O Prof. Massano Cardoso desafiou e aqui estou eu com mais uma história…à falta de concorrência, enquanto se resolvem os problemas informáticos no 4R!
O Marklin era o comboio eléctrico que fazia o sonho de qualquer homem adulto que tivesse mantido a sua alma de criança. Por isso ele aguardava ansioso o nascimento de um filho varão que lhe desse o pretexto para comprar a máquina. Tinha caído na asneira de fazer aquela promessa – “Se for um rapaz, compro um Marklin” e agora estava preso aquela premissa, mais tarde as filhas haviam de lhe cobrar a imprevidência –“Então não festejava se fosse uma filha porquê?” E ele respondia, meio envergonhado – “Foi uma patetice como outra qualquer, podia ter comprado o Marklin logo à primeira…”
A família soube logo que o 5º filho era um rapaz quando o viu chegar, radiante, com um grande embrulho debaixo do braço. E, em vez de dizerem “É um rapaz!” gritaram “Chegou o Marklin!”, como se se tivesse quebrado um enguiço
O comboio integrou o grupo por direito próprio e em pouco tempo cresceu em peças, carris, carruagens e figuras várias, a um ritmo tal que a pequena cidade ocupava em breve uma boa parte de um quarto que lhe estava dedicado.
O problema pôs-se quando foi preciso fazer o Presépio e já não havia onde o montar. Nem pensar em deixar na caixa algumas peças do Presépio e estava fora de questão desalojar o brinquedo.
Foi então que ele teve a ideia:”Vamos ter o Presépio mais giro que já se viu, com um comboio eléctrico a passar junto às palhinhas!” E meteu-se a construir uma montanha de papel verde e castanho, com uma armação de arame que lhe garantia a forma irregular, com socalcos para as figurinhas se manterem em pé, um planalto para a cabana, uns pedregulhos para os camelos dos Reis Magos. A montanha tinha um túnel de lés a lés e era armada bem no meio do estaleiro do Marklin. Desviavam-se os carris para passarem o túnel e, até ao Dia de Reis, o comboio enfeitava o Presépio, ou o Presépio enquadrava o comboio, quem é que vai decidir?, passando sem cessar por entre o musgo e as ovelhas, cancelas que subiam e desciam, o castelo de Herodes, os pastores ajoelhados ou o poço da Samaritana, a uma distância prudente da cabana de Belém e do caminho íngreme por onde seguiam pachorrentamente os camelos com os Reis Magos. Mais tarde, fez-se um desvio para dar espaço à banda de música, que ficou em equilíbrio instável no sopé da montanha, junto à nora.
A única coisa que ofuscava o Marklin e o seu ronronar monótono era a estrela que brilhava por cima da cabana, a acender e a apagar, como se estivesse suspensa no céu a iluminar o mundo de contrastes impossíveis, onde se fez espaço para todas as vontades.
O Marklin era o comboio eléctrico que fazia o sonho de qualquer homem adulto que tivesse mantido a sua alma de criança. Por isso ele aguardava ansioso o nascimento de um filho varão que lhe desse o pretexto para comprar a máquina. Tinha caído na asneira de fazer aquela promessa – “Se for um rapaz, compro um Marklin” e agora estava preso aquela premissa, mais tarde as filhas haviam de lhe cobrar a imprevidência –“Então não festejava se fosse uma filha porquê?” E ele respondia, meio envergonhado – “Foi uma patetice como outra qualquer, podia ter comprado o Marklin logo à primeira…”
A família soube logo que o 5º filho era um rapaz quando o viu chegar, radiante, com um grande embrulho debaixo do braço. E, em vez de dizerem “É um rapaz!” gritaram “Chegou o Marklin!”, como se se tivesse quebrado um enguiço
O comboio integrou o grupo por direito próprio e em pouco tempo cresceu em peças, carris, carruagens e figuras várias, a um ritmo tal que a pequena cidade ocupava em breve uma boa parte de um quarto que lhe estava dedicado.
O problema pôs-se quando foi preciso fazer o Presépio e já não havia onde o montar. Nem pensar em deixar na caixa algumas peças do Presépio e estava fora de questão desalojar o brinquedo.
Foi então que ele teve a ideia:”Vamos ter o Presépio mais giro que já se viu, com um comboio eléctrico a passar junto às palhinhas!” E meteu-se a construir uma montanha de papel verde e castanho, com uma armação de arame que lhe garantia a forma irregular, com socalcos para as figurinhas se manterem em pé, um planalto para a cabana, uns pedregulhos para os camelos dos Reis Magos. A montanha tinha um túnel de lés a lés e era armada bem no meio do estaleiro do Marklin. Desviavam-se os carris para passarem o túnel e, até ao Dia de Reis, o comboio enfeitava o Presépio, ou o Presépio enquadrava o comboio, quem é que vai decidir?, passando sem cessar por entre o musgo e as ovelhas, cancelas que subiam e desciam, o castelo de Herodes, os pastores ajoelhados ou o poço da Samaritana, a uma distância prudente da cabana de Belém e do caminho íngreme por onde seguiam pachorrentamente os camelos com os Reis Magos. Mais tarde, fez-se um desvio para dar espaço à banda de música, que ficou em equilíbrio instável no sopé da montanha, junto à nora.
