As notícias sobre a corrente dos negacionistas do Holocausto são preocupantes. É mais do que óbvio o interesse político de certos países do Médio Oriente em por em causa o estado de Israel. Mais difícil de compreender é a realização de uma conferência, envolvendo representantes de 30 países, a realizar pelo Governo iraniano, para se pronunciarem sobre a sua existência ou não.
Quem diria que um português vai estar presente! A notícia descreve-o como um perfeito negacionista que considera o Holocausto "um álibi perfeito para o Estado de Israel".
Independentemente do papel menos positivo que possa ser atribuído à política judaica, não é admissível questionar o genocídio dos judeus. A este propósito, recordo-me, com uma nitidez perturbante, as imagens que folheei, quando tinha 10 ou 11 anos, numa enciclopédia histórica do pai de um amigo que tinha feito recentemente a sua aquisição. Às escondidas mirávamos, incrédulos, as fotos de mulheres e homens enforcados, corpos esqueléticos de crianças, homens e mulheres “sorrindo” sofrimento. Ficávamos meio aparvalhados a olhar um para o outro, perguntando o que era aquilo. Não questionávamos os nossos pais com medo que nos ralhassem por andarmos, na típica curiosidade infantil, a vasculhar coisas proibidas, e ainda por cima com corpos nus. Mas a curiosidade era tanta que ficávamos à coca de qualquer conversa sobre a matéria daqueles estranhos livros. Foi assim que aprendi, ou antes, comecei a compreender, o que tinha sido feito aos judeus pelos alemães durante a guerra, fazendo de conta que estava a léguas de distância distraído com as minhas brincadeiras. Não conseguia compreender as razões de tamanha maldade que muitas vezes perturbou o meu sono, transformando os sonhos em horríveis pesadelos. Com o tempo, a minha curiosidade não teve limites sobre o que efectivamente tinha acontecido. Ainda hoje, quando sou confrontado com notícias, filmes, livros, crónicas e factos que descrevam aquele terrível período, os meus sentidos despertam com a mesma intensidade incomodativa quando tinha dez anos, fazendo emergir as tais imagens que não consigo esquecer. Agora, o aparecimento desconcertante deste estranho movimento, pondo em causa a tragédia daqueles tempos, provoca-me náuseas e um sentimento de repulsa, porque viola a memória de todos os que foram vítimas da ignomínia nazi e ofensiva do respeito dos que carregam sem culpa a culpa dos carrascos, perguntando como foi possível que membros da espécie "mais evoluída" fossem capazes das mais horríveis atrocidades face a seres humanos.
Quem diria que um português vai estar presente! A notícia descreve-o como um perfeito negacionista que considera o Holocausto "um álibi perfeito para o Estado de Israel".
Independentemente do papel menos positivo que possa ser atribuído à política judaica, não é admissível questionar o genocídio dos judeus. A este propósito, recordo-me, com uma nitidez perturbante, as imagens que folheei, quando tinha 10 ou 11 anos, numa enciclopédia histórica do pai de um amigo que tinha feito recentemente a sua aquisição. Às escondidas mirávamos, incrédulos, as fotos de mulheres e homens enforcados, corpos esqueléticos de crianças, homens e mulheres “sorrindo” sofrimento. Ficávamos meio aparvalhados a olhar um para o outro, perguntando o que era aquilo. Não questionávamos os nossos pais com medo que nos ralhassem por andarmos, na típica curiosidade infantil, a vasculhar coisas proibidas, e ainda por cima com corpos nus. Mas a curiosidade era tanta que ficávamos à coca de qualquer conversa sobre a matéria daqueles estranhos livros. Foi assim que aprendi, ou antes, comecei a compreender, o que tinha sido feito aos judeus pelos alemães durante a guerra, fazendo de conta que estava a léguas de distância distraído com as minhas brincadeiras. Não conseguia compreender as razões de tamanha maldade que muitas vezes perturbou o meu sono, transformando os sonhos em horríveis pesadelos. Com o tempo, a minha curiosidade não teve limites sobre o que efectivamente tinha acontecido. Ainda hoje, quando sou confrontado com notícias, filmes, livros, crónicas e factos que descrevam aquele terrível período, os meus sentidos despertam com a mesma intensidade incomodativa quando tinha dez anos, fazendo emergir as tais imagens que não consigo esquecer. Agora, o aparecimento desconcertante deste estranho movimento, pondo em causa a tragédia daqueles tempos, provoca-me náuseas e um sentimento de repulsa, porque viola a memória de todos os que foram vítimas da ignomínia nazi e ofensiva do respeito dos que carregam sem culpa a culpa dos carrascos, perguntando como foi possível que membros da espécie "mais evoluída" fossem capazes das mais horríveis atrocidades face a seres humanos.
