Não seria a primeira vez que Hillary teria contas a ajustar com seu nobre e adamascado marido, como bem sabemos...
Desta vez, porém, a razão de queixa poderá ser bem maior e os danos irreparáveis...
Encontrei ontem no “inseparável” Financial Times – que bem faz ler órgãos de imprensa sem notícias descaradamente encomendadas e em que o que é notícia é notícia, o que é opinião é assinado - uma curiosa análise às primárias dos Democratas, intitulada “Clinton’s best asset turns to liability”.
Nesse texto é feita uma apreciação em torno das intervenções de Bill Clinton durante a mal sucedida campanha de sua extremosa consorte para candidata do Partido Democrático às eleições de Novembro nos USA.
A conclusão é interessante: sendo à partida considerado um dos grandes trunfos da esperada vitória de Hillary, a forma desajeitada e agastada como foi pautando a sua intervenção durante a campanha, acabaria por transformar Bill num passivo para o resultado final.
São citadas no texto diversas intervenções de Bill Clinton ao longo da campanha que revelaram um personagem possuído de forte irritação, ilustrada na frequente ruborização da face e no dedo em riste, acusando muitas vezes os “media” de não serem justos na cobertura das notícias da campanha e prejudicando a magnífica Hillary...
“The former first lady’s campaign has been affected by the angry images of her husband”, sintetiza o autor do texto, Edward Luce.
Explicações para esta história com um fim menos feliz para os Clinton?
Entre outras, Luce aponta uma que aqui mencionei há algum tempo: os Clinton sentiam-se, à partida, donos e senhores de um direito real de preferência sobre a Casa Branca.
Quem quer que aparecesse no seu partido a disputar-lhes a primazia, seria sempre tratado como um usurpador, alguém a abater...
Felizmente tudo isso acabou mal para os Clinton e bem para Obama...
Desde a primeira hora que assumi neste 4R uma posição da grande simpatia pela candidatura de Obama, a qual agora é transferida para o embate que se segue contra John McCain, um adversário na minha opinião bem mais respeitável que Hillary mas que espero seja igualmente vencido.
Como este post já vai longo, prometo em breve explicar as razões que me levam a manter o apoio a Obama contra McCain..
Por agora, e em relação ao tema de hoje, só me resta acrescentar: obrigado Bill pela ajuda dada a Obama!
10 comentários:
Ora aqui está um "obamista" para todas as estações!...
O nosso amigo Tavares Moreira bem merece ser desde já indicado para conselheiro económico do candidato para as questões europeias e, se ele ganhar, para membro do Conselho Directivo da Reserva Federal.
Caro Pinho Cardão,
Agradeço a distinção, mas para conselheiro já lá está o António Sampaio e Mello que neste momento goza, com toda a justiça, o sabor doce da vitória...
Quanto ao Conselho Directivo da Reserva Federal creio que a pessoa mais merecedora desse lugar seria o grande economista e agricultor Ponte Zeferino.
Que assim até ficaria próximo de New York onde, como sabemos, mantém fortíssimos laços de amizade!
Exmo Dr Tavares Moreira
Permita-me enquadrar a questão, não que o FT não tenha razão, mas, como se passa com a imprensa britânica, está a lateralizar a questão.
O "casal" Clinton WJC e HRC, são uma empresa familiar que se dedica à política. Dos dois objectivos finais, conseguiram um: eleger um deles como Presidente. Pelo meio tiveram algumas derrotas, sendo a mais próxima, a reforma da segurança social, ainda no primeiro mandato de WJC.
São uma empresa familiar ao ponto de se notar o modo "business like" (o comentário não é meu) como HRC levou a campanha e apresentou as propostas.
O busines plan da empresa, previa o tirocínio da senhora no senado e, caso as sondagens e os estudos de opinião, fossem adequados, avançar para a Casa Branca. No início de 2006, estavam (a todos, repito, todos parecia óbvio) estarem reunidas as condições de mercado para lançar o novo produto.
Nesse sentido, o trabalho de WJC, o público e o privado, foi exemplar. Sem ele, provavelmente, parte da campanha teria soçobrado por falta de meios financeiros, em Abril do corrente ano; sem o seu contributo, não teria sido possível "amarrar" o voto branco,operário e o latino, como o fez, recordando o óbvio, para quem não é legalmente cego, que Barak Hussein Obama (BHO)era de coloração negra/preta, sem identificá-lo como um "brother".
Naturalmente (porque os comportamentos humanos, quando existem bases culturais afins, não mudam) que a empresa Clinton e Associados controlva umaparte do partido democrata, como qualquer Luis Filipe Menezes, ou responsável de secção, o faz, aqui em Portugal.
Esse é,era e sempre foi um anti corpo, como se diz aqui no burgo.
Mas o que matou o produto HRC foram ( em minha opinião) dois factores singelos:
O primeiro é que os EUA, por um lado, nasceram de um parto difícil, contra a tirania dos governos hereditários (sublinho este facto),por outro, a última coisa que desejam é ser mais uma republica sul americana; nesse sentido, era demais serem governado, durante mais de 20 anos por duas famílias.
