1. No último Sábado, 7 do corrente, o 1º Ministro espanhol, Zapatero, dirigiu uma aberta crítica a J.C. Trichet, a propósito das declarações por este proferidas na 5ª Feira, quando anunciou uma possível subida das taxas de intervenção no próximo mês de Julho.
Sobre essas declarações de Trichet, já o 4R se pronunciou na 6ª Feira, dia 6, com o post “Trichet parte a louça: havia necessidade?”.
2. A crítica de Zapatero consistiu numa recomendação pública para que o Presidente do BCE “seja mais prudente” quando se referir a possíveis subidas das taxas de juro...
Zapatero comentava as implicações das declarações de Trichet - que aqui relevamos, naquele post - subidas acentuadas das taxas de juro do mercado, nova subida dos preços do petróleo, fortalecimento do Euro.
3. São anormais, nos dias que correm, declarações deste tipo por parte de dirigentes políticos europeus: o BCE tem estatuto de “intocável” e não é suposto, por muito que a situação lhes custe, os dirigentes políticos criticarem as decisões ou anúncios/pronunciamentos do BCE.
Este entendimento tem uma certa lógica: quem aderiu ao Euro devia ter percebido no que se estava a meter, não venha agora queixar-se da política monetária única...
4. Em contraponto, é conhecido que a Espanha se encontra numa fase de forte abrandamento económico, não faltando quem anuncie, já para este ano, a entrada em recessão...
Ainda na passada 5ª Feira a UBS divulgou uma previsão segundo a qual a economia espanhola entraria em recessão no 3º Trimestre deste ano... com dois trimestres sucessivos de crescimento negativo (2º e 3º, nessa previsão).
Tudo o que menos interessa aos Espanhóis, nesta “altura do campeonato” é subida de juros, Euro ainda mais forte, petróleo mais caro...Chegam-lhes as aflições de um sector imobiliário em séria crise, com o crédito bancário virtualmente fechado...
5. Por isso se percebe a reacção de Zapatero. Só que o Governo alemão não achou graça nenhuma e hoje mesmo, por via oficial, veio pedir ao 1º Ministro espanhol que “explicasse” a crítica que dirigiu ao BCE...
6. Temos pois uma Zona Euro funcionando claramente a duas velocidades, com a Espanha e Portugal em sérias dificuldades para crescer e... enfrentando uma política monetária e um comportamento da moeda única que agravam enormemente, pelo menos na aparência, essas dificuldades...
Como vamos sair disto? O caminho é muito longo e cheio de dificuldades, mais dificuldades...
7. Para terminar deixo a sugestão às TV’s para passarem de novo as imagens das festividades/Euro de 1999 e os discursos dos nossos iluminados dirigentes equiparando a adesão ao Euro à chegada ao “Céu”...
17 comentários:
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São anormais, nos dias que correm, declarações deste tipo por parte de dirigentes políticos europeus:
o BCE tem estatuto de “intocável” e não é suposto, por muito que a situação lhes custe, os dirigentes políticos criticarem as decisões ou anúncios/pronunciamentos do BCE.
Caro Dr. Tavares Moreira, não me parece nada anormal, antes pelo contrário. O que mais tenho visto, sempre que as decisões do BCE colidem com os seus interesses do momento, é os políticos europeus pressionarem o BCE. Uma coisa é os políticos europeus poderem mandar e desmandar no BCE e nas suas decisões, outra coisa é este ser intocável. Todos os políticos podem, e devem, pressioná-lo na defesa dos interesses dos países que representam.
E ainda bem que as coisas são assim (difícil mudar a direcção do vento que move as decisões do BCE). Se andamos todos os dias a dizer que a qualidade dos nossos políticos é muito má, ainda bem que eles têm pouco poder para "mexer" nestas coisas das finanças europeias. Não sei se eles (os políticos) tinham percebido isso tudo quando fizeram os tais discusos, mas, bem vistas as coisas, ainda bem que não perceberam...
