As declarações de George Bush no princípio deste mês relativas ao direito de nas escolas americanas se poderem ensinar “diferentes ideias e teorias” sobre a origem e evolução da humanidade reacendeu o debate na sociedade americana entre creacionistas e evolucionistas. Os primeiros desejosos de validar a “cientificidade” de uma concepção religiosa, os segundos cerrando fileiras em torno da diferença entre crença e ciência.
Mas o que o discurso de Bush traz como novidade para a opinião pública é a alusão à chamada “intelligent design theory”, uma visão que desafia o adquirido científico e promove a ideia da existência de uma força “invisível” por detrás do desenvolvimento da humanidade.
Aparentemente, poderíamos pensar que se trata de uma espécie de neo-creacionismo, um segundo fôlego mais sustentado e verosímil dos creacionistas no eterno combate pela afirmação das suas posições, maioritariamente identificadas com os grupos cristãos. Só aparentemente!
Num artigo publicado em 2004 nos Proceedings of Biological Society of Washington, mas só recentemente tornado acessível na net, o Dr. Stephen C. Meyer argumenta que nenhuma teoria materialista da evolução dá qualquer contributo para identificar a origem da informação necessária para construir novas formas animais. Ele propõe o “intelligent design” como uma explicação alternativa para a origem da informação biológica necessária. O próprio título do artigo é elucidativo: “Intelligent design: the origin of biological information and the higher taxonomic categories”.
Vale a pena ler.
4 comentários:
É...
Nós aqui na Europa estamos muito à frente. Aliás, nós estamos tão à frente, mas tão à frente que, meia volta não vemos o que está mesmo debaixo do nosso nariz.
Como diria alguém: «Todos os cisnes são brancos.»... até ao dia.
Tenho acompanhado, desde há alguns anos, a posição dos defensores do criacionismo quer seja inteligente ou menos inteligente. Existe uma concertação de cariz político e religioso tentando, a todo o transe, preservar certos conceitos, os quais podem ser abalados pelas novas e constantes descobertas científicas.
A tentativa de por no mesmo plano (científico) a teoria evolucionista e o dogmatismo criacionista é injusta, desequilibrada e vai ser fonte de problemas.
Estamos na Europa? Pois estamos. Mas em breve o debate sobre estes temas vão ocorrer, também, entre nós.
O papa João Paulo II não viu qualquer incompatibilidade entre a teoria evolucionista e as doutrinas da Igreja Católica. Até a considerou como uma bela hipótese. No entanto, o Cardeal Schonborn, recentemente, num editorial do Times veio a terreiro posicionar-se contra o neo-darwinismo. Admite – sim senhor – a possibilidade de uma evolução a partir de um ancestral comum, mas que por detrás desse ancestral comum está a mão de Deus. Mesmo dentro da Igreja as coisas não são pacíficas. Basta ver a posição do astrónomo do Vaticano, o jesuíta George Cayne, que acusou o Cardeal de “darken(ing) the already murky waters”.
Os movimentos pró-criacionistas podem fazer o que lhes apetece e tentar ensinar as suas convicções a quem as queira “receber”. Mas, colocarem-se em pé de igualdade com a teoria evolucionista é uma afronta, sobretudo quando pretendem que o ensino se faça em paralelo nas aulas de biologia. Que ensinem nas aulas de religião. Até porque na perspectiva popperiana do falsificacionismo, se aparecer um cisne negro na teoria evolucionista não constitui nenhum drama. As teorias devem ser elaboradas de tal forma que permitam ver cisnes de todas as cores e tamanhos. O pior é que no “criacionismo inteligente” não nos é permitido ver se há ou não cisnes negros…
«Que ensinem nas aulas de religião. Até porque na perspectiva popperiana do falsificacionismo, se aparecer um cisne negro na teoria evolucionista não constitui nenhum drama. As teorias devem ser elaboradas de tal forma que permitam ver cisnes de todas as cores e tamanhos. O pior é que no “criacionismo inteligente” não nos é permitido ver se há ou não cisnes negros…»
Falou e disse, embora a parte de ver os cisnes de todas as cores e tamanhos já seja um bocado mais complicado. O acautelar de todas as hipóteses apenas faz com que uma determinada teoria dure mais tempo.
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