Talvez nunca como agora as televisões portuguesas, com particular evidência para a estatal, nadam em dinheiro e gastam à tripa forra. Enviados especiais voam pelo mundo, desdobrando-se em reportagens e directos sobre o exaltante acontecimento da morte de Carlos Castro, ou as aventuras dos manifestantes tunisinos, argelinos, egípcios e de outros países do médio oriente, ou as desventuras de Strauss Khan. Agora, chegou a vez da transmissão em directo da desobediência civil grega e das consequentes cargas policiais. Os jornalistas, também em directo, vão tossindo devido aos gases lacrimogéneos, dando o seu tossir um assinalável valor acrescentado à actualidade informativa.
Vê-se o prazer das televisões em estarem em cima do acontecimento, pressentindo-se como que possuídas de um infinito orgasmo informativo. Actuam como se Portugal não estivesse em crise e tivessem todo o dinheiro do mundo para esbanjar de maneira fútil e gratuita. Porque sem valor acrescentado para além do que as agências noticiosas internacionais relatam.
Vê-se o prazer das televisões em estarem em cima do acontecimento, pressentindo-se como que possuídas de um infinito orgasmo informativo. Actuam como se Portugal não estivesse em crise e tivessem todo o dinheiro do mundo para esbanjar de maneira fútil e gratuita. Porque sem valor acrescentado para além do que as agências noticiosas internacionais relatam.
Mas a insistência nas reportagens e a minúcia dos detalhes estão a constituir uma manual de instruções para que acontecimentos idênticos se dêem em Portugal. E, nesse aspecto, as reportagens televisivas, mormente as do serviço público, incluindo rádio , pela sua especial estatuto, estão a ser perfeitamente irresponsáveis. Porque uma coisa é informar. Outra, muito diferente, é fazer publicidade, concitando, através da repetição maciça, o efeito consumo ou imitação.
As redacções editoriais, pela sua falta de critério e de cultura, e pela sua impreparação, parecem que estão apostadas em cozinhar um caldinho em que todos nos poderemos queimar. E não se venha com o argumento da censura ou do mensageiro, sempre utilizado quando falta a razão.
As redacções editoriais, pela sua falta de critério e de cultura, e pela sua impreparação, parecem que estão apostadas em cozinhar um caldinho em que todos nos poderemos queimar. E não se venha com o argumento da censura ou do mensageiro, sempre utilizado quando falta a razão.
5 comentários:
Pois. A crise da dívida europeia. Um fait divers sem interesse.
cada vez mais o jornalismo parece uma caça a desgraca e nao informacao
Bjinhos
Paula
Aqui temos um caso, de gente que parece não ter percebido o PM quando optou como optou na viagem a Bruxelas.
Com toda a propriedade, na RTP.
O problema da de uma velha lei da física: da inércia.
Não seja pela falta de dinheiro, como meter juízo nas cabeças desta gente?
Como evitar esta tendência para a asneira?
Eu não vos disse - aqui há duas semanas atrás - que os gregos estavam a ficar zangados e quando isso acontecesse "tínhamos a burra nas couves"?
Pronto, em relação à Grécia, "a burra está nas couves" e ao que parece vai espezinhar a horta toda. O acontecimento, em si, não me choca. O que me choca é não terem antecipado que tal iria acontecer e não tivessem tentado impedir que acontecesse ou, pelo menos, fazer um controlo de danos.
Em relação aos média, não me parece mal que queiram estar em cima do acontecimento. É suposto que isso aconteça e é isso que eles fazem. Eles reportam e informam, embora - pela amostra - estejam mais na fase do "reportam" e não na fase do "informam". Independentemente de gostarmos, ou não, da maneira como a notícia é apresentada, a verdade é que temos - na ponta dos nossos dedos - o poder de mudar de canal, o que equivale a dizer que temos a capacidade de distinguir o lixo informativo daquilo que não o é.
Quanto à questão do manual, Dr. PC... isso parece-me um tanto ou quanto exagerado só por uma simples razão; qualquer grupo ou indíviduo, que tenha por intenção provocar uma situação dessas, não precisa de ver o telejornal para ficar a saber como se faz. Simplesmente procura no google ou no youtube e adquire formação por uma via informal. Foi o que eu fiz quando estava interessada nas acções dos "Black Bloc" e quis saber como é que eles operavam.
Qualquer pessoa, de intenções menos claras, tem hoje acesso um manancial de informação que não passa - necessariamente - pela televisão e não passa mesmo nada pela rádio.
Por outro lado, toda esta situação só me faz lembrar das vagas nacionalistas que assolaram a Europa no século XIX. A única diferença é que a informação chega agora muito mais depressa e através de imagens (o que permite ao sujeito estabelecer, automaticamente, laços de empatia com quem está naquela situação a quilómetros de distância).
Se me perguntar se esta é uma situação perigosa para um país que - por motivos óbvios - que também está metido num lindo molho de bróculos, é. Mas é isso que torna estas coisas todas num desafio tão interessante, ou não é? É em situações assim que emergem os grandes estadistas, ou não é? Todos nós precisamos dos nossos heróis, seja em termos individuais, seja em termos colectivos e se calhar estamos a precisar de nos queimar.
Nada disto quer dizer que eu concordo com a falta de critério ou de cultura das redacções editoriais, porque não concordo, mas...
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