Bob Procter, autor do best seller "O Segredo" e magnate do negócio da auto ajuda, vem cá ao burgo fazer uma mega conferência sobre a sua imensa sabedoria e espera-se um Pavilhão do Atlântico a abarrotar de gente ansiosa por aprender com ele a fórmula mágica da riqueza e do sucesso, tudo identificado com a felicidade.
Não li o livro nem gosto deste género de receitas, em geral são um pouco como a antiga "literatura de cordel", saltam-se as páginas só para ver como é que acaba a história.
Não li o livro nem gosto deste género de receitas, em geral são um pouco como a antiga "literatura de cordel", saltam-se as páginas só para ver como é que acaba a história.
Há hoje uma febre de fabricantes de produtos pronto-a-consumir que dão resposta rápida e barata a necessidades várias sem nos exigir muito tempo ou muita paciência estes sim, bens muito escassos. Juntam vários ingredientes básicos, umas pitadas de bom senso,misturam bem e dão-lhes uma capa bonita, um título chamativo e hops!, o que é que está à espera para comprar? O segredo da felicidade transformado num fast food é irresistível, sobretudo se disser coisas complicadas de uma forma tão simples que fica ao alcance de pessoas que nunca se deram ao trabalho de passar meia hora a reflectir sobre as causas dos seus infortúnios, sobre o que querem ou o que não querem, ou que nunca encontraram ninguém com quem pudessem simplesmente ter uma conversa sobre si próprias.
No entanto, muitos desses “segredos” estão à vista de todos há muitos séculos, como o “conhece-te a ti próprio”, “ajuda-te e os santos ajudam-te”, “quem procura sempre alcança” , versões mais ou menos filosóficas ou mais ou menos populares de sabedoria que orienta os que procuram ser felizes. Convém lembrar também que “para quem não tem destino qualquer rumo serve” ou seja, por muitos livros de auto-ajuda que se leiam, nenhum substitui a capacidade de querer, a coragem de tentar ou a sensatez na hora de escolher o caminho. Não há fórmulas mágicas para a felicidade, muito menos em power point, mas admito que seja cada vez mais escasso o tempo que se destina à análise ou à meditação e estes produtos comerciais acabem por ser tentadores.
Não desqualifico a utilidade deste tipo de livros, ou das conferências que debitam condensados de teses sobre liderança, espírito de equipa, harmonia no casamento ou educação de filhos prodígio. São formas de ajudar a pensar, se forem razoáveis chamam a atenção para aspectos que provavelmente não saberíamos equacionar e acabam por apresentar uma forma organizada de simples de abordar o que nos parecia um autêntico novelo.
Mas podem ser enganosos se forem vendidos como soluções milagrosas, se tiverem o fito de nos mostrar que “todos” os outros são felizes e que isso é muito simples, é só mesmo ler o livro e fazer tal e qual, deixar o emprego que se detesta, por exemplo, dedicar-se à contemplação ou comprar a casa dos seus sonhos acreditando que o dinheiro acabará por chegar a tempo e a horas.
Em suma, estes novos apóstolos e os seus livros podem ser bons ou maus, conforme sejam realmente instrumentos para ensinar a fazer auto análise sem ter que pagar ao psicólogo, caso em que se verificará que afinal é preciso mesmo muito tempo e muita paciência, ou podem ser muito maus, se venderem ilusões sobre a felicidade à distância de um livro de cabeceira.
Custa-me a compreender que haja gente suficiente para encher o pavilhão Atlântico para ouvir este guru, mas parece que há. É uma espécie de nova religião, esta procura da felicidade individual vendida a patacos, e esta recusa das vicissitudes que podem fazer com que, por muito que se queira, as coisas nem sempre saem como as imaginámos.
Por mim, em caso de desespero, prefiro ir ao astrólogo, é muito mais interessante pensarmos que o movimento dos astros pode ter muita culpa das asneiras que vamos fazendo pela vida fora. E sempre olhamos para as estrelas com outra cumplicidade...
No entanto, muitos desses “segredos” estão à vista de todos há muitos séculos, como o “conhece-te a ti próprio”, “ajuda-te e os santos ajudam-te”, “quem procura sempre alcança” , versões mais ou menos filosóficas ou mais ou menos populares de sabedoria que orienta os que procuram ser felizes. Convém lembrar também que “para quem não tem destino qualquer rumo serve” ou seja, por muitos livros de auto-ajuda que se leiam, nenhum substitui a capacidade de querer, a coragem de tentar ou a sensatez na hora de escolher o caminho. Não há fórmulas mágicas para a felicidade, muito menos em power point, mas admito que seja cada vez mais escasso o tempo que se destina à análise ou à meditação e estes produtos comerciais acabem por ser tentadores.