Em segundo lugar, porque surgiu BHO a vender: novidade, ar e sonho, contra, historia, factos e competência de gestão, junte-se o exotismo de ser mestiço para uns, negro para outros. Ao contrário do que se pensa, WJC percebeu cedo esse facto, tanto que desabafou, ao afirmar que era muito difícil, mas não impossível, lutar contra uma vaga de fundo.
(Note-se que ambos, HRC e BHO são um produto acabado da elite intelectual, ela formada em Yale e ele em Harvard.Os restantes candidatos democratas não têm esse pedrigee).
Os episódios que relata o FT podem ter composto o ramalhete, mas não influenciaram o resultado final, que seria sempre o que foi.
Sobre a próxima ronda de confronto, apenas adianto-lhe a minha opinião de que o próximo presidente dos EUA será John MacCain (JMcC).
BHO é negro, mas não é um "brother" e já alienou a parte mais radical do seu eleitorado ao afastar-se do seu pastor de há mais de 20 anos, o incontornável Rev. Wrigth.
BHO é um menino da IVY league,ao contrário de JMcC, que é terceira geração de oficiais e tem um filho o Iraque, entra no eleitorado branco operário e latino que compõem o grosso das tropas, no terreno.
JMcC é um heroi de guerra, com quase todas as condecorações possíveis, salvo uma, de serem concedidas em combate, e, sacrificou-se em nome dos seus camaradas, tendo sofrido (alguns dirão martirizado), por esse facto.
Entra na direita evangélica que segue literalmente os evangelhos( onde um dos capítulos principais e finais) está profusamente relatado esse sacrifício, pelos outros.
Sobre as políticas, com 20 anos no Senado, não há nada de novo, mas com +/- cinco também não, pelo que será, como sempre, uma competição de carácter.
Com os melhores cumprimentos
Adriano Volframista
-Bill terá tido a sua contribuiçãozita para o erro, mas os de Hillary não foram menores, aquela de ter saído do heli debaixo de fogo é inenarravel, mas recuperou sempre com um discurso convincente, o problema de Hillary a meu ver foi um excesso de confiança inicial, depois compensou na supertuesday, mas permitiu de seguida o "momentum" de Obama, aí decidiu-se tudo, a par duma péssima estratégia nos caucasus onde foi sempre derrotada, mesmo no Texas que tinha os dois sistemas apesar de ter ganho uma eleição renhida perdeu em superdelegados, depois para Obama foi apenas gerir vantagem. Mas Obama terá de se aplicar mais para derrotar McCain, os últimos 2 meses não me convenceram de todo, embora também apoie Obama.
Claro que também existe a hipótese de que uma mulher não ganhava nem que fosse esposa do Dalai Lama e o opositor fosse Osama Bin Laden. Não vamos achar que aquilo se tornou, de repente, uma nação civilizada.
Exmo Tonibler
Não concordo consigo.
Nancy Pelosi, "Speaker da Camâra Baixa, se tivesse surgido há seis anos poderia ser, agora, um candidato temível.
O problema é mesmo adhomine, neste caso, aduxor.
Com os melhores cumprimentos
Adriano Volframista
Caro Adriano Volframista,
Bem vindo de novo a esta tertúlia do 4R!
Apreciei muito a sua exegese político sociológica do fenómeno das eleições americanas e admito que em certas passagens do seu texto se encontram ideias muito respeitáveis...
Mas continuo convencido de que os Clinton tinham um preconceito em relação à Casa Branca: porque lá tenham estado 4 anos e talvez os melhores de suas vidas (apesar dos sapos que Hillary teve de engolir...), convenceram-se que ela seria novamente deles, não admitindo que no seu Partido, pelo menos, se pensasse doutra forma...
E, em relação ao futuro, meu Caro, estou persuadido de que Obama vai mesmo ganhar.
E de que se vai abrir um novo capítulo da história da geopolítica...Obama é capaz de vir a ser uma grande surpresa, especialmente em matéria de política externa.
Dr Tavares Moreira
Obrigado pelas boas vindas
Completamente de acordo consigo.
Aliás, a empresa familiar Clinton e Associados, conseguiu nesses 8 anos afeiçoar-se ao local, que tão boas recordações tem, para todos.
No partido também realizaram a adequada sementeira, conseguindo controlar uma parte do mesmo, aliás, Howard Dean é um dos que deve ao casal, só que o factor BHO foi mais forte e, como se viu na super terça feira imparável.
A proposito, a reunião de hoje entre BHO e HRC foi, entre outras coisas, para acertar quanto das dívidas da campanha de HRC seriam pagas pelo partido democrata.
Discordamos quanto ao futuro, na primeira terça feira de Novembro as teimas ficam tiradas.
A proposito, o vice de BHO será alguêm novo, mas completamente aceite pelos poderes fácticos, ou senão, repare na "comissão/comité" de selecção que indicou para tratar do assunto.
Com os melhores cumprimentos
Adriano Volframista
caro Volframista,
Minhas desculpas pelo lapso dos 4 anos: os Clinton foram inquilinos da CB 4+4 anos e não só 4.
Quanto ao vencedor da eleição presidencial, estava à espera que meu Amigo reconhecesse espontâneamente o grande trunfo de Obama, mas uma vez que isso não acontece aqui vai: o apoio do 4R!
Não concorda que vai ser decisivo?
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