O dia 10 de Dezembro passará a assinalar a data em que a Assembleia-geral das Nações Unidas tornou universal a proibição do genocídio e a afirmação dos direitos humanos mas registará igualmente a morte de Pinochet.
É verdade Ferreira de Almeida! Ainda há pouco, quando ouvi a notícia sobre a morte do ex-ditador lembrei-me da nota da Margarida sobre o Dia Internacional da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Estas coincidências sempre ajudam a pensar...
Morreu um ditador! Só espero, sem ironia, que um dia, quando morrer, por exemplo, Fidel Castro, todas as noticias de radios e TVs comecem: "Morreu o ex-ditador Fidel Castro..."! Porue a declaração dos Direitos Humanos abrange todos e em todos os sentidos!
O General Augusto Pinochet Ugarte, um grande chileno, liderou - com a ajuda logística da Embaixada dos EUA, e bem - um golpe militar em 1973, que derrubou o governo presidido por Salvador Allende. Allende, eleito democraticamente, era um marxista utópico, boa pessoa e certamente bom pai de família, mas totalmente incapaz de impedir a derrocada da economia nacional, através de medidas anti-populares e, muito mais perigoso, de conter os comunistas. O General Augusto Pinochet, quando, por consulta popular voluntária, abandonou o poder, deixou um país desenvolvido, sólido, moderno e rico - um dos três únicos das Américas.
Em 1973, era inconcebível permitir mais um país comunista na América Latina. Ficarão por desvendar os planos de Moscovo em relação à tomada do poder no Chile - à semelhança de muitos outros casos nos anos ‘70, alguns bem sucedidos - mas é evidente que, neste particular, os EUA tomaram a dianteira sem hesitações.
Augusto Pinochet era um nacionalista. Tudo de bom para o Chile justificou o recurso temporário ou circunstancial ao estrangeiro. Só nesta óptica - em ditadura, convenhamos - se compreende a introdução de espectaculares e profundas reformas económicas e financeiras num país à beira do abismo político-económico-social. O Chile é o único caso conhecido da aplicação quase integral - e com êxito estrondoso - das teorias liberais e anti-estaduais da então chamada Escola de Chicago.
Ao momento ideal e às condições políticas, contou o Chile com outro importante factor: a sua população. É politicamente incorrecto afirmá-lo hoje, mas exacto defendê-lo amanhã: a origem da maioria da população chilena, o tipo de imigração de que beneficiou, é da Europa Central. Alemães, polacos, bálticos, alguns escandinavos, alguns italianos - até franceses, como o pai de Pinochet. O país não é tropical e nele não houve plantações de açúcar ou de café. Era primitivamente povoado por índios, mas poucos. O seu interesse económico, aliás, foi residual para os espanhóis. Tornou-se independente em 1818 e, muito diferentemente do Brasil também independente, nunca se decidiu pelo expediente da importação maciça de africanos.
Quando se vê a televisão ou se lêem os jornais e revistas, Pinochet logo aparece apontado como um dos ditadores mais repressivos do mundo. Há uma enorme diferença entre ditadura e totalitarismo: a primeira presume-se que é temporária, e permite várias liberdades fundamentais, como a propriedade e a economia de mercado e, não menos importante, o simples facto de se poder sair e reentrar livremente no país; o segundo, comunista, não admite nenhuma liberdade, nenhuma expressão que não seja geometricamente alinhada com a do regime, proíbe a propriedade privada, não deixa ninguém sair e abate continua e sistematicamente ao passivo todas as pessoas, grupos de pessoas ou populações que possam constituir um obstáculo, por qualquer forma, à concretização do sonho socialista. A primeira é sempre de pendor nacionalista; o segundo é sempre soviético. Por isso Pinochet, em 1975, respondeu a um jornalista, que lhe insinuou que havia presos políticos chilenos, que "não são chilenos, são comunistas".
