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sexta-feira, 6 de junho de 2008

Liberdade de expressão e militância partidária

Manuel Alegre é militante destacado do PS. Candidatou-se a presidente da república contra o candidato apoiado pelo partido a que pertence, contribuindo para a cotação eleitoral quase vexatória do Dr. Mário Soares, referência maior do PS.
Alegre não se coibe de se ausentar de iniciativas do PS ou de votações no Parlamento, ou mesmo votar em dissonância com os camaradas da mesma bancada, subtraindo-se à disciplina do grupo parlamentar que integra.
Não disfarça o seu desamor pela actual liderança de José Sócrates a quem nunca dirigiu uma referência elogiosa, ligeira que fosse, mesmo quando o primeiro-ministro nomeou a actual ministra da saúde no evidente propósito de aplacar as censuras saídas da boca do poeta cada vez mais audíveis sobre a política de saúde .
E, recentemente, foi a cabeça de cartaz de um comício que reuniu o Bloco de Esquerda e os desertores do PCP, que não deixam de pensar como se ao PCP pertencessem, no qual desferiu o ataque mais cruel contra o Governo do PS a que continua a pertencer, ataque cujos efeitos danosos são ampliados pelo facto de o PS e o Governo estarem a passar os momentos mais dificeis da actual legislatura.
São muitos os dirigentes do PS que perante tudo isto consideram que no PS há lugar para este "pluralismo".
Estou consciente que esta complascência se filia no mais puro calculismo. é indisfarçavel o sentimento dos socialistas que percebem bem que Alegre pode fazer mais estragos fora do partido que dentro dele. Apesar de todas as diatribes de Alegre.
O caso não é único e não é privativo do PS. Coloca-se em relação a todos os partidos do arco democrático. Coloca a questão dos limites da opinião no seio dos partidos políticos e da configuração dos "deveres mínimos" da militância.

8 comentários:

Bartolomeu disse...

Caríssimo Dr. JM Ferreira de Almeida, se este comentário fosse colocado pelo poeta, estou certo que ele o escreveria em verso, citando a frase do tema de Sting - Englishman in New York- que começa dizendo: You drink coffee, I take tea my dear" e lá pelo meio afinfa-lhe com "Be your self, no meter what they say"
http://uk.youtube.com/watch?v=doYNBHE8Yes
Creia caro amigo, que sou admirador do poeta e admirador ainda da força interior que aquele homem demonstra possuir, depois... tal como afirma ao encerrar o seu post, em minha opinião, com chave de ouro "O caso não é único e não é privativo do PS. Coloca-se em relação a todos os partidos do arco democrático."
Todos andamos nesta vida (não me refiro à política, pois estaria excluído desse "todos")com um propósito e uma finalidade, no caso de uns mais definidos. Porém, chegar a uma idade considerável e continuar a lutar pelos ideais que norteiam as suas convicções, considero notável.
Um abraço ao poeta-pescador-socialista e votos sinceros de que o ânimo e as convicções nunca o abandonem.
E... se me permite, transcrevo um pequeno excerto do livro de Manuel Alegre " Cão como nós" que pretendendo ser uma metáfora, ilustra com galhardia o assunto de que andamos em redor...
"Digamos que aquele cão era quase um especialista nas relações com os humanos. Tinha o dom de agradar e de exasperar. Mas assim que eu dizia – Cão bonito – ele não resistia. Deixava-se dominar pela emoção, o que não era vulgar num cão que fazia o possível e o impossível para não o ser."


;))

António de Almeida disse...

-Manuel Alegre afirmou a Judite de Sousa, "sou militante do PS, votarei no PS se ainda estiver no partido", também afirmou que não pretende fundar nenhum partido, lembremo-nos da história, Eanes também não fundou o PRD, mas inspirou-o, se Helena Roseta ou outros activistas próximos de Alegre interpretarem um sinal, poderão criar um efeito bola de neve que arrastará inevitavelmente Alegre. Mas se tal acontecer, ficará o espaço político de centro direita igual ao presente? Ou existirão pessoas o PSD tentadas a seguir o exemplo de Alegre? Se tal acontecer o sistema político partidário português sofreria uma verdadeira revolução, tornando impossiveis os governos de um só partido, até ao dia em que os espaços políticos se refundassem, bipolarizando-se, á semelhança de Itália ou Espanha. Tudo está neste momento em aberto, pessoalmente não descarto qualquer opção.

joaoh disse...

"Longe da utopia. No limiar da anarquia mansa que nos tolhe."

Mudaram o lema ao 4R? Não querem convidar o Alegre e a Ana Gomes aqui para o blog, a ver se acertam com o dito?

