O Presidente do BCE avisou ontem, quando comunicou a decisão de manter a principal taxa de juro nos 4%, que poderia haver uma subida em Julho.
Não é normal uma declaração deste tipo, apontando uma iminente subida de taxas no dia em que foi decidido mantê-las mesmo depois de a inflação medida pelo IHPC ter registado em Maio o valor mais elevado desde há muitos anos na zona Euro (3,6%).
Com esta declaração, Trichet conseguiu, para já, “só” isto:
- As taxas Euribor deram um salto, estando as taxas dos prazos de 6 meses e de um ano já claramente acima de 5% (5,113 e 5,418 respectivamente);
- O Euro voltou a apreciar contra o USD depois de alguma correcção nas últimas semanas;
- O petróleo subiu de novo, mais de 8 USD/barril, depois de ter estado a baixar nas últimas duas semanas;
- Agravou a ruborização da face do Gov/BP (e o crescimento de seu nariz, claro), depois de mais uma valente machadada na sua promessa de há 6 meses de que os juros não subiriam em 2008...
Cumpre notar que este episódio se segue a manifestações de contentamento, tanto em Bruxelas/Europa como em Washington, pelo facto de o câmbio Euro/USD ter finalmente mostrado sinais de alguma correcção e de aparente inversão...
Quando existe tamanha preocupação e agitação, por esse Mundo fora, com as fortes subidas do preço do petróleo...ao ponto de o Governo português ter finalmente decidido uma medida brutal contra as petrolíferas, obrigando-as a afixar painéis comparativos dos preços que praticam para os diversos tipos de combustíveis...
Confesso que não me recordo de uma medida tão dura, depois da proibição do arredondamento das taxas de juro imposta no ano passado e que deixou os bancos em estado de choque...
Voltando às declarações de Trichet: havia mesmo necessidade? Parece-me bem que não, mas admito estar errado, como habitualmente...
5 comentários:
Caro Tavares Moreira, eu estava a ouvir o discurso do senhor Trichet e a pensar que ele realmente tinha perdido o juízo. Ao mesmo tempo que ao lado via os gráficos do EUR a reagir, mormente contra o dolar e o yene. O discurso passou e num dos sites relacionados com forex, poucos minutos depois, um autor que costuma fazer alguma análise colocou um texto com o sugestivo título de "Trichet needs immediate medical atention". Acho que por aqui vê que não está sozinho na sua opinião.
Sinceramente não entendi qual foi o objectivo dele ao fazer tais declarações. Em 5-10 minutos arruinou o esforço de várias semanas na correcção do valor do euro e o petroleo voou logo a seguir como esperado.
Será que ele precisa mesmo de cuidados médicos urgentes? Fica a dúvida.
O Trichet subiu as taxas? Não. E fez o que queria, na prática, para a inflacção? Sim. Para quem seria preso por ter cão e por não ter, o homem foi brilhante. Na realidade ele nunca vai subir as taxas. Não subiu agora e, na próxima, só vai ajustá-las.
Agora o governo português vai fazer o mesmo com o crescimento económico. Vai anunciar que vai aumentá-lo no ano que vem...
É óbvio que não avisaram o Sr. Trichet de uma coisa simples que eu, por sinal, aprendi num curso de MBA - de uma universidade que certamente não terá a categoria daquela onde se formaram alguns dos actuais expoentes socialistas - mas a verdade é que ouvi lá dizer que as autoridades monetárias não podem, isto é, não devem, ameaçar o mercado de que as taxas de juro vão subir ou vão descer um dia destes, porque a reacção do mercado será do tipo o-que-tu-kés-sei-eu e esse mesmo movimento será levado à prática logo no dia seguinte. Mas isto fui eu.
Foi sem duvida uma declaração desastrosa a todos os níveis.
Subscrevo, na integra, o comentário do Tonibler
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