A vida é realmente muito curiosa, dá voltas e mais voltas e de repente encontramos bocadinhos que julgávamos perdidos para sempre e que voltam, sorrateiramente, ficam ali a rir-se de nós como se tivessem ficado à espreita para nos enviar um sorriso de outros tempos.
Reparei nisso quando começámos a levar a minha mãe connosco ao fim de semana e ela voltou a integrar a nossa vida com uma proximidade que se tinha naturalmente esbatido desde que cada um seguiu a sua vida.
A princípio concentrava as atenções nas netas, dava-lhes mimos e fazia recomendações e deixava-se mimar e entreter por elas, deixando que eu tomasse conta de todas.
Agora, que as netas estão longe, voltou as atenções para mim. E, com toda a naturalidade, senta-se no alpendre enquanto eu ando por ali a cirandar e vai dizendo de vez em quando, com o tom que usava quando os filhos eram pequenos: - “Põe o chapéu, o sol está muito forte!” ou então, quando saímos para um passeio –“leva um casaco senão ficas com dores de garganta”. E eu gosto de me sentir filha única, assim com os cuidados dela só para mim.
Às vezes vai lá ter a irmã e ficam as duas a contar mil e uma histórias, a falar de gente que eu já não conheci, ou de que tenho apenas vaga ideia, mas é como se estivessem todos ali, a dar sentenças sobre o jardim e a gozar o sossego do fim da tarde na casa da família.
A minha tia leva o meu bolo preferido, é ela que o faz , cheio de frutas cristalizadas que lhe dão a oportunidade de rezingar porque já é difícil encontrar quem as venda, “agora é tudo artificial, ninguém quer ter trabalho”, e acabamos a por a mesa cá fora para o chá, quando não está vento.
Este fim de semana acordou de manhã e achei-a um pouco calada. “Dormiste bem, o que é que tens?” perguntei preocupada, sempre tem 83 anos, se calhar já estranha mudar de casa 2 dias por semana.
E respondeu-me com aquele tom de censura que me deixava furiosa quando eu era pequena, e exactamente as mesmas palavras que eu e as minhas irmãs lhe ouvimos mil vezes. – “Quem é que pode dormir com a tua tosse? Ouvi-te tossir duas vezes, vê lá se te alimentas que assim não sei onde vais parar! Mania das dietas!” e foi para a cozinha arranjar-me um copo de leite.
Fiquei a rir-me à socapa, a pensar que ela consegue o milagre de me fazer sentir criança outra vez…
Reparei nisso quando começámos a levar a minha mãe connosco ao fim de semana e ela voltou a integrar a nossa vida com uma proximidade que se tinha naturalmente esbatido desde que cada um seguiu a sua vida.
A princípio concentrava as atenções nas netas, dava-lhes mimos e fazia recomendações e deixava-se mimar e entreter por elas, deixando que eu tomasse conta de todas.
Agora, que as netas estão longe, voltou as atenções para mim. E, com toda a naturalidade, senta-se no alpendre enquanto eu ando por ali a cirandar e vai dizendo de vez em quando, com o tom que usava quando os filhos eram pequenos: - “Põe o chapéu, o sol está muito forte!” ou então, quando saímos para um passeio –“leva um casaco senão ficas com dores de garganta”. E eu gosto de me sentir filha única, assim com os cuidados dela só para mim.
Às vezes vai lá ter a irmã e ficam as duas a contar mil e uma histórias, a falar de gente que eu já não conheci, ou de que tenho apenas vaga ideia, mas é como se estivessem todos ali, a dar sentenças sobre o jardim e a gozar o sossego do fim da tarde na casa da família.
A minha tia leva o meu bolo preferido, é ela que o faz , cheio de frutas cristalizadas que lhe dão a oportunidade de rezingar porque já é difícil encontrar quem as venda, “agora é tudo artificial, ninguém quer ter trabalho”, e acabamos a por a mesa cá fora para o chá, quando não está vento.
Este fim de semana acordou de manhã e achei-a um pouco calada. “Dormiste bem, o que é que tens?” perguntei preocupada, sempre tem 83 anos, se calhar já estranha mudar de casa 2 dias por semana.
E respondeu-me com aquele tom de censura que me deixava furiosa quando eu era pequena, e exactamente as mesmas palavras que eu e as minhas irmãs lhe ouvimos mil vezes. – “Quem é que pode dormir com a tua tosse? Ouvi-te tossir duas vezes, vê lá se te alimentas que assim não sei onde vais parar! Mania das dietas!” e foi para a cozinha arranjar-me um copo de leite.
Fiquei a rir-me à socapa, a pensar que ela consegue o milagre de me fazer sentir criança outra vez…
3 comentários:
Tanta ternura num texto só
É verdade caro Tiago Ramalho...
Os laços maternos perduram , estejamos nós perto ou longe...
Suzana
O carinho da Mãe e o carinho da Filha são a prova da grandeza de uma das palavras mais pequeninas e bonitas do mundo.
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