Os "deveres mínimos" de militância, parece-me ser o dogma que arrasta esta cambada de mansos armados em sensatos à espera da vez para rapar do tacho. Não tenho em boa conta os políticos? Tenho pois, os que mencionei, esses sim lideres, os outros, o manso rebanho do costume.

Disciplina de grupo? O parlamento é alguma equipa de rugby?

Anónimo disse...

Meu caro Bartolomeu, estimo as pessoas que se animam por convicções. Será, não duvido, o caso de Manuel Alegre. Como será o caso de mais destacados militantes do PS ou de outros partidos. Mas quando o projecto do partido, sancionado pela maioria, diverge profundamente dessas convicções pessoais, de forma tão flagrante, é legítimo combatê-lo da forma como Alegre o combate e ao mesmo tempo manter a vinculação ao partido? Eis a questão posta por quem, tal como o meu Amigo, não milita em partido algum e tem cada vez mais apreço pela independência, coeva, essa sim, da liberdade de opinar sem sacrificio de nenhuma convicção.

Meu caro António de Almeida:
Concordo consigo. Os insucessos e a insatisfação em muita gente do partido socialista poderá levar a uma cisão à esquerda, inspirada em Alegre. E pode ser aliás mais próxima do que se poderia imaginar há uns tempos atrás, motivada pelas próximas eleições presidenciais.
No PSD, apesar de tudo, creio que o risco é agora menor com a eleição da Dr.a Manuela Ferreira Leite, a despeito da tripartição do eleitorado nas directas. Sinto aí existir uma clara vontade de união, assim as propostas correspondam ao mínimo denominador comum das várias sensibilidades.
Também tem razão quando diz que cisões nos maiores partidos implicarão que muito difilmente existirão em Portugal governos de maioria de um só partido nos próximos tempos. O que não significa que arranjos parlamentares e coligações pós-eleitorais não viessem a garantir, se fosse esse o cenário, condições de estabilidade na governação. Como sabe, há exemplos vários de governos de coligação entre forças políticas resultantes da pulverização de sistemas bipartidários que garantiram legislaturas estáveis.

Caro joaoh:
Se é a primeira vez que por aqui aparece, seja bem vindo. Apareça mais vezes. E mesmo que seja nesse tom, comente e participe. Poderá assim confimar que somos mesmo armados de sensatez...

iluminuradoAnjodoSenhor disse...

o PS está a viver algo semelhante ao que PSD acabou de viver pela "boca" dos "Barões"... Com a diferença de que os Barões do PSD não têm a coragem e o arrojo suficiente para irem a votos e sacarem 1.000.000... Utilizam tácticas de guerrilha e refugiaram-se na beira da saia de MFL.
No grau Manuel Alegre não difere de Pacheco Pereira... só não tem o tempo de antena deste na SIC... nem poderá vir a ter... caso contrário Balsemão não verá renovada a sua licença de emissão...
Mas a essencia é a mesma ou se aceita e impõe um mínimo ético do militante ou não faz qualquer sentido a militancia.
Se é estimulante a livre discusão de ideias e projectos dentro das estruturas dos partidos... mal se poderá aceitar que os mesmos usem os púlpitos públicos, que a controvérsia sempre alimenta, por vender jornais e acrescentar audiências.
Neste aspecto há que prestar alguma homenagem ao PCP que sempre deu o devido tratamento a protagonistas como Pacheco ou Alegre... aí com escandalo dos Partidos "Democráticos".
No caso do PSD a "União" é uma necessidade... não um desígnio lógico... não só para chegar ao Governo mas, pelo "andar da carrugem" para não ser ultrapassado em peso eleitoral pela extrema esquerda... PCP e BE valem hoje 20% das intenções de voto... a acreditar na sondagem do Expresso

Tonibler disse...

"Coloca a questão dos limites da opinião no seio dos partidos políticos e da configuração dos "deveres mínimos" da militância"


Caro JMFA,

A democracia é muito mais importante que os partidos e a questão que deveria estar em cima da mesa é: Se há quem coloque a questão de limites nos partidos, não estará na hora de "acabar" com eles?

Anónimo disse...

Meu caro Tonibler:
Para lhe responder era necessário perceber o que significam as aspas no acabar...

Tonibler disse...

CAro JMFA,

Tirando o caso extremo em que eu seja nomeado Supremo Ditador Pai dos Povos Grande e Divino, "acabar" significa terminar com o papel que hoje têm de limitação da escolha popular. Se reparar no seu post, ele só faz sentido porque existe uma entidade acima do povo soberano que escolhe as escolhas deste, uma superclasse cuja opinião se sobrepõe à dos outros.