caso destes futuros magistrados, verificou-se que não tiveram qualquer barreira de auto censura – que, nesta fase da vida e com a responsabilidade acrescida da sua opção profissional já devia ser sólida; que não havia dissuasão, uma vez que copiaram livremente sem receio do castigo; e, finalmente, que realmente não houve punição nenhuma, uma vez que ao ser atribuída a todos por igual a nota suficiente para ficarem aprovados, nenhum saiu prejudicado.
A explicação que foi dada para tão insólita decisão invocou o “equilíbrio” (!!) e um monte de considerações burocráticas, que remetem para a insignificância valores de comportamento que deviam ser determinantes. Ah, e ainda o argumento da quantidade, ou seja, como eram muitos não seria possível repetir as provas. Deduz-se que, se tivessem sido apenas um ou dois, já teriam tido tratamento bem diferente, nota negativa e um valente chumbo, além da carreira acabada antes de começar.
É o que se chama falhanço da justiça em toda a linha.
O CEJ, Centro de Estudos Judiciários, tem como objectivo a formação específica de juízes. Os admitidos a essa formação são já pessoas licenciadas, adultos que fizeram a opção por uma profissão que se traduz no exercício de um cargo de soberania, a administração da justiça, e que terão ultrapassado com êxito várias provas até ali chegar. Acontece que um curso inteiro, com 137 pessoas, terá decidido copiar no exame final e, se não foram todos, pelo menos todos aceitaram todos que assim passasse para a história, uma vez que sofreram o mesmo labéu e calaram. E que labéu? Pois, o de terem copiado livremente uns pelos outros, e com tão pouco pudor que nem se deram à maçada de disfarçar, ao menos por pudor, insisto, já que se justificou plenamente, como veio a demonstrar-se, a confiança em que nada lhes aconteceria se fossem “descobertos”.
Uma das funções da punição é a dissuasão. Ou seja, as penas existem, associadas a faltas ou crimes em concreto, como forma de dissuadir comportamentos indesejáveis no caso de a convicção própria não ser suficiente para resistir à tentação. A outra função é punir, castigar, infligir algum sofrimento, ou prejuízo, como retaliação do mal praticado, punição que não elimina a mancha do erro mas que permite que quem prevaricou não tire dele qualquer proveito, antes pelo contrário. E, se não há crimes sem lei que os preveja e qualifique como tal, também não há norma sem coacção.
Ora, no caso destes futuros magistrados, verificou-se que não tiveram qualquer barreira de auto censura – que, nesta fase da vida e com a responsabilidade acrescida da sua opção profissional já devia ser sólida; que não havia dissuasão, uma vez que copiaram livremente sem receio do castigo; e, finalmente, que realmente não houve punição nenhuma, uma vez que ao ser atribuída a todos por igual a nota suficiente para ficarem aprovados, nenhum saiu prejudicado.
A explicação que foi dada para tão insólita decisão invocou o “equilíbrio” (!!) e um monte de considerações burocráticas, que remetem para a insignificância valores de comportamento que deviam ser determinantes. Ah, e ainda o argumento da quantidade, ou seja, como eram muitos não seria possível repetir as provas. Deduz-se que, se tivessem sido apenas um ou dois, já teriam tido tratamento bem diferente, nota negativa e um valente chumbo, além da carreira acabada antes de começar.
É o que se chama falhanço da justiça em toda a linha.