Mesmo em números muito menores do que aqueles que os jornalistas vendem, são lamentáveis as violações dos direitos humanos e os assassínios permitidos pela cimentação dos primeiros tempos da ditadura pinochetista. Mas exibir, actualmente, camisolas do internacionalista comunista argentino Ernesto Guevara é um insulto ao respeito pela mais elementar dignidade humana: presidindo a um dos muitos tribunais populares então montados, o Guevara foi pessoalmente responsável por 900 execuções só num mês de revolução cubana, ao ponto dos próprios irmãos Castro terem comentado, em tom privado, que estava a exceder-se um pouco no zelo. São estas realidades que é necessário conhecer na América Latina, sobretudo a dos anos ’60 e ’70. Quanto aos anos ’80, ’90 e a esta primeira década do séc.XXI, em termos sociais de pobreza e riqueza, basta ir ao Chile e compará-lo com todo o resto da América Latina; ou então voar de Lima, capital do vizinho Peru, para Santiago: a proporção é igual à de viajar de Islamabad para Zurique.
É verdade que o ex-ditador Augusto Pinochet morreu sem deixar saudade, mas não deixa de ser contrastante com outras práticas, tidas até por revolucionárias, a forma como exerceu a sua Ditadura, terminando por permitir uma saída democrática para o Chile.
Quantos outros ditadores o terão feito, sobretudo os idolatrados por uma certa esquerda, muito selectiva na distribuição dos seus ódios e indignações ?
Convém sublinhar bem este aspecto, quando se não deseja o triunfo da execrável bitola dos dois pesos e das duas medidas.
Para muitos, infelizmente, ela tem curso corrente, porque todos os princípios lhes são meramente instrumentais.
Ninguém tem vontade de o impedir de ler os jornais socialistas El Diario e Le Monde, e de sugerir às pessoas aquilo que diz a filha do Presidente Salvador Allende – uma escritora de relevo, sem qualquer dúvida. Mas isso não é cultura política e, muito menos, económica. Aliás, conheço relativamente bem uma parte da literatura chilena, belíssima – que inclui Pablo Neruda, comunista. Não lhe sugiro a si que leia nada. Não é necessário.
Quanto à sua referência aos dinheiros ilícitos do General Pinochet, explico-lhe, por uma questão de ética muito apreciada neste blog, que, à semelhança do que aconteceu noutras ditaduras e regimes autoritários, saíram da contabilidade pública montantes que foram depositados em nome individual, para fazer face a gastos “ilegais”, de qualquer modo publicamente injustificáveis, como os relativos às dispendiosas acções dos serviços de informação.
É claro que o nosso amigo Antunes Pedroso exagera um pouco na sua análise à figura de Pinochet. Verdade yambem é que o Jorge Lucio na sua critica a A Pedroso ao falar da democracia de Allende, esquece depois que Pinochet que, com todos os seus erros politicos, conseguiu uma recuperaçao economica num país em descalabro ao tempo de Allende. Quanto ás contas pessoais e contas no exterior, por desvios de dinheiros publicos, é melhor, que seja de esquerda ou de direita, se aponte o erro, mas não se apontem regimes, pessoas, de direita ou de esquerda. Sabe porquê Jorge Lucio? Porque sempre houve ditadores de esquerda ou de direita, a fazer o mesmo! De esquerda dar-lhe -ia muitos, de direita tb! Por isso, nestes casos é melhor ninguem dizer nada - ou entao qd diz fale de todos! Diz o Jorge Lucio que um dia que alguem venha aqui elogiar Fidel vc virá criticar esses elogios...( vou aguardar ansioso, a sua posição, não a morte do homem!) mas entretanto, mantem-se calado, e faz de conta, assobiando para o ar! Ficam-se as criticas apenas para um lado e os outros vão sobrevivendo imunes. Não me parece justo! E leiam, leiam muito. O Neruda e outros semelhantes. Como são todos muito cultos já leram todos o Neruda! OK. Então leiam a Suzana Toscano e os dramas do José Alves! Tambem aprenderão muito.