Estaria Deus distraído?...
5 comentários:
Prof. Salvador Massano Cardoso,
De cor, de uma leitura única, vejo o seu texto tentativamente um pouco objectivo, tentativamente um pouco emocional. Nada contra si. Nem contra ninguém. Sou a favor de toda a gente. O problema reside em a quem dar a razão de um ponto de vista moral, por um lado, e a quem a dar de um ponto de vista político, por outro.
Vejamos. O holocausto é uma palavra bastante agressiva, quase contendo em si própria uma venda fácil ao público – pela brutalidade que encerra. Pergunto-me se não se poderá aplicar a mesma palavra, então, ao que aconteceu, cronologicamente para trás, no Cambodja, na China e na Rússia. Para citar alguns dos tristes exemplos do que foi capaz – e continuará a ser - a maldade humana no séc. XX, ao serviço de ideologias doentias, que sabem elas mesmas que existe um preço de uma quota da população a liquidar para a sua realização.
Dito isto, não se insurja contra mim. Penso saber alguma coisa – um dos muitos assuntos que faço o possível por estudar com primor, há décadas – do que foi o genocídio dos judeus na Alemanha nacional-socialista, sobretudo a partir da sua tomada de consciência – dos nazis, não dos alemães – de que a guerra não tinha quaisquer hipóteses de ser ganha. O fenómeno dá-se em 1944 e o que resta de 1945.
Até bastante tarde, os judeus foram “convidados” a sair da Alemanha. Em Portugal, passou-se rigorosamente o mesmo fenómeno: primeiro há, de um ponto de vista legal, uma forte pressão para os judeus saírem – pura e simplesmente. Estamos no séc.XVI. Se saírem, deixam atrás o seu negócio, os seus haveres – coisa inadmissível, claro. Foi por isso que muitos ficaram em Portugal – e em Espanha – convertendo-se ao Cristianismo.
Não pretendo – até porque não teria êxito – pôr em causa os campos de concentração para os judeus. Pretendo acrescentar, numa taxa de 10 a 15%, os ciganos, para além de outras “super” minorias, como opositores políticos, homossexuais, uma parte dos padres católicos e luteranos, freiras, etc.
Naturalmente, ninguém vai pôr em causa a falta de fotogenia dos campos de detenção. Vale a pena fixar que o termo “campos de concentração” foi perfeitamente normal até muito tarde, mesmo correcto – quando aplicado a prisioneiros de guerra, a populações deslocadas, etc. Em si, este termo não contém nada de desumano. Os militares Portugueses feitos prisioneiros pela União Indiana, no Estado da Índia, foram para campos de concentração.
É verdade que, se se for à Polónia ou à Lituânia, por exemplo, o “negacionismo” é convicção absoluta da maioria da população. E por mais que os judeus “vendam” a imagem – o que fazem sem cessar, através de todos os meios audio-visuais, ainda por cima norte-americanos – não logram nem vão lograr ganhos por aí. Porquê? Pergunte-lhes aos judeus. As matanças maiores – que não foram em campos de concentração – ocorreram nesses países e nesse tempo, muito depressa e sem o sempre diabo nacional-socialista (diabo execrável a muitos títulos).