12 comentários:
sem comentários ..simplesmente inacreditável ..ahahahhaha kakakakakakakkakakakakahahah
ahahahahaha kakakakakakakkakakakakak
kakakakakakakakakkakakak
ahahahahhahahahahahahahahhahaha
kakakakakakakkakakakakakakakakakaka
ahahahahahahahahahahahahahahahah
Estes foram descobertos e os outros..os anteriores ...a bagunça é assim ?????
ahahahahahahahaha kakakakakakakakakakak
ahahahahahahahahahahhaha kakakakakakakakakakakakkkakakakkaka
Realmente um país que tem juizes assim ..gosta de tourada ..teve um socrates ..merece ..sem duvida ...merece
Achei esta coisa do copianço no CEJ algo do outro mundo mas o resultado ainda pior. Tenho porém uma pergunta a que certamente os mais versados em leis por aqui poderão responder-se. Há algum obstáculo legal a que a prova fosse anulada e esta gente toda liminarmente reprovada na disciplina em causa? É que, tirando uma limitação legal, não consigo vislumbrar a mais mínima justificação, seja lá ela qual for, para terem todos tido o tal 10 e passar assim incólumes.
Junto-me à Suzana na sua indignação por este prémio à trafulhice.
Leio no "Público" de ontem que as provas poderão vir a ser repetidas.
Se assim for, será perpetado mais uma burla dentro da casa onde deveria ser germinada a justiça.
Porque a repetição da prova dará uma oportunidade que não deveria ser concedida aos burlões.
Burlões, para os quais a mais elementar indignação de uma sociedade minimamente consciente deveria exigir uma pena adequada.
E os outros, os que não copiaram?, perguntar-se-á.
É fácil a resposta: Não estão aqueles 137 a candidatarem-se a juízes e procuradores? Pois bem: Resolvam o caso. Abram um inquérito e passem à prática. Investiguem, concluam e julguem.
Mas falta ainda julgar outros, aqueles que complancentemente não abriram a boca: os magistrados.
Como é que uma classe inteira, a quem a sociedade deposita a confiança para julgar, se cala?
São todos desonestos ou são todos
cobardes?
Meus caros
Atendendo à génese humana e aos princípios que estiveram na base da evolução da espécie, o comportamento deste pessoal encaixa-se dentro da luta pela sobrevivência que passou do plano físico-biológico para o plano cultural, plano este criado pelo homem, julgando que consegue contrariar a tendência para a batotice. Ética, moral, princípios, honra, honestidade e muito mais são belas construções dos seres humanos capazes de acalmar a sua ansiedade, permitindo que possam um dia alcandorar-se a uma posição em que se sintam mais confortáveis com a sua condição, mas - o problema do mas é sempre uma brecha, nuns mais e noutros menos -, deixa, por vezes, extravasar forças primitivas, as quais, num mundo de fantochadas, num palco trágico-cómico, vão alimentando a sua curta existência. Candidatos a juízes, batoteiros? O facto de serem juízes não elimina liminarmente essa tendência, eles sabem-no muito bem, como em qualquer outra atividade ou profissão. Deixemos de endeusar os magistrados. Quando estão a representar, até acredito que a maioria sente a responsabilidade de julgar e, nesse momento, conseguem ser bons atores, sentindo o significado da ética e dos valores supremos. Ainda bem, mas tal não significa que noutras circunstâncias não deixem de manifestar alguma sacanice ou batotice. Que mania a dos seres humanos em armarem-se em deuses, o que interessa é que aperfeiçoem a arte de representar. Precisam-se bons atores que saibam interpretar os mais belos e superiores papéis, quanto à representação das baixezas e primitivismo não é preciso fazer nenhum “casting”, basta, apenas, serem naturais!
Mas sabem o que é que é mesmo engraçado?
Engraçado é nós termos de pagar rios de dinheiro para ter de ter um processo a correr em tribunal, processo esse que vai ser julgado por aquelas criaturas ou outras que tal.
Isso é que é hilariante.
O "copianço" e a perseguição moralista que lhe é movida, considero-os uma aberração, uma contradição, dado que, por outro lado se exaltam os alunos à prática e ao desenvolvimento do espírito de equipe e de partilha de conhecimentos.
Afinal, em que ficamos?
Queremos gente capaz de partilhar e de crescer participativamente, ou queremos gente que esconde o conhecimento a sete chaves e no final é reconhecido e premiado individualmente por esse cinismo e essa avareza?!
