A forma como a actual campanha autárquica tem decorrido ficará marcada pelas quatro candidaturas independentes concorrentes a outras tantas autarquias. De comum há o facto de elas serem protagonizadas por candidatos com uma assinalável notoriedade pública, com uma experiência autárquica valorizada por vitórias anteriores, de estarem a braços com processos judiciais, de se apresentarem, à revelia das estruturas partidárias que antes os apoiaram, como candidatos independentes e de se perspectivar para qualquer delas vitórias mais ou menos esperadas.
Estas seis características comuns, independentemente da sua graduação para cada caso, constituem motivo mais do que suficiente para constituírem objecto privilegiado de comunicação, reflexão e debate acalorado na opinião pública em geral e nas respectivas comunidades de eleitores, em particular. Digamos que se trata de uma combinatória mais do que suficiente para que as atenções se centrem exclusivamente nesses quatro candidatos, ignorando tudo o que de semelhante possa existir no resto do país. Dessa focalização à diabolização mediática é um passo quase inevitável.
O efeito de cortina que resulta para todos os restantes casos é uma vantagem não despicienda dado que permite a todos os outros candidatos subtraírem-se à polémica e ao ónus da suspeição sobre o seu desempenho de cargos públicos. Quando os focos tendem a centrar-se sobre um conjunto reduzido de pontos é natural que aumente a sombra no resto do cenário. Mas há dois outros efeitos: em primeiro lugar, a intensidade da focagem é tal que tende a homogeneizar as características comuns e a esbater as diferenças entre todos os casos; em segundo lugar, todos os que se confrontam com esses candidatos tendem a ser identificados como uma “inquestionável” reserva de virtudes éticas e morais.
(A continuar, os comentários serão abertos na última nota)
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