A única coisa que ofuscava o Marklin e o seu ronronar monótono era a estrela que brilhava por cima da cabana, a acender e a apagar, como se estivesse suspensa no céu a iluminar o mundo de contrastes impossíveis, onde se fez espaço para todas as vontades.
8 comentários:
Cara Suzana
Aqui está uma bela prenda que vai deliciar todos os que partilham do “nosso” espaço. É uma história encantadora, e garanto-lhe que consegui ”ver” todos os pormenores, contornos e até o amor na construção do presépio. Confesso-lhe que tenho a sensação de ter estado presente… Obrigado
Foi um gosto, Prof. Massano, foi um gosto oferecer-lhe esta viagem no Marklin...
Plagiando o prof Massano, gozei o beleza, vi os pormenores, senti os afectos que aqueciam aquele presépio em tempo frio do Natal.
Os seus contos são sempre espaços de encanto.
Bom Natal
Rui Vasco
É vulgar dizermos que o Natal é tempo de amor. FELIZ Natal escrevemos uns aos outros. O Natal é sobretudo das crianças, afirmamos ao mesmo tempo que lhes trazemos mais um presente, um Marklin, uma boneca, a bola desejada. Mas...será assim com todos. Mais: será assim com todas as crianças, deste País, deste Mundo? Sabemos que não. Que o Natal, seja feliz para todos vós, mas que nenhum de nós esqueça, que na casa ao lado, poderá não ser bem assim! Nâo temos o direito de o fazer.
Por isso vos deixo um texto que nos conta o Natal da Sara, uma menina que tambem desejava uma boneca!
"O meu nome é ""Sara"" tenho 3 anos
Os meus olhos estão inchados, não consigo ver.
Eu devo ser estúpida, eu devo ser má,
O que mais poderia pôr o meu pai em tal estado?
Eu gostaria de ser melhor, Gostaria de ser menos feia.
Então, talvez a minha mãe me viesse sempre dar miminhos.
Eu não posso falar, Eu não posso fazer asneiras,
Senão fico trancada todo o dia.
Quando eu acordo estou sozinha, A casa está escura,
Os meus pais não estão em casa.
Quando a minha mãe chega, eu tento ser amável,
Senão talvez levasse uma chicotada à noite.
Não faças barulho! Acabo de ouvir um carro,
O meu pai chega do bar do Carlos. Ouço-o dizer palavrões.
Ele chama-me. Eu aperto-me contra o muro.
Tento-me esconder dos seus olhos demoníacos.
Tenho tanto medo agora, Começo a chorar.
Ele encontra-me a chorar, Ele atira-me com palavras más,
Ele diz que a culpa é minha, que ele sofra no trabalho.
Ele esbofeteia-me e bate-me, E berra comigo ainda mais,
Eu liberto-me finalmente e corro até à porta. Ele já a trancou.
Eu enrolo-me toda em bola, Ele agarra em mim e lança-me contra o muro. Eu caio no chão com os meus ossos quase partidos,
E o meu dia continua com horríveis palavras...
"Eu lamento muito!", eu grito! Mas já é tarde de mais
O seu rosto tornou-se num ódio inimaginável.
O mal e as feridas mais e mais, "Menino Jesus, por favor, tem piedade! Ajuda-me!
Faz com que isto acabe por favor!"
E finalmente ele pára, e vai para a porta, Enquanto eu fico deitada,
Imóvel no chão.
O meu nome é "Sara" Tenho 3 anos,
Esta noite de Natal o meu pai “matou-me”.
Caro Professor Massano Cardoso, faça-nos o favor de pedir mais vezes à Suzana que escreva. Para nosso deleite.
Meu caro RuiVasco, tem absoluta razão. Neste período é necessário não esquecer o sofrimento e a infelicidade das muitas "Saras".
É terrível a história da Sara, também aí podemos "ver" a cena a desenrolar-se mas custa-nos a crer em tanta crueldade. O que será essa menina quando for grande, como é que vai ser capaz de confiar em si própria e nos outros?E como é que se pode defender de um pai desses, se possivelmente a própria mãe é vítima desse selvagem?A igualdade de oportunidade é uma utopia...
Cara Suzana:
Mas que bonita recordação e que bela inventiva essa de integrar comboio e presépio!...
Verifico que na sua família muito se promete e muito se cumpre, desde serviços de Vista Alegre a comboios...
A Suzana não me quer prometer nada?
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