Penso que está na altura de TM, como habitué aqui no blogue, lançar um concurso de apostas com o seguinte tema: "Quanto tempo falta para que Portugal seja obrigado a sair, ou peça para sair do euro"
Caro CCz, eu quando li o post do nosso estimado bloguista Tavares Moreira e conforme venho dizendo e escrevendo por aí há vários anos e até aqui já o fiz, ocorreu-me exactamente o mesmo mas ampliado. Quanto tempo falta para o EURO implodir? Os problemas não são apenas cá. Na Alemanha a percentagem de cidadãos que recusa a moeda única vem aumentando, Itália nunca gostou realmente do euro, a não-entrada dos britânicos que mantiveram e mantêm a libra foi sempre uma faca na ilharga da moeda, enfim, muitos, muitos factores desgarrados, uns aqui, outro ali. Quanto tempo até à implosão do Euro? O meu voto: talvez sobreviva ao presente abanão económico se este não durar demasiado tempo mas não a outro que ocorra nos próximos 4-5 anos.
Isto para não falar na implosão da UE como a conhecemos mas isto são contas de outro rosário.
O euro nunca foi um problema. Nem nunca será o problema. Não vamos culpar o termómetro pela febre.
Não foi o euro que mandou os espanhóis meterem-se em obras faraónicas para enriquecerem os amigos os rei, nem foi o euro que pagou ao PS e ao PSD para andarem a gastar a riqueza do país em patetices sem sentido. Sair do euro só alivia um pouco o fardo de termos que andar a carregar com eles, mas a solução é dar cabo deles, não é trocar o euro por outra coisa qualquer.
Caros Comentadores CCz, Zuricher e Tonibler,
Segui com interesse a vossa dialéctica em torno do Euro e da sua capacidade de sobrevivência - ou da nossa capacidadde de sobrevivência dentro dele...
Permito-me sugerir-lhes a leitura de um interessante artigo de Martin Wolf, na edição de 30 de Maio do Financial Times, intitulado "Britain is better off outside the Euro".
Nesse texto, Wolf desenvolve extensa argumentação contra o abandono da Libra e a aceitação do Euro, utilizando para síntese esta curiosa expressão "Se um país se propõe aderir ao Euro, o seu povo deve estar disposto a aceitar PARA SEMPRE as consequências dessa opção".
É por demais evidente que, quando aderimos ao Euro, este requisito não estava cumprido!
Caro Tavares Moreira, meu plecaro amigo:
Diz que "temos pois uma Zona Euro... enfrentando uma política monetária e um comportamento da moeda única que agravam enormemente, pelo menos na aparência, essas dificuldades...".
Concordo, quando diz, "pelo menos na aparência". Porque o euro não é a causa das dificuldades, antes pelo contrário. E ainda bem que estamos no Euro e ainda bem que há BCE. Estadistas foram esses que criaram o BCE. Os políticos regem-se geralmente por questões de conjuntura e só vêem o dia de hoje, sobretudo o que vem nos jornais. O BCE não está felizmente comprometido com as políticas oportunísticas de curto prazo, que só prejudicam as economias e consegue fazer um contrabalanço a estas. Nesta matéria, entre Zapatero ou qualquer 1º Ministro e a política do BCE, claro que prefiro a do BCE.
As causas da crise, como bem diz o Tonibler, têm que ser procuradas noutro sítio. Não se pode é deixar quem fez asneiras em procurar novas asneiras para remediar as asneiras que fez. Sairia asneira multiplicada.
Por mim, fico muito mais descansado com a política monetária entregue ao BCE.
Just for the record,
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Pessoalmente considero o euro uma boa forma de disciplinar os intervenientes no jogo do poder e da nossa economia.
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Onde já estarámos sem ele...
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O problema vai ser quando a coisa apertar mesmo a sério.
caros Pinho Cardão e CCz,
Eu não questiono a bondade maior ou menor das políticas do BCE, embora entenda que o BCE, tal como o Banco de Reserva Federal (FED) ou o Bank of England, não tem o dom da infalibilidade...
O que ponho em questão é a nossa crítica posição dentro do Euro - agora com a alegre companhia da Espanha - que é fruto de uma percepção totalmente errada, dos nossos iluminados dirigentes no final da década de 90, das implicações da adesão a uma zona monetária de moeda forte.
Devíamos ter percebido, mas não percebemos, que o Euro iria ser uma moeda não menos forte que o Marco alemão da altura...
