Muitas vezes, quando se aproxima o fim do ano ou se inicia o Ano Novo, as pessoas tendem a raciocinar de modo perdulário, encarando o exercício dos passados doze meses como inútil, vazio, com muitos problemas e angústias, de meros sacrifícios contínuos. O ano viveu-se, mas não adiantou coisa nenhuma. Foi mais um (ou pior, menos um). Soube a pouco ou não serviu para nada. Ás vezes num acto de razoabilidade diz-se que o ano não foi mau.
Existem, claro está, explicações para este estado de espírito. Por exemplo, a falta de perspectivas gerais da sociedade e a sua mediocridade que, como se dela não fizéssemos parte, observamos diariamente no desempenho profissional, nas relações humanas, na rua. Tudo reprovamos: a classe e os decisores políticos a que o País está entregue, o baixo nível de vida, o comportamento e a desobediência pública generalizada.
Há uns anos atrás, lá fora, uma pessoa minha amiga lamentava-se no final do ano, junto de um grupo restrito de pessoas, sobre a sua vida durante esse mesmo ano. Houve um britânico que lhe sugeriu algo simples e útil: porque não procurava, naquele exercício de mera verificação de não ganhos (portanto, de perdas), identificar os momentos altos, os highlights do ano, aqueles em que tinha sido actor?
Quase infantilmente, porque de modo verdadeiro, espontâneo e sorridente, a pessoa minha amiga isolou dezassete momentos altos naquele ano – que tinham contado com o factor surpresa/novidade – todos de evidente grande bem-estar pessoal. Apontou alguns acontecimentos familiares, factos profissionais, belos trechos de visitas e de passeios culturais, paisagísticos e gastronómicos, cenas cómicas, rodas de amigos especiais, ambientes de encanto, etc. A taxa obtida, por isso, foi de quase 1,5% momentos de antologia por mês. Nada mau - confessou.
Não nos devemos subestimar nem intimidar por condições pretensamente adversas, mas antes ser capazes de manter uma autonomia de satisfação e de demonstrá-lo ao próximo - para o influenciar positivamente. Contribuimos, afinal, para a melhoria do nosso próprio bem-estar e do clima que nos rodeia. Não é nada que não saibamos; mas convém ter em mente uma coisa tão simples, pelo menos até ao Dia de Reis!
Nesta oportunidade, desejo a todos os 4Republicanos, comentadores e visitantes do 4R um Bom Ano 2007 e formulo votos de continuação de um excelente convívio neste espaço muito especial que é o 4R - Quarta República.
2 comentários:
É bem verdade, Margarida, não devemos "raciocinar de um modo perdulário"!È um exercício tão elementar e, no entanto, tão esquecido, esse de valorizarmos o que nos aconteceu de bom, recuperar na memória o prazer de ter vivido esses momentos, sem os ensombrarmos com "mas". É a única forma de nos apropriarmos plenamente dos momentos felizes, que nos darão ânimo para enfrentar com coragem os momentos menos felizes.
A si e a todos os viciados e viciáveis no 4r os meus votos amigos de um Ano Novo com muitas alegrias e vontade de usufruir plenamente cada dia que nos espera!
O texto em causa é interessante, pois dá aso a pensarmos um pouco sobre o que nos aconteceu durante o ano findo. É evidente que este exercício, à laia de balanço de activos e passivos, a vida é mesmo isso, constantemente, depende do nossa maneira de encarar os acontecimentos. O que para uns é positivo, para outros é negativo. Tudo vai de sermos optimistas ou pessimistas. É sabido que o conceito de felicidade depende de diversos factores e é profundamente aleatório nas suas origens e nos seus resultados. Enfim, basta de divagações. Boas Festas.
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