8 comentários:
É verdade Ferreira de Almeida! Ainda há pouco, quando ouvi a notícia sobre a morte do ex-ditador lembrei-me da nota da Margarida sobre o Dia Internacional da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Estas coincidências sempre ajudam a pensar...
Morreu um ditador!
Só espero, sem ironia, que um dia, quando morrer, por exemplo, Fidel Castro, todas as noticias de radios e TVs comecem: "Morreu o ex-ditador Fidel Castro..."!
Porue a declaração dos Direitos Humanos abrange todos e em todos os sentidos!
Duvido, RuiVasco, duvido...
Creio que abrirão com uma peça glorificadora da revolução cubana.
O General Augusto Pinochet Ugarte, um grande chileno, liderou - com a ajuda logística da Embaixada dos EUA, e bem - um golpe militar em 1973, que derrubou o governo presidido por Salvador Allende. Allende, eleito democraticamente, era um marxista utópico, boa pessoa e certamente bom pai de família, mas totalmente incapaz de impedir a derrocada da economia nacional, através de medidas anti-populares e, muito mais perigoso, de conter os comunistas. O General Augusto Pinochet, quando, por consulta popular voluntária, abandonou o poder, deixou um país desenvolvido, sólido, moderno e rico - um dos três únicos das Américas.
Em 1973, era inconcebível permitir mais um país comunista na América Latina. Ficarão por desvendar os planos de Moscovo em relação à tomada do poder no Chile - à semelhança de muitos outros casos nos anos ‘70, alguns bem sucedidos - mas é evidente que, neste particular, os EUA tomaram a dianteira sem hesitações.
Augusto Pinochet era um nacionalista. Tudo de bom para o Chile justificou o recurso temporário ou circunstancial ao estrangeiro. Só nesta óptica - em ditadura, convenhamos - se compreende a introdução de espectaculares e profundas reformas económicas e financeiras num país à beira do abismo político-económico-social. O Chile é o único caso conhecido da aplicação quase integral - e com êxito estrondoso - das teorias liberais e anti-estaduais da então chamada Escola de Chicago.
Ao momento ideal e às condições políticas, contou o Chile com outro importante factor: a sua população. É politicamente incorrecto afirmá-lo hoje, mas exacto defendê-lo amanhã: a origem da maioria da população chilena, o tipo de imigração de que beneficiou, é da Europa Central. Alemães, polacos, bálticos, alguns escandinavos, alguns italianos - até franceses, como o pai de Pinochet. O país não é tropical e nele não houve plantações de açúcar ou de café. Era primitivamente povoado por índios, mas poucos. O seu interesse económico, aliás, foi residual para os espanhóis. Tornou-se independente em 1818 e, muito diferentemente do Brasil também independente, nunca se decidiu pelo expediente da importação maciça de africanos.
Quando se vê a televisão ou se lêem os jornais e revistas, Pinochet logo aparece apontado como um dos ditadores mais repressivos do mundo. Há uma enorme diferença entre ditadura e totalitarismo: a primeira presume-se que é temporária, e permite várias liberdades fundamentais, como a propriedade e a economia de mercado e, não menos importante, o simples facto de se poder sair e reentrar livremente no país; o segundo, comunista, não admite nenhuma liberdade, nenhuma expressão que não seja geometricamente alinhada com a do regime, proíbe a propriedade privada, não deixa ninguém sair e abate continua e sistematicamente ao passivo todas as pessoas, grupos de pessoas ou populações que possam constituir um obstáculo, por qualquer forma, à concretização do sonho socialista. A primeira é sempre de pendor nacionalista; o segundo é sempre soviético. Por isso Pinochet, em 1975, respondeu a um jornalista, que lhe insinuou que havia presos políticos chilenos, que "não são chilenos, são comunistas".