Devíamos ter percebido, mas não percebemos, que a política orçamental de regabofe, do período 1997 - 2001, nos iria ser fatal...
Deveríamos ter percebido, mas não percebemos, que nas condições em que a nossa adesão se verificou, nos íamos meter numa camisa de 11 varas - na qual estamos agora presos e a ficar sufocados...
Tudo se resumiu a uma grotesca operação de folclore...éramos os "maiores" por termos sido capazes de entrar no chamado "pelotão da frente" - com esta mania algo pueril de que cometemos façanhas quase todos os dias...
O grande problema com que agora estamos defrontados é o da necessidade de prolongar medidas de austeridade por tempo quase indefinido, quando ao que parece já toda a gente se fartou de medidinhas de austeridade (e algumas só mesmo no papel)...
Pergunto a mim próprio, muitas vezes, como é que se sai deste imbróglio e confesso-lhes que tenho cada vez mais dificuldade em encontrar resposta...
Um dia destes contar-lhes-ei uma história, passada há quase 13 anos, da qual fui protagonista algo involuntário, que ajuda a perceber como nos metemos nesta aventura mal calculada.
Neste assunto recordo sempre:
«Vieram dos empresários as críticas mais violentas. Confrontados com a recessão económica que atingiu a Europa, em 1992-1993, e pouco vocacionados para apostar no aumento da produtividade, na inovação e na melhoria da qualidade dos produtos, e habituados a que o escudo fosse, de vez em quando, desvalorizado para colmatar as dificuldades de competitividade das empresas, não admitiam que essa possibilidade desaparecesse.
Em 25 de Setembro de 1992, num hotel do Porto, num jantar organizado por Eurico de Melo com um grupo de grandes empresários do Norte, bem me esforcei por explicar a importância da política de estabilidade cambial para o futuro da economia,mas tive pouco sucesso.Chegaram a acusar-me de querer destruir a indústria portuguesa, o que me incomodou e entristeceu. Quando, cerca da meia noite, recolhi ao quarto levava comigo um certo desânimo. Apoderaram-se de mim interrogações sobre se Portugal, com os empresários e os sindicalistas que tinha, conseguiria vencer o grande desafio da união monetária.»
(Cavaco Silva, Autobiografia Política II, p207)
Se calhar a chama interior de Cavaco primeiro-ministro começou a apagar-se, começou a desistir nessa noite.
Essa revelação de Cavaco diz tudo sobre a forma como Portugal entrou no euro. Quando o primeiro-ministro resolve olhar para os sindicalistas e empresários queríamos o quê, milagres?? E ainda por cima fizemos dele presidente da república, o que só prova que nem agora estaríamos prontos...
Na minha óptica, caro Tonibler, essa revelação ou confissão de Cavaco Silva pode dizer alguma coisa - mas não diz tudo nem o principal.
A aceitarmos essa sua metáfora, estaríamos a branquear as verdadeiras barbaridades de política económica cometidas no período 1997-2001, as quais - infinitamente mais que as confissões de C.S. (por pouco felizes que estas se nos afigurem)-comprometeram,de forma dramatica, a possibilidadde de normal desenvolvimento da economia portuguesa ao abrigo do novo regime económico que o Euro induziu.
E não esqueçamos a machadada mais recente, que foi o inconcebível Orçamento Suplementar de 2005, propulsionando a despesa para níveis absurdos, só para facilitar o brilharete subsequente!
Tenha muita paciência, mas com toda a consideração tenho de lhe dizer: essa não!...
Quanto à eleição para a Presidência,aprove-se ou desaprove-se o estilo, já nada ou muito pouco podia adiantar de positivo ou negativo para a dilucidação do imbróglio, tal é a dimensão do problema estrutural em que estamos mergulhados!
Caro Tavares Moreira,
O meu caro vai fazer o favor de explicar porque é que 1997-2001 é que é o período negro. Se não estiver a olhar para a côr, vai encontrar uns quantos meses, desde 93 ou 94, em que o estado, pelo menos, não fez nada. A Expo 98 não foi decidida pelo Guterres, nem tão pouco a mirabolante frota de submarinos (que, de tão mirabolante, gerou as suspeitas que todos conhecemos). Se formos justos, não conseguiremos atribuir um prémio de "período mais destrutivo" porque, na realidade, todos se esforçaram muito. O orçamento suplementar de 2005? Diga-me, caro Tavares Moreira, que governo, em que assunto, em que ano, revogou uma decisão pateta do seu antecessor?