Como certamente sabe, há em alguns países europeus legislação que proíbe o “negacionismo”. Isto é, se disser que não foram liquidados seis milhões de judeus pelos nazis, vai parar à cadeia – depois de paga churuda multa. Felizmente, neste terceiromundista e futelobeiro Portugal, tal legislação – apesar de pesada pressão judaica – é inexistente. E, como é inexistente, eu posso dizer, sem ser detido e condenado, que não se faz História falsa para capitalizar o que depois se faz no Médio Oriente. Essa é a questão. Ou será que as pessoas são idiotas? Ninguém na Europa, por mais propagandísticas produções cinematográficas e televisivas – norte-americanas, pois claro – vai acreditar que isto é tudo por acaso e que os judeus foram as únicas e massacradas pessoas do mundo.
Os chineses devem morrer a rir com isto tudo. Não tenho respeito nenhum por gargalhadas alvares sobre esta ou aquela tragédia. Até porque negoceio com asiáticos – os japoneses estão à parte, claro – com norte-americanos, com sul-americanos. Não se brinca com coisas sérias, como concordará totalmente comigo. Preocupa-me, em especial, o que vai acontecer no Médio Oriente. Não é já, vai demorar. Mas há quem lá esteja instalado – não sem direito – à conta dos norte-americanos. Sempre a falar no holocausto, todas as semanas. E sempre a culpar a Europa, historicamente, e daí extrair todos os dividendos necessários.
A Europa paga uma factura demasiado cara por causa do… holocausto. Isso é que me preocupa – e preocupa metade dos europeus civilizados, reféns de uma ratoeira bem montada. Mas porquê esta ganância, esta antipatia feroz? A Península Ibérica e o antigo Império Austro-Húngaro, catolissíssimos, conviveram durante séculos com os muçulmanos – sem maiores tragédias e até sob uma mais do que razoável compreensão mútua.
Muito mais, como calcula, teria para dizer-lhe sobre o assunto, altamente politizado. Dois mais dois são mesmo quatro, também para mim – não só para o Senhor Prof. Salvador Massano Cardoso nem para o Senhor Dr. Tavares Moreira, pessoas por quem nutro real admiração. Mas falar destas coisas – com a deprimente recordação de fotografias e testemunhos – é angustiante. Angústia não compensa. O vexame do séc.XX é inesquecível, eu sei; veremos se, nesta política, avançaremos com alguma tranquilidade no séc.XXI.
...Caríssimo Sr. Antunes, o texto escrito pelo Sr. Salvador Massano Cardoso, reflectiu a meu ver, a repugnância natural pelos actos de genocídio praticados em particular contra o povo judeu, subentendendo-se ainda que a qualquer povo alvo e vítima da prepotência cometida por outro povo. Muito sinceramente, não vejo naquele texto outro aspecto a considerar e sobre o qual nunca será demais reflectir, que não seja a deplorável atrocidade da prática do holocausto que vitimou, 6 milhões... 5 milhões... 4 milhões... 1 milhão, 500 mil? Não são números que urge contabilizar, mas sim os actos gratuitos e pungentes de assassinato. Se hoje governos manipulam os nºs e as imágens, tentando retirar de ambos um proveito, não podemos, por esse facto, reduzir a dimenssão daquele e de outros actos que visaram extreminar seres humanos, na sua maioria inocentes vítimas dos prpósitos megalómanos de políticos. Concordo com a sua opinião, holocausto é efectivamente uma palavra que encerra um significado brutal, extremamente ofensívo, assim como o foram todos os actos de genocídio praticados ao longo dos séculos, contra judeus, ou contra qualquer outra raça, ou minoria étnica. Por isso a consciência humana os repudia e num tempo, que será provávelmente o correcto, os julga e os pune. O Sr. Massano Cardoso, termina o texto com uma pequena frase, que reflecte a extrema dúvida da humanidade "Estaria Deus distraído?..."Um amigo, que se define ateu, justifica a não existÊncia de Deus, com o seguinte raciocínio... Se Deus é omnipotente, então consegue fazer uma montanha tão pesada, que não consiga poder com ela. Eu contraponho, Deus somos todos nós, não física, mas espiritualmente, a imágem Dele, é a nossa, a Sua vós é a nossa, a Sua vontade é a nossa e é impossível não concluirmos que o nosso "caminho" é sempre no sentido de construirmos montanhas tão altas, que não possamos com elas.