Não desqualifico a utilidade deste tipo de livros, ou das conferências que debitam condensados de teses sobre liderança, espírito de equipa, harmonia no casamento ou educação de filhos prodígio. São formas de ajudar a pensar, se forem razoáveis chamam a atenção para aspectos que provavelmente não saberíamos equacionar e acabam por apresentar uma forma organizada de simples de abordar o que nos parecia um autêntico novelo.
Mas podem ser enganosos se forem vendidos como soluções milagrosas, se tiverem o fito de nos mostrar que “todos” os outros são felizes e que isso é muito simples, é só mesmo ler o livro e fazer tal e qual, deixar o emprego que se detesta, por exemplo, dedicar-se à contemplação ou comprar a casa dos seus sonhos acreditando que o dinheiro acabará por chegar a tempo e a horas.
Em suma, estes novos apóstolos e os seus livros podem ser bons ou maus, conforme sejam realmente instrumentos para ensinar a fazer auto análise sem ter que pagar ao psicólogo, caso em que se verificará que afinal é preciso mesmo muito tempo e muita paciência, ou podem ser muito maus, se venderem ilusões sobre a felicidade à distância de um livro de cabeceira.
Custa-me a compreender que haja gente suficiente para encher o pavilhão Atlântico para ouvir este guru, mas parece que há. É uma espécie de nova religião, esta procura da felicidade individual vendida a patacos, e esta recusa das vicissitudes que podem fazer com que, por muito que se queira, as coisas nem sempre saem como as imaginámos.
Por mim, em caso de desespero, prefiro ir ao astrólogo, é muito mais interessante pensarmos que o movimento dos astros pode ter muita culpa das asneiras que vamos fazendo pela vida fora. E sempre olhamos para as estrelas com outra cumplicidade...
5 comentários:
Uma coisa é certa, Suzana. A conferência não é certamente para falar sobre a receita do sucesso de quem escreve esses livros e promove essas conferências. Porque se o propósito fosse revelar esse "segredo", nesse mesmo momento da revelação se iniciaria a agonia de uma verdadeira galinha dos ovos de ouro dos dias de hoje.
Depois da leitura desta brilhante abordagem a toda a literatura que explora, umas vezes pela positiva outras pela negativa, os desejos mais comuns do ser humano da sociedade actual, quase sempre - o bem-estar sob o ponto de vista material -, estou convicto que vai ser mais fácil entender a “revelação” do segredo deste filósofo americano, porventura, tão desejado como o segredo da longevidade…
Vou ao Atlântico, fico na primeira fila, não vá o segredo ser segredado em surdina…
:)
Pois não, Zé Mário, a conferência, se for bem sucedida, vai criar mais uns quantos dependentes das teorias "motivacionais" que conduzem à prosperidade. Será que se aplicam ao colectivo nacional? Sempre vale a pena tentar!o homem arrisca-se a ser contratado como consultor governamental.
Caro jotac, francamente acho que ganha mais em ficar muito refatelado na sua casa nova,já vai muito adiantado nesse processo de saber apreciar as coisas boas da vida, duvido que vá lá aprender alguma coisa que não tenha já deduzido há muito tempo! :)
:)))
Que maneira tão especial de dizer as coisas, cara Dra. Suzana Toscano... É que um indivíduo fica sem argumentos!!!
Depois disto, cada vez entendo melhor a amizade sincera e contagiante de uma sua grande amiga...
Interessante post, cara Drª Suzana, mais interessante ainda porque desmistifica a certeza da certeza, aplicada à incerteza daqueles que buscam a certeza.
Adelante!
Gostei especialmente do "remate final" onde nos revela que em caso de desespero (não acredito que esse estado alguma vez a consiga atingir) prefere a astrologia. Essa conclusão reflecte uma crença nos movimentos energéticos universais, atitude coerente de quem sente e entende o mundo.
A propósito de coerência, neste caso, vou assumir a atitude da cigarra, na fábula de La Fontaine e vou sentar-me junto ao rio, por trás do Pavilhão Atlântico, cantando Otis Redding "siting ón a doque ofe a bei uótchingue de chipes role in" (http://uk.youtube.com/watch?v=wzrXc68gNjQ) e quando a conferÊncia terminar, sigo o nosso caro Jota, passo a passo, bastando imitar-lhe os gestos e os procedimentos para que atinja o sucesso garantidamente.
;)
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