Meus caros, apenas agora li os comentários postos nas últimas 24h e houve algo que não expliquei no que escrevi e que, parece-me, não foi bem entendido. Precisamente os motivos pelos quais o euro tem fim anunciado,
Caro Pinho Cardão, eu também prefiriria a política monetária nas mãos do BCE se estivessemos a falar de um espaço com economias fortemente integradas e onde não houvesse as diferenças abismais que existem entre todas as economias da zona EUR, particularmente notada agora, onde uns precisam da ajuda monetária para estimular o crescimento económico e outros para combater a inflacção, pese embora este último problema seja um fantasma muito empolado. E se calhar continuo a preferir ainda assim e adequando ao caso Portugues dado que ter um governador do Banco de Portugal a correr atrás dos governos para tapar as suas asneiras por via da política monetária é algo que também não me agrada. Mas o mal aqui não é da política monetária estar presente em cada estado. É da capacidade de isenção do governador do Banco responsavel pela política monetária (relativamente ao governo do seu país e num cenário de não existencia da moeda única) e da capacidade dos governos para governar os seus países sem contarem com demasiadas benesses dependentes de variaveis que não controlam para os seus mandatos. Portugal é realmente um país estranho em que nada se pode dizer que correria assim ou assado dado ser um país demasiado imprevisivel. Quero com isto dizer que não dou como liquido que possa haver um governo cá que pense mais adiante das eleições seguintes nem um governador do BP totalmente imune a questões de agenda política.
Quanto ao "por cá", bom, mas é um óbvio caso de não haver unhas para tocar guitarra. Perdeu-se a grande oportunidade de realizar as reformas estruturais necessárias à aproximação do nosso modelo de desenvolvimento àquele que vigora nos países mais fortes da zona euro e mesmo em Espanha, nos últimos anos voltou a perder-se a oportunidade de mudar toda a forma em que tem assentado a nossa evolução e, aliás, este governo empenha-se em perpetuar esse modelo, dependente do estado e das obras públicas ao invés de o mudar. Ele mudará, sem dúvida, caro Tavares Moreira. Não mudou a bem, irá mudar a muito mal. Mudará à custa de muita, muita dor, dor essa para a qual o que vivemos ainda é apenas uma brisa passageira.
E isto leva-me ao porquê de sentir que o euro irá implodir. As economias da zona euro são todas diferentes, os interesses económicos específicos de cada país são diferentes, os seus problemas e desafios económicos são diferentes, a exposição ao exterior é diferente, em suma, modelos económicos totalmente diversos de país para país. E, acima de tudo, são tudo países independentes, vários com histórias de séculos e não podem abdicar de tudo isto em favor de uma total integração europeia. Nós não somos os Estados Unidos, um país com 200 anos de história e em que os cidadãos sempre foram acima de tudo americanos e só depois naturais do seu estado de origem o que, para os americanos, nem sequer é muito relevante.
Caro Tavares Moreira, li o artigo de Martin Wolf e vejo também algo mais do que a necessidade de aceitação permanente e para sempre da moeda única. Martin Wolf alude precisamente aos desafios que a economia britânica enfrentou e ultrapassou dado ter uma política monetária adequada às suas condições específicas ao invés de uma política monetária adequada à média de vários países. É precisamente isto que levará ao fim da zona euro. Não podemos ter sol na eira e chuva no nabal, não é verdade?
Eu gostava de concordar consigo caro TM, e pôr todas as culpas para trás desses governos de triste-memória (de Guterres), no entanto, olho para o lado e vejo a Espanha que fez o trabalho de casa com Aznar e vejo o descalabro da competitividade, produtividade e exportações. Olha para França e vejo ..., olho para Itália e o que vejo...
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Gente que não estava preparada para viver e trabalhar num país como moeda forte.