Pugna-se por ensino aberto, onde as ideias e os conhecimentos se movam livremente e sejam acessíveis a todos, ou por um ensino séctário, exclusivista, unitário?
Queremos uma justiça ampla, abrangente, igualitária (mesmo que nivelada a 10) ou uma justiça elitista?
;)))
Pronto... acho que afogueira já tem lenha suficiente para arder...
(suficiente? isto é coisa para 10!... 9,5 dependendo do critério)
;)))))
Meu caro Bartolomeu, vendo as coisas por esse prisma... está bem visto sim senhor. Na realidade essa uma das grandes críticas, que faço, ao SIADAP.
Passam o tempo a anúnciar o trabalho em equipa e bla bla bla, depois o que é avaliado? O trabalho individual, pois então. A isto é o que eu chamo de "coerência" dos instrumentos. Sim senhor, que perolazinha.
E já agora, porque é que para se ser Juiz tem de se fazer um exame? Porque é que não pode ser um processo de recrutamento?
Iah! Ou um processo de julgamento...
Constituíam um juri que mirava o candidato(a) de ciam a baixo (ou vice-versa) e, passado um tempo de examinação pré-estabelecido o predizente du jure delibrava;«julgamos co candidato tá ápto a julgar!»
E prontes, tinhamos a coisa bem feita!
O meu comentário está em http://arruadas.blogspot.com/2011/06/o-despauterio-no-caso-do-cej.html
Cumprimentos,
HDF
Caríssimos,
Nesta história o que me espantou mesmo foi a divulgação do acontecimento em quase todos os meios de comunicação em forma de censura tendo em conta que é um acontecimento diário e validado em vários níveis da nossa sociedade. Um entrevistado qualificou o facto como "vícios incorporados desde o ensino básico e secundário". Em Portugal são raros os que não recorrem à trafulha na sua vida pessoal, familiar e profissional. É muito difícil viver na nossa sociedade sem trafulhice. Alguns trafulhas, bem conhecidos nas suas comunidades, conseguem chegar aos níveis mais altos e de maior responsabilidade de carreiras profissionais, técnicas, científicas, etc.... Em alguns sectores da sociedade portuguesa a trafulhice é a qualidade mais valorizada - não é necessário nomear os santos porque todos vós conseguirão lembrar-se de tantos artistas deste calibre que nem os dedos das mãos e dos pés chegam para enumerá-los.
Neste acontecimento do CEJ vemos bem a diferença entre os países do norte e os do sul da Europa. Mais a norte, e se não fosse possível identificar quem copiou, estes artistas copistas seriam avaliados um a um em exames orais públicos perante um júri. Seria uma tremenda vergonha para todos os intervenientes ser apanhado numa situação destas. Nalguns países do norte, que nos dizem ser referência máxima a seguir, estes trafulhas são orientados para áreas profissionais onde através de trafulhice só se prejudicarão a si próprios.
Dirão, mas dar mais trabalho aos avaliadores! E porque não? Eles deixaram isto acontecer e também têm alguma responsabilidade ou será irresponsabilidade neste caso. Ir pelo caminho mais fácil, aquele que estes cábulas adoram, é dar-lhes nota 10 e permitir que daqui a uns anos qualquer um deles possa estar a julgar processos num tribunal ou a avaliar estudantes e candidatos do CEJ.
Se na sociedade portuguesa continuarem a ficar impunes estes tipos de trafulhice nunca seremos respeitados por esse mundo fora. Seremos sempre vistos como trafulhas. E estas mudanças duram anos e por vezes séculos até que se diga que a nossa sociedade é justa e conduzida por cidadãos honrados. Nos países do norte da Europa começaram por investir na educação e no apoio aos educadores das crianças e jovens há mais de 60 anos. No entanto, eles também podem testemunhar que haverá sempre trafulhas por aí.
Não percebi como descobriram que tinham copiado. Câmaras ocultas? Investigaram? Alguém confessou? Ou "cheirou-lhes?
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