São notícias de grande destaque hoje:
- A nova subida da taxa de inflação na zona Euro, agora para 4%, valor mais elevado de sempre;
- A situação financeira de crescente asfixia do sector das Famílias em Portugal, das mais endividadas da zona Euro, suportando serviços de dívida cada vez mais pesados, deixando antever um crescimento exponencial da taxa dos incumprimentos do crédito bancário a particulares ao longo dos próximos meses.
Este último tema é objecto de particular destaque na edição de hoje do DEconómico.
Estes temas estão obviamente correlacionados.
A subida da inflação para o valor mais elevado de sempre desde que a nova zona monetária foi criada, já lá vão 9 anos, torna agora inevitável o disparo de uma salva de aviso pelo BCE, com munição 0,25%, passando a sua taxa principal para 4,25%.
Devo confessar as maiores dúvidas quanto à eficácia desta medida para reduzir uma inflação que é resultante de um rápido e sustentado aumento do preço das matérias-primas importadas, determinado em primeiro lugar pelo imparável consumo das economias emergentes.
Mas tenho também a percepção de que o BCE não vai ficar por aqui, é muito capaz de aumentar mais vezes os juros até ao final do corrente ano.
A subida dos juros pelo BCE e também a crescente dificuldade em obter “funding” externo para apoiar o crescimento da carteira de crédito, vão acentuar as dificuldades financeiras de todos os sectores institucionais em Portugal - com especial relevo para as Famílias, sujeitas a encargos cada vez mais pesados das prestações de juros dos seus empréstimos.
O panorama é bastante negro, uma vez que coincide com um declínio acentuado da actividade económica em geral e em Portugal muito especialmente.
É neste momento utópica a previsão oficial de uma taxa de crescimento do PIB de 1,5% para o corrente ano: direi mesmo que é mais utópica do que era a anterior taxa de 2,2% quando foi anunciada como um dos pressupostos do OE/2008.
O crescimento não deverá chegar a 1%, poderemos mesmo ficar muito perto da estagnação.
Face a este cenário, torna-se indispensável rever, urgentemente, as prioridades da política económica em Portugal
Creio que seria boa ideia avançar com a formulação de uma Estratégia Nacional de Financiamento da Economia (assunto para próximo POST), que, entre outras coisas, coloque de vez na prateleira a loucura do Programão das obras públicas – apesar da fabulosa rendibilidade dos projectos em causa, que o nosso “Ideólogo do Betão” (M.L.) não se cansa de apregoar.
8 comentários:
Caro Tavares Moreira, boa tarde!
Diz o meu Amigo: "Devo confessar as maiores dúvidas quanto à eficácia desta medida " (aumentar O BCE a taxa de juro)
Mas ha alternativa?
Recentemente, a Fed decidiu nao mexer a taxa de juro mas avisou que a inflacao esta ai, dando a entender que pode subir as taxas a partir de agora. Os governadores dos Fed regionais estao cada vez mais inquietos com a inflacao e ja deram publico testemunho de que a Fed deve acompanhar Trichet.
Um dos items que mais conta nas balancas comerciais e o crude. Se as pessoas nao alteram processos nem habitos voluntariamente alguma coisa tem de mudar.
Nao acha?
Caro Tavares Moreira,
O programão é a estratégia nacional(grotesca, na minha opinião) de financiamento da economia na visão do governo. Se calhar devíamos ansiar por uma não-estratégia...
Quanto às famílias, taxas não são problema para elas enquanto não o forem para as empresas que lhes pagam o ordenado. Pelo menos tem sido assim.
Caro Tavares Moreira
Estamos em pré silly season, pelo que não devemos esperar qualqeur declaração ou inflexão, o nosso ministro da economia, não avisou já que os tempos vão ser duros?
Relativamente ao seu cenário, quero apenas acrescentar com muita preocupação, os sinais que, desde há quinze dias, saem na imprensa internacional relevante, de um (provável) ataque preventivo de Israel ao Irão. A data varia entre, Novembro do corrente e Fevereiro do próximo ano.
Com os melhores cumprimentos
Adriano Volframista
É verdade, se calhar devíamos ansiar por uma não-estratégia.
Caro Rui Fonseca,
Não acho, não.
O que acho é que o remédio para esta nova inflação não é a subida de juros na Europa.
- Não vai travar a subida do custo das matérias primas;
- Vai exacerbar a valorização do Euro, tornando ainda mais difícil a vida dos sectores mais dinâmicos da economia;
- Ignora que a própria subida das matérias primas é um factor de arrefecimento da procura funcionando assim a prazo como instrumento corrector da inflação, possivelmente mais eficaz do que a subida dos juros.
- Se prosseguir, vai positivamente "derreter" a economia portuguesa.
Parece evidente que a receita tradicional da manipulação das taxas de juro para lidar com o problema da inflacção não resulta nesta conjuntura porque como neste blogue tem sido dito e a realidade vem confirmando, as causas da subida dos preços também não têm a natureza de outras crises. Conjuga-se nesta conjuntura inflacção alta com baixo crescimento da economia, isto é, um quadro muito distinto daquele para que foi pensada a receita.
De pouco valerá a Portugal ter uma taxa inferior à da UE uma vez que vai sentir os mesmos efeitos na economia dos países da zona euro que têm as mais altas taxas inflaccionistas.
Preocupante, muito preocupante, como aliás ha muito tempo Tavares Moreira aqui vem prognosticando.
Caro Tavares Moreira,
Obrigado pela sua resposta ao meu comentario. E, confesso, nao tenho argumentos plausiveis para contraditar. Tenho duvidas. Varias.
Diz o meu Amigo que (o BCE)"Ignora que a própria subida das matérias primas é um factor de arrefecimento da procura funcionando assim a prazo como instrumento corrector da inflação."
Nao creio que ignore. O que creio e que nao ha ninguem que possa neste momento avaliar as consequencias deste movimento anunciado para depois de amanha.
Se e certo que a inflacao na Europa esta a ser, sobretudo, insuflada pelo aumento dos precos do crude, nao e esperavel que este factor esteja a ser suficientemente persuasivo para alterar processos e habitos em tempo util.
Mas ha que reconhecer que Trichet esta no fio da navalha e arrisca-se a ser trinchado se a inflacao nao for contida e, pior do que isso, a Europa se confrontar com uma recessao prolongada. Se isso vier a acontecer, e a propria UE que estremecera ainda mais.
Caro Rui Fonseca,
Tem razão meu Amigo quando exprime as suas dúvidas.
Também confessei as minhas, embora entenda que pouco adianta nesta altura subir as taxas de juro:
- Isso não sustará a alta dos preços das matérias primas;
- E pode lançar a zona Euro numa séria crise existencial, com vários países - à cabeça dos quais estamos nós, infelizmente - sem condições para aguentar a disciplina do BCE...
Se a Europa entrar numa recessão prolongada, nós implodiremos!
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