Caro Ccz,
Mandar a política monetária para fora, implica mandar para fora muito mais política e, alguma, não tão má como isso. E é essencialmente isso que o pessoal esperava que nunca fosse cobrado. Vai ser a Espanha, a França, a Itália e todos aqueles que, momentanea ou permamentemente, não andam ao ritmo dos alemães.
Caro Tonibler,
A única coisa que "tenho" a dizer-lhe é que não olha para a cor - nunca olho para a cor - quando produzo estes comentários.
Quanto ao resto, não sou eu que "tenho" a dizer-lhe: são os autores do relatório Bruegel, a que aqui aludi extensamente, em Março e Abril de 2007; são os autores dos textos de política económica do BdeP, em 2003-2004, são os relatórios da OCDE e do FMI quando caracterizaram a política orçamental do período negro em questão.
Se há pessoa, meu Caro, que nesta matéria se sente à vontade para produzir opinião independente, é este seu admirador. Por duas razões:
- No início dos anos 90, quando desempenhava funções de responsabilidade na política monetária e financeira, várias vezes apontei, sem reservas nem meias palavras e com total independência (a que hoje escasseia infelizmente), os erros da política orçamental vigente, especialmente o excessivo crescimento da despesa corrente primária.
Mas nessa altura ainda dispunhamos de instrumentos próprios de regulação económica para fazer frente a tais erros.
Com custos é certo, mas dispunhamos.Se tem dúvidas (legítimas, dado o tempo decorrido) pode perguntar a comentadores como Camilo Lourenço ou Helena Garrido, que na altura já faziam comentário económico e que acompanharam essa fase preparatória dos nossos compromissos monetários - recordo que a adesão do Escudo ao mecanismo de cambios do Sistema Monetário Europeu se verificou em Abril de 1992.
- A partir de 1999, investido em funções políticas na oposição, não me cansei de chamar a atenção para os erros dramáticos de política que estavam em curso e que, na minha opinião, iriam comprometer o desempenho da economia portuguesa por muitos anos.
E agora já não dispunhamos, como no passado, de instrumentos próprios de regulação económica para fazer face a situações de difculdade eventuais...pelo que o risco dos erros de política tinha aumentado exponencialmente...
Aí chamaram-me de tudo: "ave agoirenta" (Jaime Gama), "profeta da desgraça" (vários ilustres), "pessimista" (muitos ilustres)...
Não desanimei e mantive o tom de crítica até que em 2002 se descobriu que o defice orçamental de 2001 efectivo era cerca de 3 vezes o oficialmente admitido...
Agora que estamos onde estamos, olhar para trás já nem interessa muito... até poderia concordar, desde que tivessemos aprendido a lição.
Confesso-lhe, no entanto, o meu enorme cepticismo quanto ao grau de aprendizagem das lições do passado quando, a nível oficial, se defende/acredita que o Programão de Obras Públicas pode ser a solução para os problemas da economia portuguesa...
É claro que se admitirmos que a implosão da "dita" entra no conceito de "solução", até poderei concordar!
Caro Tavares Moreira,
Longe de mim querer pôr em causa a sua independência profissional, nem tenho a menor dúvida, porque me lembro. Até porque, nessas funções, independência é competência e dessa acho que ninguém pode duvidar porque não há subjectividade. Não era disso que falava.
Agora, imagine que hoje o Sócrates aprova o Programão e, nos festejos, dá-lhe uma macacoa. Na terça-feira o PSD assume o governo e o meu caro é feito Ministro da Fazenda (adoro esta designação...). Como, de hoje para terça, o país não vai ficar substancialmente mais rico, nem acredito que o meu caro vá privatizar as câmaras municipais para esconder despesa, diria que lhe esperava um título de "Rei do Regabofe Orçamental" porque não vai conseguir fazer nada que resolva o orçamento. Porque não há orçamentos milagrosos que resolvam políticas de ruína. E esse é o meu ponto.
O défice era o triplo porque o Guterres ia numa dinâmica tipo Espanha de meter dinheiro em cima das coisas para subir o denominador, por isso vem o PS sempre com a conversa da relatividade da despesa. Nisso concordamos em absoluto. Agora, há antes de 1997 e depois de 2001, decisões tão más como a do programão e que são do PSD (do CDS, depois de 2001, mas com o apoio do PSD)
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