Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

A Promessa


Calem-me esta cegarrega!
(José Alves, quando a conversa já não tinha interesse nenhum)

Acho que nunca conheci uma mulher tão feia como aquela.
Era uma criatura atarracada, de um moreno sujo, com uma cara de lua cheia com duas continhas no lugar dos olhos, um nariz de batata e uma boca enorme onde ainda assim não cabiam os dentes todos. Chamava-se Maria do Céu, como uma provocação, mas todos a conheciam como “O Mastro”.
O Mastro vivia ansiosa por se casar e espalhava aos sete ventos que só não arranjava noivo porque não tinha enxoval e, nessa pobreza, não havia quem lhe pegasse na mão.
Morava na cave do prédio e, quando apanhava alguém nas escadas, era sempre a mesma cantiga. Cansado de ouvir as suas lamúrias, José Alves teve um dos seus ímpetos:
- Não seja por isso, mulher! Arranja lá o noivo, que nesse dia eu ofereço-te um serviço de jantar da Vista Alegre! – e contou em casa a sua liberalidade, perante a fúria da filha casadoira, que há muito lhe moía o juízo reclamando o serviço de pratos. Ele resistia ao pedido, afirmando que não sustentava vícios, o marido que lho comprasse, se a tanto lhe chegassem os pergaminhos.
Foi por causa dessa teima que se lembrou de fazer a promessa, assim como quem acha que era o mesmo que prometer a lua…Mas foi sossegando a mulher, que logo veio tirar cara pela filha, garantindo que não havia homem nenhum que se casasse com o Mastro nem que a visse coberta de ouro…
Até que um belo dia chegou a casa esbaforido.
- Não queres lá ver que o estafermo vai casar? Ele há cada um! Com tantas mulheres por aí, logo havia quem se embeiçasse pelo Mastro. Mesmo com o serviço de pratos, é obra…! E arrependia-se do seu impulso, a deitar contas à vida, que com aquela é que ele não contava.
Não teve outro remédio senão honrar a promessa e desviar as economias para a Vista Alegre e o sonho da filha para o bragal da outra. E o Mastro, de gratidão, ainda o convidou para padrinho…
Quando contava esta história, rematava sempre com a lição: “Fui buscar lã e vim tosquiado…!

5 comentários:

Tonibler disse...

"...uma boca enorme onde ainda assim não cabiam os dentes todos"????? :) Não posso concordar com estas referências às mulheres como se fossem objectos...:)

Suzana Toscano disse...

Ai é? Pois olhe que eu também li o post dos botões...:)

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Cara Suzana,
É caso para dizer "Quem feio ama, bonito lhe parece".
Pode levar tempo a encontrar, mas há sempre uma alma gémea algures...

RuiVasco disse...

E o Sr Jose Alves esqueceu-se que "há sempre um testo para uma panela..."!

Suzana Toscano disse...

Sem dúvida, os ditados cumpriram-se. E o feliz contemplado gabava-se que ao menos aquela ninguém lhe cobiçava...!