Mesmo em números muito menores do que aqueles que os jornalistas vendem, são lamentáveis as violações dos direitos humanos e os assassínios permitidos pela cimentação dos primeiros tempos da ditadura pinochetista. Mas exibir, actualmente, camisolas do internacionalista comunista argentino Ernesto Guevara é um insulto ao respeito pela mais elementar dignidade humana: presidindo a um dos muitos tribunais populares então montados, o Guevara foi pessoalmente responsável por 900 execuções só num mês de revolução cubana, ao ponto dos próprios irmãos Castro terem comentado, em tom privado, que estava a exceder-se um pouco no zelo. São estas realidades que é necessário conhecer na América Latina, sobretudo a dos anos ’60 e ’70. Quanto aos anos ’80, ’90 e a esta primeira década do séc.XXI, em termos sociais de pobreza e riqueza, basta ir ao Chile e compará-lo com todo o resto da América Latina; ou então voar de Lima, capital do vizinho Peru, para Santiago: a proporção é igual à de viajar de Islamabad para Zurique.
Caros Amigos da 4R,
É verdade que o ex-ditador Augusto Pinochet morreu sem deixar saudade, mas não deixa de ser contrastante com outras práticas, tidas até por revolucionárias, a forma como exerceu a sua Ditadura, terminando por permitir uma saída democrática para o Chile.
Quantos outros ditadores o terão feito, sobretudo os idolatrados por uma certa esquerda, muito selectiva na distribuição dos seus ódios e indignações ?
Convém sublinhar bem este aspecto, quando se não deseja o triunfo da execrável bitola dos dois pesos e das duas medidas.
Para muitos, infelizmente, ela tem curso corrente, porque todos os princípios lhes são meramente instrumentais.
Boa semana para todos.
Caro Jorge Lúcio,
Ninguém tem vontade de o impedir de ler os jornais socialistas El Diario e Le Monde, e de sugerir às pessoas aquilo que diz a filha do Presidente Salvador Allende – uma escritora de relevo, sem qualquer dúvida. Mas isso não é cultura política e, muito menos, económica. Aliás, conheço relativamente bem uma parte da literatura chilena, belíssima – que inclui Pablo Neruda, comunista. Não lhe sugiro a si que leia nada. Não é necessário.
Quanto à sua referência aos dinheiros ilícitos do General Pinochet, explico-lhe, por uma questão de ética muito apreciada neste blog, que, à semelhança do que aconteceu noutras ditaduras e regimes autoritários, saíram da contabilidade pública montantes que foram depositados em nome individual, para fazer face a gastos “ilegais”, de qualquer modo publicamente injustificáveis, como os relativos às dispendiosas acções dos serviços de informação.
Caro Jorge Lúcio,
Na primeira linha do meu último texto, onde se lê "El Diario" deve ler-se "El País". Peço desculpa pelo lapso.
É claro que o nosso amigo Antunes Pedroso exagera um pouco na sua análise à figura de Pinochet.
Verdade yambem é que o Jorge Lucio na sua critica a A Pedroso ao falar da democracia de Allende, esquece depois que Pinochet que, com todos os seus erros politicos, conseguiu uma recuperaçao economica num país em descalabro ao tempo de Allende.
Quanto ás contas pessoais e contas no exterior, por desvios de dinheiros publicos, é melhor, que seja de esquerda ou de direita, se aponte o erro, mas não se apontem regimes, pessoas, de direita ou de esquerda. Sabe porquê Jorge Lucio? Porque sempre houve ditadores de esquerda ou de direita, a fazer o mesmo! De esquerda dar-lhe -ia muitos, de direita tb! Por isso, nestes casos é melhor ninguem dizer nada - ou entao qd diz fale de todos!
Diz o Jorge Lucio que um dia que alguem venha aqui elogiar Fidel vc virá criticar esses elogios...( vou aguardar ansioso, a sua posição, não a morte do homem!) mas entretanto, mantem-se calado, e faz de conta, assobiando para o ar! Ficam-se as criticas apenas para um lado e os outros vão sobrevivendo imunes. Não me parece justo!
E leiam, leiam muito. O Neruda e outros semelhantes. Como são todos muito cultos já leram todos o Neruda! OK. Então leiam a Suzana Toscano e os dramas do José Alves! Tambem aprenderão muito.
Enviar um comentário