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quinta-feira, 5 de junho de 2008

"Quando existe vontade, há sempre caminho" (lema da Associação dos Jovens da Apelação-AJA)

O Bairro da Quinta da Fonte, na Freguesia da Apelação, concelho de Loures, vem recorrentemente nos jornais pelos piores motivos, geralmente violência, marginalidade ou baixos níveis de escolaridade e sucesso escolar.
Perto do Bairro há um muro enorme, que limita o cemitério, e que estava um caos de grafites e sujidade, como se ali começasse um território “marcado”. Um grupo de jovens moradores decidiu que deviam pintar o muro para acabar com aquele símbolo de desleixo e começar a mudar o cartão de apresentação do seu bairro. Conseguiram tintas e pincéis e dedicaram-se à tarefa, até o muro recuperar integralmente a cor branca que já ninguém tinha na memória.
Passaram muitos dias até que alguém achou que já não fazia mal nenhum voltar a pintar lá uma coisas, os outros deram por isso e intervieram a tempo. Passaram a levar a sério aquele sucesso, e descobriram que uma pequena conquista pode levar a outras muito maiores.
O grupo de jovens decidido a meter mãos à obra foi alargando, tiveram mais ideias, criaram um clube desportivo, organizaram festas para arranjar fundos, mobilizaram outros para garantir a segurança e a pouco e pouco conquistaram o seu novo espaço de actuação. A Associação dos Jovens da Apelação foi criada em 2007, á tem muitas dezenas de sócios, apoia crianças, jovens, desempregados, imigrantes, famílias desavindas ou pais preocupados com os filhos em risco. Estão agora a começar a recuperar um pavilhão abandonado para aí fazer a sua sede, outros grupos foram surgindo, cada um com os seus objectivos, e vão alargando a sua boa influência, reconhecendo a importância do trabalho em equipa, da solidariedade e da responsabilidade pela sua comunidade.
O muro é hoje um símbolo da sua vontade e das suas conquistas. Como eles dizem, "nunca mais ninguém pintou aí nada, passaram a respeitar”.

7 comentários:

Bartolomeu disse...

Cara Drª. Suzana;
Resta-nos acreditar na capacidade de iniciativa e criatividade dos jovens. Recordo-me do post colocado pelo caro DR. JM Ferreira de Almeida (O "meu" 25 de Abril), onde se referia às iniciativas dos jovens no conselho de Lamego. Especialmente a partir da publicação deste post, passei a prestar mais atenção às notícias que vão surgindo acerca de iniciativas jovens, registo com bastante agrado que se nota um movimento crescente das mesmas por todo o país, especialmente nos locais mais afastados das cidades mais importantes.
Certamente que não é alheio a esta onda de iniciativas jovenis (e espero sinceramente que seja uma onda que se transforme rápidamente em tsunami) o apoio e orientação de diferentes pedagogos, de pessoas que nas diferentes áreas do ensino, ajudam os jovens a entender que são o futuro da sociedade que com eles se está a formar e que lhes apontam o caminho que deverão desejar seguir, o da construção.
As grandes mudanças sociais, ocorrem sempre por iniciativa dos jovens e são invariávelmente reflexo, ou reacção natural às crises profundas que marcaram a geração anterior.
Será talvez o ciclo invisível da vida das sociedades, será talvez o movimento de energias cósmicas que dita estes acontecimentos, ou ainda acapacidade natural que o ser humano em sociedade tem para se regenerar. Importante é que estas consciências se agitem e progridam, avançando sempre no sentido da valorização da pessoa humana.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Suzana
Precisamos de dar maior divulgação a estas iniciativas que tanta falta fazem ao bem estar da colectividade.
Sinto que alguma coisa está a mudar. Os jovens estão mais sensíveis e interessados em dar e partilhar o seu tempo, o seu trabalho, a sua criatividade e os seus afectos em benefício de outros e da comunidade.
É também uma questão de amor próprio, fazendo bem aos outros estão a ser bons com eles próprios. É uma descoberta maravilhosa!

Anónimo disse...

É verdade, Bartolomeu. A energia e a criatividade dos jovens são bons carburantes para uma sociedade melhor.
Os mais maduros, em especial a geração que detém o poder, desconfia por regra das capacidades da juventude. Ou então procura, com grande paternalismo "canalizar" gostos, tendências, movimentos dos mais jovens.
O magnífico exemplo que a Suzana aqui registou é prova de que à iniciativa dos jovens bons se pode confiar a construção de uma sociedade melhor. Afinal, é essa sociedade que essa geração herdará.
Estou também com a Margarida. Iniciativas destas, que muitas vezes são desvalorizadas, devem ser divulgadas como bons exemplos.

jotaC disse...

Cara Dra. Suzana Toscano:

Subscrevo a 100% os comentários que antecedem.
Gostaria de acrescentar que estes jovens da Freguesia da Apelação estão de parabéns por dois motivos:
-Primeiro, ao seguirem este caminho, libertaram-se de certa maneira do estigma “marginal”;
-Segundo, esta atitude de cidadania é já notícia, e passou a ser conhecida de muita gente, graças à partilha da Dra. Suzana Toscano com os leitores deste Blog.
Com este gesto de partilha, simples, a Dra. Suzana enaltece o melhor daqueles jovens e estimula-os a prosseguirem este caminho, que é sem dúvida o melhor para todos.
Estou certo que estes jovens lhe estão reconhecidos, por saberem que passou por lá, mas não passou ao lado…

lusitânea disse...

Se "apoiam" na Apelação(pagam protecção diria eu), acho bem que "apoiem" em telheiras pois que prédios novos "pintados" é mato e então o bairro onde os "pintores" vivem... o "Horta Nova" ouviram falar?
Desculpem mas não alinho em demagogias.A lei é geral.Deve ser aplicada, mesmo para as pequenas coisas.O clima de impunidade em que se cresce em Portugal tem que acabar.E a hipocresia com que se abordam esses assuntos também!

Suzana Toscano disse...

Desculpe, cara lusitânea, mas não percebi mesmo nada do seu comentário. Não há aqui nenhuma "protecção paga" ou não paga, bem como não se trata de nenhuma alternativa à aplicação da lei. Se houvesse uma divulgação destes casos de que falei talvez deixasse de haver "pintores" desses de que fala no bairro Horta Nova. Se confundimos incentivo e estímulo com demagogia e protecção paga (???)é mais que certo que continuem essas tais pinturas...Por um lado, é mais fácil continuarmos a queixar-nos de falta de polícia e de aplicação da lei, nem olhar para esses "pintores", dá-los como casos perdidos e esperar que a polícia actue. Eu prefiro acreditar que há outras formas possíveis de chegar onde queremos, mesmo que a pouco e pouco.E, pelos comentários acima, parece ser um caminho com muitos adeptos, felizmente.A aplicação da lei e a solidariedade não são incompatíveis.

Anónimo disse...

Pois eu também não percebi o comentário da(o) lusitânea.
Devem ser os efeitos da tinta! Há quem seja alérgico...