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segunda-feira, 30 de junho de 2008

“O livro da vida”...

O povo aceita ou, melhor, aceitava com a maior naturalidade a doença e a morte, argumentando que “estava escrito”!
Sempre me fez uma grande confusão este comportamento, com o qual convivi durante a maior parte da vida e que ainda verifico, hoje em dia, quando falo com as pessoas de mais idade. Obviamente que a razão de ser deste fatalismo não se baseia em conhecimentos de natureza genética, mas sim numa educação religiosa, segundo a qual, à partida, o nosso destino estaria traçado lá para as bandas de cima! “Está tudo escrito no livro da vida. Não há volta a dar-lhe”! Ouvi esta lenga-lenga até à exaustão. Ainda ficava mais aborrecido quando vinham com a conversa da ressurreição lá para o fim dos tempos. Perguntava se as pessoas apareciam com os seus corpos doentes ou sãos e em que idade, a mesma quando morreram ou outra qualquer à escolha do cliente? E para que servia ressuscitar o corpo? Havia lugar para toda a gente? E o que é faziam a seguir? Enfim, perguntas fazia a torto e a direito, mas quanto às respostas, bá... não me convenciam!
A doença surge de um desequilíbrio entre a nossa constituição genética e o meio ambiente, condicionado pelo comportamento.
Estilos de vida saudáveis associados a uma dieta equilibrada e a mais exercício têm um efeito notável a nível genético. Ou seja, o factor genético pode modificar a sua expressão de uma forma dramática e até há pouco tempo impensável.
Um estudo recente permitiu verificar, ao fim de três meses de mudanças alimentares e de um exercício moderado, mudanças no funcionamento de centenas de genes, além da perda de peso, da redução da pressão arterial e melhoria de outros indicadores de saúde. O que é certo é que ocorreram mudanças da actividade de 500 genes, 48 foram ligados e 453 desligaram-se! A tal frase, “está tudo nos genes” tem que ser revista, porque é possível modificar a expressão genética que pode ser tanto responsável pela doença, quer pela promoção da saúde. A confirmar-se este achado, abrem-se novas e significativas esperanças mesmo para aqueles que já estão doentes, ao jogarmos com o “ligar e o desligar” de genes tão importantes na expressão da doença. Quem sabe, por exemplo, se certos “milagres” não resultam de modificações comportamentais, mais saudáveis, ou outros, capazes de alterar a expressão dos genes?
Este estudo abre novas perspectivas e lança esperanças na luta contra muitas maleitas, e a nível do “livro dos genes”! Afinal, é possível reescrever, a qualquer momento, o “livro da vida”, mesmo que seja contra a vontade de alguns... Ainda bem!

7 comentários:

CCz disse...

Postal super-interessante.
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Vendo bem, talvez esteja em linha com a evolução das espécies, os genes activados reforçam certas mudanças e os desactivados inibem outras. Dessas mudanças permanentes, há uma roleta de mais ou menos adaptável à realidade.
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Seria possível saber a origem do estudo?

Massano Cardoso disse...

Claro.

Changes in prostate gene expression in men undergoing an intensive nutrition and lifestyle intervention
Dean Ornish

Publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences - PNAS 2008 105: 8369-8374; published online on June 16, 2008, 10.1073/pnas.0803080105


http://www.pnas.org/cgi/search?fulltext=Dean+Ornish&submit.x=10&submit.y=7&submit=GO

CCz disse...

Uauu,

Muito obrigado!!!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso
Sempre tive a ideia de que o "livro da vida" é um livro aberto, em permanente evolução, que nunca está fechado.
A ideia de fazer contas de somar e de subtrair com os genes em ordem a melhorar o estado de saúde ou de combater doenças é uma descoberta maravilhosa.
Mas sempre haverá quem não acredite nestas maravilhas, desconfie dos cientistas e olhe para o "livro da vida" como que uma "sentença de morte"!

PA disse...

Não acredita na Ressurreição de Cristo ?

Pinho Cardão disse...

A ressurreição releva da fé, não da ciência. É um dos mistérios, em que se acredita ou não, e que, de uma forma ou de outra, está patente em todas as religiões, como consequência natural do desejo de imortalidade. É uma metáfora, para significar de forma palpável essa mesma imortalidade, que será do espírito, não do corpo.
A Bíblia tem milhares de anos e foi naturalmente escrita tendo em conta os conhecimentos e cultura de então. Muitas correntes islâmicas interpretam o Corão de forma literal. Há muito que tal não acontece com a Bíblia nas Igrejas cristãs.

Suzana Toscano disse...

Que a morte está escrita no livro da vida, isso está, mas o que é facto é que a cência tem conseguido acrescentar muitas folhas a esse livro e, pelas inúmeras novidades que a decifração da genética nos tem trazido, há boas perspectivas de a vida se tornar numa enciclopédia. Assim evoluam também as ciências sociais que dêem solução para o envelhecimento das populações e para a convivência "saudável" de 4 ou 5 gerações!