Não há talvez melhor retrato de um povo do que participar numa festa de família. Por estranhas voltas do destino pertenço agora, por afinidade, a uma família grega e esta, por afinidade, passou a pertencer à minha família. A cerimónia religiosa que celebrou o casamento foi mista, católica e ortodoxa grega e a festa que se seguiu juntou por algumas horas os núcleos mais próximos de cada um dos lados. Os dois sacerdotes, o católico e o grego ortodoxo, que se propuseram de imediato fazer a celebração conjunta, destacaram de modo simples e comovente a importância e a responsabilidade de levar a par a aceitação das duas formas de celebrar a Fé e de respeitar os ritos e crenças de cada ou, por outras palavras, dois modos diferentes de dizer a mesma coisa. Na aparência tão distintos, os símbolos querem afinal significar os mesmos valores, sublinhar as mesmas responsabilidades e fazer prometer o mesmo caminho, o amor e a compreensão, o respeito e a fidelidade, na alegria e na tristeza, até que a morte separe o que Deus uniu.
A beleza do ritual ortodoxo grego é imensa, e divide-se em duas partes, a celebração do noivado, ou promessa, e o sacramento do matrimónio. Na primeira, depois de o sacerdote abençoar as alianças sobre o altar, os padrinhos (koumbaros/a) trocam-na três vezes nos dedos anelares dos noivos, simbolizando a força da união do casal. Seguem-se as quatro fases da sagração do matrimónio: as orações do sacerdote, durante as quais os noivos mantêm as mãos unidas; a coroação, ou "stefana", em que o sacerdote coloca duas coroas brancas, unidas por uma fita, na cabeça dos noivos, simbolizando que são agora o rei e a rainha da sua casa e família, e os "koumbaros" trocam as coroas três vezes, simbolizando a Santíssima Trindade. As coroas ficam a unir os noivos até ao fim celebração. Segue-se a benção da taça com vinho, da qual cada noivo deve beber três vezes, em invocação das Bodas de Canaã e símbolo da partilha futura de alegrias e tristezas, sendo também um voto de harmonia no futuro. Por fim, há a dança cerimonial, expressão da alegria e dos primeiros passos na vida que ambos prometem seguir em conjunto. Nesta dança, o sacerdote guia os noivos, seguidos pelos padrinhos, em três voltas ao altar, após o que lhes retira as coroas e os abençoa, lembrando-lhes que a partir de agora devem seguir juntos toda a vida. Sobre o altar, na bandeja com o Evangelho, as coroas, as alianças e o cálice, está também a "koufeta", que são amêndoas brancas espalhadas com abundância, símbolo da pureza e da fertilidade, que são depois oferecidas a todos os que assistiram à cerimónia, cumprindo a tradição popular grega. As amêndoas são amargas e doces, numa mistura resistente e indivisível, e fazem-se votos para que os noivos encontrem na sua vida mais doçura que amargura mas que a ambos respondam unidos pela força do seu amor, tal como a "koufeta" simboliza.
A alegria presente em toda a cerimónia fez daquele um momento mágico, em que o amor uniu dois jovens, duas religiões, duas culturas e uma extraordinária boa vontade de todos os que contribuíram para este momento perfeito.