Caro antunespedroso
Agradeço a sua intervenção que merece muita atenção e análise. Mas não podia deixar de dar uma opinião, mesmo que seja de cariz emocional. Certas vivências e “experiências” são estruturantes da nossa personalidade. Entre as muitas que tive, vivi e continuo a viver, conto esta, porque me marcou muito. Claro que há “outros aspectos” que só os estudiosos da matéria são capazes de dominar, como é o caso do senhor. Não me esqueci de todos os outros genocídios, quer tenham sido cometidos na África Central, Camboja, na Ucrânia, na Arménia ou em outros lugares. Todos têm uma leitura política e social, mas não deixam de expressar o lado mais negativo de uma espécie que se auto-intitula de inteligente e superior. E digo-lhe com toda a franqueza, por muito que conheça a nossa espécie e a sua evolução, e faço inúmeros esforços nesse sentido, não consigo compreender certos fenómenos. Há qualquer coisa que me escapa, mesmo que tenha de invocar os comportamentos mais arcaicos subjacentes ao nosso aparecimento.
Interprete a minha nota como uma mera reflexão e recordação pessoal na qual me afundei quando a li a notícia sobre o assunto e dizer-lhe que as tais fotos não me largam, porque as senti num período da minha vida em que não entendia certos fenómenos e, pelos vistos, apesar do tempo já decorrido e do muito que aprendi entretanto, parece que continuo a não perceber, mas que sinto, lá isso sinto, obrigando-me a perguntar se “Estaria Deus distraído?”…
Caro Prof. Salvador Massano Cardoso,
Creia que respeito muitíssimo os seus sentimentos sobre um assunto que, visível e compreensivelmente, o impressionou de sobremaneira.
O séc.XX foi uma verdadeira carnificina, uma monstruosidade inarrável, uma tragédia para além da nossa imaginação. Teve muitas coisas boas – nos mais diversos campos da realização humana – mas não conseguirá apagar-se, na História, como a época mais indecente da existência da humanidade.
Certamente não podemos viver obcecados com isso – que, como bem sabe, nos pode retirar capacidades intelectuais, precisamente indispensáveis tanto para garantir a qualidade da nossa labuta como o dispêndio do nosso tempo livre. Épocas houve para mim de difícil sono, tal o impacto produzido pelas minhas leituras, investigações e escritas sobre os mais variados momentos negros desse mesmo séc.XX.
Desculpe-me se, de um modo talvez demasiado mecânico, tenho irreprimível tendência para olhar o lado explicativo político dos acontecimentos, mais ainda do que económico. Sou amante da Economia e das Finanças – sobretudo destas últimas – e grande admirador de excelentes profissionais seus, magnificamente representados nesta 4R.
A parte política, nas causas e consequências dos fenómenos, é fundamental, embora se verifique uma tendência progressiva para já quase nada se fazer desprovido de interesse material. Se calhar, o modo como analiso – e procuro prever – o evoluir de situações, tanto no domínio nacional como na arena internacional, se deva a deformação académica, ou profissional, ou pessoal.
Mas garanto-lhe que não há dia que passe sem rezar a Deus, motivado pela esperança de um séc. XXI menos horroroso, pelos incontáveis milhões de mártires, conhecidos e desconhecidos, que pereceram às mãos dos mais detestáveis seres humanos – ou da pior manifestação da raça humana.
Meus caros amigos... Nem sei se vou conseguir dormir esta noite!
Vou ler a Lista de Schindler...não porque tenha duvidas, mas para que jamais as tenha!
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